2 de set. de 2005

O Plantão da Globo informa... (Parte 1)

Incrível como todo mundo tem um Plantão inesquecível. Sim, querido leitor, estou falando sobre aquele treco criado pela TV Globo, que interrompe os programas da emissora a qualquer momento, seja por algum fato importante que trará repercussões imediatas para a nação. Morreu um cantor sertanejo? Tan tan tan tan tan tan tan! Algum ministro renunciou ao cargo? Tan tan tan tan tan... (ok, irei poupá-los desse momento onomatopeico).

A questão é que essa música dos diabos assusta até um monge. É impossível ficar indiferente a ela. Agora há pouco eu lembrei de um causo meu com o Plantão. Foi em 1996, eu estudava de tarde e não fazia nada de manhã, a não ser acordar tarde e ver as reprises do Cavaleiros dos Zodíacos. Nada muito diferente de hoje - eu estudo agora de manhã, rá!

Enfim, estava eu tomando um banho quando aquele som que todos amamos de paixão ecoe pela casa inteira. Nessa época, uma modelo loira e bocuda, a Cláudia Liz, tinha ficado em coma após ter feito uma lipoaspiração. Problemas com a anestesia, lembram? Igual ao vocalista do LS Jack (só que ela voltou ao normal e ele ficou meio bobão). E em tudo quanto é programa o pessoal falava da guria, que estava correndo risco de morte (ou de vida, sei lá!). Só sei que eu ouvi a vinheta do Plantão e sai correndo do box, todo molhado e com a toalha cobrindo as jóias das coroa.

A televisão da sala estava ligada, e, no maior pique, assim que passei o corredor eu tomei um baita de um escorregão (molhado + chão de madeira + corrida) e só fui parar do outro lado da sala, chocando-me com tudo contra a mesa de jantar. Rapaz, doeu muito. Enfiar a canela e outras partes do corpo, pelado e molhado, em três cadeiras não parece ser nada agradável. Lembro que ignorei o cotovelo ralado e sangrando para ouvi a repórter falando às câmeras: "Morre o líder do Legião Urbana, Renato Russo...".

"Viado de uma merda!", berrei. Estatelado, no chão, molhado e com um hematoma na retaguarda por um cantor que ficava imitando a Laura Pausini. Senti tanto ódio no momento, que não o suporto até hoje. E agora eu digo como me lembrei dessa antiga historieta....
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O Plantão da Globo informa... (Parte 2)

Estou eu, nove anos depois, tirando uma pestana no sofá após o almoço. Décimo round do sono, a maior delícia. O som do Plantão surge no meu sonho. Taquicardia. A remela nos meus olhos não me deixa enxergar direito, e tateio o chão à procura do controle remoto. Achei! Com o olhar meio nublado, consigo ver que a tela da televisão está desligada. "Uai!", exclamo. Vou até o quarto do meu tio. Nada, nem o Gasparzinho está lá. Mas o som continua, e muito alto. A vinheta do Plantão não pára e, espantosamente, noto que o som está vindo das ruas.

Vou até a varanda, com o coração quase saindo pela boca, e olho para os prédios da frente, tentando adivinhar quem será o filho da égua que deixou a televisão ligada no último volume. Mas o som vem debaixo, da calçada. Olho para um carro acendendo todas as luzes, aquele procedimento comum de quando o alarme do veículo é disparado. É dele que sai a vinheta do Plantão.

Lazarento. Um Kadette vermelho, bem carro de negão, com um adesivo colado no vidro de trás(com um insulfilm muito preto) : "Salve as mulheres bonitas... E as feias se der tempo". O pior vem depois. O som fica baixinho e dá lugar a uma voz grossa e séria, como se fosse a de um jornalista cobrindo um fato importante. "Atenção, o Plantão da Globo informa: afaste-se desse veículo!". Juro, parecia o Cid Moreira. Não tinha ninguém perto do automóvel, provavelmente o vento disparara o alarme sozinho.

Estou com tanto ódio no momento que nunca mais quero ver um Kadette vermelho e de negão.

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