7 de set. de 2004

Virando hominho


Lá pelos 12 ou 13 anos, descobri algo que todo pré-adolescente sonha em ter: uma espinha. A espinha é o elo entre os meninos e meninas. A partir do nascimento daquela criatura amarela e cheia de pus, podemos ser chamados, oficialmente, de garotos, garotas, ou, como preferimos, adolescentes.

Não sei dizer qual foi o dia em que eu percebi que era um teen. Talvez quando os primeiros pelinhos começaram a nascer sobre o meu lábio, talvez após a primeira masturbação. É algo difícil de dizer, veja só. Se não estou enganado, uma menina vira garota logo após a menarca, é isso? E os rapazes? Espinha, bigodinho ou bronha?

Acredito, realmente, que a primeira vez em que me senti "adulto" foi quando comprei a minha primeira Playboy. 14 anos, oitava série, Tiazinha. Ah, Tiazinha! Aquela máscara e aquele chicotinho são inesquecíveis. Apesar de ainda não ter pêlos nas pernas ou barriga, o meu sonho era ser depilado pela guria, deitado naquela poltrona. Tudo pelo rebolado daquela morena.
Eu morria de vergonha da Playboy adquirida. Escondia-a no armário, dentro dum fichário antigo.

O tempo passava e a sem-vergonhice aumentava. Resultado: não cabiam mais Playboy no maldito fichário. Decidi que teria de me desvencilhar de uma de minhas musas. Tiazinha, jamais! As Sheilas? Nem pensar: duas pelo preço de uma. Feiticeira? Tá louco! Acabei optando pela musa mais magricela e sem graça: Deborah Secco. Ela não tinha retaguarda nem comissão de frente (já hoje em dia...), por isso a minha decisão não foi muito complicada e sofrida.

Enfiei a revista embaixo da camiseta e logo procurei um lixo. O maldito do vigia da rua estava de botija em mim. Desisti e caminhei mais um pouco. Avistei um terreno baldio e não pestanejei: "Bye, bye, Deborah!". Puxei-a da camiseta, enrolei-a e... Nada. Morri de dó, tadinha! Gastara quase dez reais numa Playboy e este acabaria sendo o seu destino? Grama e estrume? Nem pensar!

Sorte a minha (e da pequena Deborah) que um mendigo, vulgo morador de rua, estava passando por aquelas bandas. Saquei a Deborah, agarrei o sujeito e exclamei: "Toma, fica pra você!". Ele deu uma olhada, procurou algum vestígio duvidoso e, logo em seguida, fez um sinal de positivo, agradecendo: "Valeu, garoto! Esta é das boas!".

Jamais esquecerei desse dia. Foi o meu primeiro trabalho beneficente.

Nenhum comentário: