29 de mai. de 2004

Índio, alemão... Conheça os meus apelidos

Eu tenho esta peculiaridade: facilidade para ganhar alcunhas. Tudo começou, quando este pobre blogueiro nasceu. Ao invés de vir um bebê carequinha, saiu um moleque cabeludo, meio Samuel Rosa. Papai exclamou:
- Meu filho é um índio!

Conforme fui crescendo, os apelidos acompanhavam o desenvolvimento. Com três anos, era loiro e de cabelos cacheados. "Alemão!", vovô brincava. Chamou-me deste modo até o dia em que morreu. Já tinha os cabelos ondulados e castanhos, mas vovô continuava com o tal de "alemão". Adorava quando escutava um "Vem cá, ô alemão!".

Fui muito brejeiro aos sete anos. Enérgico, não ficava um minuto quieto. Meu novo apelido? Formiguinha atômica. Pequeno, magrinho, correndo o tempo inteiro. Quando estava na piscina da casa de vovó e dava as minhas famosas "bombas" ao mergulhar, gritava inflando o peito: "Lá vai a formiguinha atômica!".

Aos dez anos, engordei um bocadinho (tá bom, fiquei uma bola!). Meu irmão me batizou de "bolinha de queijo". Na escola? Berinjela. BE-RIN-JE-LA! Criança é malvada, mas neste caso, elas se superaram. Diziam que a minha cabeça era o formato de uma berinjela (quem manda ser bochechudo!). Odiava e, por isso, durante quatro anos tive esse carinhoso apelido. Meu maior trauma: ser conhecido pelo nome de um legume.

Até nos esportes fui lembrado. No futebol, era o pior do time, mas adorava fazer as minhas firulas. Ganhei um famigerado "Pelé". Quem ouvia de fora do campo um cara do meu time falar "passa a bola, Pelé!", logo pensava que eu fosse um tremendo craque. Bastava ele ver o passe que eu dava, pra idéia ir por água abaixo. Na natação, usava uma toca branca. Junho, inverno, e meu bronzeado lá na cucuia. Bastou meu irmão me ver nadar, que logo se deu a gargalhar. Viu um palmito de toca branca na piscina e comentou ao professor: "O Gu não parece um espermatozóide nadando?". Será que acabou pegando?

No primeiro colegial, ganhei o apelido-mor, duradouro. Qual? Longet. O que significa? Eis a explicação: alguém disse que eu parecia um espaguete (magrelo e desajeitado) e algum surdo no fim da sala pensou ter ouvido "longet". Ficou tão famoso - e diferente - que muitos, em Sorocaba, só me conhecem por Longet. Existem até as suas derivações: Longão, Long...

O pior mesmo é quando vou à praia. "Bambi, quanto tempo!", ouço ao chegar no hotel. Bambi? Pois é. Quem manda jogar ping-pong após o chão do salão de jogos ter sido encerado. Escorreguei e quase fiz um esparcato. Dizem que eu parecia o Bambi quando estava aprendendo a andar. É mole?
Tudo por uma espingarda


Pior do que Dogville e Rock in Rio-Lisboa, só Caetano Veloso assassinando "Come As You Are" do Nirvana.

Alguém ouviu a maravilha? É horrível! Tudo começa com a voz de Caetano, e eu odeio a voz de Caetano. É um "baianês" arrastado, sem graça e irritante. Não consigo gostar do sujeito, perdoem-me.

Se Kurt estivesse vivo, a arma que ele colocou na boca poderia muito bem ser usada para atirar em Caetano. Seria de bom agrado.

Como Cobain se matou com uma espingarda, daria pra matar dois insuportáveis de uma vez só: Caetano Veloso e Paula Lavigne.

27 de mai. de 2004

Minhas impressões sobre Dogville


1) O filme é dividido em 9 capítulos. Pelo menos eu acho isso, já que dormi em cinco deles. E o pouco a que assisti, não entendi bulhufas.

2) Um rabisco de cachorro que late é a figura principal do filme.

3) O cachê pra contratar a Nicole Kidman deve ter sido tão alto, que não sobrou dinheiro nem pra construir um cenário.

4) Todo mundo come a Nicole, menos o rapaz que gosta dela. Bacana.

5) É um ótimo sonífero, recomendo bastante. Sai mais barato que ir à farmácia e comprar uma caixa de Lexotan.

26 de mai. de 2004

Festinha de criança me irrita

Buffet infantil é um pé nos grãos. Eita! Odeio. Crianças mimadas, chatas e esbanjando adrenalina. Lindo. Correm pelas mesas, chutam à sua canela, roubam os brigadeiros da mesa antes de cantar parabéns... Raça dos infernos. Adoro crianças, mas não quando elas estão juntas. Alcatéia.

Buffet infantil me deixa com fome. Miniaturas de coxinhas, kibes e bolinhas de queijo são gostosas, mas não forram o estomago. Detalhe: sempre esquecem de servir a minha mesa. Os garçons negam a minha existência, é impressionante. Chamo-os. Nada. Levanto a mão, indicando o fura-bolos ao teto. Nada novamente. Levanto emburrado e me dirijo até a cozinha.

- Tio, tô pedindo pra você me atender há um tempão. Dá pra fazer esse favor?

Sou muito educado. Minha paciência vai pro Cingapura quando o garçom vem com aqueles copinhos plásticos entupidos de refrigerantes.

- Coca ou Guaraná? , pergunta.
- Tem alguma coisa light ou diet? , pergunto.

Deixo claro que não sou fresco e nem estou de regime. Desde pequeno fui orientado a não beber refrigerantes normais, ou seja, estou acostumado com Coca-Cola sabor xarope. Aliás, nas minhas festas de criança, sempre rolou uma democracia. Tinha refrigerante normal e dietético. Por que raios é tão difícil encontrar bebida light? Acho que os garçons os escondem debaixo da mesa do aniversariante só para me deixar nervoso. Tenho certeza.

Buffet infantil não deveria existir. Esta moda surgiu nos anos 90. Meus priminhos adoravam ter suas festas num buffet. Escolhia-se como tema o último desenho da Disney e pronto! Depois um sujeito contrato fica filmando a cara de cu do pessoal durante três horas. Vem com aquele holofote em sua direção e implorava para dizer algo simpático ao aniversariante. Minha resposta não mudava:

- Parabéns...

Festas boas são as da minha infância. Era sempre na minha casa, não contratavam profissionais. Vovó fazia o bolo, minha tia os salgadinhos e os cachorros-quentes. A vizinhança participava, era uma reunião sensacional. Quem quisesse comer ou beber algo, só precisava pedir pra alguém ou ir à cozinha. Não tinha esse papo de garçom. Não tinha essa história de mesa reservada, que serve mais pra separar o pessoal do que reunir. O tema era do Jaspion, Jiraya e Os Simpsons. As crianças dormiam nos colos dos pais, ou o mais legal: juntavam duas cadeiras e faziam delas a sua cama particular.

Tenho tudo guardado no meu álbum de fotografias. É muito mais gostoso do que ter sua vida gravada num DVD.

23 de mai. de 2004



Ontem, debutei, meninas! Fui pela primeira vez numa balada gay, aqui mesmo, em São Paulo. Aniversário de uma amiga da faculdade bem moderninha, gente boníssima e de gosto refinado. Ganhou um consolo de presente. Adorou.

Achei muito bom. Lugar melhor para levar a namorada, impossível. Pode ficar sossegado que não vai ter um mané querendo pegar o teu lugar. Rola um respeito tremendo. Puro preconceito da sociedade, achar que homossexualismo é putaria e poligamia. Não é nada disso, seus babacas! Para mim, foi uma tremenda aula de bons modos e educação.

Lugar, som e pessoas agradáveis. Estou de saco cheio de chegar em casas noturnas e só rolar aquela música eletrônica infernal, um bate-estaca broxante, com pessoas broxantes. Odeio molequinho que não sabe beber ou chegar em mulher. Agarra, puxa, faz pose de Wando e depois sai correndo para batizar o vaso sanitário do banheiro. Ridículo.

Dessa vez, a história era diferente: éramos as pessoas mais jovens do local. Ninguém gritava, fazia escândalo. Os gays sabem o que é se divertir, sabia? Requinte, meus amigos. Não tinha nenhum pé rapado, não! Neguinho bacanudo: roupa de marca, perfumados e bem produzidos. Senti-me rodeados de Wills e Jacks.

A música era sensacional (maldita influência soul e disco de papai!). Quando não rolava um Dj básico, uma dupla cantava ao vivo. Um rapaz nos teclados e uma loira esfuziante. Que voz era aquela? Mandava bala nos sucessos dos anos 70 e 80. Cantarolou um "Total Eclipse Of The Heart" de responsa. Sabia chamar o pessoal para dançar. E como as bibas sabem dançar, moleque! Não é aquele "dá um passinho pra lá e um pra cá, jogando as mãozinhos para o alto". Eita jeitinho sensual de dançar" As mulheres adoram. Algumas, inclusive, tinham a impressão de terem achado o homem de suas vidas.

Voltarei mais vezes, é só me convidarem.

21 de mai. de 2004

Lá na PUC, tem um jornal do pessoal de jornalismo chamado Contraponto. Não importa em que ano você esteja, qualquer pessoa que faz jornalismo entra na roda do jornal. Bacana, não? Acontece que jornalista é uma raça metida, e futuro jornalista, pior ainda. Só gostam de fazer criticas, matérias políticas, pseudo-revolucionárias... Muito dele eu não curto e nem prefiro ler. Porém, na antepenúltima página, tem uma seção que me agrada: Crônica.

Li as últimas crônicas do jornal, e confesso: achei bem fraquinha. Historietas sem graça, monótonas. Há uma obrigação de escrever algo sobre mídia. Uma pessoa maravilhosa colocou meu nome para fazer a crônica de uma edição e, acreditem ou não, aceitaram a sugestão.

Matutei, matutei e resolvi escrever algo sobre Queer Eye for the Straight Guys. No meu estilo fanfarrão, lógico. Adoro escrever besteiras. Mandei pra redação morrendo de medo. "Vão cortar meu texto" "Vão mudá-lo completamente", "Nunca vão colocar uma crônica brincalhona".

Hoje saiu a edição com minha crônica. Ficou sen-sa-cio-nal! Pouca coisa foi modificada: apenas meu título e duas palavras. Colocaram uma imagem de uma cueca com um microfone dentro, ainda por cima. Demais! Muito boa a sensação de ver diversas pessoas lendo algo que você escreveu e dando altas risadas. Sensação indescritível.

Aqui vai a versão original do texto. Minha primeira aparição pública:


O QUE AS MULHERES QUEREM

Homens do meu Brasil: escolham jornalismo e sejam felizes! Mulheres e mais mulheres, meus amados! Morram de inveja, engenheiros da Poli! Morenas, loiras, intelectuais, sarcásticas e tímidas. Ah, o jornalismo. Sinto-me um sultão, acompanhado de tantas beldades. Alá!

Porém, muita mulher não é sinal de felicidade e, sim, de preocupação. Aparência, roupa, corte de cabelo, modos... Elas reparam em tudo, principalmente em nosso cheiro. Trate de aprender o significado de um banho bem tomado, adicionando um perfume irresistível. Sinta-se naquele comercial do Axe. Seja um novo homem: sensível e multiuso. Não há quem resista.

Assista a Queer Eye for the Straight Guy, e descubra o que elas, as mulheres, tanto querem. Cinco gays lhe ensinarão aquilo que elas gostam e almejam. Adeus barba cerrada e pele oleosa! Bye, bye unhas encravadas! Sabe aquele homem rústico, com "H" maiúsculo? Foi-se o tempo, pois a moda é ser metrossexual.

Os Fab Five (alcunha dos apresentadores), fizeram eu aprender a me barbear. ?Depois do banho e, preferencialmente, de manhã?, diz o especialista em aparência. E não é que funcionou? Minhas bochechas estão macias, uma "cutis de pêssego", diria Caco Antibes. As futuras-jornalistas vão adorar dar um beijinho nelas ao te cumprimentarem. Goze, sinta-se um modelo da Gillette.

Aprendi, também, a não usar gel nas madeixas. Mousse e cera deixam um aspecto mais descolado. Beckham? Quem é esse? As mulheres esquecerão dos outros homens, tendo olhos apenas para ti, caro leitor. "Lindo" e "gostoso" serão as alcunhas recebidas quando caminhar pelo Pátio da Cruz. É sucesso garantido. Comemore!

Metrossexual precisa saber cozinhar - ou fingir que sabe. Quando for sair com as meninas, não vá logo propondo uma ida ao fast-food. Convide-as para jantar uma bela massa ou um sushi no restaurante japonês mais perto. Aprecie as delícias de um peixe cru; não esquecendo de sorrir, pois elas adoram um belo sorriso - mesmo que contenha resquícios de wasabi entre os dentes.

Até na aula de francês já me matriculei. "A língua do amor", dizem as mais românticas e encalhadas. Futura-jornalista odeia homem burro. Um dos Fab Five, ligado à cultura, recomenda que assistamos a peças e dramas iranianos. Em suma: aqueles filmes chatos. "Sabe aquele clássico do Fellini? Nossa, uma maravilha!". Depois, pode assistir à última obra-prima da Sylvia Saint tranqüilamente. Você já fez a sua parte.

E as mulheres? Será que elas também se preocupam com nós, homens? Balela! Dão risada e caçoam de nossas aventuras. Somos o verdadeiro sexo frágil! Descobriram que usar cueca é confortável e beijar outras garotas é mais gostoso (algo bem bacana, digamos). Roubaram os nossos empregos e viramos "donos de casa". "Não esqueça de limpar a cozinha, Adalberto!". O famigerado terno deu lugar ao avental e espanador.

Vamos lutar contra esses temíveis seres de cromossomo XX. Queimemos cuecas em praça pública, brigando pelos nossos direitos. Homens reprimidos, uni-vos!

20 de mai. de 2004

Utopia eterna?

Ah, qualé, nego! Alguém botava fé na candidatura do Rio paras as Olimpíadas de 2012? Concorreu com uma penca de bam-bam-bam: Nova Iorque, Londres, Madri e Paris. Mas nem em sonho que os cariocas conseguiam essa vaga.

Estava vendo as notas do comitê executivo do COI para a representante tupiniquim. Dei risada, pareciam as minhas notas do tempo de colégio: tudo vermelha. Como um bom paulistano, adoro tirar um sarro. Aquele tal de César Maia não quis citar Vinícius? "Beleza é fundamental?". Concordo plenamente: Paris 2012!

E a cara de merda da Garotinho? Lindo. Ô, mulher irritante! Se trancarem ela é a Marta Suplicy numa sala, fico na dúvida em quem enfio o porrete primeiro. Uma perua e uma baranga. Farei um bem à humanidade.

Mas puxando um pouco a sardinha pro nosso lado, não aceito muito bem à idéia de que a questão da segurança é fundamental. Ora! O que acontece quando se toma um trem em Madri? Bum! Vamos tomar uma cerveja num pub e olhe bem para os lados caso não esteja vindo um barbudo de sobretudo (escondendo dinamites). Bum! E no Rio? Ah, você pode ser assaltado - como qualquer lugar do Brasil e até do mundo. A diferença é que no Rio você volta com um souvenir: uma bala alojada na medula. Talvez até venha na bala o logotipo das Olimpíadas. Seria bacana.

Tentando ser sério, tenho uma raiva desse Nuzman. Taí uma pessoa que gosta de perder, incrível! Ainda me vem a memória aquele monte de artista cantando "Aquele Abraço" do ministro Gil. Rio 2004, não era? Em que ano estamos? Hummm... Houve alguma melhora desde aquela época? Hummm... Melhoria nos transportes, segurança? Hummm...

Ser realista é bom. Pare de sonhar, Seu Nuzman.

18 de mai. de 2004

Babaca, eu??


Estou sabendo que na faculdade eu tenho a fama de preconceituoso. Há dois meses ouço alguns comentários aleatórios sobre tal fato. Pensei que fosse galhofa, mas já tenho a leve impressão que tal suspeita minha é verdadeira: sou tachado de preconceituoso.

Umas únicas coisas das quais eu posso me orgulhar, é não ser invejoso ou preconceituoso. Preconceito, se eu tenho é bem pouco. Sempre tive a cabeça aberta, nunca fiquei dando motivo pra ter raiva ou não gostar de certa pessoal por tal atitude ou tal crença. A péssima mania que eu tenho - e devo aprender a deixar de lado - são as minhas piadinhas. Não adianta; desde pivete eu gosto de chamar à atenção das pessoas. Como não sou bonito nem charmoso, tento ser engraçado.

Sou fã do humor americano, e isto é um problema: brasileiro não entende humor americano. Certa vez, o David Letterman (de quem sou admirador confesso) fez uma piada de humor negro sobre o fato dos taxistas de Nova Iorque serem em sua maioria muçulmanos. Passei mal de tanto rir, e quase fui expulso da sala. "Criei um monstro!", pensou mamãe.

Almoçando com a Irena, vi uma faixa com a inscrição: "Defesa pessoal israelense".

- Rá! Você deve aprender a se defender de pedradas atiradas por um molequinho!

Ela ao menos deu risada (menina bacana!).

Na faculdade, de vez em quando eu solto um comentário engraçadinho. O problema é que eu falo alto, e todo mundo escuta - e odeia. Hoje, disseram que os judeus são um povo sovina. Eis que eu conto aquela velha piada de que o adolescente judeu não tem espinhas porque não abre a mão nem pra se masturbar...

Numa aula, o professor disse que no final do século 19 (acho) a população americana era menor que a brasileira. Não perdi a oportunidade.

- Também, os mexicanos não tinham pulado o muro da fronteira!

De cinqüenta pessoas, creio que dez deram risadas. O pior é que me contaram depois que tem uma aluna descente de mexicanos. Olha o fora!

16 de mai. de 2004

Minha primeira volta de carro

Final de semana bacana; fui dar as minhas primeiras voltas no carro da família. Aqui em casa temos um Siena 2002, compartilhado pacificamente.

- Mãe, vou na academia.
- Vai o caramba! Eu que vou!
- Podem ir parando vocês dois! O carro é meu!

Agora existe uma quarta pessoa para participar da confraternização, não é legal? E todos querem passear comigo. "Pisa na embreagem, engata a terceira...". Pai e mãe no carro dando palpite equivalem a centenas de instrutores. Saio até surdo.

Sábado foi a primeira vez em que andei com o carro da família. Como é estranho: o carro é mais leve, vazio e tem uma tal de direção hidráulica que é uma belezura. Mal encosta no volante e ele já vira sozinho. No da auto-escola era um sofrimento; meus braços ficaram até bombados. Aquele esterça pra cá e puxa pra lá era um sofrimento. Embreagem nem se fala. Agora eu só tenho que tocar levemente o pé, no da auto-escola eu tinha que afundá-lo!

Como nasci com o bumbum virado pra lua, choveu pra caramba. Não enxergava bulhufas no retrovisor, e nas rampas, quase que um sorocabano-braço enfia o Picasso na minha traseira (ui!). Enquanto isso, papai dizia com aquele linguajar único e filosófico.

- Cacete! Não olha pro câmbio ao trocar a marcha, porra!

Dirigi acompanhado do Zé Pequeno, impressionante. Na minha primeira curva quase que o carro subiu na guia. Descobri que tudo o que aprendi foi em vão. Tudo errado. Bem que o Filippe me disse: "Você só vai aprender a dirigir quando tirar a carta". Nostradamous caipira!

Se melhorar estraga, não é mesmo? Pois fiquem sabendo que ao voltar pra casa, o carro começou a dar uma chacoalhada.

- Fique tranqüilo que isto é água no pneu.
Chacoalhou mais.
- É... Encosta aí, vai.
Encosto.
- Furou o pneu.

A anta que vos escreve, desatento que só, passou em cima de alguns cacos de vidro. Aprendi a dirigir e a trocar o pneu. Maravilha...

14 de mai. de 2004



Ô, moça! Não fica assim não! Também gosto muito de ti, sabia? Ah, lógico que sabe. Enjoada! Eu sei, mas o que são dois dias? Muito grude, não acha? Não? Eu também não, nega! Acho muito. Odeio quando chega a sexta-feira. Ruim, né? Gosto muito de ti, sabia? Lógico que sabe. Então por que diz que não? Charminho bobo. Adoro sua boquinha. Faz aquele biquinho? Dá aquele sorriso? Fecha os olhinhos e faz aquela cara? Rá! Roubei um beijo, caiu direitinho. Como que "beijo roubado não vale"? Ah, mas é engraçado, não é? Eu sei que é.

Oi, tudo bem? Vem sempre por aqui? Me dá um cheiro? Adoro seu cheiro, sabia? Mais ainda quando ele fica na minha roupa. Adoro o seu perfume. O meu também? Brigado. Que foi? Não ouvi... Diz de novo? Eu também; mais do que você. Lógico que sim! Enjoada. Eu gosto de ficar abraçado com você, sabia? Ah, também gosta? Vem cá então. Vai fazer charminho? Charminho bobo. Faz aquele biquinho? Dá aquele sorriso? Fecha os olhos e faz aquela cara? Rá! Roubei um beijo de novo, caiu direitinho.

Que foi? Não ouvi... Diz de novo? Eu também; mais do que você.

13 de mai. de 2004

Nas duas últimas semanas, li dois livros bem interessantes. Aqui vão as dicas:

Feliz Ano Velho

Acho que todos conhecem, certo? Clássico de Marcelo Rubens Paiva, já adaptado para o cinema e teatro e vencedor do prêmio Jabuti. Sempre quis lê-lo, mas sabe aquela mania de deixar tudo pra depois? Ainda bem que um anjo chamado Irena me emprestou. Devorei o livro em seis sentadas no máximo. Impossível não ficar sensibilizado com a lição de vida do rapaz.

Mimado e de boa família, mergulhou num lago de meio metro, afetando sua medula. Resultado: paraplégico aos 20 anos de idade.
O bacana é que o escritor conta toda a sua vida, antes e depois do acidente. Os meses de UTI são angustiantes. Marcelo era - e continua sendo - um tremendo tarado. Contos engraçados e sensíveis, como quando seu pai levou um "sumiço" dos militares durante a Ditadura.

O Amor é Fodido

Literatura portuguesa. Miguel Esteves Cardoso possui aquele humor satírico dos grandes cronistas. Demais! O amor para ele é fodido, graças a uma rapariga (Thereza) que atormentou sua cabeça por anos. Brigavam e iam pra cama. Excelentes amantes. Conta casos amorosos antes e depois de Thereza, mas ninguém chega aos pés da maldita. Todas suas historietas são sarcásticas e extremamente engraçadas. Difícil não ler duas linhas sem dar uma gargalhada.

Recomendo a cena em que o personagem principal e Thereza estão internados no hospital. Ambos em cadeiras de rodas e inválidos, tentam fazer de tudo para rolar uma sacanagem básica.
Recomendadíssimo.

11 de mai. de 2004



O mais bacana de minha faculdade, é o fato de ter feira toda às terças-feiras. É o ponto de encontro da rapaziada. União dos cursos, rostos diferentes, tem de todas as tribos. Patricinha com celular ao ouvido? Tem. Bicho grilo de óculos escuros e cachecol? Tem também? Tímidas abraçando o material escolar e olhando por detrás daqueles óculos fundo de garrafa? Pode apostar que tem.
Qual seria o motivo para tamanha segregação? Resposta: o pastel de feira.

Ah, nada como um pastel de feira. Feito artesanalmente e passada de geração em geração por eles, os japoneses de feira. Aquela velhinha de 70 anos, exibindo a maior simpatia do universo te pergunta:

- Pastel de carne, né?

Uma delícia. Sou fã do pastel de feira.

O de carne sempre foi o meu favorito. Bem recheado, com aquela massa crocante. Hummm. O de queijo também tem lá o seu charme. Ultimamente, dois conquistaram o coração daquele que vos escreve: pastel de jabá com mussarela e de calabresa com queijo. Rapaz, que maravilha. O primeiro traz a carne-seca, deliciosa tradição dos cabras lá de riba. Aquela carne cortada em tiras e desfiada, um pouco durinha, faz a paixão de minha pessoa. Achei que meu estômago não acharia esta minha aventura uma boa idéia, mas ele se manteve firme e forte, com jeitinho de quero mais.

O segundo, lembra uma pizza. Aliás, qualquer pizza pode ser elaborada aos moldes do pastel. O Mauricio da minha classe é fã do pastel de escarola. O de calabresa tem que ser feita no capricho, com amor. Fica gostoso quando a calabresa é cortada em tiras ou anéis. Acompanhado de um caldo de cana, deve ficar supimpa. Mas ainda prefiro tomar com a boa e velha Coca-Cola.

Terça-feira se tornou um dia nostálgico. Vejo-me pequerrucho, gordinho e de franjinha, saindo do clube da cidade interiorana em que morava. Havia uma banca de pastel deliciosa em frente. Ia nadar e depois comer um pastel. Era clássico. Via aquele japonês bonachão; ia para perto do balcão e dava um pulinho, para ter certeza de que viam aquele pentelho esfomeado.

- Tio! Solta um pastel de carne e uma tubaína!

Tubaína... Esta bebida merece um post futuro.

8 de mai. de 2004

Minha véia

Eita mulher arretada! Sempre quis independência, não depender dos outros. Mandona, chata e engraçada. Eita mulher estranha! Mas muito, muito cativante. Quem a conhece, logo fica fã. Também, fala mais do que deve. Tagarela e tagarela. Quando o telefone está ocupado, pode apostar que é dona Miriam conversando com alguém. E este alguém, às vezes, é os meus amigos. Tenho a leve impressão que eles gostam mais dela do que de mim. Até para as plantas ela dá bom-dia.

Nunca larga do meu pé, até quando fazia exercícios. Enquanto nadava, ela estava do outro lado da piscina, fazendo hidroginástica. E quando eu jogava tênis? Batia uma bolinha na quadra ao lado. Na academia não foi diferente; chegava a ir com maior freqüência do que eu. Adora se manter em forma, porém é chegada numa guloseima. No almoço, comida, na janta, lanche. É assim até hoje. Adora uma padaria, está sempre a comprar novos pãezinhos e petiscos. Depois fica choramingando que não consegue emagrecer, lendo sua “Boa Forma”; revista que compra religiosamente todos os meses.

Moderninha, nunca pude vê-la sem aquele famigerado cabelo curtinho. “Quando você vai deixar o cabelo crescer?”, perguntava. Recebia um sorriso e a promessa de quem um dia isso vai acontecer. Espero por esse dia até hoje. Adora um cabeleireiro, como gosta. Seu cabelo nunca fica da mesma cor. Mechas ruivas, loiras... Teve uma vez que o seu cabelo ficou tão vermelho, que logo a chamei de Pica-Pau. Ficou uma fera.

Não consigo mentir para ela. Quando tirava notas vermelhas (algo bem comum, digamos), dona Miriam se enfurecia. Na escola, o diretor morria de medo dela. Quando via aquela mulher de cabelo curtinho, óculos escuros, e elegante, já vinha a premissa de que eu havia ido mal em alguma prova. Xingava os professores, clamava para eu não ficar na turminha do fundão. Dos seus sermões não esqueço tão cedo. Nem o diretor.

Ah, mama. Parabéns, minha véia! Continue a encher a minha paciência e a me dar aquele beijinho de boa-noite enquanto estou dormindo. Parabéns, minha véia.

6 de mai. de 2004

Nessa bumba eu não ando mais...


Lá vem ele. Aguardo. Olho para os lados e vejo meus competidores. Faço cara de feio, dou cotoveladas, não deixo ninguém ficar perto de mim. Chegou. Um, dois, três... VAI! Japonesa aloprada disparada na primeira fila, tiozinho de terno e gravata joga sujo para conseguir o segundo lugar, malas e bolsas voam pelos ares, Gustavo assume a ponta e ultrapassa a japonesa aloprada; vou ganhar a disputa, vou ganhar a disputa... (músiquinha da vitória). Rá! Aponto o dedo para meus adversários. Nhém, nhém trouxas! Olho para o cobrador e pago a passagem. Logo, logo começa o segundo round.

Pára. Novos competidores entram para tomar meu lugar. Seguro na barra e daqui ninguém me tira. Aperta daqui, empurra de lá. Nessas horas agradeço a Papai do Céu por ter me dado a graça de ser um garoto alto. Consigo deixar os baixinhos para trás numa boa. Três fortes inimigos tentam tirar o meu lugar. “Licença, aí, mano!”, escuto. Não dou bola e finjo-me de surdo. Recebo uma encoxada e quase sou jogado para cima duma senhora sentada. Sempre existe o Schumacher, que faz de tudo para ganhar – inclusive, jogar sujo. Xingo-o. Perdi o meu lugar. Economizo energia para o terceiro round.

- Não cabe mais! Não cabe mais!
- Toca pra frente, motorista!
- Isto aqui parece coração de mãe; sempre cabe mais um.

Dou risada, aproveito o vacilo do Schumacher e consigo me encaixar perto da porta de saída. Não passa mais uma agulha, de tão apertado e apinhados que estamos. Bacana que desodorante deve ser algo que ninguém conhece. Faço de tudo para tentar conseguir uma fresta de ar.

- A mulher tá passando mal. Acode!
- Alguém tem água?
- Toma!
- Melhorou?
- Valeu!
- Toca pra frente, motorista!

No terceiro round, só os mais fortes sobrevivem. Estamos prestes a descer uma ladeira da Vila Romana.

- Segura...
- O quê?
- SE-GU-RA!
- Que foi?
- Ooooooopa!

Lembramos pinos de boliche. Um garoto quase faz um strike perto da catraca.
- Nossa! Machucou?
- Não foi nada. Ainda bem que a tia é gorda.
- Como é que é?

Pegar ônibus na Avenida Paulista é assim, caros leitores. De noite nem se fala.

Ainda bem que existe um motivo muito bom para eu ter que passa por isto. Ainda bem que existe...

4 de mai. de 2004

A minha solução


Cara, eu tenho nojo do ser humano. Matamo-nos por qualquer motivo, virou uma lei do mais forte. Briga e morte por futebol. Mata-se por um bando de milionários que nem ligam para o que achamos e torcemos. Um estudante corinthiano morreu após uma briga com torcedores palmeirenses na estação da Barra Funda. Idade do garoto: 16anos. A mãe do menino – sim, menino – conta que o seu filho havia conseguido o primeiro emprego, recebido o primeiro salário. Poxa; deve ser uma alegria indescritível. Decidiu gastar um pouco de seu salário assistindo a uma partida de futebol - paixão de muitos, como eu. Enquanto pegava o trem (simples, humilde, sem carro), foi espancado por torcedores rivais. Tenho nojo do brasileiro.

Ouvi histórias de que não somos preconceituosos, no Brasil é pura harmonia. Seria mesmo? O ator Leandro Firmino da Hora (“Zé Pequeno, porra!”) levou uma “prensa” de um segurança enquanto sacava dinheiro no caixa eletrônico. Adivinhemos o motivo? Um rapaz deu um beijo no namorado num shopping e foi repreendido (leia-se expulso) pelo segurança. O galã da Rede Globo teve seu contrato com uma rede de iogurtes reincidido, apenas por ser flagrado ao comprar algumas gramas de maconha. A jornalista Soninha foi expulsa de uma emissora televisa por ter admitido numa revista que relaxava algumas vezes fumando o seu baseado. Eu admirava esta rede de televisão. Admirava.

Engraçado, é que quando se pensa num povo hipócrita, neguinho já aponta pra Terra do Bush. Olhemos para o nosso umbigo, pátria amada! Até no carnaval, onde tudo é liberado (dizem) há censura. Joãozinho Trinta que o diga. O instrutor que me dava aulas práticas de direção, ao ver dois “neguinhos” brincando na rua, disse em tom jocoso; “Atropela esta raça maldita!”. Meu avô é mulato. No outro dia eu troquei de instrutor. Não é por ter “um pé na cozinha” que me senti constrangido. Qualquer pessoa serena teria tido a mesma reação.

Fico aqui mirabolando, imaginando soluções e mais soluções. Sou pessimista. Os big guys um dia irão brigar feio. Alguém enfiará a bola debaixo do braço e dirá que não quer mais brincar. Prepotência, arrogância; são tantos os “adjetivos”. Num futuro não muito próximo, tudo irá pelos ares. Formará aquele cogumelo de fumaça lindo. Daí penso que começaremos tudo de novo. E acabaremos da mesma maneira.

Enquanto estou vivo, tendo sorte de estar muito feliz, procurando escrever o que sinto. Quero que a escrita possa ajudar alguém. Outro dia, uma garota da minha classe disse que não parava de rir ao ler um texto meu. Talvez por isso que eu tenha vindo para este mundinho: fazer os outros rirem e esquecerem da vida, mesmo que seja apenas por alguns minutos, segundos ou milésimos. Achei a solução. A minha solução.

2 de mai. de 2004

Ah, o cinema brasileiro

Estou seriamente pensando em fazer um boicote aos filmes brasileiros. Após Cidade de Deus, voltamos a ficar em voga no âmbito mundial. Patrocínios, holofotes e pediram mais verbas pro titio Gil. “Este é o nosso momento”, alguém deve ter pensado. Se for o nosso momento, então que se faça justiça. Conto nos dedos os bons filmes brasileiros que assisti nos últimos meses.

Chega da “Síndrome Vidas Secas”. Nordeste e mais nordeste. Fome, seca, o cabra quem almeja vir pro sudeste. Não agüento mais! Veja como é linda a fotografia de filmes nordestinos. Tudo muito colorido, ensolarado; a lua parece ganhar vida própria. Ah, nada como terra e suor para abrilhantar a nossa pátria. Cineasta brasileiro parece ter tesão pelo nordeste, mostrando o sofrimento alheio. “Aí, meu fio. O suor de sua testa dá um contraste porreta com a iluminação!”. Assim vejo um diretor tupiniquim conduzindo seus atores.

Realidade nacional? Ora! Até parece que mostrando uma criança desnutrida trará algum resultado. Quem liga pra isto, se a fotografia é tão bela? Onde foi parar a famigerada criatividade do brasileiro? Lisbela e o Prisioneiro, Uma Onda no Ar, O Invasor e O Homem que Copiava são exceções. Guel Arraes, Beto Brant e Jorge Furtado dão um banho de humor e originalidade. Por que filme brasileiro só mostra sofrimento e dor?

Amarelo Manga é sofrível de assistir. De dez palavras, uma é “puta que pariu” e a outra é “merda”. Isto sem contar que do nada me surge uma mulher levantando a saia e mostrando a perseguida, com direito a close e tudo. Versão repaginada de nossa pornochanchada. Amarelo Manga daqui um tempo vai rechear a programação de madrugada do Canal Brasil. Lastimável. Pior que Amarelo Manga, só O Caminho das Nuvens. Este é um tremendo exemplo da "Síndrome Vidas Secas". Além de ruim, o filme poderia se chamar "The Best Of Roberto Carlos". Durante quase uma hora e meia somos bombardeados com as velhas e chatas cantigas do rei.

Por que de cada cinco filmes, quatro são com o Matheus Nachtergaele? Bom ator, mas será que só existe ele? Cansei de vê-lo fazendo papel de biba ou algum personagem nordestino. Por que somos obrigados a agüentar atores da Rede Globo no cinema? Já não basta na televisão?

Ok, titio Marinho que patrocina, compreendo. MO.NO.PÓ.LIO, não é assim que se escreve? Por que a Petrobrás faz tanta questão de mostrar que ela incentiva a cultura? Cinco minutos de propaganda nos filmes. Quem vê, pensa que só existe posto de gasolina deles por aqui. A Petrobrás apóia nosso cinema e fode com o nosso meio ambiente. Farei um documentário sobre os milhares de prejuízos ambientais de seus “vazamentos acidentais”. Será que eles patrocinam a minha empreitada? Prometo que a película será rodada em algum manguezal do nordeste e contará com uma bela fotografia.