26 de jun. de 2007

É ou não é?

Na semana passada, a figurinha que não saiu das manchetes foi a bandeirinha Ana Paula de Oliveira. Capa da edição de julho da revista Playboy, muito especulou-se sobre sua decisão: o futebol é um meio machista e fazer essas fotos pode ser muito prejudicial para sua carreira.

Bem, imagine um Morumbi inteiro abrindo o pôster de uma mulher com a Claudia Ohana de fora e vocês terão alguma idéia do que estou falando.

Nesta semana novamente vai estar em voga o tema machismo no futebol. Desta vez, dizem, um jogador de um grande clube paulistano irá assumir sua homossexualidade. E no Fantástico.

O “furo” saiu na Folha Online, com a fofoqueira Fabíola Reipert. O Kibe Loco, bobo que não é, criou uma enquete perguntando de que time o jogador é.

Novidade, né? Nem um pouco. O blog El Kabong deu no dia 2 de maio essa notícia, muito mais completa e detalhada que a da Fabíola.A diferença é que não dá para comparar a repercussão de um jornal tradicional com um reles blog.

O nome do boi é Richarlyson, quebra-galho do São Paulo que joga de volante, meia, líbero, lateral-esquerdo e em qualquer outra posição que for encarregado. Joga direitinho e tal, mas não é titular.

Quem acompanha futebol sabe que não é de hoje a suspeita pelo atleta. Torcedores adversários pegam no pé do cara desde que ele comemorou um gol seu feito contra o Palmeiras, há dois anos, com uma rebolada estranha. Tal fama só piorou conforme ele customizava o uniforme, dobrando as mangas da camisa ou levantando a sua gola, e com seu jeito de correr peculiar, meio que empinando a retaguarda. Não é a toa que ele é chamado de “Bicharlyson”.

Homossexualismo no futebol sempre foi um tabu. Até hoje se especula que o zagueiro Júnior Baiano teve um caso com a Vera Verão, mas o comediante levou isso para o túmulo. Dizem que o jogador titular da Copa de 98 ameaçou matá-lo caso ele abrisse a boca. Também pipocam histórias que rolam nas categorias de base da vida, em que determinados técnicos só escalam certos jogadores que fazem determinados favores no vestiário.

Essa notinha vai estourar. Vão fazer pressão nos clubes, jogadores vão começar a se manifestar para que tal atleta saia do armário e, caso isso realmente aconteça, será bem curioso. Confesso que não me lembro de nenhum jogador de futebol que seja gay assumido.

Também me interessa a postura do São Paulo. Dizem que o presidente do clube já fala que se o jogador quiser assumir, que o faça, mas também nunca mais põe o pé no clube. Um boato que circula nas redações esportivas há uns meses é que o jogador que ser o primeiro jogador de futebol no Brasil a assusmir. Mas daí os dirigentes e o empresário do cara acharam isso uma loucura, afinal todo mundo sabe que um dos apelidos do tricolor é “bambi”, e a saída de armário de um esportistas do elenco só aumentaria essa alcunha.

E se ele for mandado embora, quem vai contratá-lo? Não sei, mas no Brasil não vejo time algum que o aceite. Jogadores vão pressionar, a torcida vai xingar porque não quer ser zoada pelos torcedores adversários, possíveis patrocinadores podem romper contratos para não terem suas imagens veiculados ao cara... Vamos ver.

Na comunidade oficial do tricolor paulista no Orkut, não se falou hoje de outra coisa. Tópicos atrás de tópicos eram criados para debater a questão, e todos eram rapidamente apagados pelos moderadores (vários eram tirações de sarro vindos de corintianos, palmeirenses e santistas). Internautas que manifestassem algo de homofóbico eram banidos.

Até que, finalmente, um dos donos da comunidade escreveu um post falando que dane-se o que o cara for, o que interessa é que ele jogue bola. Grande maioria dos participantes da comunidade está apoiando ao tópico.

Se o cara assumir e os atletas e torcedores o apoiarem, meus amigos, isso será do caralho!

19 de jun. de 2007

Você devia jogar basquete… E ver 'Lost'

Assim como o Ronald, sempre escutei na minha vida uma frase bem clichê: "Você devia jogar basquete."

Era batata. Fulano me conhecia pela primeira vez e papo vai, papo vem, até que a conversa descambava para meu assunto preferido: esportes. Eu falava de tênis, atletismo, natação, discorria sobre tática e fundamentos futebolísticos... Mas daí, do nada, ouvia.

- E basquete, cê não curte?

Maneava a cabeça, respondendo que sim.

- Pô, basquete tem tudo a ver com você, olha o seu tamanho! Cara, cê devia jogar basquete!

...

Ultimamente não escuto mais isso. Piorou. Tudo graças ao Lost.

Acho que sou a única pessoa do universo que não assiste Lost. Minha namorada assiste, meus melhores amigos assistem, meu pai assiste (na Globo e dublado, mas assiste), meus colegas de trabalhos assistem, meu carona assiste... Só eu que não.

E isso está me atrapalhando. Sou privado de conversas, minha namorada já brigou comigo várias vezes. Tudo porque eu não assisto Lost.

Outro dia peguei um táxi. Conversei com o cara sobre tudo: trânsito, chuva, jabá musical, Corinthians, seleção brasileira, Paulo Maluf, carros e até sobre a cotação do dólar. Lá pelas tantas o motoristas sugere.

- E TV, o que você gosta de assistir?

Respondo que vejo alguns noticiários, desenhos, programas esportivos; nada demais.

- E seriados, você gosta?

Falo que não vejo mais como antes, mas dos novos não perco um episódio de Heroes e Desperate Housewives.

- E LOST! VOCÊ NÃO VÊ??

- Errrr... Não.

- COMO ASSIM? Lost tem um enredo muito interessante, a trama é genial e não tem final de temporada meia boca como a do Heroes. Gustavo, é a sua cara. VOCÊ DEVIA VER LOST!

Já me acostumei com esse: "Você devia ver Lost". Olha, não é por birra, mas, sei lá, o seriado não me atrai. Até gostaria de vê-lo um dia, mas daí eu penso que já está na terceira temporada e iria ficar dias vendo um monte de gente numa ilha deserta, em que uma escotilha deve significar sei lá o que...

Quando a pessoa insiste muito eu até sou mal-educado. Falo que Lost é programa de populacho, que não assisto a algo que virou álbum de figurinhas. Mas o taxista era gente boa demais.

- Olha, meu filho tem as três temporadas inteiras gravadas, eu peço para ele gravar uns DVDs para você. Você não é o sobrinho da Marize? Então, eu deixo os discos com ela, não tem erro.

Um filme passa em minha cabeça. Quando eu estava na terceira ou quarta-série, todo mundo da classe via Carrossel, menos eu. Para variar, ficava de fora de várias conversas. Um dia resolvi ver aquela droga e me enturmei. Com Chiquititas aconteceu o mesmo (pior é que eu adorei aquilo!). Friends eu só comecei a assistir em 1998, porque meu irmão adorava a série há anos e ficava tirando sarro de minha cara porque eu não a acompanhava e era retardado.

Penso que se eu começar a assistir Lost, farei várias pessoas felizes. Minha namorada, então, nem se fala. Recuso gentilmente a proposta dele e falo que eu mesmo vou até a locadora e alugarei algumas temporadas. Só assim eu garanto ver tudo aquilo. Estarei pagando de meu bolso e não quero perder dinheiro, ora!

Então fica a promessa: nessas "férias" de julho, eu vou ver Lost. Tudinho. Podem me cobrar no final do mês.

Depois disso, preciso lidar com outras frases que ainda me incomodam: "Você devia jogar truco" e "Você devia jogar xadrez".

4 de jun. de 2007

O dia em que eu xinguei um emo

O próprio título já diz tudo. Sim, eu xinguei um emo. Já adianto que "respeito" essa modinha, apesar de achar bem idiota essa coisa de franja caída, olhos com lápis preto, cinto com rebite e tênis Vans à la bandeirola de corrida. Tudo bem, é apenas mais uma fase - duro é agüentar aquele som de melodia punk com letras do Raça Negra...

O meu problema com os emos nasceu da falta de educação deles. Quando passo os finais de semana em São Paulo, costumo pegar o ônibus do jornal até a região da Avenida Paulista. E é batata: sempre tem um grupinho de emos malcomportados que ficam berrando, falando alto e deitados esparramados nos bancos.

Além de atrapalhar os outros passageiros, essa corja ainda não cede lugar para quem realmente precisa. Uma senhora cheia de sacolas nos braços, por exemplo. Eles parecem viver em bolhas, alheios as opiniões dos outros. Algo que me irrita mais ainda é que eles sempre sentam na parte da frente, antes de passarem pela catraca. Todo mundo sabe que TODOS esses bancos são, em tese, reservados a idosos, gestantes, obesos, e por aí vai. Eles não estão nem aí, não adianta a parte traseira estar vazia. Eles sempre sentam na frente.

Para piorar, passam de dois-em-dois na catraca. O cobrador fica puto, faz cara feia, mas eles não estão nem aí. Ficam dando risada, assopram a franja e fazem um balbúrdia da porra.

Na última sexta-feira, entro no ônibus e vejo um grupinho de emos, todos com, no máximo, 14 anos. Estão, para variar, esparramados em três bancos. Todos espremidos, sentados no colo um dos outros, aquele amor juvenil.

Passo a catraca, ponho os fones de ouvido e sento lá no fundo. A linha de ônibus que eu pego passa perto de um metrô, então tem uma hora que o busão bomba e entope de gente. Desta vez não foi diferente. Passo este ´ponto, notor que todos estão olhando para frente, antes da catraca. Tiro os olhos da revista e vejo a cena: uma mulher gordinha, com uma criança de colo e carregando uma sacola cheia de compras do supermercado, olha para o grupo de emos, esperando que alguns deles ceda um cantinho do banco. Ninguém se mexe.

Uma idosa ao ladop tenta com muito esforço se levantar, mas a grávida não deixa. Ela cutuca uma garota emo, de cabelo alisado e com mexas roxas. Não dá para escutar o que ela fala, mas isso a deixa ainda mais nervosa. Um burburinho começa a tomar conta do ônibus, mas ninguém fala nada. Para piorar, aquela cena clássica: o nenê abre o berreiro.

Daí eu eu, que já estava de mau-humor devido a um fechamento dos infernos, levanto e berro: "Saiam daí, porra!"

Uns moleques de ternos e gravata e barba para fazer (estagiários de direito?), riem de mim. Todo mundo olha para trás. Os emos não fazem nada. Uma garota ao meu lado faz coro: "Levantem e dêem lugar para a moça, gente!" Novamente eles fingem que não escutam e ficam dividindo um som que sai de seus MP3 player baratos.

Daí foi demais. "Puta que pariu seus emos retardados. Estou falando com vocês mesmo, cacete! Querem levantar a bunda e dar lugar para a moça?!"

Um emo de piercing no canto da boca levantou, fez pose de macho e me encarou. Talvez pela cara de idiota e pela pouca idade dele (hehe), não me intimidei. "Tá olhando o quê? Vai chorar daqui a pouco?"

Mais risadas.

O machão faz cara de "ai que saco" e puxa duas garotas de preto. Elas se levantam, seguidas por um outro moleque. Uma tem uma camisa do Evanescence, a outra da Avril Lavigne (puta merda) e o garoto uma do Simple Plan. A grávida agradece e senta.

Para variar, eles passam de dois-em-dois na catraca, olhando para baixo. Um dos estagiários de direito ainda dá um croque na cabeça do de piercing, e depois finge que está olhando para a janela. O emo nem olha para trás.

Sento e dou uma risada. Pelo menos me diverti um pouco.