23 de ago. de 2004

Coleções


Adoro gente estranha. Gente com manias estranhas, síndromes e afins. Simplesmente adoro. Fazem um bem danado à pele, rejuvenescem, gente. Nada mais legal do que ter como amigo uma pessoa especial, em especial os colecionadores.

Colecionadores são estranhos. Alguns costumam roubar, veja só. Conheço uma garota que rouba tudo o que encontra num bar. A sua cozinha já tem pôsteres da Bavaria e outro da Antarctica. O pai de uma amiga é mais impressionante. Sabe o que ele coleciona? Pratos, aqueles de sobremesa. Fui no aniversário da filha do meliante e me diverti à beça. O mais disputado era o prato do KFC, que deve ser aquela figurinha mais difícil do álbum.

Colecionador perigoso anda de mochila, já reparam? As mulheres são as piores, graças ao advento da bolsa a tiracolo. Tenho um amigo, que no último dia de aula da oitava série, resolveu roubar o relógio de parede da sala de aula. Esperou o inspetor do corredor dar bobeira para subir na cadeira e arrancar o relógio. Ainda por cima, levou pra casa o apagador, o porta-giz e um pedaço de madeira da carteira em que sentava. Todos bem escondidos na mochila, é lógico.

Colecionadores são pequenos assaltantes em potencial. Quando afanam o objeto alheio, logo usam da velha desculpa: "Ah, sabe como é: é pra coleção". Às vezes, pegam até o que não precisam. Na quinta-série, um aluno roubava as chapinhas Giroflex das cadeiras. Virou moda: todos começaram a usar de compasso e régua em plena sala de aula. A cada chapinha arrancada, comemorava-se feito um gol. Parecíamos mineradores: réguas e compassos serviam de picareta, as cadeiras eram a nossa Serra Pelada. Tal mania acabou quando a diretora deu suspensão para a garotada. Foi divertido.

Quando pirralho, as coleções eram as mais bacanas. Formiga em pote de vidro, quem nunca fez? O episódio mais engraçado foi na terceira série. Plena Copa do Mundo e a pirralhada pirava no brinquinho do Romário (aquele de argola, com uma cruz pequenina pendurada). Pois bem, toda a molecada queria porque queria furar a orelha. Algumas mães deixaram, outras, como a minha, vetaram. Não estar na moda é um saco, porém, é neste momento que a criatividade rola solta. O Tiago, amigo meu daquela época, "inventou" um brinco de pressão. Era assim: sabe aquelas bolsas de avó, com aquelas correntes de argolinhas, uma atrás da outra? Eles dão um belo par de brincos de pressão.

O gênio, o Tiago, simplesmente arrancou a alça da bolsa da sua velha e começou a vender os gominhos para os meninos da sala. Lucrou horrores. Pena que depois devolveu todo o dinheiro para a pobre vovó comprar uma bolsa nova, com a ajuda de dois reais meus. Como fui trouxa.

* Gustavo, atualmente, coleciona CDS. É simplesmente viciado naquelas promoções de CDS a 9,90 reais. Recentemente pagou 12 reais no último CD do Trio Mocotó. Acha que fez o melhor negócio do mundo em tal compra.

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