8 de jul. de 2005

Como tudo deve ser


A vida realmente passa rápido. Enquanto esperava por minha terceira sessão de fisioterapia, folheando um livro, vejo de canto de olho um vulto branco vir até a minha direção. Levanto o olhar. O vulto branco, uma mulher morena e alta, leva as mãos à boca e exclama:
- Meus Deus, quanto tempo!

A garota, estagiária de fisioterapia, estudou comigo por anos. Amiga de colegial, amigona mesmo, que na oitava série dizia que o Limp Bizkit era a melhor banda do mundo e que o Fred Durst era um tesão. Saudades. Beijos trocados, nós colocamos em segundos o papo em dia. Engraçado como anos podem ser repostos em alguns minutos, já perceberam?

Enquanto ela via o meu tornozelo machucado e começa a falar da vida, namoro, faculdade e recordações antigas, penso silenciosamente em como tudo na vida acontece rápido e nós nem notamos. Há três anos essa menina estava comigo prestando vestibular. Lembro direitinho de nossas conversas furadas, de quando eu a usava para fazer ciúmes infantis na outra guria de quem eu gostava. Parece que aconteceu ontem. E agora, vejo esta minha amiga, de jaleco branco e cuidando profissionalmente do meu tornozelo inflamado.

Meu pai diz que quando temos 20 anos, tudo voa. Meus melhores amigos, por exemplo; há meses não os vejo. Cada um seguiu o seu rumo, nos reencontramos quase nunca. Alguns já trabalham, bebem cerveja aos montes e exibem os primeiros indícios de pança. Daqui a pouco eles casam, vou ser padrinho. Um colega de faculdade me anunciou na semana passada, todo orgulhoso, que estava noivo. Dei um parabéns e um grande abraço, e depois fiquei lembrando de que há um ano eu o vi pela primeira vez e achava que ele fosse bicha.

Há pessoas que dizem que meus textos são saudosistas, falo muito de minha infância. Respondo que tudo o que ponho na tela são pensamentos que muitas pessoas da minha idade também têm. Acho que faz parte de um amadurecimento dos meus 20 anos; quando a gente começa a sair da saia da mamãe e parte para o mundo. Virar hominho, costumo dizer.

E tenho certeza que daqui um tempo (pouco ou muito, quem sabe?) um grande amigo vai me reencontrar. Dirá que estou mais gordo, barrigudo. Perguntará como anda a minha vida, se estou trabalhando, se a minha mãe está boa. E um flashback tomará conta do ar. Daremos risadas de fatos da faculdade, comentaremos de causos acontecidos com cicranos e beltranos.

Depois cada um se despede e segue a sua vida. Como tudo deve ser.

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