28 de dez. de 2004

O último do ano


Eu tinha prometido a mim mesmo que tiraria umas férias deste blog. Jogá-lo pra escanteio, sabe? Mas não adianta - maldita mania de escrever sobre tudo o que sinto, vejo e penso. Sou blogholic (Guimarães Rosa, morra de inveja de meus neologismos!).

Tive um ano muito bom, e pra lá de diferente. Assim que soube que moraria em São Paulo, após passar na PUC, mal contive a alegria. Planos e sonhos a serem conquistados. A oportunidade estava em minhas mãos. E fiz, fui à luta. No intervalo desta batalha, conheci alguém que mudou a vida do guri que vos escreve. Tal pessoa me fez ficar mais maduro e pé-no-chão - menos cabeça-dura também, não esquecendo de mencionar. Foi, e é, algo muito especial. Namorada querida e fofa, amo-te.

Lidar com as energias negativas e focos de inveja não foi fácil. A faculdade foi algo, até certo ponto, frustrante. Brigas ridículas e muita coisa ruim comentada pelas minhas costas. Máscaras caindo, amizades desfeitas. Falsidade. Magoa, lógico, porém fortalece - e muito. Em diversas aulas assistidas eu comentava bem baixinho: "O que raios estou fazendo aqui?". Chateação por minha parte.

Tentei conseguir um estágio, e até fui chamado para algumas entrevistas. Ouvi vários "não" e muitas esperanças foram quebradas. Quando consegui meu primeiro emprego, a felicidade era tanta, rapaz! E hoje, cá estou eu, brigando todo dia com a empresa, reivindicando aquilo que estava explícito no contrato assinado. "Dá para me pagarem, por favor?". Ah, Jornalismo. Espero que tu me reserves muita coisa boa por esse caminho que vou trilhar. Confio em ti, amigo meu de tantos anos.

Para todos os benfazejos que existem em minha vida, espero que 2005 seja bom, tal qual 2004 foi. Não será moleza, tenho consciência disso. A cada baque que eu levar, vou procurar me levantar, partindo pra outra batalha. Toda essa energia negativa que vá para bem longe. O esquema é nunca desistir, molecada.

Agora vou deitar em minha rede e só volto daqui algumas semanas. Ciao!

22 de dez. de 2004

Então é Natal...

Natal tem lá as suas coisas legais. As ruas enfeitadas, cheias de pisca-pisca. Natal é uma época em que o pessoal desencana da conta de luz, já perceberam? Na casa da minha avó chega a haver uma competição entre os prédios. À noite, isso aqui parece Las Vegas, de tão iluminado. Só faltou aquele cowboy da Camel soltando baforadas.

Natal é a época predileta dos gordinhos - junto da Páscoa, óbvio. Papai Noel recheado é bem gostoso. Pegar a cabeça do Bom Velhinho e nhac! Sentir um gostinho de creme. Peru, chester e tender rolam a vontade. Não sou muito fã daquelas frutas caramelizadas, sabe? Figo com não sei o quê, abacaxi com molho de outra coisa. Panetone nem se fala: simplesmente horrível! É amargo, sem gosto, não fede nem cheira. Os pobres economizam o ano inteiro apenas para saborearem o maravilhoso panetone da Bauducco. Eca! Ninguém merece uva passa. Para os enjoados, existe a salvação: o Chocotone. Também não gostei, Panetone é ruim de qualquer jeito.

Não sou ovelha negra, mas também não sou fã do cara do Pólo Norte. Quando brejeiro, odiava ter que pedir presentes para ele. Ia com um baita mau humor. Preferia olhar as pernas de suas ajudantes, as noeletes. Simpáticas e de mini-saias, não tinha como não se apaixonar por elas. Aliás, não me recordo de acreditar em Papai Noel. Que criança mais infeliz eu fui.

Natal é bom para ganhar presentes. Em época de vacas gordas, recebia vários. As várias meias e cuecas dadas pela tia Noêmia foram de bom agrado durante anos. Hoje, devido à crise, o pessoal prefere o amigo-secreto. Gasta-se em apenas um presente e todos saem felizes - menos a economia. Repare como alguns presentes vivem em voga: ano passado todos davam o CD da Maria Rita; em 2004 é bacana presentear alguém com O Código Da Vinci.

Eu gosto de Natal, veja só. O pessoal fica mais alegre, aquela tal sensação de união parece que volta. É pretexto para rever os amigos, os primos pentelhos e as tias gordas e encalhadas. O que mata é ouvir a Simone no Faustão cantarolando: "Então é Natal...".

Desejo a todas as pessoas que me agüentaram durante esses meses, um ótimo Natal. Trepem, comam peru e o malfadado Panetonne. Não façam cara feia ao se depararem com a Sidra Cereser comprada com tanto carinho pelo teu avô, pois, afinal, é Natal!

Agora, só ano que vem.

16 de dez. de 2004

A vergonha passa longe

Não sei se digo que é um motivo de orgulho ou de vergonha, mas sou um belo mentiroso. Tento ser como o das antigas, que age na improvisação e na malícia. Ah, às vezes é ótimo dar uma bela mentirinha. Sem maldade alguma, é claro. Apenas para uma, digamos, auto-satisfação.

Na escola era demais, até no primário eu já dava as minhas. Recordo-me que quase todo o final de dia, para ir embora mais cedo, enrolava a professora. "Tia, posso ir ao banheiro? Estou apertado", perguntava, contorcendo as pernas. Ao ser liberado da sala, pegava a minha lancheira e descia correndo as escadas. Pegava a primeira perua escolar que me aparecesse, sem titubear. A professora era muito tapada ou eu tinha cara de pau mesmo, pois não sabia inventar outra lorota a não ser a famigerada desculpa do banheiro.

Conforme o tempo, fui me aprimorando. Já na quinta-série, a Lígia, minha professora de Português, era uma baita ditadora. Nem ao bebedouro ela deixava os alunos irem - menos eu, óbvio. Bom aluno (apenas em Humanas, como todos sabem), eu tinha a artimanha do aparelho ortodôntico. Minha mãe me obrigava a andar pra cima e pra baixo com uma escova e pasta de dentes, a fim de que eu pudesse contribuir na limpeza dos ferrinhos. Eu não fazia isso, né? - somente nas aulas de Português (a professora achava isso). "Professora, tem um pedaço de pão no fundo dos dentes e, como tenho que colocar o aparelho, preciso sair para escovar os dentes. Posso?". Ela consentia, é lógico. A cara de santo também ajudava.

Na faculdade, ser mentiroso é questão de sobrevivência. O meu irmão, por exemplo, vive às turras com aquele indivíduo que existe em todo ambiente de ensino: o professor filho-da-puta. O cara, o meu irmão, já está de férias - menos em uma matéria: a do professor. Precisa ir sexta-feira até Campinas fazer uma prova ridícula, e vai ter que esperar até às 11 e meia, término do curso. Não sabe o que fazer para sair mais cedo. Eu logo ajudei, sugerindo uma desculpa muito boa: a da hemorróida. "Fala que vai operar urgentemente, que está doendo pra diabo!", aconselhei. Até o Maluf teria sentimentos frente a um caso desses.

O tonto, o meu irmão, não gostou. Tem vergonha de usar a palavra "hemorróida". Indiquei outra falácia, também relacionada à cirurgia: a septicemia. Professor de engenharia, nem vai saber do que se trata, mas vai julgar como algo sério. O retardado, o meu irmão, gostou - embora também não saiba o que há por trás da palavra de cunho médico.

É que ele, o meu irmão, tem vergonha das coisas, e um mentiroso, para começar, tem que ser desavergonhado, já dizia vovô. Como um bom mentiroso, diria ao meu mestre: "Profi, libera mais cedo? Vou fazer uma cirurgia no pingolinho, está doendo horrores para mijar, e tu sabes a emergência dá parada, não é?".

Septicemia é isso aí. Coitado do "operado", o meu irmão.

14 de dez. de 2004

O que tocou em 2004


Falem o que quiserem, mas 2004 foi um ótimo ano musical. Revelações e mais revelações pipocando por todos os lados; o rock, pelo que parece, está voltando ao básico e deixando de lado aquele treco do new metal; uma maravilhosa menina loirinha de 17 anos conquistou o mundo inteiro com a sua voz de negona e os hinos gays voltaram a todo o vapor. 2004 foi pra lá de bacanudo!

As duas bandas que eu conhecia por apenas algumas músicas fizeram, neste ano, um baita sucesso - inclusive em terras nacionais. The Darkness e Jet foram, segundo o voto do Gugu, o melhor do ano, produzindo um rock finíssimo. Os australianos do Jet seguem a cartilha básica de Stones e The Who, já os primeiros usam do humor britânico e escrachado pra fazer de cada música um motivo de festa. Eles são sensíveis, acreditam no amor, porém são capazes de cantarem uma pérola natalina com o refrão: "Não deixem os sinos baterem". No The Darkness sempre rola um duplo sentido a cada letra.

Franz Ferdinand é dono de um dos cds de estréia mais animados. Refrões que grudam e riffs feitos para pular. Impossível não pegar aquela guitarra de "Take Me Out" - a melhor disparada - e mandar um legitímo air guitar. "Michael" é outra maravilhosa, e deveras gay. Dá vontade de estar junto ao garoto da música, e dançar a noite toda com o rapaz.

Falando de canções coloridas, como não se divertir com Scissor Sisters? A banda tão querida pela Rafaela é dona do visual e das letras mais empolgantes de 2004. "Filthy and Gorgeous" será o futuro hino das bibas. Voltemos aos anos 80 e ululemos com os hinos gays. Influências de Depeche Mode, New Order e Pet Shop Boys à vontade. Até o Prince está de volta!

O esperado "Hot Fuss" do The Killers já está à venda (alguém me dá de Natal?). Sensacional e estupendo. Não há uma música ruim sequer. O álbum vai solto, passa rápido, tal qual o último da coisa mais legal vinda da Suécia - depois do Abba, é lógico: The Hives. O novo da Joss Stone eu ainda não ouvi, e dizem ser bem jóia. Se supera o esplendoroso "Soul Sessions" eu não sei, mas que a pirralha gostosinha anda com tudo, ah, isso ela ta.

Por aqui, o Seu Jorge é rei. O Mané Galinha cantarola até em comercial de cerveja! A Maria Rita fez um dos shows mais bonitos que eu vi; o Gram mostra que também sabe falar de sentimentos, e todo mundo resolveu fazer vídeo-clipe de animação. Se já não bastasse o CPM-22, nasceu o seu genérico: Dead Fish, que é tão ruim quanto.

E o que falar do Latino que, do nada, vira hype? Bunda lelê no apê, rapaziada!

10 de dez. de 2004

Celebridades paulistanas


Esse ano foi demais: nunca vi tanta gente famosa em minha vida. Andar pela Avenida Paulista e trombar com um músico até famoso, passear de carro e ver uma ex-participante de reality show a poucos metros. Coisa fina, nego. Só gente do primeiro escalão da fama!

Lá em Sorocaba é uma porcaria. Os filhos pródigos daquela terra são: o Fat Family, um cantor do Br'oz, o Paulo Betty e aquela Viviane que fez um Big Brother. Nada mais. Parece que a cidade anda super orgulhosa de ter gerado a mulher mais sexy do mundo: Alinne Moraes. Aquela magricela bocuda e mina do Mau Mau? É bonitona, mas nada demais, poxa!

Em São Paulo é diferente. Aqui sim há personalidades. Quando eu imaginaria que eu estaria no mesmo ônibus que um cara do Hermes e Renato? Porra, o cantor do Massacration ao meu lado! De fone de ouvido e segurando uma guitarra - deveria ter pedido para ele cantarolar "Metal Popcorn". Sensacional!

A Mariana Kupfer eu vi duas vezes. Toda arrumada, cabelo impecável e armado. Moça de pedigree, está pensando o quê? O guitarrista do Tihuana, vulgo Seu Ronaldão, passeava de bicicleta pelos arredores dos Jardins outro dia. O Pampa, medalhista olímpico em Barcelona e frustrado candidato a vereador, estava assistindo tranqüilamente a um São Paulo e Corinthians nas numeradas do Morumbi. Nem parecia alguém famoso.

Se Pampa não foi eleito, avistei dois vereadores paulistanos: o petista José Américo e Ademir da Guia. O primeiro mostrou-se um babaca completo (foi dar palestra na minha sala) e o ex-jogador palestrino foi visto por minha pessoa fazendo compras pertinho da PUC. O "Divino", rapaz! Ídolo de nossos avôs, saudosos do bom futebol.

O filho da Marília Gabriela, que dizem ter um caso com o Gianecchini, estava no Bristol, acompanhado de um rapazote, na primeira fila de uma sessão do filme Contra Todos. Babado forte, gente: era o filho da Marília Gabriela!

7 de dez. de 2004

Fidelidade do povão


João Kléber é sensacional! Que os censores e críticos de merda me perdoem: João Kleber é sensacional! Quero que alguém me diga um outro apresentador com a manha de fazer o telespectador ficar 20 minutos sem mudar de canal, apenas repetindo frases de efeito: "Atenção, olha o que vai acontecer agora!"; "Algo sensacional e diferente vai aparecer em dois minutos!". O sujeito manipula nossos olhos. João deve orgulhar o mestre nisso: o rei Silvio Santos.

Ontem me deflagrei assistindo ao tal "Teste de Fidelidade". Jamais tinha visto; é muito legal! Uma modelo de levantar a torcida do Flamengo era o pecado em corpo. Mulher de verdade, sabe? Aquela pendurada na parede com orgulho pelos mecânicos tupiniquins. Fazia da "cobaia" um mero babão. A cada avançada do apressado ela retrucava, perguntando da namorada. João Kleber dá altas gargalhadas, a namorada fica aflita e desce à lenha no, agora, ex-namorado. Detalhe que o jogo de sedução nunca passa de certo ponto. A mulher chega a beijar o cara na boca (não imaginava isso) e faz um cu doce de primeira. A audiência não desgruda o olhar. "Será que ela vai tirar o bustie?" , pergunta, aflito, o jovem tarado de 15 anos.

Se não estou enganado, João sempre leva pra casa aquele troféu de pior apresentador da televisão brasileira. Dizem que ele dá mau exemplo, é canalha, joga sujo. Dizer isso é muito clichê! João mostra um puta retrato da sociedade brasileira. O traidor afirma que é homem, por isso estava dando uns pegas na outra. Caso não o fizesse, afirma, seria gay (?). O mesmo discute com a platéia, num momento meio Jerry Springer. É até engraçado, visto que a platéia é super eclética: de nordestinos arretados a travestis espalhafatosos. E todos desejam aparecer, lógico. Quer algo mais popularesco que isso?

João apenas ri, dialoga com aquele sentado em frente ao televisor. Ele tira sarro de quem fica sujeito as suas manipulações. Ganha dinheiro fácil, escrachando com tudo e com todos. Daqui alguns anos ele será cult, tal qual Chacrinha é hoje.

2 de dez. de 2004

O meu primeiro beijo vai casar

Já cansei de escrever sobre o Orkut, mas prometo que esta será a última vez. Palavra de escoteiro, ou como o diria o grande Filippe: "Eu juro pela minha mãe com um negão atrás da porta".

Estava eu, xeretando os profiles de algumas pessoas e eis que levo um susto. Acontece aquele momento hollywoodiano, de segurar o grito tapando a boca com uma das mãos. Ah, não acredito que seja ela! , duvido. Vejo novamente e vem a constatação: achei no Orkut a primeira menina em que dei um beijo.

Rapaz, já ouvi estórias de gente que teve o primeiro beijo na chuva, no ponto de ônibus e naqueles jogos bacanas de pivete: o famigerado "Verdade ou Desafio". O meu foi numa praça, pertinho de casa, meio longe da civilização. Foi escondido e horrível! A garota tinha uns dois anos a mais que eu, e, acreditava piamente, que ela me desse umas aulinhas sobre a arte do ósculo. "Um põe a língua cá, mexe acolá, puxa daqui, brinca de lá". Nada, ela era pior do que eu.

Comecei tarde, muito tarde. Foi aos 15 anos. Pressão dos amigos, que faziam do possível ao impossível para queimar o meu filme. A guria era tímida que doía, tadinha. Tornava-se um tomatinho a cada brincadeira de meus "melhores" amigos. Era bonitinha, tinha um quê de especial que chamara a minha atenção. Era monossilábica e ficou a fim de mim. Foda-se, pensou o macho que vos fala. Ou era com ela ou não seria nunca (aos 15 anos, um certo ar de pessimismo pairava sobre a minha pessoa).

Gente, vou lhes contar: alguém já beijou alguém que cerrasse os dentes? Tal qual uma criança fazendo careta para não tomar o xarope? Foi assim, um desastre completo. Eu, empolgado com a situação, tentava de todas as maneiras dar o meu primeiro beijinho de língua. Mas não dava, a menina montou uma "barreira com os dentes" impossível para qualquer atacante perfurar -nesse caso a minha querida língua. É, foi assim o meu primeiro beijo.

Não me senti mais homem depois de tal momento. Achei meio estranho, mas gostara. Como um bad boy, nunca mais olhei para a cara da coitada (fui muito escroto). Ela deve ter chorado, feito vodu, desejado a minha morte. Parece que ela arranjou um namorado uns dois meses depois de nossa "relação". Fiquei feliz por ela.

Voltando ao Orkut, parece que a tal menina está noiva. O noivo? O rapaz mencionado acima. Como o tempo passa, gente...

29 de nov. de 2004

A arte, segundo um caipira na Paulista

A minha concepção de o que é Arte sempre foi básica, a mais popular. Um Michelangelo, um Da Vinci, aquelas coisas esquisitas do Picasso. Pensava que sabia de tudo, apesar de não saber a diferença entre um Monet e um Manet. Ainda bem, que o caipira que aqui escreve, resolveu se fixar e morar na capital paulista. Fui a exposições, entrevistei artistas plásticos - inclusive fiquei amigo de um. Tive um ano pra lá de anormal!

Em minha primeira semana de aula, matei a vontade que me acometia há anos e anos: visitar o MASP. Quando passava de carro pela Avenida Paulista e via aquele prédio estranho, morria de vontade de saber o que tinha lá dentro. Acabei descobrindo o "recheio" do prédio de Chateaubriand: Portinari, Tarsila e, acreditem, um Van Gogh. Rapaz, quase tive um treco. Não agüentei à emoção de ver um Miró na parede. Nossa, na televisão é tão diferente!, falei a mim mesmo. Parecia criança em Natal, ao ver o Papai Noel.

Agora eu sei que arte não se resume à pintura, à pinceladas. Arte pode ser de tudo, desde um vídeo criticando a sociedade até tijolos serem usados como malas. Malas? Isso mesmo. Artistas, como Guto Lacaz, dão usos inusitados a objetos de nosso cotidiano. Quem diria que eu veria uma tesoura não ser usada apenas para recortar? Um lápis poder fazer outra coisa além de escrever? Arte é algo feito para pensar, para chocar, para se admirar. Arte tem que fazer o observador se transformar em outra pessoa após vê-la. Pode ser um choque ou uma admiração. Chique, né?

Hoje tenho uma "bagagem artística" bem bacana. Outro dia, assistindo a O Sorriso de Monalisa, comentei para minha mãe uma passagem do filme: 'Ei, aquilo é do Picasso! São as suas Mademoiselles d´Avignon!". A mama me olhou estranha, nem piscava. Apenas balbuciou: "Co.. Como é que você sabe isso?". Senti-me como se fosse um crítico de arte, um ser acima do bem e do mal. Olhei para ela e, para humilhar, não resisti: "Ah, mãe! Qualquer um sabe disso também! Vai me dizer que você não sabia que este quadro representa o início do Cubismo, né?".

A expressão que ela fez merecia uma foto. Foi sensacional!

26 de nov. de 2004

Eu gosto mesmo!


Eu adoro comédias românticas. A dupla Meg Ryan-Tom Hanks não deixa nada a desejar a Bogart-Bacall. Sou louco por esses filmes, cujos finais são óbvios, onde sempre há um lance de beijo caloroso - geralmente na chuva ou no aeroporto - com aquela baladinha tocando ao fundo, deixando você louco para comprar a trilha sonora do filme, pois, ok, por que apenas menininhas e solteironas podem se deliciar com uma bela comédia romântica?

Foi-se o tempo de nós, machos, apenas comentarmos as obras-primas de Steven Segal, Van Damme e Stallone. O hype é comédia romântica. Não tentem dar uma de indie e irem atrás dos Almodovar e Truffaut da vida. Fiquem com a insubstituível Meg. Depois avance para as mais modernas: Julia Stiles, Amanda Peet, Renée Zellweger. Perceba que as protagonistas são sempre bonitinhas, meiguinhas - com exceção daquela gorduchinha de O Casamento Grego. Outra personagem obrigatória é as amigas das protagonistas: geralmente umas solteironas pra lá de boas, fãs de sexo casual.

Acostume-se com o bonzinho e o canalha. Vire fã de Hugh Grant, ame de paixão os clássicos ingleses: Quatro Casamentos e Um Funeral, Nothing Hill. Nada mais gostoso que ouvir um britânico conjugando o verbo "shaggy". Entregue-se e vá correndo assistir ao segundo Bridget Jones. Não há como não rir com as trapalhadas da gordinha, pois as gordinhas são sempre as melhores.

Rapaz, comédia romântica é demais. Tem que ser muito macho para curtir esse estilo - principalmente quando você gosta mais que a sua própria namorada.

22 de nov. de 2004

Um curinga


Eu sempre tive asco a baralho. Aquelas cartas com corações, paus, ouros e espadas. Ainda acha o valete com cara de viado e não entendo a lógica do truco. Truco? Eita coisinha besta, coisa de pobre em feriado quando junta os primo e chegados e decidem passar o final de semana em Mongaguá. Eca!

Brincadeiras a parte - muito por ter raiva de não entender patavina de truco - confesso que há cinco anos venho me fazendo uma promessa a cada primeiro de janeiro. Pulo as ondinhas (tomando cuidado com os barquinhos de Iemanjá) e filosofo: "Gustavo, esse ano tu crias vergonha e aprende essa merda de jogo estúpido". Mas não adianta, pareço tia gorda fazendo promessa de regime para pegar casamento: ainda não sei jogar o maldito jogo de cartas preferido dos brasileiros.

Sei lá, sou meio disléxico com um baralho em minhas mãos. Não consigo fazer aquele esquema de ter não sei quantas cartas numa mão e ao mesmo tempo não deixar ninguém xeretá-las. Sou um péssimo jogador. Ao menos me viro jogando os clássicos: Detetive e Porco. Para ser arrogante, jogo Uno (um jogo de cartas italiano que qualquer macaco bem treinado também joga).

Baralho já me ferrou em diversos simulados do cursinho. Sabe aqueles exercícios de probabilidade? Num baralho tem 53 cartas, sendo um o curinga. O três de copas é tirado e não sei o que é feito. Calcule a probabilidade de sair alguma coisa. Eu pirava, logo pulando para outro exercício de probabilidades que envolvessem dados. Dados foram a minha salvação!

Por coincidência estou lendo um livro que tem em seu enredo algo sobre baralho. O Dia do Curinga é o nome da obra. O danado do Jostein Gaarder é tão bom (vide O Mundo de Sofia) que fez eu ter vontade de aprender a jogar qualquer coisa envolvendo cartas. Até rola uma metáfora por trás do jogo: porque só existe um curinga no baralho? Daí há uma aula de filosofia. Curinga é o diferente, aquele que não se mistura à boiada e tal. Não é alienado, procura não ser um mero observador ou consumidor...

Taí, gostei! Denomino-me agora um curinga - apesar de estar louco para me juntar as outras 52 cartas, e aprender logo a jogar essa porcaria de truco!

16 de nov. de 2004

Xô, boné!

Mulheres do meu coração, façam um favor ao titio aqui: aposentem essa onda de usar boné. Pega a aba e joga para longe, desencana dessa idéia de modismo e atitude. É muito feio e brega. Não fica feminino, não tem como. Estranho é a minha melhor definição.

Boné já fica tosco em homem, imagine em vocês, seres tão delicados. Boné fica bonitinho na pirralhada, usando ele pra trás. Esquenta o couro cabeludo, dá caspa. Voltem aos bons tempos de outrora: chapinha, escova, massageamento, alisamento japonês, baby-liss...

Escafedem com essa mania de usar boné. Use presilha, piranha, tiara. Nós, homens fãs de um cabelo sedoso e bem cuidado, pedimos carecidamente: morte para quem criou essa moda!

Até um específico boné deve ser usado. Von Dutch é o nome da porcaria. E tem louca que me paga 350 reais para usar aquilo. Olha, sigam o conselho do rapaz que escreve neste exato momento, e de boné entende bem. É tudo a mesma coisa, apenas alguns detalhes são alterados. Entre a molecada, já esteve em voga boné de time da NBA, da Nike ou Adidas e da Polo Ralph Lauren. Que atire o primeiro boné quem não conheceu alguém que teve a manha de comprar aquele objeto de quase 40 reais, apenas por um cavalinho bordado.

Homem gosta de cabelo cheiroso, à mostra, fruto de horas e horas de produção em casa. Homem gosta de passar os dedos naqueles cachinhos dourados, dar um cheiro na cuca da nega amada. Homem não gosta de sentir um boné enterrado na cabeça de companheira.
Fica parecendo o Axl Rose - ou o bacanudo do Silent Bob.

11 de nov. de 2004

Aquele tal de ring tunes


Saiu na segunda-feira, no Folhateen, uma matéria sobre os ring tunes. Vocês sabem do que estou falando: aquelas campainhas de celular chatas, que são a onda da molecada. Pega-se o último sucesso do Disk MTV, faz um download básico e, alguns minutos depois, tal música já está tocando em seu aparelho. Simples assim.

Acontece que as músicas são sofríveis de ruim. De 80 músicas disponíveis para baixar pela sua companhia de celular, no máximo, 10 se salvam. Do resto fica uma coisa mal feita, esquisita, com um tecladinho deveras horrível. Parece que voltamos aos anos 80: clima retrô, sintetizadores e aqueles mini teclados da Casio.

Como ganhei de Natal um celular (na minha família é tradição dar presentes com uma certa antecedência), resolvi tascar alguma música legal em meu mais novo brinquedo. Havia várias, para todos os gostos. MPB, axé, pop, funk, sertanejo, rock, hip-hop, hinos de clubes de futebol - brega pra daná! Não gostava de nenhuma, nada combinava. "I Believe In a Thing Called Love" seria a minha grande esperança. Dei uma ouvida no ring tune e frustração: não ficou muuuito legal (no máximo bacaninha).

Do Coldplay tinha uma penca. "Clocks" é demais, porém, como bom irmão que sou, sei da cara de inveja que o mano mais velho faria ao ouvir a campainha de meu aparelho. "We Will Rock You" poderia se tornar um ótimo motivo para levar uns croques de titio (no cel dele não tem tal música, e ele morre de raiva por isso). Queria algo mais alegre, extrovertido. Eis que surge a salvação: a música tema de Um Tira da Pesada.

Porra, essa música é sensacional! Combinou total. Abro um sorriso e começo a ouvir a danada tocar a cada vez que alguém me liga. É bem capaz de eu enjoar da campainha, mas já tenho outra visada para o futuro: o tema dos Animaniacs.

Se bem que "Toxic" da Britney Spears ficou demais...

8 de nov. de 2004

A mais gostosa


Camiseta velha é o que há de mais gostoso de se usar. Mais do que meia rasgada, supera até cueca laceada. Camiseta velha nunca sai de moda, é hype, tendência para todas as estações. Fica guardada na gaveta em lugar especial, à frente de outras camisetas, podendo ser usada para dormir ou ficar em casa. Vestimenta ideal para momentos de puro ócio.

Camiseta velha é personalizada conforme o tempo. Rasga-se a gola, manchas de macarronadas passadas tomam conta do tecido, furos pipocam por todos os lados. Ela vai pegando a forma de seu torço, cai como uma segunda pele. Dá sensação de liberdade e frescor. O tecido é macio, tem aquele cheirinho bom, de ficar na memória.

Camiseta velha é pessoal, não se empresta. O engraçado, é que geralmente elas não chamam atenção à primeira vista. São básicas, sem firulas. Muitas foram brindes ou presentes de pessoas as quais você não se recorda. No início ela fica guardada, de tão feia, não serve nem para sair. Mas basta o primeiro dia que ela for usada como pijama e pronto! Não sai do corpo jamais.

Camiseta velha exige vigia constante. Alvo de mães e avós, loucas para transformá-las em panos de chão. Nada mais deprimente do que saber que sua antiga companheira agora serve de alvo para cândida. Vê-la num rodo, deslizando pelo chão da sala é de traumatizar para o resto da vida. Algumas chegam a ganhar um destino um pouco melhor, virando pano de prato. Um horror.

4 de nov. de 2004

"Mas isso é um absurdo!"


Ah, agora estou me sentindo parte da paulicéia. Hoje, fazendo o caminho até a faculdade, enfrentei um baita congestionamento. Não é demais? A razão? Chuva e mais chuva. As ruas estavam alagadas, bocas-de-lobo jorravam água, pessoas sem espremiam nas calçadas à procura de um toldo ou um espaço no guarda-chuva alheio, motoristas ficavam na dúvida entre enfrentar ou não àquela piscina. Alguns carros paravam no meio do caminho. Ah, isso é São Paulo!

Agora estou vivenciando o que apenas curtia pelos noticiários. O Águia Dourada sobrevoava a marginal e lia o letreiro embaixo, com o Datena berrando: "Mas isso é um absurdo!". E via o pessoal correndo com balde e cuia tentando salvar suas casas de serem levadas pela enchente, crianças atravessavam a nado as avenidas sem medo de uma possível leptospirose. São Paulo tão amada!

Tinha tanto trânsito na Rua Augusta (aquela em que o Rei Roberto descia no maior cacete) que resolvi subi-la a pé. Foi mais rápido que carro ou ônibus. Viva a caminhada! Via com escárnio as dondocas blasfemando o nome da prefeita em seus carros importados. Qual é? E vocês acham que o Serra vai mudar algo?
Nada muda; o pessoal já previa desde cedo o meu futuro: vai estudar em São Paulo, vai pegar congestionamento, enchente...

31 de out. de 2004

Um grande sem-vergonha

Eu não canso de citar o Billy - mascote oficial deste blog. Meu bacanudo cachorro, que conquista a todos. Sem dúvida é o quatro patas mais mimado do universo. Um bon vivant, que só sabe dormir e comer. Brincalhão como criança, dono das maiores artes aprontadas em casa. Um sem-vergonha, como costumo chamá-lo.

O mais gostoso de chegar em Sorocaba é quando abro a portão e o Billy vem como um raio à minha direção. E pula, e cheira, e morde, e pula. Estica-se todo e me deixa dar um abraço, um apertão em suas bochechas e já digo o tradicional: "Olá, Billy-boo! Seu sem-vergonha!". Ele agradece, tentando sair em disparada com a minha mochila em sua boca. Figurinha.

Aliás, o maldito tem esta mania de pegar objetos nossos e sair trotando, todo exibido, tal qual o Baloubet du Rouet após conquistar uma medalha olímpica. De chinelo à cueca, de sapato à revista. Ele amordaça aquilo que encontra e começa a correr, como se pedisse para brincar. Para passear, vira um pedinte. Hoje, por exemplo, pegou à coleira e foi se "auto-levando" para passear. Viu-a na janela, deu um pulo e nhac! Lá estava ele, dando o seu trotinho em direção ao portão - com a coleira na boca.

Até comunidade no Orkut o danado tem. Está lá a sua foto, todo elegante, deitadinho ao lado de sua bolinha, o Cebolinha de plástico e um de seus ossos. Ainda estou para tirar um retrato do danado, sentadinho ao lado da mesa de jantar, implorando por um pedaço de carne. Quando ele quer filar a comida dos outros, dá à patinha e lança um olhar à la Gato de Botas do Shrek.

Poderia escrever sobre o Billy até o amanhecer. Primeiramente, eu vou recuperar um pé das minhas Havaianas que sumiu (quem será o ladrão?).
Resposta: aquele sem-vergonha!

29 de out. de 2004

Saudades


Porra! Hoje eu me toquei que faz um ano que o Seu Gilberto partiu. Fez as malas e voou para a sua Pasárgada. Longe de parentes enjoados, senis companheiros de asilo, idas e vindas de hospitais. Achou melhor cair fora, dar tchau pra gente. Foi numa boa, tranqüilo, rapidão.

Usou da velocidade que nunca teve andando, para voar, ir a um lugar mais bacanudo, onde ele pudesse chamar as mulheres de chuchu, os garotos loiros de alemão, e, o melhor do pacote: contar as suas famosas historietas. Seu Gilberto pode não estar mais aqui, mas pode deixar que de seus casos eu me recordo muito bem. Ouvi tantas vezes os momentos de viagens do velho, das escalações clássicas do São Paulo, de suas excursões junto ao time da Portuguesa... O sujeito era uma figuraça.

Outro dia sonhei com o seu Gilberto. Foi engraçado, ele me aplicava diversas peças, contava piadas, tirava um sarro de cada brincadeira minha. Foi muito divertido, deu saudades. Lembro direitinho do sonho - e acreditem: só ao acordar é que me toquei que ele não está mais entre nós.

Ele está entre nós, Gustavo! Larga de ser bobo! Está mesmo; foi tanta coisa boa acontecendo neste ano, que vejo o Seu Maia lá em riba, arquitetando algo de bom para mim, servindo de anjo da guarda do seu neto são-paulino.

25 de out. de 2004

Como traumatizar uma pessoa


É batata, podem acreditar: nenhuma criança terá o presente que tanto sonhou na vida. Isso foi na época de nossos papais e mamães, de nossos avós e em nossos tempos. Por isso repito: nenhum guri ou guria terá o presente tão sonhado e pedido.

Conheço certas pessoas que são recalcadas por nunca terem tido um videogame. Neca, nenhum. Um amigo, certa vez me confidenciou que era louco por um par de patins caríssimos (aqueles rollerblades maravilhosos). Está até hoje esperando de seus pais tal mimo. A época do pônei marcou legal. A garotada pirava naquela amostra grátis horrível de cavalo. Todo aniversário era a mesma coisa: o moleque corria para o jardim e via um pônei marrom, com um laço azul no topete. "Ganhei um pônei, que legal!", suspirava o filhote. O pai, meio sem jeito, coçava a nuca e acabava com as esperanças do pivete: "É, filho... Papai não teve dinheiro esse ano... Este pônei é do buffet...".

Eu nunca liguei para mini-cavalos, patinetes ou mansões da Barbie (ainda bem, hein!). Eu curtia mesmo era uma bateria. Grandona, daquelas que na primeira bumbada a polícia já era acionada por algum vizinho. Todo aniversário eu sonhava com a minha batera. Via-me tocando "We Will Rock You" e "That Thing You Do", seria popular entre as meninas, meu desejo era ser um rock star. Daí eu acordava e me deparava com a mavilhosa coleção de cuecas e meias da Lupo, que a minha querida tia-avó insistia em me dar todo aniversário.

Até no vestibular eu fiz promessa. Se passasse, deveria ganhar uma bateria. Não deu certo. Tentei argumentar que alguns pais chegam a dar carros aos filhos quando passam nas faculdades almejadas. A resposta ouvida? Que eu trocasse de pais. Nunca, mais nunca eu convenci a mama de me dar uma bateria. Papai já era outra história; também era fã de um batuque. Ele é daqueles que tiram um som do volante a cada semáforo vermelho. Bate com o dedo aqui, batuca acolá. Sempre no compasso da batida do rádio.

Pessoas frustradas por não terem uma bateria aderem ao air-drumming. No Orkut, descobri que existem outros traumatizados como eu. Trocamos experiências e fazemos até uma set list de nossas músicas prediletas. "Supersonic" do Oasis é a minha do coração - depois de qualquer uma do Queen, lógico.

22 de out. de 2004

Os melhores presentes


Meu gosto musical é fino, não vejo distinções. Adoro promoções de CDs e me recuso a pagar mais de 30 reais numa caixinha de plástico. Como é gostoso achar discos baratinhos. Uma delícia! Sabe aquelas promoções das Lojas Americanas? Nossa, faço à festa. Ostento com orgulho um do Wheatus, adquirido pela bagatela de 3,90 reais. Bom e barato; há coisa melhor?

Olhando o meu porta-CDs, muitos dos "meus filhos" foram comprados por até 10 reais. Melissa Etheridge? 3,90. Los Hermanos e Zélia Duncan? Idem. O Rappa, Tianastácia, Rumbora... Sete reais e alguns centavos. Comecei a ouvir música nacional após as promoções da vida. Neste ano, as minhas grandes aquisições foram: Adoniran Barbosa, Tim Maia, Leoni e Trio Mocotó. Foi-se o tempo do "quase quatro conto". Agora é tudo 9,90, popularmente conhecido como "CD de quase 10 real". Na internet chega a rolar uns pega-trouxa. Com o frete, CD sai por quase 13 reais. Perde a graça, poxa! O mais legal é sacar aquela nota vermelhinha, da arara.

Os CDs baratinhos já me quebraram muito galho. Em aniversários, hoje em dia, não existem mais aqueles presentes. Ou não se ganha nada ou um presente coletivo rola entre os amigos. Lembrancinhas são os mais comuns. CD é algo bacana, todos gostam de ganhar. Passo no Carrefour mais perto de casa e pronto! Aniversariante mulher? Algo romântico ou de MPB. Raparigo? Rock. Coletâneas também são ótimas pedidas. Não façam como a mama que comprou para uma amiga (amiga?), um imprescindível As Melhores Trilhas de Novelas em Italiano. Agnaldo Raiol na veia!

Até este blog possui uma história bonita dos CDs de 3,90. A dona Bruna, após ajeitar o layout deste humilde espaço, foi agraciada pela minha pessoa por um Fiona Apple legítimo. Custou-me 3,90 tal mimo. Ele era chato demais, mas ela gostou. Inclusive, na pechincha, há a sua música favorita da cantora. Ficou emocionada.

Graças aos CDs de 3,90.

18 de out. de 2004

O cuco da vovó


Desde pirralho, eu nunca fui com a cara do cuco da minha avó. Marrom escuro, aparência muito velha e, o principal: tinha um passarinho pra lá de escroto. O passarinho do cuco da minha avó parece que voltou da guerra: todo estrupiado, magrinho, feio que dói. Deve ter sido esculpido por um menino de 6 anos.

O cuco da minha avó foi, e é, a coqueluche da criançada. Meus priminhos adoravam aquela obra rústica no canto da parede, assim como o bebê da vizinha. Eu sempre o achei horroroso. Como a casa era antiga, considerava tal objeto como parte de uma decoração, sem significado algum. Ledo engano. Aquele cuco faz parte da família; a minha nona se livra até dos netos, mas suplica para o maldito cuco continuar a nos atazanar com aqueles tic-tac de seus gongos.

Certa vez eu puxei a cordinha dele. Parou de funcionar. Celebrei com um sorriso à façanha: eu matara o pássaro. Ele nunca mais sairia da porta da casinha, eu nunca mais ouviria aquele canto agudo dos infernos, eu nunca... CUCO! CUUUUUUCO! O danado ressuscitara.

Hoje, ele continua vivo, persistindo em "decorar" o apartamento de minha avó. Aquele relógio não combina com nada da sala, mas ele continua lá, intocável em seu canto. Já descobri como pára-lo: basta segurar os gongos que contam os segundos. Pena que o passarinho só entra em coma, nunca morre - sempre dá um jeito de acordar.

De tão mimado, só deixa de "cucar" quando estamos dormindo (sim, o cuco é considerado gente por vovó). Dorme no mesmo horário que eu, acorda idem.
O cuco é o seu neto mais querido.

15 de out. de 2004

Descarrego

Tem gente pondo macumba pra riba de mim. Deixo não, meu caboclo pega essas coisas ruins. Desinfeta, passa, vá pra bem longe! Não quero coisa do diabo ao meu lado. Esta nuvenzinha escura bem pequenina, que insiste em pairar em meus ombros.

2004 está sendo um ano bacanudo. Ambiente novo, vivências novas. Mas que tem encosto sendo posto pra riba de mim, ah, isso tem. Vovó diz que a felicidade incomoda. Há sempre um danado fazendo vodu pra ti. Deixa não, meu caboclo. Manda pro raio que ti parta, invejoso danado e sem-vergonha. Deixa eu brincar com o meu nariz, ser feliz. Atrapalha a minha vida e, conseqüentemente, as dos meus próximos também. Pega ele, caboclo.

Inveja é uma coisa feia. Posso dizer que sou motivo de macumba por parte de certas pessoas. Venho concretizando os meus sonhos, recebo mais elogios que críticas. Estou sorrindo à toa. Fui à luta para ter concretizado isso, não fico assistindo a banda passar.

Fala mal de mim; xinga para o resto das tuas bandas, leviano! Vai te danar, preto véio amargurado! Enquanto tu reclamas da vida alheia, vou continuar a pintar o nariz daqueles aos quais eu amo tanto.

14 de out. de 2004

Recebi um email deveras em engraçado. Tinha tudo para ser politizado, sério. Mas é engraçado.

Alguns negos "engajados" da minha faculdade, e de outras universidades, irão fazer uma passeata, no dia 18, até a Avenida Jornalista Roberto Marinho (em frente à sede da TV Globo), antiga Avenida Água Espraiada. Sabe qual é o motivo da manifestação? Rebatizar a avenida com o nome de Wladimir Herzog (???).

Gente, o nonsense chegou ao limite. Qual a finalidade deste treco? Qual o problema do nome? Uma avenida, em frente ao complexo da Globo, só poderia ter o nome de seu antigo "imperador", ora! Ok, o Marinho era um escroto, todos sabem a sua história (ligado à Ditadura, eleições de 89...), mas, repito: Qual a finalidade deste treco? Sendo assim, é melhor rebatizar rua, rodovia, avenida... Começaria pela Castello Branco ou Anhangueras.

O coitado do Herzog deve olhar para essa cambada de estudante de Comunicação, e chorar feito um condenado. Nem ele é poupado, tadinho. Deve estar querendo se enforcar com as grades do portão do céu - mais ou menos do mesmo modo que os militares o "suicidaram".

12 de out. de 2004

Legume dos infernos


Qualquer pessoa, em algum momento da vida, irá vivenciar um causo com pimenta. Uma história engraçada, que será passada de geração em geração. Pimenta malagueta, um vidro de Tabasco, pimenta do reino, pimenta calabresa... São muitas as opções; basta escolher a sua.

Meu velho tem uma legal: um amigo seu, fã da vermelhinha, certa dia quis porque quis comer pizza de alho. Pediu para o garçom caprichar na especiaria e ainda lascou ¼ de Tabasco na comida. Passou tão mal, que demorou dois dias para voltar a sentir a língua. Papai disse que o seu camarada transpirava alho.

Eu, neste final de semana que passou, entrei para o "Hall da fama dos causos ocasionados pelo abuso e excesso de pimenta". Alimento? Pizza. Do quê? Picante. O que tinha nela? Tais ingredientes: calabresa, mussarela, molho picante e pimenta calabresa. Uma bomba.

Ultimamente estou indo na onda de trecos spice. Dar aquela quentura no esqueleto, sabe? Mas é bom levar uma na cara (na língua, quer dizer) e aprender a deixar de ser trouxa. Na primeira mordida, a pizza estava legal. Bastaram dois segundos para eu sentir um calor em meu corpo. "Esquentou?", perguntei para Irena. "Não", foi à resposta. Não era culpa do tempo: era o efeito da "Pizza Picante".

No terceiro pedaço, não sentia minha boca. Ardia tanto, rapaz, mas tanto. Virei uma lata de Coca e nada. Fui ao banheiro e joguei água na língua. Bulhufas: até grudei papel higiênico na dita cuja. Para piorar, eu sou sovina. Decidi comer a pizza, porém, só a massa. Ainda havia resquícios de pimenta. Fumaça saía pelas orelhas. Via aqueles pontinhos pretos malditos e infernais por todos os lados. Senti-me o Homer naquele episódio em que ele devora as pimentas picantes do chefe Wiggun.

Só faltaram as alucinações que o pai de Bart teve após a refeição. Foi por pouco.

7 de out. de 2004

Raça mardita



Pichador é um bando de escroto. Tenho uma relação de ódio com essa raça. Sujeitos vagabundos, que agem na covardia, quando estamos de olhos fechados. Escroques de primeira grandeza.

Nunca peguei um pichador com spray na mão. Dando risada ao lado de sua "turma", rabiscando uma parede ou escultura. Quando pirralho, o muro da minha casa era todo "abençoado". Papai não desistia; pegava o tonel de tinta e limpava. Não funcionava. Bastava acordar e se deparar com a frente de casa toda zoada com nomes estranhos e símbolos de anarquismo.

Pichar está em voga. Na Bienal, duas obras foram pichadas. Algum babaca chamado "Não" resolveu se manifestar, dando o ar de sua graça. Pior, só quem passa todo dia pelo túnel que liga a Av. Dr. Arnaldo com a Av. Paulista, mais conhecido como o buraco da Paulista.

Há algumas semanas ficou mais gostoso andar por tal túnel. Grafiteiros reproduziram diversas obras de artistas modernistas em suas paredes. Ficou sensacional o mural. Já cansei de pedir para o meu tio passar mais devagar com o carro no local, apenas para eu admirar os Di Cavalcanti e Portinari grafitados.

Além de bonito, há uma história por trás dos compressores e pistolas de ar usados. O projeto "Os Modernistas na Paulista" foi patrocinado pela Caixa Econômica Federal, fazendo uma parceria com a Ong Revolucionarte. Doze jovens foram treinados para criarem a galeria de arte exposta. Ou seja, ao invés de um moleque assaltar ou roubar, usa do grafite (uma arte) para se expressar. Daí vem um bando de cu e picha.

Pichador deve ter caído do berço quando criança. A minha vontade é pegar um e pichá-lo inteirinho (espero que a tinta seja tóxica). Por fim, pegaria a latinha e enfiaria no rego do dito cujo.

Deveriam elaborar uma lei a partir do meu desejo.
OBS: O louco do Ronald criou uma comunidade pro tio aqui no Orkut.
Assim eu fico emocionado, pô...

4 de out. de 2004

***Mais uma crônica, do sujeito que aqui escreve, foi publicada no jornal Contraponto (Jornal Laboratório de Jornalismo da PUC). Resolvi, desta vez, falar de ninguém menos que Chico Buarque; uma unanimidade entre as garotas do meu curso.

O mais legal foi o fato de não terem mudado uma vírgula do texto. Está igualzinho. Muito bacanudo, não?

Devia ter dedicado esta crônica a todas às mamães e vovós. Elas iriam adorar


O que será que será?
Será Chico divino, uma estrela? Por que Chico continua a entrar em nossas vidas?

Eu quero ser o Chico Buarque. Amado pelas mulheres, invejado pelos homens, idolatrado pela mídia. Sério, alguém reparou como 2004 foi - e é - o ano do Chico? O cantor-escritor-intelectual-compositor e sex symbol está em todos os outdoors e listas de rodapé. O tio Chico está com tudo. Seu último livro é sucesso de critica, Benjamin foi adaptado com sucesso às telinhas do cinema, um espetáculo escrito pelo próprio há décadas vendeu horrores na paulicéia. Se já não bastasse tanta pompa, o seu aniversário de 60 anos rendeu tanta capa de revista, que colocou o primeiro parabéns da Sasha no chinelo.

Digam, queridos leitores: não seria bacana, ao menos por um dia, ser Chico Buarque? Abrir um jornal e ler elogios até cansar, saber que todas as gurias do sexo feminino fariam de tudo por você? Duvido. Eu, pelo menos, toparia sem reclamar. Gustavo Buarque de Hollanda. O que será, seria: um artista brasileiro.

Chico dá esperança aos feios ou, como diria Xico Sá, os "mal- diagramados". Por favor, leitoras, sejam sinceras: o Chico não é lá grande coisa fisicamente. Tem duas varetas, o cabelo é ruim e, ainda por cima, é magricelo. "Ai, mas ele é o Chico Buarque!", exclamaria a saudosa fã de laquê no cabelo. Pois é, rapaziada, ele é Chico Buarque. Talvez o responsável pela minha existência e a de vocês. Há uma grande hipótese de nossos papais terem cantarolado algo do rapaz de pai paulista e avô pernambucano, apenas para impressionar as nossas mamas. Chico foi o Barry White tupiniquim!

O danado é esperto, tem aquele sorriso de malandro carioca, tal qual o personagem de seu musical. Escreve bem, é intelectualóide, toca violão e ainda possui um par de olhos de arrebentar a Sapucaia. Qual é, deixa um pouco pra gente, tio Chico! Na minha classe, por exemplo, Chico é apontado como unanimidade entre as gurias. As garotas piram no sexagenário. "Se ele cantarolasse algo bem baixinho no meu ouvido, nem sei o que faria", denunciou uma delas. Tenho uma professora que sonha dar aulas baseadas nas letras de Chico. Pode? Ele pode.

Chico parece não estar nem aí para tanta prosa e confete. Não fala com jornalistas, desdenha a rapaziada de microfone e bloco de anotações em punho. Gosta de ficar em casa, à toa na vida, vendo a banda passar. Deve estar cansado de ver, e ler, o seu nome usado em vão. Dia sim, dia não, alguma novidade de Chico é publicada. Um futuro álbum? Um livro a ser lançado? Ninguém sabe, somente Chico tem a resposta. Chico vende sem precisar dizer uma palavra, já perceberam? Basta o seu nome aparecer em negrito, num periódico qualquer, para esgotarem as publicações.

De Chico Buarque não tenho nada. Não sei fazer poesia (o Chorão idem) e apesar de meus olhos serem claros, eles estão longe de chegarem à ardósia. Se não tenho coordenação motora para dançar, o que diria tocar uma viola? Escrever sobre o amor, então: uma tristeza. Sou pior que o Oswaldo Montenegro.

Ao menos, de Chico, ostento uma leve semelhança: os nossos belos gambitos. Isso ninguém me tira.

2 de out. de 2004

Domingão de eleição



Amanhã é dia de pegar o título de eleitor e ir votar. Exercer a cidadania. Escolher uma pessoa como porta-voz do povo, pôr a responsabilidade em um nego de terno - ou uma nega de tailleur. Amanhã é dia de eleições municipais.

Aqui, em São Paulo, a coisa está pegando fuego. Dona Marta de um lado, com sua cara de barbie sexagenária e, segundo a palavra de muitos, a arrogância em pessoa. No outro córner do ringue, está um velho sem graça, careca e de olheiras assustadoras, chamado José Serra. A briga está feia e, dizem a boca miúda, que um deles terá de obter o apoio dele, o político mais carismático e odiado do nosso Brasil varonil: Paulo Maluf.

Caso eu votasse na capital paulista, apertaria 13 e confirma. Não sou chegado no PT, muito menos na Marta, mas, por "motivos de força maior", nutro uma antipatia crassa pelo Drauzio Varella do PSDB. Acho-o sem carisma, sem força de vontade... Parece que não sai da segunda marcha. Os seus discursos são decorebas, dificilmente inova ou sai daquele clima zen. José Serra, ao meu ver, corre o risco de ser o eterno perdedor.

Há chances de ganhar da mãe do papito? Muitas. Isso, pelo fato que a prefeita é odiada pra dedéu. Esburacou a cidade inteira e construiu coqueiros (?) numa avenida. Uma belezura, como diria a própria. Eu, ao contrário, votaria nela. Já levei xingo da namorada e coquinhos do titio. "Você está louco em votar naquela idiota!". Outros acham que estou apenas "fazendo charme".

A Marta, desde a minha mudança para São Paulo, favoreceu - e muito - a minha vida. Ela incentivou à minha cultura! Fico tanto tempo preso nos ônibus (cerca de 40 minutos no trajeto "Paulista-casa"), que agora estou lendo mais livros do que li na minha vida inteira. Só em 2004, já foram 18 (planejo chegar aos 24). Como não poderia agradecê-la?

Curiosamente, amanhã estarei "votando" no Correios mais próximo que achar. Justificarei. Como não tenho candidato nenhum em Sorocaba, prefiro me abster de qualquer palpite. Só sei, que para vereador, o Chiquinho do Suco é grande favorito. Tira um suco de polpa de fruta que é uma beleza.

Já teria o meu voto.

28 de set. de 2004


Pela primeira vez, faço um post com o intuito da participação de você, amigo leitor.

É o seguinte: planejo criar alguma comunidade no Orkut. Obviamente será algo relativo a minha pessoa. Motivos pessoais, leia-se. Após várias pesquisas, decidi por três alternativas.

Aqui vai:

1) Eu já capotei da esteira

Porque: não há sensação melhor do que ser jogado a metros da esteira; não há sensação mais prazerosa que dar um tropicão em plena corrida... Enfim, não há sensação mais horrível do que ver a academia inteira dando risada da sua cara.

Comunidade dirigida àquelas pessoas que já levaram um capote na esteira da academia. Não vale ser esteira caseira, precisa ser de academia.

2) Eu não tenho bunda


Cansado de andarem com a calça caindo? Cansado de pegarem ônibus e morrerem de dor no traseiro no dia seguinte? Cansado de terem os glúteos tachados de aspirina? Vamos juntar nossas forças e acabemos com os bundões deste Brasil varonil! Porque não ter bunda também é motivo de orgulho.

Comunidade para quem, simplesmente, não tem recheio no popô.

3) Meus pais são malufistas

Filhos de pais malufistas, uni-vos! Morremos de vergonha de nossos progenitores, que espalham para a vizinhança inteira que o bom prefeito deve voltar. Porque ele rouba, mas faz; porque ele é engraçado; porque sem ele, São Paulo seria um caos; porque ele é amigo do Sílvio Santos...

Comunidade para quem dá a benção por malufismo não ser hereditário.

Obs: Votem com o coração

24 de set. de 2004

Virando hominho II


Imagine receber uma oferta de trabalho, em plena faculdade, tendo que aceitar uma entrevista marcada em cima da hora? Resumo da ópera: correria. Camiseta laranja, bermuda de surfista até a canela, cabelo desgrenhado. Um candidato forte, digamos.

Casa da patroa, tirar oleosidade da pele. Preciso fazer a "barba". Gilete? Uso o dela mesmo. Ok, ela o usa para depilar as pernas, mas dane-se. Não é hora de nojo ou preconceito, Gustavo! Vai esse mesmo. Falta gel de barbear. Roubo o do sogro. Não tem espuma, que droga! Imprimir o maldito currículo. Está incompleto, raios! Senta da poltrona e digita o que falta. Nem revisa o texto. Falta um acento aqui e uma vírgula acolá. Foda-se! Correria para sair do apartamento à entrevista em poucos minutos.

É muito estranho - e ao mesmo tempo legal - dar uma olhada para um ano atrás e compará-lo com o presente. Eu, há 365 dias, estava estressado com manuais de vestibulares e só sabia de dormir nas aulas de Química. Agora: faculdade, trabalhos e, inclusive, procura por trampo. "O trabalho dignifica o homem", já diria o barbudo socialista.

A primeira coisa a ser feita é elaborar um currículo. Chega a ser engraçado, pelo motivo de eu, simplesmente, não ter nada de bacanudo a acrescentar no bichinho. Conhecimentos de informática em níveis básico, intermediário e avançado. Tratando-se de aparatos tecnológicos, sou uma anta. Se ICQ, Kazaa ou Orkut servissem para um CV, certamente eles estariam como avançado. Do resto, não entendo bulhufas. Deixo tudo no "básico".

Entrevista é o mais engraçado. Sabe aquela idéia de: "A primeira aparência vale tudo". Então, eu a levo como uma cartilha. Tento domar os bem recentes cachos vermelho-acaju, com cera e um mousse de ostras que eu tenho (presente da mama dermatologista). Também me disfarço dos pelinhos em minha face. Taco um perfume, uso uma roupa "esporte-social" e simbora, nego! Seja o que Deus quiser.
Neste caso, o Senhor é o tio atrás da outra mesa. Oremos.

22 de set. de 2004

Cama de Gato


Já escrevi aqui que cinema brasileiro deve desencanar do estereótipo "nordeste-fome-miséria-xoxota". E parece que ainda há luz no final do túnel, com o bacanudo filme de Alexandre Stockler "Cama de Gato".

É criativo pra chuchu! Em algumas cenas, ocorre um certo desconforto (vide o momento do estupro). Tal cena é mais pesada que a famigerada cena de "Irreversível", película em que a Monica Bellucci era enrabada em plena estação de metrô.

Até cheguei a julgar que tal encenação (encenação?) fosse desnecessária, porém o filme, em seus momentos finais, explica o porquê de cada take, cada fala, cada interpretação. Fique atento às declarações dos jovens paulistanos.

É uma tremenda critica. Bom para fazer uma análise sobre nós - jovens mundiais (não apenas os brasileiros).

Recomendado.

20 de set. de 2004

Um novo dia especial



O dia 20 de setembro passa a ser um dia especial para o pelego que escreve neste humilde espaço. O dia de 20 de setembro representa o nascimento duma garotinha muito bacanuda que, com certeza, mudou a vida deste cidadão. O dia 20 de setembro é aniversário da Irena, rapaziada! 19 aninhos de vida. O último "teen" de sua vida.

Vamos cantar "Parabéns" para a fã de Tom Jobim e Nina Lemos, chocólatra e fã das guloseimas de minha vovó. Vamos saudar a Irena, pessoal! A minha namorada de nome difícil, mas de personalidade facinho de lembrar. Irena é sinônimo de gente boa, finíssimo humor, risada inesquecível, meiguice além da conta.

Já tenho dito: quem não escrever um "parabéns" para a Irena nos meus comentários, bom sujeito não é.

Está esperando o quê? Corre pra lá! Eu estou indo agora mesmo.

OBS: Na foto acima, estão reunidas duas grandes paixões da Nena: porquinho e geladeira (cheia, diga-se de passagem).

17 de set. de 2004

Ode aos banheiros

Para um estabelecimento receber a minha aprovação, é necessário que ele tenha um banheiro bacana. Sabem como é: limpo, cheiroso, com música ambiente adequada. Realmente isso não é algo fácil. Banheiro deve ser simples, mas charmoso. Pequeno ou grande, não importa. Banheiro deve ser banheiro, ponto final.

Na PUC, os banheiros do prédio de Comunicação são uma lástima. Até o final do primeiro semestre, nem sabonete líquido eles tinham. Ora, pensa o leitor atento. Sabonete líquido é fundamental. E é mesmo. Nós, homens, somos seres sebosos e de pele gordurosa. O sabonete líquido ajuda, e muito, a eliminar tal defeito. Ponto pra PUC. Outro ponto positivo da PUC é as portas das casinhas pichadas de caneta, branquinho...
Peço desculpas às faxineiras de plantão, mas banheiro masculino deve ter alguma coisa rabiscada de caneta na porta da casinha. Seja com mensagens de amor (amor?) a desenhos de gostos duvidosos. Frases de efeito, como: "Pichei, saí correndo, pingolim naquele lugar de quem tá lendo", já é meio ultrapassado. Neste quesito, a USP saiu ganhando. Reza a lenda, que no banheiro do pessoal de Física da faculdade, há uma mensagem muito simpática: "A diferença entre cagar e dar o loló, é uma questão meramente vetorial". Genial, ponto para os nossos futuros físicos criativos.

Desde brejeiro visito todos os banheiros possíveis. Restaurante, faculdade, casa de amigos, shoppings... É uma mania que talvez Freud explicasse. Sem sombra de dúvida, o melhor banheiro de São Paulo é o da academia Runner Club. É limpo, têm faxineiros simpáticos e mictórios na altura certa. Um banheiro de homem. Até existem secadores de cabelo na pia! Quem adora são as "barbies", que passam horas e horas secando as madeixas. Um banheiro de homem - meio suspeitos, digamos.

11 de set. de 2004

Braçada, braçada


Voltei a nadar. Após quase um ano fora das raias, retornei às braçadas, viradas, flutuações e todos aqueles nomes estranhos. Bem-vindos: touca, sunga, óculos, protetores de ouvidos e cloro. Saudades.

No vestiário, aconteceu o inusitado: cadê o elástico da minha sunga? Aposto que muitos já passaram por tal situação: uma das pontas do cadarço (é esse o nome?) que servem para arrumar a sunga resolveu se "esconder" nas estranhas do maiô. Fiquei dez minutos, escavando e escavando, até conseguir puxar a outra ponta. Tomei uma ducha para tirar o suor e, pronto, já estou nadando. Dou uma braçada, outra braçada, respiro. O procedimento dura cinco minutos. Depois ele fica: braçada, respiro, respiro, braçada. Respiro, respiro, braçada, respiro.

Cansei, já não agüentava mais. As pernas estavam moles, meu corpo gritava: "Socorro, eu quero terra-firme!". Pior, perdi o protetor de ouvido da orelha esquerda. Se naturalmente já sou ruim de vista, imagine embaixo d'água! Dou uma cusparada nas lentes do óculos (não embaça, acreditem) e, imerso, procuro o maldito pedaço de silicone. Olho daqui e quase sou atropelado pelo Willy (o sujeito era meio grandinho). Vasculho mais um pouco e, enfim, acho a massa.

Volto a nadar (agora com a ajuda dos palmares) e sinto um cheirinho de uva. Porra! Desde quando palmar tem cheiro de uva? , filosofo na piscina. Devem ser infantis, pois alguns pirralhos nadavam antes de mim. Caso resolvido e volto à rotina de braçadas e respirações.

Terminado o treino, arranco a touca, o protetor direito, o esquerdo... Caramba, o esquerdo deve ter grudado na orelha. Dou um puxão danado, acompanhado de um berro, perco dois fios de cabelo e vejo uma massa roxa em minhas mãos. Seria um... Chiclete! Que porco quem jogou aquele Babaloo no fundo da piscina! Sadismo do puto! A anta que vos escreve ainda enfia o danado no canal auricolar.

E a pessoa devia ser bem enjoada. Pelo cheirinho gostoso que ficou à orelha, dava para sacar que o chiclete ainda tinha gostinho. Que nojo!

7 de set. de 2004

Virando hominho


Lá pelos 12 ou 13 anos, descobri algo que todo pré-adolescente sonha em ter: uma espinha. A espinha é o elo entre os meninos e meninas. A partir do nascimento daquela criatura amarela e cheia de pus, podemos ser chamados, oficialmente, de garotos, garotas, ou, como preferimos, adolescentes.

Não sei dizer qual foi o dia em que eu percebi que era um teen. Talvez quando os primeiros pelinhos começaram a nascer sobre o meu lábio, talvez após a primeira masturbação. É algo difícil de dizer, veja só. Se não estou enganado, uma menina vira garota logo após a menarca, é isso? E os rapazes? Espinha, bigodinho ou bronha?

Acredito, realmente, que a primeira vez em que me senti "adulto" foi quando comprei a minha primeira Playboy. 14 anos, oitava série, Tiazinha. Ah, Tiazinha! Aquela máscara e aquele chicotinho são inesquecíveis. Apesar de ainda não ter pêlos nas pernas ou barriga, o meu sonho era ser depilado pela guria, deitado naquela poltrona. Tudo pelo rebolado daquela morena.
Eu morria de vergonha da Playboy adquirida. Escondia-a no armário, dentro dum fichário antigo.

O tempo passava e a sem-vergonhice aumentava. Resultado: não cabiam mais Playboy no maldito fichário. Decidi que teria de me desvencilhar de uma de minhas musas. Tiazinha, jamais! As Sheilas? Nem pensar: duas pelo preço de uma. Feiticeira? Tá louco! Acabei optando pela musa mais magricela e sem graça: Deborah Secco. Ela não tinha retaguarda nem comissão de frente (já hoje em dia...), por isso a minha decisão não foi muito complicada e sofrida.

Enfiei a revista embaixo da camiseta e logo procurei um lixo. O maldito do vigia da rua estava de botija em mim. Desisti e caminhei mais um pouco. Avistei um terreno baldio e não pestanejei: "Bye, bye, Deborah!". Puxei-a da camiseta, enrolei-a e... Nada. Morri de dó, tadinha! Gastara quase dez reais numa Playboy e este acabaria sendo o seu destino? Grama e estrume? Nem pensar!

Sorte a minha (e da pequena Deborah) que um mendigo, vulgo morador de rua, estava passando por aquelas bandas. Saquei a Deborah, agarrei o sujeito e exclamei: "Toma, fica pra você!". Ele deu uma olhada, procurou algum vestígio duvidoso e, logo em seguida, fez um sinal de positivo, agradecendo: "Valeu, garoto! Esta é das boas!".

Jamais esquecerei desse dia. Foi o meu primeiro trabalho beneficente.

5 de set. de 2004

Poupem seus reais. Não assistam!

Benzadeus, que filme horrível! Alguém leva o tal de M. Night Chihuahua pro inferno! Vá ser pedante lá na casa do chapéu, meu querido! Não sei como um estúdio financiou o seu "filme". Dá até dor de barriga, de tão ruim que é a película. Poupem seus reais, queridos leitores!

A história é essa: numa vila muito distante, os seus moradores são aterrorizados por criaturas (aquelas-de quem-nunca-falamos), que vivem no bosque ao lado. Há uma fronteira e tudo, separando o bosque da vila. Ninguém ousou sair da vila, ultrapassar a fronteira e ir ao bosque. Mas há uma esperança: o personagem de Joaquin Phoenix (Lucious).

Saco roxo, ele é destemido. Mostra ter colhões e quer ir ao bosque, mas nunca consegue a aprovação dos diretores do vilarejo. A criatura, num tal dia, "visita" a cidade. Todos saem correndo, morrendo de medo. Outra personagem corajosa é uma ceguinha (Kitty), filha do Ron Howard na vida real, que se apaixona pelo Phoenix e ele idem. O casório está marcado.

Adrien Brody faz um retardado, apaixonado pela ceguinha. Acaba esfaqueando o Phoenix por ciúmes (ele vai passar o resto do filme em uma cama, num morre não morre). O ferido precisa de remédios, mas eles só podem ser adquiridos na cidade. Quem teria coragem de ir até ela, enfrentando o bosque, as criaturas? A ceguinha.

A moça acaba por descobrir pelo seu pai (um dos diretores da vila) que toda a lenda por trás do bosque é uma falácia. Os diretores inventaram a criatura (uma fantasia tosca, na verdade) e seus derivados (a cor vermelha é maldita, atrai as criaturas). Tudo para que ninguém pudesse ir à cidade, aonde tudo é perigoso e a vida não é justa. A vila foi criada pelo pai da ceguinha, junto de outras pessoas, cujo elo em comum é o fato de terem diversas tragédias familiares envolvidas enquanto moravam na cidade. Fugiram e se isolaram, criando uma comunidade.

Gente, o filme é isso. A ceguinha vai à cidade, pega os remédios e volta. Como ela é cega, não viu como é a cidade, o bosque ou a criatura. Todos ficam felizes: ela, o esfaqueado, os moradores e diretores da vila. Menos o retardado do Brody, que morre (ele roubou a fantasia e acabou caindo num buraco do bosque). A teoria do medo continuará a viver sobre os moradores da vila e pronto!

Sim, eu desobedeci ao pedido feito pelos comerciais. Eu contei o final do filme. E daí? Estou ajudando muitas pessoas, que assim como eu fiz, desejam gastarem um pouco mais que cinco reais para desvendarem todo os mistério por detrás daquele trailler maldito. Não gastem seus dinheiros, não vão ao cinema ver essa merda!

Alguns críticos afirmam que o bom do filme é a metáfora por trás dele: a fomentação do medo na sociedade dos EUA, como forma de manipulação do governo. Bush usa do medo para criar uma ilusão à realidade americana. Até aceito esta teoria, porém não imagino que o Shyamalan tenha tido tal idéia ao escrever o roteiro de "A Vila".
Ele é ruim e ponto final. Hitchcock é único, sua anta!

1 de set. de 2004

Serenidade nos olhos


Corredores frios e longínquos. Dá para ver, no final dele, uma pequena luz. Sabe aquela famosa cena de final de filme, quando o personagem morre e ele deve seguir uma luz? É mais ou menos esta a sensação de estar dentro do Hospital das Clínicas de São Paulo, o HC.

Hospital, junto com cemitério, dá-me medo. A idéia da morte estar ao redor é assustadora. Aquelas paredes brancas, o cheiro de éter, as vozes de centenas de pessoas se misturando. Olhar para o lado direito e ver pacientes esperando ser atendidos. Idosos colocam o papo em dia, uma mãe está com o filho no colo. O segurança indica a direção para uma senhora. Talvez esta senhora esteja, assim como eu, procurando o Banco de Sangue. Sim, decidi, pela primeira vez em minha vida, doar sangue. Decidi enfrentar o meu medo de hospital, fazendo o bem a alguma pessoa. Ajudando uma ou várias vidas, não sei. Estou ansioso, com aquele friozinho na barriga. Como será doar sangue?

Desço quatro andares e ouço de uma recepcionista muito educada se estou de acordo com certas normas de procedimentos. Para doar sangue é preciso, por exemplo, não ter adquirido alguma gripe recentemente ou não ter feito alguma tatuagem nos últimos 12 meses.
Em outra sala, tenho uma pequenina amostra de sangue tirado de meu fura-bolos esquerdo, para saber se estou anêmico ou não. Também tiram a minha pressão e perguntam o meu peso. Pessoas abaixo de 50kg não podem doar, e aqueles com até 57kg doam 400ml de sangue. Acima deste peso, doa-se 490ml.

Observo as pessoas na sala de espera. Muitos idosos e pessoas simples. Aparentam tranqüilidade, há uma serenidade em seus olhos. Conversam, assistem à televisão e aguardam o momento de serem chamados. Agora estou um pouco nervoso. O clima do ambiente ajuda, não há energia negativa.

Ao ser chamado, respondo um questionário feito por um médico. Responder oralmente se já usei drogas, é umas das perguntas. Em seguida sou encaminhado para um mesário, onde uma urna me aguarda. Lembra uma votação. Engraçado, pois em ambos os casos, eu sinto que estou exercendo a minha cidadania.

Assino o meu nome, e em alguns segundos estou sentado numa poltrona confortável. Uma médica mulata, de sorriso encantador e de nome Ivone, me atende. Já não estou mais ansioso e nervoso. A senhora de jaleco branco conversa comigo, enquanto desinfeta com álcool o meu braço-esquerdo. Passa o algodão sem nenhuma pressa, procurando à veia perfeita. Garrateia com um pedaço de cilindro plástico o braço e, sem perceber, reparo que já estou doando sangue. Vejo aquele meu líquido roxo ir e voltando do pequeno tubo. Abro e fecho a minha mão bem devagar, conforme fui indicado. É uma sensação boa.

Fecho os olhos e começo a acreditar que a vida vale a pena. Com pequenas ações dá para ajudar o mundo, uma pessoa. Será que estou ajudando uma vida? Tomara que sim. Saber que 490ml de sangue "O positivo" contribuíram para ajudar uma vida. Já pensaram nisso?

Recebo um leve cutucão no ombro e acabei de doar sangue. Eu doei sangue. Em apenas sete minutos e alguns segundos, contribui para uma causa. Fui voluntário, e é algo tão simples, fácil e gostoso. Não custa nada, demora pouco e vale muito. Vale sete minutos meus, pode valer a vida de uma pessoa. Não é bom saber disso? Hoje eu não preciso daquele saco plástico de 490ml de sangue "O positivo", mas o que dirá o dia de amanhã?

Saio do hospital, com um lanche na mão e uma serenidade em meus olhos. Tal qual as pessoas da sala de espera.

28 de ago. de 2004

Carne é o que há


Qual é a graça de uma mulher magra, alguém pode me explicar? Tábua, sem peito, sem recheio, sem carne. Há alguma graça? Da finura de um celular, não ter bochecha para apertar, não ter uma gordurinha ali pra pegar. Há alguma graça?

Sempre fui fã das fortinhas. Mulher tenra, gostosa mesmo, sabe? Mulher de capa da Sexy, não da Playboy. A chamada "mulher de construção". Pedreiro sabe o que é mulher de verdade. Para receber um "Ô, lá em casa!", ou algum "Vixi, santa!", a mulher deve ser, digamos, voluptuosa. Magricelas não ganham berros e urros. Elas não estão com nada!

Mulher ruim de garfo é broxante. Eu, por exemplo, não consigo dividir a mesa com alguma enjoada. Estou lá no churrasco e ela na salada. Eca! Há um quê de especial naquela mulher que come pizza com a mão, lambuzando todos os seus manicurados dedinhos. Há sensualidade em se comer com as próprias mãos - bem feitas e aparadas, obviamente.

Rapazes do meu Brasil: esqueçamos as anoréxicas. Deixem essas infelizes acompanhadas de suas ricotas, tofus, alfaces e afins integrais. Sabe aquela gordinha feliz, espalhafatosa? Comece a aprender a olhá-la de outros modos.

Não estou fazendo um movimento pró-musas do Botticelli. Sou fã da famosa cinturinha, mas eu gosto de carne, meus amiguinhos! Como diriam os nossos vovôs, "Quem gosta de osso, é cachorro!". E não me venham com essa de "O que não cabe na boca é desperdício", por favor!

23 de ago. de 2004

Coleções


Adoro gente estranha. Gente com manias estranhas, síndromes e afins. Simplesmente adoro. Fazem um bem danado à pele, rejuvenescem, gente. Nada mais legal do que ter como amigo uma pessoa especial, em especial os colecionadores.

Colecionadores são estranhos. Alguns costumam roubar, veja só. Conheço uma garota que rouba tudo o que encontra num bar. A sua cozinha já tem pôsteres da Bavaria e outro da Antarctica. O pai de uma amiga é mais impressionante. Sabe o que ele coleciona? Pratos, aqueles de sobremesa. Fui no aniversário da filha do meliante e me diverti à beça. O mais disputado era o prato do KFC, que deve ser aquela figurinha mais difícil do álbum.

Colecionador perigoso anda de mochila, já reparam? As mulheres são as piores, graças ao advento da bolsa a tiracolo. Tenho um amigo, que no último dia de aula da oitava série, resolveu roubar o relógio de parede da sala de aula. Esperou o inspetor do corredor dar bobeira para subir na cadeira e arrancar o relógio. Ainda por cima, levou pra casa o apagador, o porta-giz e um pedaço de madeira da carteira em que sentava. Todos bem escondidos na mochila, é lógico.

Colecionadores são pequenos assaltantes em potencial. Quando afanam o objeto alheio, logo usam da velha desculpa: "Ah, sabe como é: é pra coleção". Às vezes, pegam até o que não precisam. Na quinta-série, um aluno roubava as chapinhas Giroflex das cadeiras. Virou moda: todos começaram a usar de compasso e régua em plena sala de aula. A cada chapinha arrancada, comemorava-se feito um gol. Parecíamos mineradores: réguas e compassos serviam de picareta, as cadeiras eram a nossa Serra Pelada. Tal mania acabou quando a diretora deu suspensão para a garotada. Foi divertido.

Quando pirralho, as coleções eram as mais bacanas. Formiga em pote de vidro, quem nunca fez? O episódio mais engraçado foi na terceira série. Plena Copa do Mundo e a pirralhada pirava no brinquinho do Romário (aquele de argola, com uma cruz pequenina pendurada). Pois bem, toda a molecada queria porque queria furar a orelha. Algumas mães deixaram, outras, como a minha, vetaram. Não estar na moda é um saco, porém, é neste momento que a criatividade rola solta. O Tiago, amigo meu daquela época, "inventou" um brinco de pressão. Era assim: sabe aquelas bolsas de avó, com aquelas correntes de argolinhas, uma atrás da outra? Eles dão um belo par de brincos de pressão.

O gênio, o Tiago, simplesmente arrancou a alça da bolsa da sua velha e começou a vender os gominhos para os meninos da sala. Lucrou horrores. Pena que depois devolveu todo o dinheiro para a pobre vovó comprar uma bolsa nova, com a ajuda de dois reais meus. Como fui trouxa.

* Gustavo, atualmente, coleciona CDS. É simplesmente viciado naquelas promoções de CDS a 9,90 reais. Recentemente pagou 12 reais no último CD do Trio Mocotó. Acha que fez o melhor negócio do mundo em tal compra.

19 de ago. de 2004

Tristeza, tristeza


Nessas Olimpíadas, não sei se vibro ou choro. Comemoro, já que nossa natação brasileira conseguiu participar de quatro finais, algo impressionante. Choro, pois percebo cada vez mais que o esporte tupiniquim vai de mal a pior. Dá dó daqueles atletas. Esbanjam alegria, agitam a bandeira e, depois, saem de cabeça baixa - outros vibram, seja qual for o resultado.

Em Atlanta, 96, a participação foi supimpa. Iriam ocorrer vários investimentos, Campinas teria um centro de natação para formar futuros campeões. Isso ocorreu? Nops. Judô, alguém por acaso já viu um torneio de judô sendo exibido? O esporte rende uns bronzes e ninguém dá bola. Deixa os neguinhos de quimono se virarem, procurarem patrocínio.

A situação está tão ruim, que nem atleta gostosa existe. Exceções existem, é lógico. Mariana Brochado e a eterna Ana Paula. O duro é ter que levantar a bandeira pela Edinanci. Orra, trabuco! Nem a seleção feminina de vôlei se salva. Valeskinha? Suplico pela volta da Leila. Nada como a Leila dando umas cortadas e recepções.

Odeio a BAND-SPORTS. Os jornalistas cobram, na cara dura, para os atletas ganharem medalhas. Tenho vontade de atirar naquele Elias Jr. "A Daiane vai trazer a douradinha, o Scheidt não perde nem se estiver de jangada". Poxa, e se eles não conseguirem nada? Vão exorcizar os coitados, tal qual aquele cavalo de nome esquisito do Rodrigo Pessoa em Sydney. E, caso ganhem, vão dar um abraço no Lula e serão convidados para sentarem no sofá da Hebe, contando como é duro ser atleta neste país.

Pena que os vencedores logo serão esquecidos. Pelo menos por quatro anos.

16 de ago. de 2004

Querido leitor,
Estou demorando pra atualizar este blog, tô não? Peço desculpas àqueles poucos loucos que sempre me encheram de comentários a cada história contada por este sujeito. A verdade é que ando meio cansado, sem vontade de escrever, parece que existem muitas coisas prioritárias agora.
Ando escrevendo quando dá na telha. Quero fazer outras coisas, mudar um pouco. Até estou empolgado com certos trabalhos da faculdade. Elaborar uma revista, fazer uma crônica para o jornalzinho. Ainda quero aproveitar um pouco mais São Paulo, conhecer mais de tudo e de todos. Tenho uma ótima companheira de aventuras. Irena, você é o meu Toddynho.

Quero, de uma vez por todas, perder esta maldita saliência abdominal. Estou sedentário, vivo resfriado e doente. Um pouco mais de luz em minha vida esportiva. Chega de promessas, seu falso gordo de araque. Resista aos quitutes de vovó Antonieta.

Ano passado decidi que seria o meu ano para a escrita. Agora estou dedicando-me a leitura. Maravilha, rapaz! 12 ou 13 livros até agora. No momento, entrego-me às palavras de Fernando Morais, com o seu grandão - porém bacanudo - Chatô, O rei do Brasil. Pretendo, até ao término do ano, chegar aos 24. Número lindo, eu sei, mas representaria dois livros por mês. É uma marca satisfatória.

Fica decidido assim, rapaziada: venho cá e publico algo, mas não com a freqüência de outrora. Façam algo de proveitoso enquanto isso. Beijem, trepem, vão perder aquelas gordurinhas indesejáveis. Assistam às Olimpíadas, que é bem legal. Falando nisso, quase escrevi no sábado que aquela tocha parecia um baseado de Itu, mas o Kibe Loco sacou primeiro. Miserável.

12 de ago. de 2004

Caso de internação
Estou começando a me considerar uma pessoa hipocondríaca. Estranho, pois fui criado num lar, cuja matriarca era médica. Bastava um resfriado, uma dor de cabeça, qualquer sinal de anormalidade, para consultarmos à "farmácia". A "farmácia" era uma caixa de madeira, entupida de caixa de comprimidos. Devia ter te tudo lá, inclusive alguns famigerados "tarjas pretas". Bons tempos.

O pessoal da faculdade, e da casa de vovó, ficam impressionados com a minha facilidade para enfiar um comprimido goela abaixo. Na minha mochila, há uma mini-filial da "farmácia". "Este é caso eu tenha dor de garganta, aquele outro é a vitamina, aquela caixinha é o meu Sorine...". Olhos assustados, e demorei a entender o porquê da repulsa por minha pessoa: sou hipocondríaco.

Fico assustado e neurótico com alguma dor muscular. Penso em correr à prateleira e logo tomar um Dorflex. Resfriado - algo comum se tratando de São Paulo - chega a ser uma tentação. São tantas as opções, que o vício piora. Loranil D, Claritin, Alegra, Biofenac, Viox, Daisy... Sei até a potência de cada! "Este é bom pra inflamação na garganta, já aquele tira o mal estar do corpo...". Gente, alguém me ajuda!

Até o momento, estou me automedicando (a coisa me persegue). Parei com tudo, apenas continuo com a vitamina. Decidi viver no século 18. Bebo um chá quente, durmo bastante, tomo um caldinho de feijão. Qualquer coisa para estar longe dos comprimidos. São uma droga aquelas pílulas malditas, e vicia mesmo! O Sorine vem sendo o pior. Como resistir ao maldito ar da paulicéia? Descolei um inalador com a vovó e caso eu pare de respirar, é só pegar aquele aparelho e enfiar o nariz na máscara. Daqui a pouco vicio nisso também...

Tinha um sujeito que estudava comigo, e ele era hipocondríaco de carteirinha. Na própria formatura o danado não foi, alegando estar com uma bola da garganta. Outra vez - dizem as más línguas - ele levou a travessa de água de seu cachorro para o professor de Biologia. Reza a lenda que ele havia achado um mosquito estranho na água, e logo supôs ser um caso de dengue. A travessa era para ser examinada no laboratório da escola!

Pense positivo, Gustavo. Você ainda tem esperanças. Só fique longe da travessa do cachorro, só isso.

9 de ago. de 2004

Hoje é o seu dia, que dia mais feliz


Oxê! 19 anos não são completados todo o dia. Sinal de que estou ficando velho. Alguns fios de cabelos começam a cair com mais freqüência, ganho uma forte saliência na região abdominal. Estou ficando velho, vejam as irmãs Olsen. Uma daquelas garotinhas que cresceram comigo está internada numa clínica de desintoxicação. É o tempo passando.

Mas estou feliz, rapaziada! Ainda não estou broxa, ora pois! Tenho muita vida a seguir, muitos sonhos e desejos a serem concretizados. Falta muito para Gustavo se declarar inválido. Sinto que devo prestar para alguma coisa. Quero muito ter um emprego, um apartamentinho básico. Nada pomposo, luxuoso. Quero tudo simples e no sacrifício, pois assim é mais gostoso.

Estou feliz. Estudo na cidade que gosto, tenho excelentes novos e velhos amigos e ostento uma namorada bacanuda. Estou feliz. Seria muito pedir algo mais para o Tio de riba. Some deixe a continuar tendo boas notícias por esses próximos 365 dias, meu camarada! Já se foi o tempo de chorar. Vou deixar a vida me levar, já dizia Zeca. A vida vai levando, mas corro atrás do que quero. Simbora, negada! A vida é boa, meus queridos; basta acreditarmos.

Parabéns para mim!

6 de ago. de 2004

Um caipira na Paulista


O ápice de minha estada em São Paulo aconteceu hoje, em pleno horário de almoço, em plena Avenida Paulista. Estava eu, no ponto de ônibus em frente ao Conjunto Nacional, esperando a minha condução. Olha pra lá, procuro algum ônibus laranja, observo algumas pessoas, faço algum passos de dança sem sair do lugar e cutucam o meu ombro. Viro.

- Olá, moço! Aqui por acaso passa o (ônibus) Barra Funda?
- Opa! Passa sim! , disse numa rapidez, um quase reflexo do meu cérebro.

Continuei a minha dança imaginária e dei uma refletida. Cacete! , pensei. Estou ajudando alguém a se achar em São Paulo! Um singelo soco no ar foi a minha contida comemoração. O quê? O pé de barro aqui dando uma de guia na capital? Ah, que maravilha! Na empolgação, fui ajudando tanto, que só faltava eu estar usando uma batina. Voltei-me ao senhor que pedira a informação e continuei.

- Oi! O senhor que ir apenas para a Barra Funda?
- Hein? Como?
- O senhor vai só pra Barra Funda?
- Não... Eu vou até a Cardoso (de Almeida).
- Ah, legal. Pois o senhor saiba, que além do Barra Funda, os ônibus Edu Chaves e Vila Brasilandia fazem o mesmo trajeto do Barra Funda.
- Poxa... Obrigado mesmo. Estou grato pela explicação.

Dei um tremendo sorriso de "Qualé, tio! O garoto aqui manja, dá licença?!". Mal olhei para a avenida e recebo um leve cutucão no ombro esquerdo.

- É... Não pude deixar de ouvir a sua conversa, e já que o senhor é tão educado, você me dizer qual o ônibus que passa pela Cerro Corá?

Não acreditei. O que estava acontecendo com o mundo? O irônico é que eu também sabia dar a informação para a senhora. Com uma ereção moral, respondi:

- O Parque Continental e o Rio Pequeno passam. Eles passam direto por aqui.

A mulher me fitou com uma satisfação tremenda. No mínimo pensou "Nossa, taí um tremendo paulistano que conhece a cidade inteira!". Confesso que também comecei a me achar assim. Quem sabe os dois senhores não lembrem algum dia daquele garoto de cabelo vermelho e bagunçado, que sabia tudo de São Paulo? Quem sabe?

Mal sabem eles a farsa que apliquei. Conheço o trajeto dos ônibus da primeira informação, pois estudo, coincidentemente, na rua paralela a Cardoso de Almeida. Já no segundo caso, os ônibus aos quais eu me referi, são exatamente os mesmos que pego para poder chegar em casa. Dei uma sorte tremenda.

Mas que o caipirão aqui se sentiu a última bolacha do pacote, ah, isso ele sentiu. E gostou, tá?


** Gustavo, apesar de tudo, é paulistano. Odeia quando o chamam de pé de barro, pé vermelho e caipira. Ninguém perdoa a fato dele ter morado 14 anos no interior paulista.

4 de ago. de 2004

Momento ombudsman

De vez em quando, recebo alguns emails de alunos de outras faculdades de comunicação. A maioria fala sobre reuniões, palestras e eventos futuros. Juro, nenhum dos milhares de emails recebidos se compara ao que veio hoje a minha caixa postal. Leiam à pérola:

Aos amigos e companheiros:

Atenção, repasso aqui a data de reunião da Regional de São Paulo.
Para os que não sabem, a maioria, existe um executiva nacional dos estudantes de comunicação social. O chamado ENECOS. Que reuni estudantes, CAs e DAs de comunicação pelo país.
Nós da Metô, temos que entrar nessa discução com toda certeza. Devemos espalhar esta boa nova em nossa universiade. Aos estudantes de comunicação e principalmente aos estudantes de jornal, com seu Novissimo CA e os alunos de RTV (que estão mais que bicudos para ter montado o estatuto para iniciar eleição emergencial em 2004),
Bom segue abaixo a data da reunião para darmos as caras. a regional é de todo o estado de são paulo creio eu, por tanto quem puder espalhar a notícia para amiguinhos de outras universidades, faça-o com fé.

Estamos ai...
Luiz RTV 4o semestre manhã METÔ!!!!

2 de ago. de 2004

Não quéio, não quéio!


Será que eu sou cabeça dura? Tenho esta leve impressão há certo tempo, e, hoje, ouvi tal afirmação saindo da boca de uma pessoa. "Gustavo, você é muito cabeça-dura!". Eu? Por quê? Ah, porque tenho certos hábitos, manias e pré-conceitos de garoto mimado. Tal alcunha - ser teimoso - é bem aplicada na hora de almoçar ou jantar.

Desde pequerrucho, sou enjoado. Qualquer coisa verde e gelada posta em meu prato era motivo pra ergh. "Come cenoura, querido. Faz bem pros zóio", dizia a minha nona caipira. Legumes e vegetais sempre me causaram certo enjôo. Ameaçavam-me muito, faziam profecias. Já era para eu ter morrido de anemia há muito tempo, segundo as previsões de Papaistradamus. Pizza? Massa com molho. Hambúrguer? Pão, carne e maionese. "Especial pra você", vinha escrito na caixinha do McDonald?s. É gostoso ser chamado de especial, ora bolas!

Não experimentava as comidas por birra mesmo. Nem aviãozinho funcionava.
Se não ia com a aparência daquilo exposto à minha a minha frente, eu não comia mesmo. Com o passar do tempo, melhorei um pouco, mas, por exemplo, ainda renego à comida japonesa. Não há santo que faça enfiar um treco daqueles pro meu estômago. Benfazejas ainda existem, como a Irena, por exemplo.

Toda mãe tem ciúmes da namorada do filhote. "Vai tomar o meu lugar, sua mocréia?", algumas filosofam. Também, quem pediu pra 15 anos mais tarde, uma garota, sentada na mesma mesa que a sua, pegar um tal de sashimi de salmão, molhar no shoyu e brincar de aviãozinho? Ainda por cima, solta a frase campeã: "Abre a boquinhaaaaaaa!". Rapaz, é quase impossível não materializar a sua genitora naquele momento. Faço berreiro, tal qual estivesse no chiqueirinho e visse uma colherada de sopinha de legumes plainando. "Não quéio, não quéio!".

Acabo experimentando, visto que as namoradas possuem maneiras de persuasão bem eficazes. Dou uma mastigada. Duas mastigadas. Passo o peixe cru para o outro canto da boca. Terceira mastigada. A expressão da patroa é impressionante. Dá aquele sorriso sincero e que diz com tanto orgulho: "esse é o meu garoto". Engulo o pedaço de salmão e fico quieto.

- Gu...
- Hummm.
- E aí?
- Que foi?
- Gostou?
- Do quê?
- Você sabe.
- Não sei de nada...
- Gostou. Sabia!
- É...

Fico sem palavras, sinto-me pusilânime (obrigado, Paulo Bonfá), e confesso: sim, gostei. Apesar de mole e estranho, até que é gostosinho. Já o sushi, não teve jeito: achei horrível. Mas outras experiências gastronômicas me aguardam pela frente. Devo fazer o mesmo com a namorada. Experimentará com toda a sua graça e pompa, um tradicionalíssimo churrasquinho de gato. Irá adorar.

30 de jul. de 2004

Quer ser o meu amiguinho?



Credo! Como este tal de Orkut é viciante! Mania de xeretar a vida dos outros, procurar conhecidos de outros tempos, ser - quem sabe - amigo de alguém famoso. Existe alguém não entregue ao tal programinha?

Quando me convidaram pela primeira vez, resolvi não abrir o email. Não sabia o que "orkut" significava e logo julguei ser algum vírus de nome terrorista. Convidaram novamente e mais uma vez não aceitei. O tal "vírus terrorista" insistia em adentrar o meu micro. Eis que matérias e mais matérias pipocam nos telejornais e revistas. "Panelinha Virtual!", foi o título dado. Colunistas favoritos escrevem linhas e elogios à geringonça. Porra! Alguém me arranja um convite pro Orkut?

Já sabendo do que se tratava, agora aceitara a intimação e era mais um brasileiro cadastrado no site. Tentei logo entender sobre o que era o bichinho e acabei broxando. Nada de mais, acreditei. Ignorei. A namorada entra na comunidade e faz altos elogios. "É uma belezaaaa! Achei amigos do arco da velha e existem muitas comunidades muito legaaaaiiis!". É mesmo? Fucei de novo no Orkut. Viciei.

Sou voyeur, bisbilhoto a vida dos outros. Quero saber o que fulano gosta de ler e ciclana adora assistir. Pratos prediletos, interesses pessoais... É muito bacanudo! Tenho poucos amigos no danado e adoro as comunidades. Faço parte de três sensacionais: Air Drumming; Nós Adoramos o Xico Sá e Eu Odeio a Sarah da MTV. Ótimo saber da existência de indivíduos que compartilhem gostos em comum.

Dá até pra ser amiguinho daquela celebridade. Quase bati um papo com a anoréxica da Yasmin Brunet. Vou tentar pedir um estágio pra Nina Lemos ou pro Lúcio Ribeiro. Será que consigo? Talvez a história mais engraçada do Orkut venha do famigerado Léo Jaime (aquele que fez a Monique Evans ter um orgasmo pela primeira vez). O cantor gordinho já arrebatou mais de mil amigos no Orkut. Como o programa só aceita até mil friends por pessoa, Léo acabou fazendo um outro cadastro em seu nome. Chama-se "Léo Jaime 2".

É a internet e suas maravilhas. Tornou-se possível até abrir franquia de si mesmo.