21 de dez. de 2005

De volta aos anos 90

O jornalista Daniel Piza, há algum tempinho já, alertara-nos sobre um fato deveras curioso: de como uma década revive a outra de duas décadas atrás. Ilustremos essa teoria. Minha mãe, por exemplo, dizia-me que o must de sua época, anos 70, era fazer festas baseadas na década de 50. Quem não se lembra das milhares de festas hippies feitas nos anos 90? Aquela tentativa de recriar símbolos e idéias setentistas, como "Paz e Amor" e até um Woodstock, lembram? E, agora, ano 2000, vê-se essa onda ululante pelos anos 80. Voltaram os sintetizadores, ternos com ombreiras e pop-stars destinados ao ostracismo, como Léo Jaime e Sidney Magal. É realmente interessante a mania de viver no presente o que foi moda há 20 anos.

Se seguirmos essa linha de pensamento, em 2010 estaremos celebrando o que ocorreu de 1990 a 2000. Assustador, né? Pensar que Blossom Russo e Fantasia serão cultuados, com seus logos estampados em camisetas moderninhas vendidas na Banca de Camisetas. E eu já me aterrorizo hoje mesmo, após me deparar com um CD em meu armário, enquanto fazia uma faxina básica, daquelas coletâneas que nós gravamos com nossas músicas prediletas, com o singelo nome de "90's".

Fiquei confuso, pois não me lembrava disso. Limpei o disco e o inseri no som. Demora um pouco a leitura, é claro. Logo depois os primeiros acordes de "Groove Is In The Heart" ecoam pelo quarto. Ok, podem falar, mas essa música é demais! Pulo de faixa e ouço "What's Going On", do fatídico Four Non Blondes. "Tudo música de Joven Pan!", pensa o leitor. Errado. O resto passa por Breeders, Elastica e Hole. Nossa, como eu era metido. Isso até eu apertar foward e me deparar com "More Than This" do 10.000 Maniacs, seguida por "Over My Shoulder" do Mike and The Mechanics. Meu quarto parecia ter entrado no túnel de tempo. Eu estava em 1995, curtindo a trilha sonora de Malhação.

O resto assustou ainda mais. "I'm Free" do The Soup Dragons e algo do The President Of The USA. Gente, alguém ainda lembra disso? A seguir, Chumbawamba e Sugar Ray. Como eu gostava disso! , sorrio. Tamanha é a diversa, que me vejo todo empolgado com "I Touch Myself", do Divinyl's. Mais eis que surge um Bom Jovi com "Miracle". Abaixo o volume e tenho vontade de cavar um buraco no chão, tamanha é a breguice!

Desligo o som e morro de medo pelo o que ainda há por vir. Não me assusto se tiver naquele CD algo da Laura Pausini - "La Solitudine" embalou demais os meus primeiros bailinhos.

18 de dez. de 2005

Não dormi a noite inteira, nunca passei tanto nervoso em minha vida. São dez e meia da manhã e agora só quero encher os pulmões e gritar para todos ouvirem:

TRI-CAMPEÃO MUNDIAL, PORRA!!!

15 de dez. de 2005

Born to be wild

Para quem é leitor das antigas deste blog, sabe o meu passado como motorista. Desde o primeiro exame para tirar a carta, quando fui fazer baliza e subi em cima da calçada, ou quando fui dar a minha primeira volta de carro após ter conseguido a licença provisória, e tive um pneu furado graças a uma garrafa de pinga estilhaçada no meio da rua, fazendo eu ter que trocar o pneu com meu pai em plena chuva.

Mas, garotos, há uns dois meses eu voltei a dirigir. Sossegado, sem pressa, tranqüilo; um Barrichello. Inclusive, quando a Bem Amada veio para Sorocaba, levei-a para todos os cantos. Finalmente eu fui um homem nesse nosso relacionamento, visto que sempre foi ela quem me levou para cima e para baixo - comigo sentado no banco de passageiros, lógico. Dirigi direitinho, sempre com muito cuidado à cada curva ou freada brusca.

E ontem, meninas, passei por um teste dos mais árduos. Voltando com meu pai de São Paulo em direção à megalópole Sorocaba, após passarmos por Alphaville, papai dá um tapinha na minha coxa esquerda e pergunta: "E aí, quer dirigir na estrada?". Pedrifiquei. Confesso que só não fiz xixi na calça poque eu tenho um imenso controle da minha uretra. "Sé-sério?", engasguei. Ele balançou a cabeça positivamente, encostando o carro, soltando o cinto e indo para o banco de passageiros na frente.

Mudei de lugar, respirei fundo, coloquei o cinto, arrumei o banco, estralei o pescoço, olhei os retrovisores, dei partida, seta para a esquerda, pé na embreagem, primeira marcha, puxar o freio de mão, carro andando. "Agora espera os caminhões passarem". Esperei. "Agora acelera rápido, e continua na sua faixa até entrar na pista". Acelerei e esperei. "Segunda!". Engatei. "Terceira!". Engatei. "Quarta. Entra na pista, e engata uma quinta". Foi. "Agora é só ficar na sua faixa, não precisa ter medo".

Olhei para o conta-giros: 100 km/h. Fiquei embasbacado, pois acho que nunca tinha passado de 60km/h. Meu pai, cabra macho que é, manda eu dar seta e entrar na pista da esquerda. Uau, dirigindo na pista esquerda em pela Rodovia Castello Branco. Minha vontade era ligar para a Irena, mas fiquei com medo de capotar o carro na primeira curva. "Diminuí, pé de chumbo!", ouço. Fito o painel atrás do volante, tomo um susto e exclamo. "Santa Rita do Passa Quatro! 150km/h!".

Daí eu percebi que não é tão engraçado assim ficar na pista da esquerda, ultrapassando todos os caminhões e carros das outras pistas, porque, quando você menos percebe, você toma uma bela multa e fica bem difícil segurar o controle do automóvel com tamanha velocidade. E, juro, na estrada não parece que o carro voa tanto. Travado que eu estava, só fixava meu olhar para a direção em que meu nariz apontava, e só fui ter a noção de velocidade quando olhei para a janela do lado esquerdo e via a grama e as placas passando muito rápido por mim. Pior é o vento, que te joga de um lado para o outro da pista. Que medo!

Cheguei em casa, após mais de 40 minutos ao volante - um recorde pessoal. Fiquei com dor de cabeça e muscular, tamanha foi a minha tensão pelo caminho todo. Meu pai deu uma gargalhada, e disse que da próxima vez eu me acostumo.

Peraí! Como assim "próxima vez"?

12 de dez. de 2005

De novo não...


Dizem que quanto mais velhos ficamos, mais nos prendemos a uma rotina. Por exemplo: nossos avós. O saudoso seu Gilberto tinha suas atividades cotidianas com horários fixos e tudo mais. Lembro que ele acordava um pouco antes das sete horas, calçava seu tênis Bamba, uma boina estilosa, punha no bolso de sua camiseta listrada - era sempre umas de algodão com listras e gola pólo - um pente de bolso, R.G e o óculos de grau de armação grossa. Ia à padaria, conversava com todos que andassem pelas ruas, comprava dois ou três jornais do dia e fazia o mesmo caminho de volta, o que levava aproximadamente uma hora. Depois ele trazia o pão quentinho para quem estava acordando, sentava na poltrona da sala, lia os jornais de cabo a rabo, enquanto molhava seu pão francês na xícara com café com leite bem quentinho.

A Cris, minha vizinha, vive reclamando de sua mãe. Segundo ela, todo final de ano é a mesma coisa: Natal, obrigatoriamente com os pais, Ano Novo não necessariamente. Acontece que a mãe dela, uma senhora já de idade, encasqueta de ir sempre a Águas de Lindóia. E a Cris odeia essa cidade, simplesmente pelo fato de ter que ir lá, religiosamente, nos finais de ano das últimas décadas. "Não agüento mais ver as cabras de Lindóia", reclama.

Cito o caso de minha vizinha, pois sei do que ela fala: meus pais são iguais. Há dez anos as férias de Dezembro são passadas no Guarujá, a Acapulco brasileira. Não, não temos casa ou apartamento por lá. Meus pais alugam um quarto num apart-hotel que fica na beira da praia da Enseada. E eu odeio do fundo de minha alma esse hotel. Odeio mesmo.

Vou dizer para os leitores de outros estados, qual é o barato do Guarujá: é a praia que o paulistano não tem. Férias, segundo meu conceito, é se livrar daquelas pessoas que você já atura durante um ano inteiro. No Guarujá, bastam três quarteirões para você ouvir um "Ô, fulano! Que coincidência você por aqui!". Daí você se sente na obrigação de aceitar aquele churrasco na casa dele - e, pior, você acaba freqüentando a praia junto dele. É um horror!

O malfadado hotel não ajuda muito. A mesa de ping-pong que eu já faço uso desde os 10 anos de idade, continua a mesma. Está torta, as tábuas são presas por pregos, a rede é esburacada... A piscina há uns cinco anos não tem um azulejo no seu fundo. E todo ano alguém corta o pé por lá, enche a água de sangue, e a faz ficar interditada por uns dois dias - isso quando um guri não "batiza" a água. Melhor, só a vista que meus pais tanto adoram: um esgoto. Sim, na praia da Enseada você acha um esgoto a cada 100 metros, e acredito que vocês possam imaginar com o odor dali é agradável.

Tentei persuadi-los, como sempre, insistindo no fator de que devíamos conhecer outros ares. Ficaram de analisar minha proposta. Juro que por semanas achei que Deus finalmente atendera minhas preces. Mas eis, que, há um mês, minha mãe me liga no ônibus e solta a bomba: "Gu, a gente acabou ficando com Guarujá mesmo. Lá a gente já conhece, o pessoal do hotel é amigo, sabe como é...". Notaram agora a minha relação de como gente velha cria rotina - como meu avô ou a mãe da Cris?

Blasfemei e desliguei o telefone na cara dela. Todo ano que vou para aquele hotel e digo para mim mesmo: Nunca mais. E, adivinhem, todo ano eu volto.

5 de dez. de 2005

Foto repórter do mal

Dizem que nos sonhos revelam-se nossos desejos escondidos em nossos âmagos. Tudo aquilo que temos vontade ou vergonha de fazer aparece quando fechamos nossos olhos. Bem, se esse pensamento for verdade, digo que sou um verdadeiro crápula.

No meu último sonho, eu estava no apartamento de vovó. Entrei no quarto de titia e dei uma olhada, pela janela, para os prédios vizinhos ao nosso. Começo a ouvir um barulho muito alto e próximo. Desvio o olhar para a rua ao lado e vejo um pequeno avião, um Learjet, que rodopia no ar e se esborracha contra o chão.

Bum! Abaixo-me e o vidro da janela se espatifa. O apartamento treme, parece um terremoto. Aquela bola de fogo atrai o olhar de toda a vizinhança, que ficam nas sacadas de seus apartamentos gritando e pedindo por socorro. Os condutores de seus automóveis param seus veículos e descem correndo, com pequenos extintores de incêndio nas mãos. Minha avó grita, dando-me o meu telefone celular, como se dissesse: "Vai. Gustavo! Liga para os bombeiros, ambulância, faz alguma coisa!".

E sabem o que faço com o celular? Volto até a janela do quarto de minha tia e tiro fotos com ele. Do piloto sendo socorrido, do avião quase explodindo... Só ouço as vozes em minha mente: Nossa, quanto será que o Estadão paga por essas fotos mesmo?.

28 de nov. de 2005

Nada como flores

Estava lendo a Veja São Paulo da semana passada (estudante de Jornalismo que diz que lê Veja é um ser muito macho!), e dei uma olhadela naquela seção em que alguma celebridade é convidada para falar sobre o seu estilo - de se vestir, agir... E o escolhido desta edição da revista foi ninguém menos que Paulinho Vilhena.

Uma frase dele me deixou abismado. Perguntado pelo repórter se alguma vez ele já tinha dado flores a uma mulher, o ex-namorado da Sandy, Luana Piovani, Priscila Fantini e por aí vai, afirmou categoricamente que nunca tinha feito tal agrado a uma dama. Ainda tentou consertar a frase, dizendo que já tinha "roubado uma e dado na hora". Que triste!

Vinícius de Moraes, um grande entendedor do sexo feminino, disse que para viver um grande amor é necessário ter uma conta de crédito de rosas no florista. Alguém há de duvidar? Quem nunca deu um botão de rosas para a amada não sabe o que é bom na vida. E não precisa ser somente em datas festivas, como bodas e feriados. É mais gostoso dar do nada, escondido, de surpresa. O sorriso dela fica mais bonito do que nunca nesse dia.

Toda mulher gosta de flores. Já vi algumas negarem categoricamente. Preferem chocolates, livros, CDs. Mas nada representa tanto a feminilidade como um ramalhete de flores. Notem como o olhar delas fica após elas verem um lindo arranjo, quando o entregador da floricultura está carregando o presente para a residência da menina amada. "Que romântico", elas pensam. Azar se o namorado ou marido estiverem ao lado, pois no mínimo eles vão levar um beliscão daqueles.

Dia dos Namorados, no colégio, era muito engraçado. As comprometidas desciam correndo as escadas no primeiro toque do alarme que apontava o horário do intervalo. Elas se dirigiam até a entrada da portaria - lá tinha um corredor muito comprido, onde vasos de flores ou bichos de pelúcia ficavam alinhados um do lado do outro. Ouviam-se gritos histéricos, a maioria chorava, sacavam o celular do bolso e ligavam para o amado. "Ai, amor! Que surpresa!". Surpresa nada, elas nem dormiram na noite anterior, tamanha a aflição.

As solteiras passavam olhando e babavam de raiva. Tinha uma garota da minha classe que nem saía da sala. As mais invejosas ainda alfinetavam: "chocolate engorda e dá espinha, bicho de pelúcia é presente de criança". Mas ninguém ousava falar mal das flores.

Sábado, andando de ônibus pela cidade, lembrei da matéria com o Vilhena e citei para mim mesmo aquele bonito poema de Vinícius. Desci três pontos antes e comprei um bonito arranjo de lírios para ela. Se todo mundo fizesse isso às vezes, as pessoas seriam mais felizes.

22 de nov. de 2005

Estou virando...

Faz tempo que eu não dou às caras nesse espaço. Mas um fato, deveras inusitado, me faz voltar aqui para lhes contar uma historieta bem engraçada.

Sabem o Jay Vaquer, do post abaixo? Então, ele colou meu texto sobre ele em seu blog - porra, todo mundo tem blog hoje em dia! - malhando o que eu escrevi, chamando-me de jornalista de meia-tigela e coisas mais pesadas. Ele ainda quis ser espertalhão ao ponto de não querer citar meu nome e o endereço do Daqui pra Lá!, mas aconselha aos seus fiéis leitores que me procurem no Google. Porra, virei celebridade!

Faz mais de dois anos que escrevo nessa joça. Nunca fiz publicidade do DPL por aí, algo que o Ronald sempre me encheu o saco. Isso aqui raramente supera 30 ou 40 visitas diárias. E se continuo a postar aqui, é em razão de amigos que gostam e porque rabiscar algo na tela do computador me faz bem. E só!

Agora, ficar se preocupando com crítica de internet é coisa pra lá de ridícula, seu Vaquer! Valha-me Deus! Insinuando que gosto da fruta e mandando às favas minha querida mama? Coisa baixa! Lembrou-me muito a Glória Perez e o Dado Dolabella, que ficam perseguindo pela internet quem fale algo deles que não seja elogios. Até na minha página do Orkut ele foi fuçar!

Pois é, vou ficar popular. Isso aqui vai encher de comentários difamando minha pessoa, minha namorada e até meu cachorro. Se eu fosse alguém famoso, crítico musical, de alguma magazine, um formador de opinião, vá lá! Daqui a pouco ele entra com um processo contra minha pessoa...

E, Vaquer, sua música é ruim mesmo. Os vídeo-clipes são até bem feitinhos - gostava daquele "A Miragem", mas só. Mas que você acabou se revelando um escrotinho, ah, isso se revelou. Vá se preocupar com coisas mais importantes, por favor! Ninguém dá muita bola para meu blog, não precisa me ajudar a ganhar leitores assíduos. Não quero ser um Diogo Mainardi, apenas falo daquilo que considero uma merda. E só.

Ridículo, ridículo, ridículo.

OBS: Leiam o blog dele, recomendo. O que ele quer é provocar polêmica e detonar com quem tira um sarrinho de sua cara.

16 de nov. de 2005

Costumo dizer que há dois tipos de japoneses: os primeiros são os bem nerds, de corte de cabelo franjinha e ultrapassado, que usam óculos de aro grosso e são franzinos. Os outros são os kamikazes, excêntricos, populares entre todos, que não estudam nada e são os maiores figuras das salas de aula. E eu estudei com um cara que preenchia esse segundo perfil, o Rafael.

Assim que me mudei para Sorocaba, em 1993, meus pais me colocaram para jogar tênis. Treinava de manhã, o que era um saco, pois sempre odiei acordar cedo para fazer qualquer coisa. Mas eu me divertia nessas manhãs, principalmente em razão do Rafael, que era um ano mais velho do que eu. Ele era uma figurinha. Ele jogava todo estranho, tinha um sotaque engraçado e um cabelo à la Jackie Chan. Ambos vivíamos perdendo para o Tiago, que era melhor jogador que nós. À cada derrota, eu ficava bravo e resmungava com Deus e o mundo, mas o Rafael nem ligava. Dava risada sozinho e ficava batendo bola na parede, como se nada estivesse acontecido. Esse trio durou pouco mais de um ano.

Alguns anos mais tarde eu reencontrei o Rafael. Estávamos na sétima série - a anta tinha repetido esse ano. Ele continuava da mesma forma: pateta, lerdo de raciocínio, falando ainda mais engraçado e mantinha o mesmo cabelo de outrora. Usava uns shorts curtos que faziam sucesso entre as meninas da sala (as mais atiradas ficavam pegando em suas coxas). Ele costumava vestir sempre o mesmo moleton, um da Hard Rock Cafe, cinza, que já estava todo desgastado na gola. Pior só o seu New Balance moído, todo rabiscado de canetas hidrocores.

Talvez eu fosse um dos únicos dali que tinha paciência com o rapaz. Logo fiz um grupo de amizade: eu, ele e o Guilherme. Morávamos perto um do outro, e passávamos às tardes após as aulas jogando futebol e basquete no meu quintal, ou disputando fervorosas partidas de 007 Goldeneye no Nintendo 64. Isso foi durante um ano inteiro. Ele vinha pedalando sua montain-bike estilosa e a largava em um canto qualquer de minha casa, sempre pedindo para a empregada prender o cachorro, pois ele morria de medo de ser mordido. Justificava-se dando uma gargalhada sensacional, e balbuciando palavras que só pertenciam ao seu universo.

No ano seguinte eu mudei de escola. Soube que ele começou a namorar a Alessandra, a garota mais bonita da sétima série. Fiquei anos sem ter alguma notícia dele. Às vezes o encontrava em shows ou festas. Trocávamos apertos de mãos e conversávamos pouco. Em poucos segundos cada um ia para o seu lado. Acho que isso foi fruto daquele tipo de amizade que só temos com colegas de escola. São curtas, e basta o primeiro afastamento para só restar a saudade.

Voltei a vê-lo e saber como ele estava graças ao Orkut. Estava mais fortinho, tinha a cara de bobo de sempre, com o mesmo cabelo estranho jogado no rosto. Sua descrição era um sarro, pois não tinha como entender o que ele queria dizer com aquilo. No fundo, acho que ninguém nunca soube compreender o que ele queria dizer. Às vezes eu xeretava o profile dele, só para saber como estava sua vida. Mas não chegamos a trocar mensagens, acho. Apenas um adicionou o outro. Acho que nem precisávamos ter o que falar do outro.

Nesse final de semana eu soube que o Rafael morreu, há um mês. Morte besta, algo típico dele. Bêbado e com a perna quebrada, foi atropelado enquanto atravessava a pista de uma estrada fuleira, saindo trôpego de uma festa. Fiquei embasbacado com o fato. Nessas horas você vê como o tempo é estranho, pois me recordo direitinho de quanto tínhamos 12 e 13 anos. Parece que foi ontem aquelas tardes de quarta-feira sem fazer nada, onde um ficava amolando o outro; dos trabalhos de Biologia que minha mãe fazia e nós levávamos crédito por isso; de quando eu chutei a bola na casa do vizinho e ele pulou o muro para pegá-la, capotando feio de cima de uma bananeira; do campeonato interno de futsal da sétima série, em que bati um lateral com efeito e ele, correndo, pegou de primeira e fez um golaço (fui o artilheiro do time nessa competição, algo que nunca se repetiu na minha vida).

O Rafael foi um dos caras mais engraçados que eu já conheci.

10 de nov. de 2005

Dicotomia

Os dois lados de "Atoladinha", música de pancadão entoada por Tati Quebra-Barraco e Mc Bola de Fogo:

O lado engraçado

Ônibus lotado, volta para casa. Silêncio, pessoal se acotovelando, todo mundo olhando para o trânsito parado do outro lado da rua. "Piririm piririm piririm alguém ligou pra mim! Piririm piririm piririm alguém ligou pra mim!".
Todos começam a rir. No fundo do ônibus, sentada e com o rosto vermelho, a dona da música se agacha para atender ao celular.

O lado triste

Saída da faculdade, hora do recreio (ok, intervalo!). Enquanto eu e a Irena esperamos para atravessar a rua, uma van, com um monte de crianças a bordo, cantarolam algo. O automóvel passa rápido, mas mesmo assim conseguimos ouvir uma garota cantar: "Vai me enterrar na areia?". E um coro de vozes masculinas juvenis respondia: "Não, vou atolar!". A garota repetia mais uma vez a sua frase, assim como os garotos, que pareciam não ter mais que oito anos.

Esboço um sorriso, assim como a namorada. Ela comenta:

- Meu, nessa idade eu ficava cantando no ônibus escolar "O fulano roubou pão na casa do João".

7 de nov. de 2005

As 100 mais gostosas do mundo?

Que fazer lista é uma coisa que gera quebra-pau, isso é batata. Opiniões diferentes, todo mundo gosta de dar bedelho, as primeiras posições são super contestadas... É sempre o mesmo rolo. Eu, que adoro fazer até um top-list de "Cinco maiores golaços que fiz em minha vida", sou um grande crítico de listas feitas por outras pessoas. Fico cri-cri com parada musical (vide o post abaixo) e mais ainda com lista quentinha soltada pela revista VIP sobre as 100 mulheres mais gostosas do universo.

Dou o braço a torcer com a primeira posição: Angelina Jolie. Merecido mesmo. Alguém discorda frente a uma boca daquelas? Ela é hour-concour e pronto! O meu pitaco seria o de não selecionar mulheres internacionais, porque a cada semana qualquer publicação mundial libera a sua listinha. O que representa à Angelina ser eleita pela VIP, enquanto ela já ganha na People, em tablóides e em revista do Sri-Lanka. Só deixaria as brazucas porque o nosso querido país tem competência para tanto. Vamos às polêmicas:

Para começar, como pode que algumas garotas não constem entre as 100 mais, como Luana Piovanni, Gisele Bündchen, Fernanda Lima e, pasmem, Daniella Cicarelli! Daí você pensa: "Uau! O pessoal foi rígido dessa vez". Foram nada. Por votação pela Internet, pipocaram garotas que nem sei de que planeta são. Exemplos: Ana Carolina Gequelim (95ª posição e grande modelo de lingerie); Calyne Di Loreto (hostess da Club Chocolate, loja hype e caríssima na Oscar Freire) e Yamila Diaz-Rahi (modelo argentina).

Muitas mulheres da lista são ícones de nerds. A modelo argentina citada tem várias fotos besuntadas de óleo espalhadas pela rede; Emanuelle Béart (25ª) é aquela atriz do filme pornô-soft Natalie X. E tem gente lá que deve ter tido fã clube especial para votar. Muitas modelos magérrimas e sem renome, estrelas internacionais batidas e poucas ex-dançarinas de grupos de axé.

Agora, as quinze primeiras posições é que geram polêmica. Bianca Rinaldi, Yasmin Brunet (credo!), Julianne Moore (bonita, mas não é gostosa), Adriana Bom Bom, Sarah Michelle Gellar (fruto da votação dos nerds apaixonados por Buffy, A Caça Vampiros)... Na linha de frente, Ana Hickmann em segundo e Alinne Moraes em terceiro não geram muitas discussões. São bonitas mesmo e pronto.

Agora, levar a sério uma votação que põe a Glória Maria em décimo-terceiro lugar é dose! O pessoal do Judão já tinha levantado a bola contra isso. Como alguém me elege a Glória Maria numa lista das 100 mulheres mais sexy do mundo e ainda terem a pachorra de colocá-la em 13º lugar? Concordo que a coroa tá bombada e enxuta, mas como isso?

Isso é brincadeira arrumada. Só pode.

3 de nov. de 2005

Femônemo

O maior fenômeno da música brasileira tem nome: Jay Vaquer. Cantor e ator (não sabia disso, vi em sua comunidade do Orkut), o rapazote estava em primeiro lugar no Disk MTV de ontem. Uma façanha, digamos. O cara deve ser bastante popular, suas músicas não devem parar de tocar nas rádios, shows seus devem ser disputados com batalhas sangrentas pelos seus fãs. O cara é foda.

Mas faço aqui o desafio: alguém conhece alguém que goste do Jay Vaquer? Um amigo, parente, conhecido ou inimigo que tenha chegado para você em uma segunda-feira e tenha lhe falado, pondo a mão em seu ombro: "Cara, vi o show do Jay Vaquer ontem, e que beleza, rapaz!". O Jay Vaquer já tocou no Faustão? Suas músicas já viraram ring tune? Ele já foi atração de alguma promoção da Jovem Pan? A Danni Carlos já regravou algo dele? Resposta: não.

Então me expliquem, por favor. Da onde surgiu esse homem, que só aparece na MTV? Não é a primeira vez que ele lidera o programa das seis horas da tarde. Isso já aconteceu com outros três clipes feitos por ele - em um intervalo de uns três anos, acho. E ele também é figurinha do RockGol, aquela peleja organizada pelo canal para os músicos chutarem uma gorduchinha. Ele é famoso pelo "drible do Vaquer".

Sua comunidade do Orkut tem pouco mais de 1000 membros - até o Arcade Fire tem mais. Quem lidera o Disk MTV geralmente é a Pitty, CPM 22, essas coisas. E todo mundo conhece algo deles e suas respectivas imagens. Alguém já viu uma Capricho com o Jay Vaquer na capa?

Digam-me, ele não é o maior fenômeno da indústria musical tupiniquim? Se é fruto de jabá ou coisa que o valha, já é outro assunto.

29 de out. de 2005

*1995 + 2005

No início de nosso namoro, ambos não tínhamos carro. Para sairmos à noite ou irmos a algum lugar, dependíamos de nossos pais e parentes. Parecíamos pré-adolescentes pedindo pra mamãe nos deixar no shopping e nos pegar à meia-noite. Carro eu não tinha, nem ela. Melhor, ter ela tinha: um Citroën ZX, ano 95.

Tal veículo era o queridinho da família dela. Motor 2.0, direção hidráulica, quatro portas, ar-condicionado... Uma gracinha. E foi com ele que ela teve suas primeiras experiências ao volante. No início, papai e mamãe eram temerosos. Só deixavam-na guiar se um deles estivesse ao lado, supervisionando tudo; desde uma brecada mais brusca até a uma marcha mal engatada. Um dia ela os convenceu que merecia uma chance de poder se livrar das correntes de seus progenitores. Ligou para o namorado e disse empolgada: "Hoje vamos sair só nós dois, de carro".

Eu estava mais nervoso que ela. Após pegarmos um DVD na vídeo-locadora, ela não viu um Ford Ka frear e pimba! Amassetou a traseira do coitado. Chorou muito, disse que jamais iria voltar a dirigir - o que não funcionou. O carro foi para o conserto e voltou todo brilhante. Aliás, aquele Citroën era problemático. Constantemente ele morria sozinho, dava pane na bateria... "Está ficando velho", diziam os verdadeiros amigos à sua mãe. Mas ela não escutava; aquele carro azul era o xodó dela.

O carro era todo arranhado nas laterais e na frente - fruto das barbeiragens da namorada, que se perdia toda ao tirar o carro da garagem do prédio. "Esse raspado é novo?", eu ironizava. Ela ficava uma arara. "Ao menos eu dirijo!", eu ouvia como resposta. Dirigi a Máquina Mortífera, apelido da carcaça, apenas uma vez, fazendo uma baliza. Não confiava naquele bicho de jeito nenhum. Teve uma vez que ele fazia tanto barulho que parecia uma carroça velha. Novamente foi para o mecânico, que diagnosticou o paciente: "Esse não vai durar muito não".

E foi nessa fatídica quinta-feira à noite que tudo aconteceu. Após pegar a irmã no clube, ela vinha tranquilamente pelas ruas dos Jardins, quando uma fumaça começou a sair de dentro do capô. Tentou seguir até a sua casa, mas não deu tempo. A fumaça deu lugar ao fogo. Puxou o freio de mão e saiu correndo, de pijama e tudo. Os transeuntes que circulavam pelo local tentaram ajudar, ligando para o corpo de bombeiros, mas não havia mais salvação. Eram pouco mais de nove horas da noite quando o Citroën ZX, ano 95, a Máquina Mortífera, deu seu último suspiro.

Até essa manhã de sábado ele ainda se encontrava parado, no mesmo lugar em que ficou antes. Suas peças aproveitáveis serão vendidas, o resto vai para o desmanche. Realmente uma grande pena. Sentirei falta de quando eu sentava no banco do passageiro e ficava dando risada quando a namorada, vendo que o carro morria sozinho a cada minuto, dava um murro no volante e se descabelava gritando para si mesma: "Eu odeio esse carrooooo!".

Mas eu o achava um barato.

27 de out. de 2005

Ato falho

São exatamente sete horas e trinta minutos de uma manhã de quinta-feira. Enquanto chegava à faculdade, bocejando e tirando remela do olho, passo pela banca de jornal. Como sempre, dou uma bisbilhotada nas revistas e manchetes dos jornais. Passo o olho rapidamente e tomo um susto. Forço a vista e realmente leio aquilo que eu vira:

"Júnior assume para a mãe que é gay"

Caramba!, penso. E não é que o irmão da Sandy resolveu assumir mesmo? Bom para ele, que sempre levantou suspeitas por aí. Puxo a magazine daquele bolo e vejo do que se fala a matéria, de fato. "Júnior assume para a mãe que é gay". Era outro Júnior, aquele personagem da novela América. A tal revista era uma de fofocas, cujo nome não vem à cabeça agora (acho que era Minha Novela, isso existe mesmo?).

Bom dia, Gustavo!

24 de out. de 2005

E deu Arcade Fire!

Com o dedo de volta ao normal, relato aqui como foi a minha excursão à Arena Skol Anhembi, onde os paulistanos puderam conferir uma mini-versão do Tim Festival. Teve do mangue-beat do Mundo Livre S.A., que eu não vi e escutei da rua, à cingalesa M.I.A, ao super Arcade Fire, até os cowboys de calças extremamente justas do Kings of Leon. Ah, e teve Strokes.

Primeira impressão: abundância de pessoas com jaquetas da Puma, jeans surrado e tênis All Star. As garotas pareciam ser do Cansei De Ser Sexy, com franjinhas e óculos de aro grosso. Os homens, vinham com uma aparência sujinha fabricada em casa. Mesmo pessoal que se trajou de vermelho e preto para os irmãos White ou passaram lápis nos olhos para apreciarem o Placebo.

Arcade Fire fez o melhor show da noite. Minha opinião é meio que imparcial, já digo logo. "Funeral" é o álbum mais sensacional do ano, e ninguém naquela arena mostrou ter tamanha presença de palco. Trocando de instrumentos entre eles mesmos, o pessoal do Canadá fez muito fãzinho tonto do Strokes calar a boca. Bastou a terceira música para neguinho dar a mão à palmatória. "Puta banda!", ouvia. Rolou até uma versão deveras estranha de "Aquarela do Brasil". Pena que a qualidade de som estava horrível. Muito baixo, abafado, distorcido. Um cocô. Show performático e hipnotizante. Bonito que dói!

Só estou lendo neguinho descendo a lenha na M.I.A. Poxa, eu gostei! Foi maior animado, as batidas são feitas para mexer a cadeira, e ela parecia um gafanhoto, de tanto que pulava. Rolou um certo preconceito por parte daqueles maconheiros detestáveis que vão a um show para fazerem baderna, berrar, empurrar.. 10 Dollar, junto com o hit Bucky Done Gun animaram mesmo. Até a minha amiga que foi de muletas não resistiu.

Kings of Leon foi morno. As músicas são bacaninhas, mas soa tal como o CD. Não mudam um acorde, não conversam com o público... Broxante. Strokes foi legal, com o Julian bebadaço que só ele. Ele vai muito ser o Ozzy daqui uns 30 anos. Já anda igual ele e balbucia idem. O Fabrício, como no Rio, saiu da bateria no final do bis, foi ao microfone e emendou um "Boa Noite, irmãos brasileiros".

Torrei meu dinheiro comprando cachorro quente a seis reais e refrigerante a quatro pilas. Depois eu só dormi três horas porque às sete horas da manhã eu tinha prova de "Teoria da Comunicação".

Suuuper...

20 de out. de 2005

Postando com as duas mãos não dá

*Eu escrfewver hpoje, maas nom mmwento me endnonmtro aqui, com uma tala metalçica dm mu dedo anular euesodo, graçaas a um infofmtunio ocorrio onem à noitew, um em partids de abola ao cesto.

Sap:

Eu ia escrever algo hoje, mas no momento me encontro aqui, com uma tala metálica em meu dedo anular esquerdo, graças a um infortúnio ocorrido ontem à noite, em uma partida de bola ao cesto.

*Volgo em bwvwe!

Volto em breve!

17 de out. de 2005

Eu vou para o inferno...

(Minha mãe liga para cá):

- Nossa, Gu! Você viu o caso da USP?
- Do assassinato?
- É, você não achou um absurdo? E ainda são estudantes de Jornalismo!
- ...
- Você não tem medo disso?
- Acredito que não tenha ninguém da minha sala querendo me esfaquear, viu!
- Isso é um horror, um absurdo!
- Ah, pelo menos agora vão abrir mais duas vagas para transferência, né?

13 de out. de 2005

Parem, por favor!! O que eu fiz de errado?!


Você ficou sabendo??? Uma bomba!!! Clique aqui e veja você mesmo!!!!!! Vai explodirrrrrr:

BUUUMMMMMMMMMMMMM!!!

Ah, eu pego quem inventou esse Orkut. Mas eu pego...

12 de out. de 2005

Hoje é 12 de outubro,


Dia de Nossa Senhora de Aparecida e Dia das Crianças.

Eu, que tenho 20 anos de vida, adoro quando esta data chega, pois a minha avó, do jeito que só ela é, vem com um dinheirinho na mão e entrega para mim e para o meu irmão, de "apenas" 22 aninhos.

"Feliz Dia das Crianças!", ela diz, entregando-nos aquela pequena lembrançinha, após dar um beijão na bochecha de seus únicos netos.

Agora me respondam, invejosos de plantão: existe algo mais gostoso nessa vida?

9 de out. de 2005

Um verdadeiro vencedor


Meu irmão sempre foi melhor esportista do que eu. Mal ele aprendeu a andar e já estava trajando um kimono, derrubando garotinhos nos tatames do interior paulista. Sua prateleira tinha troféus, seu armário era lotado de medalhas - havia, inclusive, aquela famosa pasta de recortes feita pelas mães fãs número 1, com manchetes de jornais e fotos de premiação. E ficava na casa de vovó, tomando Toddy na mamadeira e assistindo Kobi no Glub-Glub.

Eu também queria ganhar uma medalha, mas só para exibir no meu quarto, tal qual meu mano. Uma vez, em um torneio bobo realizado na própria academia de judô, ganhei uma medalhinha de prata simbólica pelo o meu esforço. Foi mais que suficiente. Um mês depois eu não queria mais saber de ficar me agarrando com moleques mais pesados do que eu.

Daí eu fui para o futebol, para desespero de mamãe, infeliz com a minha escolha. Como o Romário, nunca fui de treinar e sim de jogar. Por isso eu nunca era escalado no time titular, por birra do treinador. Só entrava para fazer número. O máximo que eu consegui foi dando um pontapé no adversário. Ganhei um cartão amarelo, algo raro entre jogos de crianças de 10 anos.

Mas meu ápice foi em um aniversário de um filho de um amigão de papai. O garoto era tão mimado que seu progenitor fez a sua festa em uma chácara que tinha um campinho de futebol e tudo. Tinha tanto moleque lá que houve um mini-campeonato de futebol, com direito a troféu e medalhas. O aniversariante estava no meu time e o juiz era o meu pai. Ou seja, não tínhamos como perder.

E fomos ganhando partida após partida. Eu era o caçula do time, ficava na lateral-direita, guardando posição. Até um poste tinha maior mobilidade que a minha. Fomos para a final após um jogo duríssimo e muito contestado pelo outro time (meu pai não deu um gol legítimo, que batera no travessão e entrara).

Na última partida, decisão por pênaltis. Eram três batedores de cada lado, e era óbvio que eu desperdicei a minha cobrança. Devia estar no "Hall da Fama", por ter sido o único cara do mundo a cobrar um pênalti para a lateral do campo. Fomos campeões mesmo assim, graças a meu irmão, que defendera o último penal (sim, ele era o goleiro). O aniversariante, capitão da equipe, levantou o troféu e fizemos a festa. Mas com quem ficaria o troféu, afinal?

Óbvio, que por ser uma brincadeira infantil, ninguém quis brigar por isso. Quando o pai do aniversariante já estava levando a taça para dentro da casa, algo tomou conta de mim para gritar: "Ei! Eu quero o troféu!". E todos olharam para mim, mas eu nem dei bola. Peguei aquele pedaço de latão e enfiei debaixo do braço. Não deixei ninguém tocar nele até o fim da festa.

Hoje ele está guardadinho, em meu armário. Meu primeiro e único troféu. Digo com orgulho que sou campeão de futebol da primeira edição da Taça Rafael Singh.

6 de out. de 2005

Só aquecendo

Voltei à academia. Isso acontece comigo sempre. Faço uma semana, descanso a outra, me machuco na próxima e depois eu retorno. Vou malhar, por mês, somente uma semana. Ridículo.

Há uns três anos meio braço era fortinho, o tríceps saltava quando eu coçava o cocuruto. Mas eu continuava fracote, e vivia perdendo dos meus amigos nos braços-de-ferro da vida. Agora meu braço é mais fino que o do Salsicha. Está até meio flácido. Dou um "tchau" contido para o pessoal, pois quando aceno a pele debaixo do muque balança. É vergonhoso.

Daí eu voltei a fazer exercícios na segunda-feira. Até corri na esteira! Fiz umas barras e, até ontem, doía até para eu me enxugar com a toalha. Hoje, por motivos inexplicáveis, voltei ao recinto. Corri 20 minutos na esteira, empolgado com um rap do Rappin´ Hood com o Jair Rodrigues. Pulei da esteira, tomei água e fui fazer exercícios para as costas. Aquelas coisas.

Enquanto eu puxava aquela barra (acho que o exercício se chama Pulley) e inspirava e expirava feito um condenado, ao meu lado senta uma guria de no máximo 14 anos. Um palito. Ela repete tudo aquilo que eu faço. Puxa a barra até os ombros com o pescoço abaixado e faz uma cara de sofrimento. Detalhe: ela consegue levantar mais peso do que eu.

Enquanto descansava para a próxima série a ser repetida, a garota olha para os meus míseros quatros tijolinhos de carga e solta:

- Tá fraco, hein?

Fiquei puto. Subi mais quatro tijolos e respondi em tom de desafio:

- Que nada! Isso é só o aquecimento.

PS: Gente, é normal não sentir mais os braços?

26 de set. de 2005

Febre de bola

Está nos cinemas - creio eu - o filme "Febre de Bola", baseado no livro homônimo de Nick Hornby. A película não tem nada a ver com a obra escrita: um é sobre beisebol e o outro de futebol. Não vou me ater muito a tecer comentários sobre as duas coisas, senão fica chato. Mas recomendo ver uma das cenas mais bonitinhas do filme, que é quando o garotinho é levado por seu tio à primeira vez no estádio do Red Sox.

***

Em 1992, eu tinha sete anos. Época de ouro do meu tricolor. Bi-campeão paulista, acabara de levar a sua primeira Taça Libertadores da América, iríamos disputar o primeiro Mundial Interclubes. Nessa época eu morava em Tupã, e quando passava as férias na casa de meus avós, freqüentemente via meu tio saindo de casa com um outro tio meu, em seu Gol geração 1, verde-água. "Eles vão ao jogo", dizia vovó. Pedia para ir junto. "Ainda tá cedo, Gu! Um dia você vai", ouvi. Fiquei puto; tranquei-me no banheiro e comi meio saco de balas 7 Belo.

Ano seguinte, mudei-me para Sorocaba, pertinho de São Paulo. Meu avô já aproveitara e comprara para mim o uniforme inteiro do tricolor. Quando eu jogava bola na escola, ia todo uniformizado, desde os meiões até o shorts. Era zoado, lógico, mas nem ligava. Tinha roupa de treino, agasalho... Todo um aparato ideológico imposto por vovô, temeroso que seu neto sucumbisse às vontades palestrinas de seu pai.

Campeonato Brasileiro, 93 (ou seria o Paulista? O Raí já tinha puxado o carro...).Titio foi até Sorocaba pegar o meu irmão e eu. Teríamos a honra de ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Fui trajado como meus ídolos: Müller, Palhinha e Cafu. Com o manto tricolor dos pés à cabeça. E, digo, a sensação de entrar em um estádio é única. Desde a torcida cantando nas intermediações, até quando você sobe a rampa e vê a sua frente um tapete verde enoooorme. Era um São Paulo X Mogi Mirim. Melhor jogo para estrear um guri, impossível. Chances de vitória eram claras. Afinal, quem era aquele time vermelho e do interior frente ao grande Campeão Mundial? Ninguém, óbvio.

Ficamos na numerada, pois arquibancada ainda era algo muito cedo para minha idade. O êxtase era tanto que eu tomei uns três picolés de Leite Moça só no primeiro tempo. Pintava goleada. O Leonardo já tinha guardado o seu. A segunda etapa prometia. O gol atacado pelo tricolor era pertinho da gente, e logo vimos um tento, outro do Leonardo! Estava 3X1, algo assim. E como era gostoso vibrar com um gol marcado. Na sala de casa não tem graça pular e esmurrar o ar. E como era engraçado quando o time adversário assinalava o seu, e tudo ficava um silêncio... Alguns poucos minutos depois aconteceu o episódio que marcou de vez o meu primeiro jogo no Morumbi.

O Juninho (Paulista, Campeão do Mundo de 2002), era novinho, acabara de ser contratado do Ituano. Ele era rápido, pequenino e ligeiro. Sei que ele pegou a bola atrás da linha do meio de campo e foi em frente. Passou pelo primeiro, cortou o segundo e foi fintando o terceiro. Todos levantaram de pé. Um tio que vendia amendoim e circulava pelas cadeiras, parou bem em minha frente. Não vi mais nada. Berrei, mas ninguém escutou, porque o Juninho já estava cara a cara com o goleiro (imagino), e só senti um abraço de meu tio, o cara do amendoim jogando tudo pro ar e avistei o Juninho indo comemorar com o banco de reservas.

O meu algoz virou para mim e disse: "Caralho, moleque! Em 15 anos trabalhando aqui eu nunca vi um golaço desses!".

Filho duma égua...

22 de set. de 2005

Piadinha fenomenal contada pelo meu tio

Vocês sabem qual é o carro que avisa quando vai chover? É o...


Celta preto!

19 de set. de 2005



Amanhã é aniversário da namorada. Quando datas festivas chegam, como Dia dos Namorados, Natal, Aniversário de Namoro ou Dia das Crianças, eu penso: "Ok, tenho que pensar em um presente bem bacana". Olho a minha conta corrente, solto um muxoxo; abro a carteira e repito o ritual. "Algo barato e criativo". Começo a remexer a minha cuca, tendo flashbacks de momentos em que ela parou em frente à vitrine de alguma loja (o que é bem comum, diga-se de passagem) e deu um sorriso, olhando com aquele olhar de ternura para mim. Mas nada me vem à memória, nadica.

Presentes manuais, nem pensar. Sempre fui péssimo para desenhos ou algo que envolva recorte, papel, tesoura e cola. Certa vez, em uma aula de Educação Artística, a professora pediu para desenhar retas que se cruzassem, algo do tipo. Fiz uma suástica, porque tinha visto o símbolo em algum lugar. A velha, a professora, quase teve um treco e por pouco não fui parar no psicólogo do colégio. O telefone toca:

- Alô?
- Gu?
- Opa, mãe! Tudo nos conforme?
- Ahãm. Vem pra cá (Sorocaba) nesse final de semana?
- Pô, mãe! É aniversário da Irena. Esqueceu?
- Vixi! O que você comprou?
- Um DVD...
- Ai, que coisa de pobre! Só isso?
- Mas esse é especial... (Bicicletas de Belleville).
- Compra uma bolsa, ela não está trabalhando? Eu pago, é "nosso presente". Mas nada muito caro, ok?

Ah, obrigado mama. Dia seguinte vou ao Shopping Iguatemi, pólo de mauricinhos e patricinhas paulistanas, que não andam, desfilam. Bronzeadas, escova progressiva, iPod e bolsa Louis Vuitton. Fico avexado. Essas mulheres me dão medo. Tudo custa o olho da cara. Uma bolsa, menor que uma pochete, custa três dígitos. E homem, fazendo compras para uma mulher, só pode dar em problema. Bastava pôr a ponta do tênis em alguma loja, onde o hormônio estrógeno estava no ar, que eu já era medido com os olhos. Tentei ligar para a Erica ou a Bruna, pedindo ajuda feminina, mas elas estavam ocupadas. Nessas horas eu queria ter um amigo gay e desocupado, juro!

Achei o mimo em uma loja vazia, no fundão, com um preço mais em conta em relação às outras. Uma senhora, que estava comprando uma carteira, ajudava-me. "A verde não combina com qualquer coisa, escolha algo mais neutro". Ia até o fundo, achava qualquer bolsa bonitinha e, quando já estava indo ao caixa, era alertado. "Tua namorada é a Regina Casé, por acaso?". Acabei levando uma bonitona, toda chique, a cara dela - nada ostensivo, bem "de jovem", como me disse a vendedora.

Descobri que toda mulher, sem exceção, quando faz compras, tem que ir e parar em todas as lojas do mundo para pesquisar - e pechinchar - os preços. Tomei uma erguida daquelas da tiazona quando confidenciei que aquela havia sido a primeira loja em que eu entrara de verdade. "Homem não serve pra nada mesmo. Só para reclamar e fazer merda!". Enfim, sai todo pimpão, mas temeroso se a bem-amada acabasse odiando a tal bolsa. No final ela adorou, e já a exibe para cima e para baixo, lotando-a com milhares de tranqueiras femininas.

E, repetindo o ritual do último ano, peço ao leitor para darmos dar um salve, um abraço, um Feliz Aniversário para a Nenoca. Quem não os fizer, já sabe: bom sujeito não é.

14 de set. de 2005

Dorminhocos, graças a Deus


Ah, que frio! Não está mais dando para agüentar; dá vontade de dormir o dia inteiro, trancafiado no quarto, enrolado num bolo de cobertas. Só deixar a cabecinha para fora, ficar de rabicho bisbilhotando o que está passando nos inúmeros programas de culinária vespertinos.

Felizardos aqueles que não trabalham. Que fazem o esquema predileto dos dorminhocos de plantão: dormir de madrugada para acordar cedo, que é para dormir na aula, que é para reclamar da vida, que é para dormir no ônibus, que é para chegar em casa, almoçar, ir até o armário e pegar o travesseiro e edredom de estimação, correr até o sofá, ligar a televisão em um volume bem baixinho e passar horas e mais horas roncando. Quem, da faixa dos 12 aos 18 anos, que se orgulhava de não precisar trabalhar e não fez esse esquema, será uma pessoa rancorosa para o resto da vida.

Há vários tipos dos apreciadores de uma soneca. Deixo cá uma lista dessa patota. Vejam em qual categoria vocês se encaixam.

1) Saudável: Trabalha ou faz inúmeras atividades à tarde, como ter aulas de outros idiomas ou praticar algum esporte. Estagia entre seis e oito horas por dia, é querido por todos da empresa. Dorme durante o Jornal Hoje e acorda no início do Vídeo Show, antes de começar aquele quadro da Angélica. Dorme entre seis e oitos horas por dia e, pasmen, está sempre disposto. É feliz. Consegue conciliar trabalho com faculdade e mesmo assim tira notas altas.

2) Esquecido: Se trabalha, dá canseira na chefia toda semana. Estudou o colégio inteiro no período da manhã, e acabou pegando o costume de tirar uma sesta de uma hora. Tenta ser como o Saudável, mas dorme a meia-noite porque ficou acompanhando a reprise do seriado predileto que passa, na verdade, às oito horas, mas como ele trabalha esse horário, fica impossível de acompanhá-lo regularmente. Estagia entre quatro horas e seis horas por dia. Dorme durante o Jornal Hoje e acorda durante o Vídeo Game, da Angélica, com taquicardia e pressa por estar atrasado. Tem inveja do Folgado.

3) Folgado: Já estagiou e até consegue trabalhar. Quando procura ofertas de trabalho, sempre tenta dar um jeito de entrar no trampo as duas ou três horas da tarde. Seu estágio provavelmente tem carga horária "variável", pois daí ele pode entrar e sair a hora que quiser na empresa, sem ter a necessidade de bater cartão. Sai meia hora mais cedo da faculdade e pede para o colega ao lado assinar sua presença. Almoça correndo e cronometradamente à primeira palavra do Evaristo Costa, fecha os olhos e dorme... Até começar a tocar a introdução do Vale A Pena Ver de Novo. Dorme durante o Jornal da Noite, e sente falta da voz entediante da Ana Paula Padrão. Está sempre bocejando por onde passa. Tira sarro do Saudável, e queria a voltar a ser Vagabundo.

4) Vagabundo: Prefere fazer freelancer, porque é um bico que dá um dinheiro legal para ele poder comprar as suas necessidades vitais: livros e Cds. Dorme bem tarde, na terceira entrevista do Jô, mas prefere esperar até mais tarde para assistir ao David Letterman, que é bem melhor. Dá risada com a Sue Johanson, enquanto fica no Orkut (nesse horário não trava!) ou na Internet vendo sacanagem. Dorme durante o Vídeo Show e acorda no final da Sessão da Tarde - quando não no começo da Malhação. Vive com insônia à noite, já que dorme demais à tarde. Chega atrasado na aula e, matematicamente, tem anotado em sua agenda quantas faltas tem com cada professor, para não correr risco de estourar o limite e pegar dependência. Adora as quartas-feiras porque é dia de futebol na tevê, daí pode ficar de madrugada assistindo aos comentários daqueles programas esportivos chatíssimos, que ele adora. Quando conseguir um trabalho, vai lamentar por ter que se tornar um Folgado.

10 de set. de 2005

Num futuro, quem sabe, não tão distante...

Certa vez eu li um texto da Nina Lemos (seria ela?) dizendo que o melhor amigo das pessoas que moram sozinhas e não sabem cozinhar é a famosa comida congelada. Para desespero das avós, quituteiras de mão cheia e contra qualquer coisa que já venha pronta e congelada numa caixa de papelão, vou cá fazer uma homenagem à comida congelada, uma das grandes invenções humanas de toda a história alimentícia.

Como todo sonhador, vejo-me no futuro morando em meu próprio apartamento. O tamanho dele é pequenino, com poucos móveis. A minha sala teria uma poltrona La-Z-Boy de couro, toda preta, uma televisão de plasma na parede, combinando com o meu movie-theater com caixas de som saindo até pelos encanamentos. Só isso já estaria ótimo. Um puff verde limão perto da janela e voilá! Essa seria a sala de estar dos meus sonhos.

Na geladeira de minha casa inexistente, não faltariam os seguintes itens: Yakult, Danoninho, chá-mate, comida chinesa do dia anterior, guaraná Kuat Light, alguma fruta exótica e tropical - que eu não comeria, mas é legal como decoração -, leite, ovos, maionese, ketchup, requeijão e um saco daquelas mini-maçãs da Turma da Mônica. Ah, sem esquecer do imprescindível suco de caixinha de uva da Parmalat.

No congelador, sorvete sabor Napolitano, Flocos e de Pavê de Chocolate (rapaz, esse me conquistou esse ano!). Todas da Kibon, menos o de Flocos, porque o sorvete da Nestlé vem com uns pedaços generosos de chocolate. Um pacote de salsichas da Sadia, gelo, uma garrafa de vodka (sei lá quem serão as minhas visitas) e várias caixas de comida congelada: lasanha à bolonhesa feita pelo Claudio, amigo da minha mãe, hambúrguer de qualquer marca, pois a Mayra me ensinou a fritar que é uma beleza nas penúltimas férias, e muito, mas muito daquele Chicken Popcorn, da Perdigão.

Olha, eu deveria ter no vidro do meu carro inexistente, um Fox motor 1.6, preto e quatro-portas, um adesivo com os seguintes dizeres: "Aqui dirige um amante da Sadia!". Desde pirralho eu piro com os quitutes deles, principalmente os imbatíveis nuggets (normais, só frango. Nada daqueles com vegetais!). Mas, amiguinhos, esse tal do Chicken Popcorn veio para ficar em coração, quer dizer, estômago. Petisco melhor não há: fácil de fazer, crocante e ainda fica delicioso gelado. O mais gostoso é deixar aquelas bolinhas de frango em algum pratinho em riba do fogão e esquecê-los lá por um bom tempo. Depois é passar pela cozinha e pegar três ou mais e jogar na boca. Passo o dia inteiro nesse ritual.

Até o Jorge, meu bulldog inglês inexistente, iria aprovar o Chicken Popcorn. Lamberia o focinho, todo pimpão, ao ver-me colocar aqueles cubinhos de frango empanado em sua tigela personalizada e roxa, que teria na parte lateral externa, grafado em alto relevo, o jeito carinhoso com que eu o apelidaria: Jorjão.

6 de set. de 2005

Ainda sem nome


Quando estou tristonho, com a cabeça pra baixo, emburrecido com a vida e comigo mesmo, tenho uma lista de coisas que eu adoro fazer e, garanto, faz o meu humor subir num tiro só. São aquelas famosas "coisas pequenas da vida". Funciona, garanto mesmo. Algumas são bizarras, mas não tenho vergonha não de compartilhá-las com vocês.

A primeira e mais tradicional é tomar sorvete. Tem que ser de flocos, em uma caneca bem grande, com uma colher bem pequena - que é para eu saborear a sobremesa bem devagarzinho, sem pressa alguma. Encho a caneca até o topo e, pasmem: eu preciso tomar o sorvete andando. Sim, isso mesmo! Vou até a sala, fico dando voltas pelo corredor da casa, chego até a sentar no trono do banheiro, fitando com um olhar de marasmo os azulejos da parede, contando quantos há desde o chão até o teto.

Sortudos aqueles, que como eu, tem a nega amada para ligar de madrugada. Insônia, nervosismo com alguma coisa boba, ansiedade. Vira-e-remexe na cama, muda-se a cada minuto o lado do travesseiro, à procura do lado da fronha mais geladinho. Levanto em um pé só, descalço que é para não acordar aos outros. Fecho a porta da cozinha e disco aquele número que sei de cor. "Oi, tá acordada? Pois é, também estou sem sono... O que você está vendo na televisão? Sério?". E minutos e mais minutos se passam, até que um dos lados da linha dá o primeiro bocejo e diz bem baixinho: "Tô cum soninho...".

Fazer xixi no box me tira todo o stress do mundo. Olho gordo, qualquer coisa. Banhinho quente, fumaça saindo pela janela, começar a assinar o próprio nome no vidro esfumaçado. Daí dá aquela vontade. Capricha na mira, aponta e zás! Gotoso! São raras as sensações tão boas quanto dar uma bela mijada acompanhado de um banho quente. Depois é cantarolar alguma canção brega e antiga, enquanto se joga espuma e lava-se o chão do box, empurrando a corrente d'água com o pé direito.

Recomendo. Todos. As meninas terão problemas com o último item, mas pra tudo se dá um jeito, já diria minha querida avó Madalena, que hoje vive pimpona lá em riba, pertinho do São Pedro bonachão de Bandeira.

2 de set. de 2005

O Plantão da Globo informa... (Parte 1)

Incrível como todo mundo tem um Plantão inesquecível. Sim, querido leitor, estou falando sobre aquele treco criado pela TV Globo, que interrompe os programas da emissora a qualquer momento, seja por algum fato importante que trará repercussões imediatas para a nação. Morreu um cantor sertanejo? Tan tan tan tan tan tan tan! Algum ministro renunciou ao cargo? Tan tan tan tan tan... (ok, irei poupá-los desse momento onomatopeico).

A questão é que essa música dos diabos assusta até um monge. É impossível ficar indiferente a ela. Agora há pouco eu lembrei de um causo meu com o Plantão. Foi em 1996, eu estudava de tarde e não fazia nada de manhã, a não ser acordar tarde e ver as reprises do Cavaleiros dos Zodíacos. Nada muito diferente de hoje - eu estudo agora de manhã, rá!

Enfim, estava eu tomando um banho quando aquele som que todos amamos de paixão ecoe pela casa inteira. Nessa época, uma modelo loira e bocuda, a Cláudia Liz, tinha ficado em coma após ter feito uma lipoaspiração. Problemas com a anestesia, lembram? Igual ao vocalista do LS Jack (só que ela voltou ao normal e ele ficou meio bobão). E em tudo quanto é programa o pessoal falava da guria, que estava correndo risco de morte (ou de vida, sei lá!). Só sei que eu ouvi a vinheta do Plantão e sai correndo do box, todo molhado e com a toalha cobrindo as jóias das coroa.

A televisão da sala estava ligada, e, no maior pique, assim que passei o corredor eu tomei um baita de um escorregão (molhado + chão de madeira + corrida) e só fui parar do outro lado da sala, chocando-me com tudo contra a mesa de jantar. Rapaz, doeu muito. Enfiar a canela e outras partes do corpo, pelado e molhado, em três cadeiras não parece ser nada agradável. Lembro que ignorei o cotovelo ralado e sangrando para ouvi a repórter falando às câmeras: "Morre o líder do Legião Urbana, Renato Russo...".

"Viado de uma merda!", berrei. Estatelado, no chão, molhado e com um hematoma na retaguarda por um cantor que ficava imitando a Laura Pausini. Senti tanto ódio no momento, que não o suporto até hoje. E agora eu digo como me lembrei dessa antiga historieta....
***********
O Plantão da Globo informa... (Parte 2)

Estou eu, nove anos depois, tirando uma pestana no sofá após o almoço. Décimo round do sono, a maior delícia. O som do Plantão surge no meu sonho. Taquicardia. A remela nos meus olhos não me deixa enxergar direito, e tateio o chão à procura do controle remoto. Achei! Com o olhar meio nublado, consigo ver que a tela da televisão está desligada. "Uai!", exclamo. Vou até o quarto do meu tio. Nada, nem o Gasparzinho está lá. Mas o som continua, e muito alto. A vinheta do Plantão não pára e, espantosamente, noto que o som está vindo das ruas.

Vou até a varanda, com o coração quase saindo pela boca, e olho para os prédios da frente, tentando adivinhar quem será o filho da égua que deixou a televisão ligada no último volume. Mas o som vem debaixo, da calçada. Olho para um carro acendendo todas as luzes, aquele procedimento comum de quando o alarme do veículo é disparado. É dele que sai a vinheta do Plantão.

Lazarento. Um Kadette vermelho, bem carro de negão, com um adesivo colado no vidro de trás(com um insulfilm muito preto) : "Salve as mulheres bonitas... E as feias se der tempo". O pior vem depois. O som fica baixinho e dá lugar a uma voz grossa e séria, como se fosse a de um jornalista cobrindo um fato importante. "Atenção, o Plantão da Globo informa: afaste-se desse veículo!". Juro, parecia o Cid Moreira. Não tinha ninguém perto do automóvel, provavelmente o vento disparara o alarme sozinho.

Estou com tanto ódio no momento que nunca mais quero ver um Kadette vermelho e de negão.

29 de ago. de 2005

Mais uma vez eu escrevi para o Jornal Contraponto, lá da faculdade. Foi uma crônica, tirando um sarrinho da CPI e toda a glamourização que anda ocorrendo. Coisas assim. Minha avó, pela primeira vez, foi citada em um texto meu (não dos que eu publico por aqui). Ela adorou, e até recomendou que eu escreva em como a Malhação está violenta hoje em dia.

Vou pensar, nona. Prometo.

O BBB do Planalto
Como resisitir a não dar uma espiadinha com o que acontece no Big Brother Brasília?

Amiguinhos, o reality show da temporada, que deixa qualquer O Aprendiz no chinelo, que gera discussões em rodas de botequins e faz as donas-de-casa roerem as unhas, é o BBB do Planalto, o Big Brother Brasília. Trancafiados quase 24 horas em uma sala do Congresso Nacional, deputados, secretárias, senadores e até ex-esposas depõem a CPMI, seja dos Correios ou do Mensalão. Nesse jogo, todos lutam pelo grande prêmio: tirar o seu da reta.

Ao contrário dos outros reality shows, o BBB do Planalto não tem o dinheiro como prêmio a ser almejado - foi justamente o excesso do mesmo que levou todos aqueles engravatados a participarem da trama. Aliás, os participantes são um show à parte, como qualquer outro programa do gênero. O Roberto Jefferson é grande candidato a ídolo nacional. Seu talento para a interpretação, sua habilidade para mentir e os seus dotes musicais fazem desse Macunaíma do Século 21 o queridinho dos telespectadores. O Marcos Valério, com aquela aparência meio Lex Luthor, é visto como um ser do mal, e deve enfrentar o paredão o mais rápido possível.

Há até uma secretária ruiva e de aparência grotesca que almeja ser capa de revista masculina. "Só libero a perseguida por dois milhões", ela bradou aos sete cantos. Se no BBB do Planalto houvesse uma piscina - sorte a nossa de que não há - com certeza veríamos a Fernanda Karina Somaggio se exibindo de biquíni. Quem sabe ela não arranjaria um par amoroso, a fim ser uma jogadora mais forte? Aposto no Delcídio Amaral, o Antônio Fagundes do Cerrado. Atrás dos seus 15 minutinhos de fama, Fernanda Karina faz de tudo para "alavancar a sua futura carreira política".

O pessoal da TV Senado, antigamente conhecida por "tevê traço", símbolo da falta de audiência, está em festa. Brasileiros e mais brasileiros não desligam do canal por nada. Outro dia, a minha avó perdeu um capítulo de Malhação porque o Jefferson estava depondo, por exemplo. Até os programas de fofoca já se renderam ao BBB do Planalto. O Ronaldo Ésper já anda alfinetando o modo de se vestir do pessoal de Brasília, inclusive. Coitada da senadora Heloísa Helena, que só anda de jeans e camisa branca.

A mídia está afoita por algum outro escândalo, já repararam? Se o filho do ex-tesoureiro Delúbio Soares roubou jogando bafo na escola, no dia seguinte aparece no jornal: "Filho de Delúbio aprende as artimanhas do papai". Tudo feito e construído para que a peteca (a crise) não caia. Chegou a um ponto que já encheu os picuás abrir o jornal ou assistir ao telejornal, pois é sempre a mesma coisa todo santo dia! E basta alguém estar na frente de uma câmera para se achar o articulista político. Até a Hebe dá os seus pitacos sobre a crise política nacional! (detalhe: com a Heloísa Helena sentadinha naquele famoso sofá branco).

Mas, me pergunto: quando acaba esse reality show? O tempo é incerto, não se sabe quantas edições o Big Brother Brasília pode ter. A torcida tupiniquim reza para que o prêmio final do BBB do Planalto não seja aquela tradicional rodada de pizza.

23 de ago. de 2005

Priééégo!


Quando estou sem fazer nada à tarde - o que, digamos, é bem comum - sento no sofá, ao lado da vovó, e fico a apreciar os seus peculiares gostos televisivos. É um sarro! Isso acontece há muito tempo, desde quando eu passava as minhas férias em sua casa, e brigávamos quando passava um programa, o Super Market, e ela sabia de cor e salteado os preços dos produtos dos supermercados, e eu errava todos. Bom mesmo mesmo era Super Vicky. Aquilo era demais!

Levei a velha para o mau caminho, fazendo ela ficar viciada em Malhação. Eu sei, é terrível, mas eu tinha 10 anos, ora bolas! E que atire a primeira pedra quem não dava risada com o Dado, o Mocotó e toda aquela trupe da academia. Hoje não, é essa escola chata, onde todos pedem mais uma rodada de suco natural na lanchonete. Eca! Sou mais os dilemas amorosos da Fernanda Rodrigues, enquanto ao fundo tocava: "Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...". E o que dizer do Claudio Heinrich, que pegava todas as menininhas no almoxarifado? Eu queria muito ser o Dado quando ele dava umas catracadas na Nivea Stelmann.

E vendo os atores atuais, confesso que um me tira do sério, tamanho a raiva que tenho por ele. Não, não é aquela Jaqueline, a Cicarellinha; muito menos aquela cantora de cabelo espetado e ruivo, que canta umas músicas de corno e agora toca na Jovem Pan. É o namorado dela, um tal de João, que é o exemplo perfeito do carioca escroto a partir de uma visão paulistana. Entrei no site da trama e aqui diz que ele é um pitboy, todo do mal e tals.

Assim: aquele magricela de luzes no cabelo não parece valentão e nem um exemplo de surfista pegador e galinha. Ele interpreta muito mal (só perde para aquela grandão e bobo, um tal de Marcão). E, irritantemente, tem a mania de chamar os outros de "prego". Cara, eu nunca ouvi ninguém chamar alguém de prego, porca, ventoinha, martelo ou coisa parecida. Isso só deve existir nas cacholas dos redatores da novelinha matinal.

E ele ainda fala "priééégo". Se eu estiver realmente errado, e existir algum carioca magricelo, metido a surfista, de luzes no cabelo, que não pega nem vento e ainda chama os outros de "priégo", juro, meus amiguinhos: esse mundo realmente está perdido.

20 de ago. de 2005

Pior que o Justus


Faz mais ou menos um ano que eu comecei a ser entrevistado para ofertas de estágios. Já vi de tudo um pouco. Situações engraçadas, como as famigeradas "dinâmicas em grupo", até uma mulher que ficou criticando a postura da minha faculdade antes de eu meu apresentar e sentar na cadeira!

Esse último acontecimento, na verdade, foi disparado o mais bizarro. O lugar era uma assessoria de imprensa, cujos principais clientes se resumiam a decoradores e gastrônomos. A empresa era uma casinha na Vila Olímpia. Chego lá, só mulheres no recinto - e bonitas! "Sente-se, Gustavo, que a sicrana já vai lhe atender". Esperei. Nisso, um cachorro Dachshund, o famoso "salsichinha", começa a pular na minha perna, pedindo carinho. "Deve ser parte do processo, só falta", matuto comigo mesmo. Dei umas três passadas de mão no pelo do bichano e voltei a ler uma revista.

E aí, tal como um filme pastelão, o danado começou a me encoxar. Aquele treco de meio metro começou a se engraçar com a barra da minha calça. Olhei para os lados, vi que ninguém estava olhando, e dei um "Pedala, Robinho" no salsicha. E não é que ele ficou com mais vigor ainda? Batia com o jornal nele, sacudia a minha perna... Nada. Raivoso, empurrei-o para longe. Como o piso era frio, o Dachshund saiu rodopiando e escorregando, indo bater sua bunda grande na porta ao final do corredor.

Após o estrondo, a porta abre.

- Mon Cherry! Como você veio parar aqui?

"Que nome horrível e de viado!", minha mente gritou. A dona do "au-au", uma socialite, aproveitou o incidente para pedir que eu entrasse na sala. Chegando lá, a mulher começou a fazer perguntas deveras estranhas.

- Então, onde você milita?, perguntou
- Eu? Em lugar nenhum... , respondi assustado
- Sério mesmo? Nem no MST?
- Tipo, marchar não é algo que eu aprecie...
- Porque eu já entrevistei quatro garotas da PUC, e todas elas são militantes.
- Sério? Hummm... é... Bom pra elas! Eu acho.
- Você também não gosta da Veja?
- Oi?
- Da revista!
- Ah... Ela manipula algumas coisas, tem as suas visões políticas descaradas e camufladas, mas há muitas matérias interessantes.
- Então você também deve gostar do Hugo Chaves?

Juro, foi pior que sentar na frente do Roberto Justus. Só digo que eu não fiquei com a vaga, e saí de lá o mais rápido possível.

16 de ago. de 2005

Patéticos, mas machos

Há coisas na vida que uma mulher jamais irá saber o que significa no imaginário masculino. Um grande exemplo é quando o macho compra uma Playboy na banca de revista. Homem que é homem não compra Playboy na padaria; compra na banca de revistas. Podem perceber. Estou para ver a pessoa que se sujeita a passar a revista do tio Hefner na caixa registradora e ouvir da atendente feminina do outro lado do balcão: "São 10 reais e tantos centavos, senhor".

Homem que é homem já sabe o preço de uma Playboy, por isso só a compramos em banca de jornal. Não queremos ouvir nada, apenas um assentimento feito com a cabeça pelo vendedor. E ele sempre dá uma sacolinha de plástico, você jamais vai precisar pedir uma. Pois homem que é homem sabe qual é a sensação da Playboy recém adquirida. E isso nenhum ser de cromossomo X duplicado irá poder saber como é. Desculpem, mas é verdade, meninas.

Semana passada eu comprei a edição da Grazi. Escolhi-a na estante, dirigi-me ao caixa, paguei a quantia e recebi prontamente a compra, escondida em uma sacolinha de plástico. Nada mais, do jeito que deve ser. E jamais iremos abri-la em público. Enquanto estava com a Irena no ponto de ônibus, ela tentou me persuadir:

- Abre aí, Gu! Estou curiosa.
- Não.
- Por que não?
- Não, ué!
- Mas pode explicar o porquê?
- Não. Você nunca iria entender.
- Tonto!

Viram? Isso foi um diálogo exemplar, um homem teria o mesmo comportamento que eu tive. Pois homem que é homem só abre o plástico de uma Playboy quando está sozinho, em casa, em cima da cama, com a porta fechada. Sim, nos comportamos da mesma maneira que um garoto de 14 anos ao adquirir a sua primeira revista de mulher pelada. Esse é o barato do negócio. Como diria um amigo meu, não há nada mais único do que o cheiro de uma Playboy novinha. Depois ela perde a graça, levamos para a escola e mostramos numa roda de amiguinhos.

E outro sentimento compartilhado exclusivamente entre os homens é o de uma Playboy frustrante, e isso eu tive com as fotos da Grazi. Homem que é homem não se preocupa com fotos artísticas ou produzidas pelo Photoshop. A gente quer ver, desculpem a grosseria, close da perseguida, mulher com cara de desavergonhada. Dedinho na boca, aquelas coisas. Se colocar beijando outra garota... Vixe santa!

Homem que é homem é um ser patético a vida inteira. E com orgulho!

13 de ago. de 2005

Na mesma praça...

Coisa melhor do que ler no banheiro não há. Aliás, já falei sobre esse assunto por aqui, pois adoro ler ou folhear qualquer coisa enquanto estou sentado no trono. O Luis Fernando Veríssimo é outro fã assumido. Certa vez, ele disse que lê até bula de remédio. Confesso que não chego a tanto.

Mas, deixo cá uma dica: um ótimo magazine para aquele momento é a Seleções, também conhecida por Reader's Digest. Assim, o conteúdo literário não é grande coisa, mas ela é um ótimo passatempo. Vira-e-mexe sai alguma matéria legal, ou um caso de algum senhor americano que teve câncer nos testículos, no reto e nos pulmões, teve a filha morta atropelada e a tartaruga comida pelo cachorro, mas mesmo assim não desistiu da vida. A cada edição há uma história assim.

O pior mesmo é a seção das piadas. Uma mais velha que a outra. São do naipe assim: "O que o tijolo disse para a lajota? Há um ciumento entre nós!". Broxante, certo? Errado, eu choro de rir com isso. Outro dia, estava eu no toalete, lendo as piadas e cascando o bico. Minha avó, assustada, perguntou-me depois qual o motivo de tamanha graça.

Não resisti:

- Vó, sabe como você faz para levar um chokito?
- Não, como?
- Basta enfiar o dedito na tomadita!!

10 de ago. de 2005

Crônica dos 20 anos


Agradeço desde já pelas congratulações recebidas. Dezenas de amigos e conhecidos lembraram de ontem, uma data tão especial para este guri aqui, que completou 20 anos de idade. Ah, se não existisse o Orkut, pois ninguém ia lembrar, hein! Brincadeira...

Engraçado notar como as pessoas dizem saber como eu sou. "Gu, comprei isso aqui porque achei que era a sua cara!". Abro o embrulho e me deparo com um livro de quadrinhos pornô. Aliás, tenho livro para ler até as próximas férias. Ganhei várias camisetas, e todas são verde-claras, azul-calcinha... Falam que as cores são alegres por eu ser uma pessoa alegre. Que bonito!

Há dez anos eu fiz uma baita festança para celebrar a minha primeira década de vida. Até apareceu parente que eu não conhecia. Foi o primeiro (e único) momento que eu vi a minha família inteira reunida. "Fazer dez anos é especial", disse um primo distante. Achei naquela época a frase meio boba, e hoje entendo como ela faz sentido. Pulei e brinquei naquele dia até me esgotar. Pedi ao Papai lá de riba que me desse um aniversário desses todos os anos. Foi tão maravilhoso que a minha tia Noêmia não me deu cuecas ou meias.

Com 20 anos nas costas, não sei dizer como sou nesse momento. Sempre achei que ter essa idade fosse sinônimo de ser barbudo e correr bastante no futebol. Começar a namorar as menininhas, fumar um cigarro com os amigos e tomar cerveja em todo boteco de esquina. Aliás, eu nunca tomei um porre e nem traguei tabaco. Será que eu sou careta? Não tenho essa aura de juventude transgressora, que lê On the Road e já pensa em cruzar o país de carona. Eu achei o livro do Jack Kerouac um pé no saco, vejam só!

Escuto histórias de pessoas mais velhas que fariam de tudo para ter 20 anos de novo. Quando se fuma o primeiro baseado e se transa sem pudores... Ouço e fico na minha. Prefiro não demonstrar a minha opinião contrária. Eu gosto de ter uma Bem-Amada, e ter a certeza de que só ela basta. Eu sei o quanto já sou bem bobo naturalmente, e que não preciso enfiar uma bola alucinógena para baixo da garganta para poder me sentir mais feliz. Eu ainda me acho uma criançona, acima de tudo.

Tanto que o presente que eu mais gostei foi um Patrick de pelúcia dado pela Nenoca (igualzinho o de cima). Eu sou um amendo-bobo!

8 de ago. de 2005

A rosca pela maçã

Lembrei de um caso engraçado nessas últimas férias. Das milhares de novas comunidades do Orkut que eu achei - e que quase me fizeram molhar a calça de tanto rir - a posição de "Comunidade mais Engraçada do Orkut" vai para...

"Meu Cu por um Ipod"

É genial. Só tem um membro, a fundadora. Melhor que o nome da comunidade, só as duas mensagens trocadas no fórum, entre um rapaz, dono de Ipod, e a moderadora. Vejam a seguir:

Rapaz: Eu tenhoum ipod vc vai mi da seu cu por ele????
Moderadora: O ipod é de qtos gb?

4 de ago. de 2005

I saw you saying

Estava eu e a Irena, terça-feira, quatro horas da tarde, na entrada do cinema para a sessão do Sin City. Ela sai para comprar uma água, eu fico esperando, olhando os cartazes dos futuros filmes a entrarem em cartaz. Olho para a bilheteria e vejo o Rodolfo, ex-vocalista do Raimundos, Rodox e por aí vai.

Irena volta.

- Você viu quem tá aqui?
- Não, quem?
- O Rodolfo...
- Hein?
- Olha para trás e seja discreta.
(ela vira o pescoço, como se fosse olhar alguma sujeira embaixo de sua sandália)
- Ah, táááá...

Já dentro do cinema.

- Ele não virou crente ou coisa parecida?
- Igreja Sara Nossa Terra, não é isso?
- Renascer, sei lá... Uma dessas.
- Você viu a mulher que estava com ele?
- De cabelo vermelho e magrela?
- Isso. Tipo, ela é a Yoko Ono do Raimundos. Ela que levou ele para o "mau caminho".
- Hummm...
-Daí ele falou que não daria para cantar as letras do Raimundos, porque não condiziam com o momento espiritual dele. Que tosco!

Rodolfo e Yoko começam a subir os degraus e sentam a algumas poltronas atrás de nós. De repente, silêncio por alguns intermináveis segundos. Interrompo:

- Aposto que você está cantando alguma música do Raimundos!
- Ahahaha. "I Saw You Saying", e você?
- Aquela: "No parque de diversões que ela virou mulher...".

2 de ago. de 2005

De volta a São Paulo

- Gu, você quer sanduíche do quê?
- Hummm... Tem o que de frios?
- Peru e queijo.
- OK. Eu faço depois, pode deixar.
- Deixa que eu faço!
- Não precisa...
...
...
- Você quer ele quente ou frio?
- Como assim?
- Quer que eu esquente no forninho?
- Não precisa, por favor...
-...
-...
- Queijo prato?
- Qualquer um...
- Peito de peru normal ou blanquette de peru?
- Sei lá, tanto faz!
...
...
- Maionese ou requeijão?
- Requeijão.
- Light?
- Pode ser qualquer um!
...
- Vou arrumar a cama, põe cobertor?
- Sim...
- Um ou dois?
- Um!
- Tá frio, vou pôr o outro no pé da cama.
- Tudo bem, não precisa, por favor!
- Pijama curto ou de frio?
- Caramba! Deixa que isso eu sei fazer!
- Vou separar os dois, daí você escolhe.
...
...
- Pega o garrafão* para mim?
- Já pego, espera aí!
(15 segundos depois...)
- Gu, você é distraído! Você vai pegar o garrafão ou não?
- AHHH!!
- Ai! Como você estressa com qualquer coisinha...

OBS: Cada um tem a avó que merece.

*Galão de água de 10 litros

29 de jul. de 2005

Algumas lembrancinhas


Pois é, meu aniversário está perto. Exatamente, no dia 9 de agosto, o guri que vos escreve assoprará 20 velhinhas. Ao contrário do Ronald, eu gosto do esquema padrão: assoprar velinhas e receber cumprimentos de felicitações. O meu aniversário é um dos poucos momentos na vida em que posso ter ao meu redor as pessoas as quais amo tanto - todas juntas em um mesmo espaço (além dos presentes, óbvio!).

Falando nos presentes, àqueles que gostam de minha pessoa e querem me agraciar com um pequeno mimo no próximo dia nove, fiz uma pequena lista de alguns presentes que eu adoraria receber. São bens básicos, coisas necessárias para o meu bom-humor para o resto do ano - alguns imprescindíveis.

Não fiquem tímidos. É só clicar na lembrancinha e enviar para a minha casa. Receberei de braços abertos, podem apostar. Ao menos eu não vou precisar trocar o presente que vocês me darão, não é mesmo?

http://www.submarino.com.br/wishlist_client.asp?wlid=246235442770

27 de jul. de 2005

Enquanto isso, no Oftalmologista...

- E aí, doutor, mudou alguma coisa?
- Seu grau? Nadica!
- E essa dor de cabeça que eu tenho quando uso óculos?
- Como assim?
- Tipo, eu me sinto melhor sem usá-los. Enxergo até melhor, não vejo tudo nublado.
- Isso é fácil de resolver, sabia?
- Sério?
- Lógico, é só limpar as lentes. Não tem como ver algo com essa sujeira aqui!

24 de jul. de 2005

Você ligou...


Eu sempre quis ter uma saudação na secretária eletrônica que fosse engraçada. Daquelas que os amigos ouvem e, assim que forem deixarem o recado, estariam dando risada e comentando: "Só você mesmo!". Mas eu insisto em deixar saudações sérias e curtas. "Oi! Você ligou para o Gustavo, mas no momento eu não posso atender...".

Admiro quem seja criativo. Tem gente que canta, solta os cachorros... Coragem, diga-se de passagem. Ano passado, quando eu ganhei um "celular 11", prefixo de São Paulo, fiz uma saudação que terminava assim: "Esta mensagem de auto-destruirá em três, dois, um... Piiii!". Tinha me achado o máximo. Coincidentemente, no mesmo dia eu mandei um currículo para uma vaga de estágio. Daí eu pensei comigo mesmo: eu contrataria ou chamaria para uma entrevista alguém que tenha uma saudação ridícula dessas na secretária eletrônica? Pelo sim e pelo não, resolvi apagar e continuar com: "Você ligou para o Gustavo, mas no momento eu não posso atender...".

Uma vez eu precisava da ajuda de um colega de trabalho para agendar uma entrevista. Ele, o colega, não respondia aos meus emails, mas eu consegui o número do telefone da casa dele e fiquei ligando direto. Só chamava. Na terceira tentativa deixei um recado. De repente escuto o Marcelo Camelo cantando: "Olha lá, quem vem do lado oposto vem...". Só não foi pior porque eu gosto do Los Hermanos. Detalhe: o garoto dividia o apartamento com outro cara, daí os dois cantarolavam a canção e pediam para deixar o recado, todos serelepes. Nem preciso dizer a primeira impressão que eu tive do sujeito.

O meu pai era o mais chato para gravar uma saudação na secretária eletrônica. Chegava a fechar as janelas da sala - para não ter nenhum som vindo da rua - e mandava todos nós calarmos a boca. Gravava uma, duas, três vezes. Nunca ficava satisfeito. "Está com chiado", reclamava o João Gilberto. Daí pressionava rec e dizia, com uma voz à la Tim Maia: "Você ligou para número tal...".

Mas, enfim, acordei hoje com vontade de mudar a saudação do meu telefone. Após algumas tentativas, ficou assim: "Olá, olá! Aqui é o Gustavo, só que agora eu não posso atender - como você deve ter percebido. Talvez eu esteja ocupado e não pude ter atendido, ou quem sabe eu não ouvi o celular tocando, o que é bem comum. Enfim, deixe o seu recado que eu já te ligo, certinho? Beijocas!".

Entre o ridículo e o padrão comum, acabei optando pelo meio-termo.

21 de jul. de 2005

"Vai quebrar!"


Com muito orgulho e quase caindo aos prantos, digo-lhes que terminei a Fisioterapia. Após longas e intermináveis dez sessões, o meu tornozelo não está mais uma bisnaguinha. Foram duas semanas de muita paciência e conversa fora. Chega de ultra-som e choquinhos! Não quero mais saber de ficar com gelo no machucado por 20 minutos! Pular na cama elástica e jogar uma bola de tênis na parede, nunca mais!

Apesar de tudo, dava para se divertir a cada sessão. Por mais azarado que você se julgue, sempre haverá alguém mais estropiado ao seu lado. Sério! Isso é até lei. O pior é que os pacientes adoram contar sobre seus casos, e exibem com orgulho os membros inchados ou pós-operados. Rola até uma competição quando um operado encontra um outro operado.

- Vixi, mano! Operou o joelho, é?
- Pois é, foi jogando bola.
- Isso não é nada, eu operei os dois joelhos, ó!
- O meu irmão operou os joelhos e o tornozelo!
- O Zé, vizinho do amigo da prima da minha cunhada, caiu duma ribanceira, quebrou a tíbia, perônio, o úmero, operou os dois joelhos, quebrou três costelas, e deslocou a clavícula!

Alguns já se julgam doutores, inclusive, apenas olhando as cicatrizes nos joelhos dos pacientes:

- Aquele ali foi ligamento cruzado, o outro fez artroscopia...

Os mais idosos, recuperando-se de alguma queda no box do banheiro ou apenas "recalibrando as juntas", não me deixavam em paz. Um tiozinho, bastou saber que eu era são-paulino, ficava horas e mais horas conversando comigo sobre como o futebol de hoje não é digno dos tempos de Zizinho, Vavá e Canhoteiro. Retribuía o papo com um sorriso amarelo, enquanto punha rapidamente os meus fones de ouvido. E quem disse que ele parava de falar?

Por eu ser um dos únicos a não ter entrado na faca, sempre fui o mais zoado a cada sessão feita. Enquanto eu puxava e virava o meu tornozelo com algumas fitas elásticas, vinha sempre uma voz atrás de mim: "Ih, esse aí volta daqui um mês" ou "Vai quebrar, ó, vai quebrar!". Morria de medo, e logo depois escutava a risada geral. Retrucava rapidamente:

- Ao menos eu termino essa porcaria semana que vem, e vocês em dezembro!

Era um sarro. Ontem, assim que fui embora, dei um "até logo" e fui-me embora. Ainda consegui ouvir algumas gargalhadas assim que cruzei a porta de saída. Para me garantir, não tive dúvidas: voltei dois passos e bati três vezes na porta de madeira.

19 de jul. de 2005

Adam Smith é melhor que Marx

Eu sou fã da seleção italiana de vôlei. Feminina, diga-se de passagem. É uma beleza, amiguinhos. Tudo começou com as Olimpíadas de Sydney, em 2000. Varava a madrugada para acompanhar a Maurizia Cacciatori jogando. A cada levantada da loira eu dava um suspiro. Quando ela alçava a gorduchinha para uma cortada da Francesa Piccinini, rapaz, era sensacional! Pouco me importava o resultado ou o talento de ambas. Era essa a graça da seleção italiana.

Ontem, quando as meninas brasileiras paparam o Grand-Prix, pude acompanhar como anda a minha querida Itália. Diacho, cadê a Cacciatori e a Piccinini? Foram embora, cederam lugar a umas ragazzas de mais de 1,90m e que cortam uma bola acima de 3,00m. Ao invés daquela graciosa levantadora, agora há em quadra uma tal de Anzanello, que mede 1,92m e pula até 3,24m. Feia que nem o diabo, mas joga melhor que as duas beldades. Uma pena.

Na seleção canarinho o destino foi o mesmo. Com a reformulação ocorrida nesse ano, não há nenhuma musa brasileira no time, alguma jogadora de shortinho que levante a moral da cuecada. Ana Paula e Leila? Os tempos mudaram, amiguinhos. Dêem boas-vindas a Valeskinha e Cia. Jogam bem, principalmente a Paula Pequeno (que de pequena não tem nada), Sheila e a Carol. A levantadora nacional, uma loira, é bem bonitinha. Pena que a Mári, que está mais para a seleção sueca, machucou o ombro. Tadinha.

E jogam bem as garotas, de ambos os lados. Melhor ver atletas nacionais e italianas em quadra, disputando um troféu, do que acompanhar um final entre as cubanas e as chinesas. Credo, como elas são horrendas! Talvez por ambos os países viverem em ditaduras, as jogadoras da China e Cuba não sabem o que é maquiagem ou depilação de sobrancelhas. Um pouco de ocidentalização faria bem às meninas.

E viva o capitalismo!

15 de jul. de 2005

Tri!


Desculpem, amiguinhos, mas hoje estou feliz. Como é bom ver o seu amado clube ensacar um time de pernas-de-pau vindo do Paraná. Deus do céu, como batem esses caras do Atlético Paranaense! Levaram uma bordoada que não esquecerão tão cedo - nem nós, são-paulinos, os seres mais alegres desse 15 de julho de 2005.

Ir ao estádio em dia de final, só quem já foi pode saber como é. 70 mil neguinhos com as cores tricolores, berrando, descabelando-se, comemorando, xingando, abraçando o torcedor ao seu lado, seja ele seu conhecido ou não. E fazer parte desse momento tão especial é algo único. Já fui a outros momentos decisivos do meu tricolor, mas nada chega aos pés desta final de Libertadores. Saí do Morumbi sem voz, abraçado a minha bandeira, estampando, de peito aberto, a camisa do campeão dos campeões.

Pena que tem torcedor babaca (e quem disse que eles são torcedores?) que confundem alegria com selvageria, quebrando o que encontra pela frente, seja orelhões, janelas, carros e até pessoas. Mas tem aqueles que amam demais esse esporte, que pagam mais de 100 reais em um ingresso, 10 reais para alguém não riscar o seu carro, e ainda se sentem inseguros enquanto caminham até o espetáculo, pois o trabalho da polícia é de uma incompetência enorme. Infelizmente, para muitos, esse maldito jogo de bola é a única alegria que há. Ver 22 jogadores correndo em um gramado. Gastar metade do salário mínimo para ter poucas horas de diversão e esquecer do mundo que há do lado de fora do estádio.

Mas nada é mais gostoso do que chegar no quarto de sua avó, que, julga você, está no décimo round do sono. Mas que, no primeiro ranger do armário, diz com aquela voz rouca e calma que só os bons dorminhocos têm: "É campeão, Gu!".

Foto: Lancenet!

12 de jul. de 2005

Relato de um ex-viciado

Soube ontem que o VJ Léo Madeira, da MTV, quebrou ao vivo o novo CD do Oasis. Foi naquele programa Vjs em Ação, onde alguns apresentadores do canal discutem sobre vários temas, seja música ou política. Um Saia Justa, digamos. Enquanto os personagens conversam e emitem opiniões, alguma música toca ao fundo - geralmente um dos discos sugeridos pela produção ou pelos próprios Vjs. Parece que o Madeira pegou o Don?t Believe The Truth, fez um sinal de negativo com o polegar e espatifou o disco contra o chão. Lamentável.

Condeno a atitude do garoto. Não por eu ser um grande admirador do trabalho dos irmãos Gallagher (não tanto quanto nos anos 90), mas pelo ato em si. Meio bobo, parece ter sido feito porque sabe que vai gerar repercussão e protestos. Coisa feia, seu Madeira! Aliás, esses VJs da MTV, metidos a dizer que admiram Björk, Mars Volta ou qualquer coisa sugerida pelo Lúcio Ribeiro - só porque são cults - são uns cabeças ocas. Foi-se o tempo em que o canal era digno de minha audiência. Chris Rock, certa vez disse que o canal produz de tudo, menos música. E vão me dizer que ele não está certo?

O Cazé e o João Gordo, os remanescentes da melhor trupe que a emissora já teve, são mal aproveitados. O primeiro deu pra bancar o Roberto Justus e deixou de lado aqueles programas críticos de sempre, baseados em seu improviso. O segundo foi sujeitado a comandar um programa de coisas freak e viu o seu talk-show, que era demais, ser reduzido em horário e número de entrevistados. Tá um cocô ligar a MTV! A Didi, Hermes e Renato, Thaíde, RockGol e o cara do Mochilão ainda conseguem segurar a peteca. E só.

O Lado B, como o Riff, foram sucumbidos. O Thurderbird se restringe a cobrir eventos da Coca-Cola. Reprises de programas de paqueras e dicas de moda são reprisados a exaustão. Quando um clipe é televisionado, é sempre o mesmo. Good Charlotte, Simple Plan... É o mesmo que ouvimos nas principais rádios nacionais. Agora é tudo produto do jabá no Disk MTV. Em "Escola do Rock", Jack Black diz que a MTV acabou com o rock. Será?

Não quero um outro Fábio Massari, mas pelo menos alguém que entenda aquilo que apresenta. Já fui um "MTViciado", fã do Radiola e apaixonado pela Sabrina Parlatore. Antes tinha música, agora futilidade. E é com os programas, com quem os produz, com a escolha dos Vjs... A MTV, que nasceu com a proposta de nadar contra a corrente e produzir coisas bacanas para os jovens, hoje faz essa porcaria que vemos. Os apresentadores têm que ser bonitões ou estilosos, que exibam a barriga sarada ou a tatuagem moderna no braço. Afinal, o telepronter faz todo o serviço, não é mesmo?

O nível é tanto, que o Léo Madeira (ele de novo) já chamou o Kofi Annan de Nelson Mandela, durante a transmissão do Live 8.

10 de jul. de 2005

Some itens?


Originalidade da Zoomp do Esplanada Shopping, Sorocaba. "Some itens up to 60% off".

Obs: Eu realmente sou péssimo em tirar fotos pelo celular.
Obs2: Agradecimentos ao Filippe pela "câmera" emprestada.

8 de jul. de 2005

Como tudo deve ser


A vida realmente passa rápido. Enquanto esperava por minha terceira sessão de fisioterapia, folheando um livro, vejo de canto de olho um vulto branco vir até a minha direção. Levanto o olhar. O vulto branco, uma mulher morena e alta, leva as mãos à boca e exclama:
- Meus Deus, quanto tempo!

A garota, estagiária de fisioterapia, estudou comigo por anos. Amiga de colegial, amigona mesmo, que na oitava série dizia que o Limp Bizkit era a melhor banda do mundo e que o Fred Durst era um tesão. Saudades. Beijos trocados, nós colocamos em segundos o papo em dia. Engraçado como anos podem ser repostos em alguns minutos, já perceberam?

Enquanto ela via o meu tornozelo machucado e começa a falar da vida, namoro, faculdade e recordações antigas, penso silenciosamente em como tudo na vida acontece rápido e nós nem notamos. Há três anos essa menina estava comigo prestando vestibular. Lembro direitinho de nossas conversas furadas, de quando eu a usava para fazer ciúmes infantis na outra guria de quem eu gostava. Parece que aconteceu ontem. E agora, vejo esta minha amiga, de jaleco branco e cuidando profissionalmente do meu tornozelo inflamado.

Meu pai diz que quando temos 20 anos, tudo voa. Meus melhores amigos, por exemplo; há meses não os vejo. Cada um seguiu o seu rumo, nos reencontramos quase nunca. Alguns já trabalham, bebem cerveja aos montes e exibem os primeiros indícios de pança. Daqui a pouco eles casam, vou ser padrinho. Um colega de faculdade me anunciou na semana passada, todo orgulhoso, que estava noivo. Dei um parabéns e um grande abraço, e depois fiquei lembrando de que há um ano eu o vi pela primeira vez e achava que ele fosse bicha.

Há pessoas que dizem que meus textos são saudosistas, falo muito de minha infância. Respondo que tudo o que ponho na tela são pensamentos que muitas pessoas da minha idade também têm. Acho que faz parte de um amadurecimento dos meus 20 anos; quando a gente começa a sair da saia da mamãe e parte para o mundo. Virar hominho, costumo dizer.

E tenho certeza que daqui um tempo (pouco ou muito, quem sabe?) um grande amigo vai me reencontrar. Dirá que estou mais gordo, barrigudo. Perguntará como anda a minha vida, se estou trabalhando, se a minha mãe está boa. E um flashback tomará conta do ar. Daremos risadas de fatos da faculdade, comentaremos de causos acontecidos com cicranos e beltranos.

Depois cada um se despede e segue a sua vida. Como tudo deve ser.