22 de nov. de 2004

Um curinga


Eu sempre tive asco a baralho. Aquelas cartas com corações, paus, ouros e espadas. Ainda acha o valete com cara de viado e não entendo a lógica do truco. Truco? Eita coisinha besta, coisa de pobre em feriado quando junta os primo e chegados e decidem passar o final de semana em Mongaguá. Eca!

Brincadeiras a parte - muito por ter raiva de não entender patavina de truco - confesso que há cinco anos venho me fazendo uma promessa a cada primeiro de janeiro. Pulo as ondinhas (tomando cuidado com os barquinhos de Iemanjá) e filosofo: "Gustavo, esse ano tu crias vergonha e aprende essa merda de jogo estúpido". Mas não adianta, pareço tia gorda fazendo promessa de regime para pegar casamento: ainda não sei jogar o maldito jogo de cartas preferido dos brasileiros.

Sei lá, sou meio disléxico com um baralho em minhas mãos. Não consigo fazer aquele esquema de ter não sei quantas cartas numa mão e ao mesmo tempo não deixar ninguém xeretá-las. Sou um péssimo jogador. Ao menos me viro jogando os clássicos: Detetive e Porco. Para ser arrogante, jogo Uno (um jogo de cartas italiano que qualquer macaco bem treinado também joga).

Baralho já me ferrou em diversos simulados do cursinho. Sabe aqueles exercícios de probabilidade? Num baralho tem 53 cartas, sendo um o curinga. O três de copas é tirado e não sei o que é feito. Calcule a probabilidade de sair alguma coisa. Eu pirava, logo pulando para outro exercício de probabilidades que envolvessem dados. Dados foram a minha salvação!

Por coincidência estou lendo um livro que tem em seu enredo algo sobre baralho. O Dia do Curinga é o nome da obra. O danado do Jostein Gaarder é tão bom (vide O Mundo de Sofia) que fez eu ter vontade de aprender a jogar qualquer coisa envolvendo cartas. Até rola uma metáfora por trás do jogo: porque só existe um curinga no baralho? Daí há uma aula de filosofia. Curinga é o diferente, aquele que não se mistura à boiada e tal. Não é alienado, procura não ser um mero observador ou consumidor...

Taí, gostei! Denomino-me agora um curinga - apesar de estar louco para me juntar as outras 52 cartas, e aprender logo a jogar essa porcaria de truco!

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