29 de nov. de 2004

A arte, segundo um caipira na Paulista

A minha concepção de o que é Arte sempre foi básica, a mais popular. Um Michelangelo, um Da Vinci, aquelas coisas esquisitas do Picasso. Pensava que sabia de tudo, apesar de não saber a diferença entre um Monet e um Manet. Ainda bem, que o caipira que aqui escreve, resolveu se fixar e morar na capital paulista. Fui a exposições, entrevistei artistas plásticos - inclusive fiquei amigo de um. Tive um ano pra lá de anormal!

Em minha primeira semana de aula, matei a vontade que me acometia há anos e anos: visitar o MASP. Quando passava de carro pela Avenida Paulista e via aquele prédio estranho, morria de vontade de saber o que tinha lá dentro. Acabei descobrindo o "recheio" do prédio de Chateaubriand: Portinari, Tarsila e, acreditem, um Van Gogh. Rapaz, quase tive um treco. Não agüentei à emoção de ver um Miró na parede. Nossa, na televisão é tão diferente!, falei a mim mesmo. Parecia criança em Natal, ao ver o Papai Noel.

Agora eu sei que arte não se resume à pintura, à pinceladas. Arte pode ser de tudo, desde um vídeo criticando a sociedade até tijolos serem usados como malas. Malas? Isso mesmo. Artistas, como Guto Lacaz, dão usos inusitados a objetos de nosso cotidiano. Quem diria que eu veria uma tesoura não ser usada apenas para recortar? Um lápis poder fazer outra coisa além de escrever? Arte é algo feito para pensar, para chocar, para se admirar. Arte tem que fazer o observador se transformar em outra pessoa após vê-la. Pode ser um choque ou uma admiração. Chique, né?

Hoje tenho uma "bagagem artística" bem bacana. Outro dia, assistindo a O Sorriso de Monalisa, comentei para minha mãe uma passagem do filme: 'Ei, aquilo é do Picasso! São as suas Mademoiselles d´Avignon!". A mama me olhou estranha, nem piscava. Apenas balbuciou: "Co.. Como é que você sabe isso?". Senti-me como se fosse um crítico de arte, um ser acima do bem e do mal. Olhei para ela e, para humilhar, não resisti: "Ah, mãe! Qualquer um sabe disso também! Vai me dizer que você não sabia que este quadro representa o início do Cubismo, né?".

A expressão que ela fez merecia uma foto. Foi sensacional!

26 de nov. de 2004

Eu gosto mesmo!


Eu adoro comédias românticas. A dupla Meg Ryan-Tom Hanks não deixa nada a desejar a Bogart-Bacall. Sou louco por esses filmes, cujos finais são óbvios, onde sempre há um lance de beijo caloroso - geralmente na chuva ou no aeroporto - com aquela baladinha tocando ao fundo, deixando você louco para comprar a trilha sonora do filme, pois, ok, por que apenas menininhas e solteironas podem se deliciar com uma bela comédia romântica?

Foi-se o tempo de nós, machos, apenas comentarmos as obras-primas de Steven Segal, Van Damme e Stallone. O hype é comédia romântica. Não tentem dar uma de indie e irem atrás dos Almodovar e Truffaut da vida. Fiquem com a insubstituível Meg. Depois avance para as mais modernas: Julia Stiles, Amanda Peet, Renée Zellweger. Perceba que as protagonistas são sempre bonitinhas, meiguinhas - com exceção daquela gorduchinha de O Casamento Grego. Outra personagem obrigatória é as amigas das protagonistas: geralmente umas solteironas pra lá de boas, fãs de sexo casual.

Acostume-se com o bonzinho e o canalha. Vire fã de Hugh Grant, ame de paixão os clássicos ingleses: Quatro Casamentos e Um Funeral, Nothing Hill. Nada mais gostoso que ouvir um britânico conjugando o verbo "shaggy". Entregue-se e vá correndo assistir ao segundo Bridget Jones. Não há como não rir com as trapalhadas da gordinha, pois as gordinhas são sempre as melhores.

Rapaz, comédia romântica é demais. Tem que ser muito macho para curtir esse estilo - principalmente quando você gosta mais que a sua própria namorada.

22 de nov. de 2004

Um curinga


Eu sempre tive asco a baralho. Aquelas cartas com corações, paus, ouros e espadas. Ainda acha o valete com cara de viado e não entendo a lógica do truco. Truco? Eita coisinha besta, coisa de pobre em feriado quando junta os primo e chegados e decidem passar o final de semana em Mongaguá. Eca!

Brincadeiras a parte - muito por ter raiva de não entender patavina de truco - confesso que há cinco anos venho me fazendo uma promessa a cada primeiro de janeiro. Pulo as ondinhas (tomando cuidado com os barquinhos de Iemanjá) e filosofo: "Gustavo, esse ano tu crias vergonha e aprende essa merda de jogo estúpido". Mas não adianta, pareço tia gorda fazendo promessa de regime para pegar casamento: ainda não sei jogar o maldito jogo de cartas preferido dos brasileiros.

Sei lá, sou meio disléxico com um baralho em minhas mãos. Não consigo fazer aquele esquema de ter não sei quantas cartas numa mão e ao mesmo tempo não deixar ninguém xeretá-las. Sou um péssimo jogador. Ao menos me viro jogando os clássicos: Detetive e Porco. Para ser arrogante, jogo Uno (um jogo de cartas italiano que qualquer macaco bem treinado também joga).

Baralho já me ferrou em diversos simulados do cursinho. Sabe aqueles exercícios de probabilidade? Num baralho tem 53 cartas, sendo um o curinga. O três de copas é tirado e não sei o que é feito. Calcule a probabilidade de sair alguma coisa. Eu pirava, logo pulando para outro exercício de probabilidades que envolvessem dados. Dados foram a minha salvação!

Por coincidência estou lendo um livro que tem em seu enredo algo sobre baralho. O Dia do Curinga é o nome da obra. O danado do Jostein Gaarder é tão bom (vide O Mundo de Sofia) que fez eu ter vontade de aprender a jogar qualquer coisa envolvendo cartas. Até rola uma metáfora por trás do jogo: porque só existe um curinga no baralho? Daí há uma aula de filosofia. Curinga é o diferente, aquele que não se mistura à boiada e tal. Não é alienado, procura não ser um mero observador ou consumidor...

Taí, gostei! Denomino-me agora um curinga - apesar de estar louco para me juntar as outras 52 cartas, e aprender logo a jogar essa porcaria de truco!

16 de nov. de 2004

Xô, boné!

Mulheres do meu coração, façam um favor ao titio aqui: aposentem essa onda de usar boné. Pega a aba e joga para longe, desencana dessa idéia de modismo e atitude. É muito feio e brega. Não fica feminino, não tem como. Estranho é a minha melhor definição.

Boné já fica tosco em homem, imagine em vocês, seres tão delicados. Boné fica bonitinho na pirralhada, usando ele pra trás. Esquenta o couro cabeludo, dá caspa. Voltem aos bons tempos de outrora: chapinha, escova, massageamento, alisamento japonês, baby-liss...

Escafedem com essa mania de usar boné. Use presilha, piranha, tiara. Nós, homens fãs de um cabelo sedoso e bem cuidado, pedimos carecidamente: morte para quem criou essa moda!

Até um específico boné deve ser usado. Von Dutch é o nome da porcaria. E tem louca que me paga 350 reais para usar aquilo. Olha, sigam o conselho do rapaz que escreve neste exato momento, e de boné entende bem. É tudo a mesma coisa, apenas alguns detalhes são alterados. Entre a molecada, já esteve em voga boné de time da NBA, da Nike ou Adidas e da Polo Ralph Lauren. Que atire o primeiro boné quem não conheceu alguém que teve a manha de comprar aquele objeto de quase 40 reais, apenas por um cavalinho bordado.

Homem gosta de cabelo cheiroso, à mostra, fruto de horas e horas de produção em casa. Homem gosta de passar os dedos naqueles cachinhos dourados, dar um cheiro na cuca da nega amada. Homem não gosta de sentir um boné enterrado na cabeça de companheira.
Fica parecendo o Axl Rose - ou o bacanudo do Silent Bob.

11 de nov. de 2004

Aquele tal de ring tunes


Saiu na segunda-feira, no Folhateen, uma matéria sobre os ring tunes. Vocês sabem do que estou falando: aquelas campainhas de celular chatas, que são a onda da molecada. Pega-se o último sucesso do Disk MTV, faz um download básico e, alguns minutos depois, tal música já está tocando em seu aparelho. Simples assim.

Acontece que as músicas são sofríveis de ruim. De 80 músicas disponíveis para baixar pela sua companhia de celular, no máximo, 10 se salvam. Do resto fica uma coisa mal feita, esquisita, com um tecladinho deveras horrível. Parece que voltamos aos anos 80: clima retrô, sintetizadores e aqueles mini teclados da Casio.

Como ganhei de Natal um celular (na minha família é tradição dar presentes com uma certa antecedência), resolvi tascar alguma música legal em meu mais novo brinquedo. Havia várias, para todos os gostos. MPB, axé, pop, funk, sertanejo, rock, hip-hop, hinos de clubes de futebol - brega pra daná! Não gostava de nenhuma, nada combinava. "I Believe In a Thing Called Love" seria a minha grande esperança. Dei uma ouvida no ring tune e frustração: não ficou muuuito legal (no máximo bacaninha).

Do Coldplay tinha uma penca. "Clocks" é demais, porém, como bom irmão que sou, sei da cara de inveja que o mano mais velho faria ao ouvir a campainha de meu aparelho. "We Will Rock You" poderia se tornar um ótimo motivo para levar uns croques de titio (no cel dele não tem tal música, e ele morre de raiva por isso). Queria algo mais alegre, extrovertido. Eis que surge a salvação: a música tema de Um Tira da Pesada.

Porra, essa música é sensacional! Combinou total. Abro um sorriso e começo a ouvir a danada tocar a cada vez que alguém me liga. É bem capaz de eu enjoar da campainha, mas já tenho outra visada para o futuro: o tema dos Animaniacs.

Se bem que "Toxic" da Britney Spears ficou demais...

8 de nov. de 2004

A mais gostosa


Camiseta velha é o que há de mais gostoso de se usar. Mais do que meia rasgada, supera até cueca laceada. Camiseta velha nunca sai de moda, é hype, tendência para todas as estações. Fica guardada na gaveta em lugar especial, à frente de outras camisetas, podendo ser usada para dormir ou ficar em casa. Vestimenta ideal para momentos de puro ócio.

Camiseta velha é personalizada conforme o tempo. Rasga-se a gola, manchas de macarronadas passadas tomam conta do tecido, furos pipocam por todos os lados. Ela vai pegando a forma de seu torço, cai como uma segunda pele. Dá sensação de liberdade e frescor. O tecido é macio, tem aquele cheirinho bom, de ficar na memória.

Camiseta velha é pessoal, não se empresta. O engraçado, é que geralmente elas não chamam atenção à primeira vista. São básicas, sem firulas. Muitas foram brindes ou presentes de pessoas as quais você não se recorda. No início ela fica guardada, de tão feia, não serve nem para sair. Mas basta o primeiro dia que ela for usada como pijama e pronto! Não sai do corpo jamais.

Camiseta velha exige vigia constante. Alvo de mães e avós, loucas para transformá-las em panos de chão. Nada mais deprimente do que saber que sua antiga companheira agora serve de alvo para cândida. Vê-la num rodo, deslizando pelo chão da sala é de traumatizar para o resto da vida. Algumas chegam a ganhar um destino um pouco melhor, virando pano de prato. Um horror.

4 de nov. de 2004

"Mas isso é um absurdo!"


Ah, agora estou me sentindo parte da paulicéia. Hoje, fazendo o caminho até a faculdade, enfrentei um baita congestionamento. Não é demais? A razão? Chuva e mais chuva. As ruas estavam alagadas, bocas-de-lobo jorravam água, pessoas sem espremiam nas calçadas à procura de um toldo ou um espaço no guarda-chuva alheio, motoristas ficavam na dúvida entre enfrentar ou não àquela piscina. Alguns carros paravam no meio do caminho. Ah, isso é São Paulo!

Agora estou vivenciando o que apenas curtia pelos noticiários. O Águia Dourada sobrevoava a marginal e lia o letreiro embaixo, com o Datena berrando: "Mas isso é um absurdo!". E via o pessoal correndo com balde e cuia tentando salvar suas casas de serem levadas pela enchente, crianças atravessavam a nado as avenidas sem medo de uma possível leptospirose. São Paulo tão amada!

Tinha tanto trânsito na Rua Augusta (aquela em que o Rei Roberto descia no maior cacete) que resolvi subi-la a pé. Foi mais rápido que carro ou ônibus. Viva a caminhada! Via com escárnio as dondocas blasfemando o nome da prefeita em seus carros importados. Qual é? E vocês acham que o Serra vai mudar algo?
Nada muda; o pessoal já previa desde cedo o meu futuro: vai estudar em São Paulo, vai pegar congestionamento, enchente...