29 de jun. de 2004

Se joga, bi!

Todo mundo lembra do filme acima, não? Aposto que muito recordaram daquela famosa cena em que o personagem interpretado por Kevin Kline se assume de vez, ao tocar "I Will Survive" no seu som. Impagável.

Ontem, na academia, tal cena veio à minha memória. Academia, como muitos sabem, é reduto das bibas. Geralmente eles vão em duplas, exibindo orgulhosos os bíceps e peitorais aos colegas e, não sei por raios, adoram se julgar os pegadores. "Tal fulana eu peguei mesmo!", exclama um suspeito. Impressionante, não vejo razão pra tanta falsidade. "Se joga, bi!", diria um amigo gay.

No mesmo dia, um Dj estava discotecando. No início, apenas "músicas Jovem Pan". Aos poucos foi melhorando, colocando alguns clássicos até chegar ao auge: hinos incondicionalmente gays. A caixa de som soltava o refrão: "You just good to be true...". Não tive dúvidas: virei o rosto para trás e vi os "machões" se segurando em pé para não soltarem os quadris. "Can't take my eyes off you...". Caras e bocas eram feitas, e a música continuava. Do refrão não passa, do refrão não passa, era o meu mantra. Vem a famosa entradinha e o refrão: "I love you baby...". Dois cantam e balançam a cabeça. Outros olham, começam a mexer um pouco os braços e bater o pé levemente.

O Dj, percebendo a reação, solta "Staying Alive". Ah, agora só deu neguinho saindo do armário. Sensacional! Entoavam a letra, faziam alguns passinhos à John Travolta. As mulheres, boquiabertas, apenas olhavam. Juro, se tal música estivesse tocando no vestiário, só ia rolar um trenzinho básico e barbie dando toalhada no outro.

28 de jun. de 2004

E agora, Mr. M?

Analisem o auto-retrato do pintor Van Gogh.

Agora vejam uma foto do Chris Martin, vocalista do Coldplay

Só eu que achei um a cara do outro?

27 de jun. de 2004

O dia em que eu engoli uma bolinha de gude


O Billy aprontou mais uma das suas: engoliu um brinco da mama. Agora, é esperar o safado evacuar a jóia. Todos estão furiosos, menos eu. Sou tão sarcástico, que dou risada com as brejeirices do meu cachorro. Meu irmão responde:
- Tal dono, tal cachorro! Um come brinco e, o outro, bolinha de gude!

Quando pirralho, eu zoava muito um coleguinha de sala. O garoto teve a capacidade de engolir uma chave. Achava isso impossível, coisa de retardado. Como alguém enfia uma chave goela abaixo? Continuem a ler a historieta.

Certa vez, eu estava jogando bolinha de gude no tapete de casa. Jogava sozinho. Nunca foi bom em tal brincadeira, não sabia jogar as bolinhas o mais longe possível. O que resolvo fazer? Jogar bolinha de gude com a ajuda da boca. Como assim? Colocava uma na boca, puxava ar e a arremessava, como estivesse dando uma bela cusparada. Estava bacana a peripécia, até o momento em que uma bolinha não saiu, entalou.

Pânico. Ponho as mãos à garganta e engasgo. Cacete, olha a merda! , filosofo, no alto de meus sete anos. Corro até o quarto de minha mãe e tento falar: Aff... Bolinha...Afff... Engoli...Aff... A bolinha...

- O quê? , ela exclamou.

Rodopiei o fura-bolos e apontei à boca. Ela entendeu. Mandou eu plantar bananeira, apoiando os pés na parede. "Cospe!", ordenou. Juro, não saía. Repeti tal procedimento três vezes, e não funcionou. Desespero. Curvei as costas e recebi um tapa (uma porretada, para ser sincero). Bulhufas. Vendo a minha angústia e a minha falta de ar, a mama disse para engolir a maldita bolinha. Engoli. Ao menos não foi uma chave.

Foram quase duas semanas de companheirismo; eu e a minha bolinha. Daria um lindo filme. Até foto nós tiramos - uma radiografia, quer dizer - e lá estava ela, uma bolinha de gudes com um barquinho dentro. Alojada na altura do meu diafragma, do lado esquerdo do peito. Coisa linda. "Tudo o que sobe, desce", já dizia um ditado. O meu era outro: "O que engole, sai depois no cocô". E essa foi a minha esperança. Que merda! Literalmente.

Tomava um remédio horrível (devia ser laxante) e comia purê de batatas o dia inteiro. Qualquer coisa que fizesse eu fazer o número dois, era uma ajuda. Yakult? Manda! Abacate? Simbora! Meu pai iria até Salvador para comprar um acarajé, se possível. Pior, só eu ter que ir com dois canudinhos plásticos pra cima e pra baixo. Quando eu ia ao banheiro e fosse dar uma aliviada, era obrigado a conferir se a maldita bolinha havia saído. Eu ficava horas remexendo a minha obra-prima com aqueles dois canudos. Era decepcionante.

Um dia a bolinha foi-se embora. Fez um tremendo estardalhaço. "Péin!", foi o seu som ao bater na privada. Certamente algo inesquecível. Foram quase dez anos sem comer purê de batatas. Juro pra vocês!

23 de jun. de 2004

Não façam o que eu digo

Já cansei de dizer que não sou exemplo pra ninguém, ainda mais quando o assunto é estudo. Fui vagabundo, confesso. Chutava todas as questões de Exatas e me esbaldava nas de Humanas. E quando chegava a redação, quase me ocorria uma ereção de felicidade. Mas, gente, não sou exemplo a seguir, não! Está ouvindo, dona Marina? Eu só passei por mandar bem na maldita da redação!

A Marina é irmã da Irena. Está no primeiro colegial, e as suas notas são muito parecidas com as minhas de quando estava na mesma série. A tua irmã foi uma tremenda duma cdf de carteirinha. Acertava mais de 80% nos simulados e ainda passou na primeira lista da PUC (eu passei na décima primeira).

Outro dia eu comentei que estudar, ou não, em certos casos é engraçado. Minha namorada estudou pra caramba e passou na faculdade que eu também passei. Qual a diferença de passar na primeira e na penúltima lista? Nenhuma!

E agora, a dona Marina resolveu me usar como modelo de vida. No simulado, acertou 36 de 100 questões. Juro, eu ia um pouco menos pior que ela. Daí ela teve a manha - coisa de cabra macho - de falar pra mãe por telefone quanto é que tirou no simulado!

Deve ter levado uma bronca, é lógico. Só que do nada ela me diz ao telefone:
- Ah, o Gustavo passou.

Desligou o telefone e perguntei:

- Eu passei no quê?
- Na faculdade, ué!
- E daí?
- E daí que a minha mãe falou que se eu continuar desse jeito, eu não passo em nenhuma faculdade. Daí eu falei de você...

Porra! Isso lá é coisa que se diga para a mãe?

21 de jun. de 2004

Meus sais...

Quando volto pra São Paulo, eu tenho a audácia de pegar um ônibus às cinco horas da matina. Tudo para aproveitar um pouco mais o final de semana em casa com a família e escapar do estressante trânsito da marginal Tietê. Eu faço tal loucura quase toda semana.

Como tem neguinho se acotovelando para pegar ônibus nesse horário (existem mais loucos neste mundo), mama ou papa compram à passagem no domingo. Já deixo uma condição: um lugar que não seja na frente do busão.

Existe alguém na face da Terra que goste de sentar nas primeiras poltronas de um ônibus, tirando velhos e crianças pentelhas? É impressionante! Aqueles garotinhos de cabelo tigelinha são uns horrores. Perceba que eles têm algum problema no cerebelo, porque os lazarentos nunca ficam na posição certa. Ao invés de ficarem sentados, viajam ajoelhados e olhando para o fundo do ônibus (leia-se: você). Fazem caretas e, quando são pestes mesmos, implicam com o livro que você lê.

- O que você tá lendo?
- Um livro...
- Sobre o que é?
- Crônicas.
- O que é isso?
- Histórias.
- Sobre o quê?
- A vida...
- Vida de quem?
- ... De garotos chatos que fazem muitas perguntas e morrem por isso!

Eu não tenho muita paciência em ônibus. Vide quando senta algum idoso na minha frente. Deixo claro que adoro velhinhos e não tenho um puto de preconceito. Mas velho em ônibus é uma desgraça. Estão sempre com sacolas de compras, podem reparar. Quando sento na poltrona do corredor, levo sempre umas sacoladas na cabeça. Ainda levo bronca. Pior quando vai um casal de velhos.

- Pedi pra você não pegar lugar na frente!
- Só tinha aqui, não enche o saco!
- Ai, após 40 anos você continua um grosso!
- Você que só sabe reclamar!

Eles se ajeitam na poltrona.

- Quer deitar a poltrona? Peraí...
- Não tá indo, falei que não era pra sentar aqui!
- Calma...
- Tá quebrada, tá quebrada! Tudo é uma porcaria!
- Não tá indo...
- Também, você não tem força nem pra levantar a sua bunda do sofá!

A velha pede para uma pessoa mais jovem (eu). Reclino a poltrona e recomeça a prosa.

- Fecha a janela! Estou com dor de garganta.
- Morre duma vez...
- Cala sua boca! Ei! Que cheiro é esse na sua roupa?
- Que cheiro?
- Isto... (cheira). Você comeu mexerica às cinco horas da manhã??
- É...
- Mas é um velho sem vergonha!
- Você está fedendo laquê e Leite de Colônia e eu tô quieto...
- Como é que é??

E continua, e continua...

19 de jun. de 2004

Ryan Adams


Rapaz, que beleza este tal de Ryan Adams! Já era fã do sujeito, mas depois de ouvir o seu último CD "Rock & Roll", estou pagando mais pau do que antes. O sujeito fez uma tremenda lição de boa música.

As letras estão de abalar o coração da mulherada. "So Alive", em minha humilde opinião, já desponta como a música mais bonita do ano. A voz de Ryan está tão bonita que nem o próprio acreditou no timbre que alcançou ao gravar tal canção. Ele também não tem vergonha em dizer que "So Alive" é puro U2. Ouçam e digam-me se não é parecido?

Tudo começa ao colocar aquele pequeno disco no som e "This Is It" começa a tocar. Sente-se e pode relaxar que é um tremendo disco. Dois polegares pra riba!

16 de jun. de 2004

Recruta Zero

Segunda-feira foi dia de ir ao exército, honrar a pátria amada, torcer pra não ser chamado.

- Calma, aí, Gustavo! Tu não fizeste 18 anos no ano passado?

Sim, caro leitor. O detalhe é que eu esqueci de ir ano passado. Em agosto, mês de meu aniversário, falei pro meu irmão:
- Fê, como é que faz esse treco do exército?
- VOCÊ AINDA NÃO FOI??? - ouvi.

Fui na junta militar e fiz a minha inscrição. Como perdi a chamada, tive de pagar a multa exorbitante de três reais! Aff. Ganhei quase um ano de prazo para voltar ao estabelecimento: 14 de junho.

Cheguei no centro militar e aquilo estava parecendo fila pra ir ver um show do Sandy &Jr. Neguinho pra tudo quanto é lado. Tô fodids!, pensei. Dirigi-me até o final da bicha (piada inevitável) e lá fiquei esperando. Dez minutos e nada. Resolvo ler "Pequenos Delitos e Outras Crônicas" do Walcyr Carrasco. Mimo da Irena por eu ser um namorado legal. Folheio algumas páginas. A fila anda. Chego à portaria, dou o meu certificado de alistamento e mandam eu subir. Um degrau. Dois degraus. Três degraus. Pasmem! Outra fila. Ainda maior e dividida em três partes. Olho aos céus e torço pra cair um raio em minha cabeça. Obviamente meu desejo não se realiza.

Olho para as filas. Tem uma pequenina e outra meio grandinha. Vou até a maior por um mero detalhe: havia cadeiras para sentar. Cara, não agüento ficar dois minutos em pé sem me mexer. Dá um saracutico, uma coceira toma conta de meu corpo... Não agüento. Ainda mais que trouxe um livro e posso ler sossegado. Passam-se quase uma hora e uma voz vem lá da frente da fila.

- Quem eu for chamando o nome, favor comparecer imediatamente.

Tremedeira, suor. Os primeiros mártires são chamados e encaminhados para outra sala. Saem cabisbaixos e ouvem comentários maldosos do pessoal da fila. "Mano se ferrou", alguém comenta. "Vai ter que pagar de cuequinha lá pro dotô!", alguém ironiza. E eu só de olho no senhor que ia soltando os nomes. Vem o veredicto:

- Luiz Gustavo blá, blá, blá...

É o meu nome. É O MEU NOME! Declaro-me ateu no mesmo instante. Xingo Papai do céu, enfureço-me com meus Orixás. Apresento-me ao tiozinho. Este me dá um papel amarelo e diz com certo desdém:

- Tá dispensado. Só pagar a taxa na lotérica.

Hein? Ouvi bem? Dispensado? Fui dismissed? Rá! Olho para as centenas de trouxas da fila e ensaio a "Dança do Frango". Desço as escadas correndo, dou passinhos à Michael Jackson. É tanta alegria que nem como comemorar. Seria eu um Macunaíma? Fui pro alistamento com um ano de atraso, fiquei sentadão o tempo inteiro enquanto outros meditavam sobre suas pernas em pé, fiquei lendo um livro na frente de pessoas fardadas e mal-encaradas... Mais anti-herói, impossível!

14 de jun. de 2004

A vida simples (II)


Falemos agora do JUCA. É bem legal, reúne as principais faculdades de comunicação da capital paulista. O Mackenzie (camisa preta) é quem leva sempre, a Cásper Libero (camisa vermelha) leva, digamos, a escola inteira! Cacilda! Não sei como tanta gente consegue caber em poucos andares de um prédio. A Bruna, que estuda, lá talvez tenha uma explicação. Bastava por os pés na rua e dar de frente com uma maré vermelha de alunos casperianos. Parecia até militância do PT!

O pessoal da minha faculdade? Bem, somos os beberrões por excelência. Se a competição fosse num bar, a PUC venceria fácil. Olha o lema da garotada: "Viemos pra beber, viemos pra beber e se ganharmos foi sem querer!". Vou dizer o quê? Ao menos a nossa torcida era umas das mais divertidas. Havia fogos de artifício, um animador mais embalado que o Bola Oito e até bateria (quesito em que o Mackenzie possui quase uma escola de samba).

O mais engraçado foi quando um garoto da minha sala roubou um cartaz do filme pornô do Alexandre Frota de uma locadora. Ficou aquele cartaz circulando pela torcida aos gritos de "Ei, ei, ei! O Frota é nosso rei!". Demais! A USP havia roubado um dia antes um cartaz da Suzana Vieira, e ficaram cantando: "Vieiraaaaaa! Vieiraaaaaa! Suzana Vieiraaaaaa!".

A rixa entre as faculdades é sensacional. Nós, da PUC, somos conhecidos pela fama de maconheiros (graças ao Isami Tiba, que chamou a faculdade de "antro da maconha"). A FAAP têm as melhores garotas e a grande maioria é pertencente à elite paulistana. A USP possui os crânios - e os canhões também. Deixo aqui os melhores gritos:

"Só pra não esquecer! A Metodista é a Unip do ABC!" - todos p/ Metodista

"Só pra não esquecer! A sua facul é uma antena de TV!" -todos p/ Cásper

"Não tenho vergonha! Estudo na Puc, o antro da maconha!" - PUC

"Ão, ão, ão! Meu pai é teu patrão!" - FAAP p/ todos

"Sou solidário! Pago teu estudo e vou pagar o seu salário!" -Todos p/ USP

"Ô, USP! Como é que pode?! As tuas minas têm bigode!" - PUC p/ USP

"Vai Preta Gil!" - eu, para garota da USP no jogo de vôlei.

13 de jun. de 2004

A vida simples (I)


Nada melhor do que tirar uns dias de isolação do mundo. Chega de internet, televisão, jornais e notícias. Não quero saber de mais nada, não ter a obrigação de entender o que está acontecendo ao meu redor. Chega! Juntei os meus trapos e fui até Piquete, uma cidadezinha situada entre a Serra da Mantiqueira e o Vale do Paraíba, usando como pretexto para papai e mamãe que iria participar do JUCA (Jogos Universitários de Comunicação e Artes), realizado na cidade vizinha, Cruzeiro.

Maravilhosa essa tal de Piquete, viu! Parece um local cinematográfico: ruas de pedras, carros antigos, bares antigos, tudo parado no tempo. Pessoas andando de bicicletas, não se preocupando com moda, cuja maior diversão é pegar as cadeiras e colocar na calçada em frente as suas casas, a fim de bater um papo com o vizinho e olhar para o céu estrelado. São gentes humildes, que parecem não ver distinção de classes. Te tratam como um velho amigo.

Ao chegar na cidade, munido de duas pesadas malas, tive a sensação de estar num episódio de The Simple Life. Eu e meus seis amigos éramos Paris Hilton e Nicole Richie vivendo por quase uma semana no meio do nada. Aquelas sete pessoas da capital foram motivo de curiosidade. Cabeças saiam das janelas e nos olhavam com curiosidade. Big Brother Piquete!

Incrível como uma distância de um pouco mais de 200 km faz nascer dois mundos distintos. Sabem quanto custa um sanduíche em Piquete? De dois a três reais (isso porque dizem que é muito caro!). Caminhar 15 minutos para o pessoal da cidade é muita coisa! Poder andar numa cidade sem se preocupar em ser assaltado, ouvir um "boa-tarde" de cada indivíduo que te encontrar. Parece até as histórias que vovô contava de sua época.

Por cinco dias, a minha infância surgia constantemente em minha memória. Tudo era motivo de comparações com Tupã (onde vivi quatro anos). Por alguns minutos, eu tive desejo de sair de São Paulo, daquela correria, da poluição. Alugar uma pequena casa, com uma rede na porta de entrada e ficar lá o dia inteiro, tirando uma gostosa soneca.

Mas ainda prefiro a velha pauleira cotidiana. Só não consigo explicar o porquê. Talvez seja bom ter essa vidinha nas férias. Depois deve perder um pouco a graça.

8 de jun. de 2004



O centro de São Paulo é algo indescritível. Miscigenação, talvez seja a melhor definição. Como definir um local onde um mano te pergunta de hora em hora: "Mano, quer comprar calça jeans?". Como dar nome a uma praça onde diversos hippies (em estado de viagem total) cantarolam apenas uma música com os dizeres "lálálálá!? Metaleiros se reunindo na Galeria do Rock? Forrozeiros bailando em plena calçada? Mendigos esmolando? Ou, talvez, eu deva citar um senhor de terno azul com uma pequena bíblia à mão. "Meus filhos, a palavra do Senhor lhe salvará...".

Pode-se encontrar "primas" fazendo sessão matinê. "Lindo, vem cá, vem!". Tu olhas e vê aquele tribufu cheirando a água de colônia e Blondo. Eca! Usar o telefone público e se deparar com os inúmeros pequenos anúncios de prostituição colados no orelhão. "Amanda: morena, olhos claros e corpo sarado. Topa qualquer coisa. Telefone tal".

Numa outra esquina, talvez o Agnaldo Timóteo esteja vendendo o seu último cd. Pena que a prefeita perua da cidade logo proibiu o cantor. Serviço humilde, madame. Pessoas andam em compasso, maquinalmente. Sacola no braço e conversa pro lado. Alguns boys andam apressados (como sempre), já senhores de idade, trajados de boina e suéter, preparam-se para mais uma partida de gamão. Sem pressa.

Pode-se comer num dos melhores restaurantes da capital paulista: o Mercado Municipal. As boas línguas recomendam a fartura da mortadela de um sanduíche e o pastel de bacalhau de tal banca. Gastronomia popular. Tem também aquela ruela conhecida no Brasil inteiro. Época de feriado é aquele congestionamento. "Vamos pra 25 de março?!", alguém pergunta entusiasmado. A caravana logo vai atrás. Tudo em promoção e vindo de contrabando. "É oliginal!", responde o coreano atrapalhado.

Um rapaz ajoelhado no chão faz uma imitação árabe. Não há cobra e, sim, um jornal enrolado. Não há um cesto de palha e, sim, uma mochila. Não há uma flauta e, sim, apenas o assobio provocado pela unção dos lábios e o sopro. No centro de São Paulo, realmente, a originalidade é a segunda melhor definição. Originalidade, não! Oliginalidade.

7 de jun. de 2004

Espécie em extinção

Uma pergunta não sai da minha cuca: está faltando homem no mercado? O homem, no qual ao me refiro, é aquele que goste de mulher. Heterossexual, sabe?
Acho que as gurias andam desabafando comigo após a publicação da crônica no jornalzinho. Até a mama já soltou a delas:
- Filho, todo homem agora é viado!

Dei risada, lógico, mas achei a afirmação da mama pertinente. Será mesmo? A cuecada desistiu do público feminino? Também, não os culpo: mulher é um ser irritante. Eu não reclamo, acho isto um charme das ragazzas. Alguém, por acaso, não gosta de quando a sua garota te liga num momento inesperado e pergunta como foi o seu dia? Só não pode ficar ligando o tempo inteiro, sufocar. Nem monge tem tamanha paciência.

Tenho uma teoria: ficou tão difícil arranjar homem, que quando uma mulher consegue, faz de tudo para segurá-lo. "Vai ficar em casa assistindo novela comigo!"; "Vai ao shopping fazer compras comigo!". Mal sabem elas, que ao começarem a nos controlar, sentimo-nos um ser livre, minhas amigas. Não tentem segurar os teus homens. Tratem-nos com desdém, pois caímos de paixão. Ficamos escravos, nos dedicamos, enchemos vocês de presentes. Não é nada mais do que um jogo. Aprendam a jogar. Quem sabe ao final, a bola não fique em suas mãos?

Vocês deviam aprender a brigarem menos entre si próprias. Fulana que deu pra alguém que você gostava, ciclana que anda falando mal de ti aos outros. Desencanem. Vocês dão tanta importância para os comentários dos outros... Sejam menos invejosas. Aprendam que aquela tua "amiguinha do coração", pode ser uma tremenda traíra. "Ai, me conta tudo da sua vida!". E vocês falam - até mais do que deviam. Não digam que eu não avisei.

Homem, não. Quando brigamos, não é por muito tempo. São motivos chulos: futebol, vídeogame... Somos grandes companheiros. Não precisamos ficar nos falando todo o santo dia. Basta uma reunião no final de semana que já está tudo em casa. E quando alguém está saindo com alguém? Perguntamos se a garota é gostosa, qual o tamanho dos peitos e nada mais. A vida particular do amigo não tem tanta importância. Estar feliz é o que importa. Isto basta.

Cansados da chatice das mulheres, muitos nadam pro outro lado da correnteza. Homem é um ser mais batuta. A culpa é de vocês mesmas!

6 de jun. de 2004

Quem se atreve a me dizer...


Centenas de jovens espremidos em alguns metros quadrados. A maioria segue um estilo alternativo. Batem palmas e pedem para as cortinas descerem. Após 40 minutos de atraso, cai o pano escuro.

O cenário ao fundo é uma aquarela (Rio de Janeiro, talvez) pintada por Domênico Lancelotti. O palco está escuro, luzes acendem. Quatro barbudinhos, trajando roupas parecidas com a de seus fãs, adentram. Berros e palmas acompanham seus passos. O barbudinho principal diz um "boa-noite" e olha para o baterista dar o compasso da música. Este pega as baquetas, olha para o baixista, maneia a cabeça e bate os pauzinhos: "um, dois, três". Introdução da música, os jovens pulam. O vocalista barbudinho se afasta do microfone e deixa o público entoar.

Olha lá quem vem do lado oposto
e vem sem gosto de viver
Olha lá os que os bravos são escravos
sãos e salvos de sofrer


Finalmente consegui assistir aos Los Hermanos. Teve que ser em São Paulo, lógico, já quem em Sorocaba eles passam longe. Em todas as músicas, nota-se uma paixão fervorosa dos fãs. Cantam junto, choram juntos. Sabem a seqüência das músicas e são os verdadeiros vocalistas da banda. Chega a ser assustador. Se os jovens de cachecol fossem senhoras de laquê, Marcelo Camelo provavelmente seria o rei Roberto Carlos.

Ótimo show - às vezes, meio morno. Vai gostar quem já conhece as músicas e os dois últimos cds (eles ignoram o primeiro). Só por tocarem "Sentimental" e "De Onde Vem a Calma", já é possível notar o porquê de tanto chororo a cada música.

* O som do Credicard Hall é horrível! Muito baixo e abafado. Marcelo Camelo chegou a dar uma bronca no sujeito responsável pelo audio, pedindo para aumentar o volume, mas pouca coisa mudou. João Gilberto já xingava na abertura da casa a qualidade da acústica, e parece que ninguém ligou muito. Vou te contar...

3 de jun. de 2004

Navio: nunca mais!


Até o final de 98, viagens eram comuns entre a minha familia. Após a disparada da cotação do dólar, a coisa ficou bem diferente. Final de ano em Guarujá no máximo! Nunca mais houve passeios bacanas e diferentes, como fazer uma viagem de navio de Santos a Angra dos Reis.

Transatlântico (o mesmo da foto), chique até o último fio de cabelo. Congresso de dermatologia: pessoas de branco comentando doenças de pele e afins. Havia somente três pessoas no barco que não eram doutores: eu, papai e Fernando. Os três intrusos, os três convidados de mamãe.

Enquanto a velha iria assistir a palestras, iríamos relaxar na piscina, no cassino, dar um volta naquele navio que mais parecia um shopping. "Vida boa, hein!", pensa, o caro leitor. Pois lhe digo que jamais penso em botar os pés dentro de um navio novamente. Só me sedando antes e pagando muito bem. Qual seria o motivo de tanta ira? A velha e boa mareação.

Foi uma cena linda. Chegando ao estado do Rio de Janeiro, digamos que o mar é meio violento, estressado. Balança daqui, chacoalha de lá. O estômago gosta desta sincronia de movimentos, e começa a se comportar como o navio. Ao adentrar dentro do transatlântico, logo ouvi de um funcionário que tal navio tinha um sistema de amortecedores, fazendo da mareação coisa de jangada. Mentira.

Houve uma competição de quem vomitava primeiro. O Jackass foi inspirado nesta viagem. Doutor gorducho de cabelos grisalhos dispara na frente, sendo logo alcançado por japonês especialista em melanoma. Era nojento e engraçado. As cabines dos passageiros são muito próximas e mal revestidas. Sendo assim, ficou comum saber o que o neguinho do quarto ao lado havia comido na janta. Huuuuugo! Huuuuugo!

Médico é uma raça tão sacana, que gosta de exercer a profissão até quando o próprio está morrendo. Huuuuuugo! Cheirava uma maçã. Huuuuuuugo! Comia um miolo de pão. Juro, nenhuma dessas duas táticas funciona. A dica é tentar dormir em algum lugar e admirar o teto se duplicando, o balde cheio de macarrão e salsicha vomitado por você... Alguns chegaram a afirmar que conheceram Jesus e que Elvis continua vivo.

*Inspirado em post da Rafaela

1 de jun. de 2004



Juro que talvez eu tenha escrito, hoje, o melhor texto da minha vida. Seria o meu último. Daria adeus e iria embora.

Perdi tudo, esqueci de salvar. Duas horas escrevendo e tudo embora. Talvez alguém não queira que eu pare e mandou algum recado. Juro que vou entender o porquê disso ter acontecido.

Estou chateado com a forma com a qual avaliam à escrita. Faço um curso em que deveriam dar crédito à inovação e individualidade de pensamento. Não, sou obrigado a seguir um patamar, um molde pré-moldado. Quero ser diferente e pessoas com um diploma no bolso não fazem mérito. "Escreva o que eu quero, leia o que eu gosto". Dificilmente leio o que eles "recomendam". Muita inutilidade. Ler é prazer, não obrigação. Já senti isso no cursinho, não quero passar de novo.

Filosofia de um só lado. Ter que ouvir que em minha prova de artes, não usei sentimento. Sentimento? Artes é algo pessoal, querida professora. Eu tenho o meu ponto de enxergar o mundo, mas parece que a maioria não entende. Obrigado pela nota. Estou chateado com o meu curso, com a minha escolha. Quase nada me agrada.

Do texto, só sobrou a foto. Depois eu volto.