21 de jun. de 2004

Meus sais...

Quando volto pra São Paulo, eu tenho a audácia de pegar um ônibus às cinco horas da matina. Tudo para aproveitar um pouco mais o final de semana em casa com a família e escapar do estressante trânsito da marginal Tietê. Eu faço tal loucura quase toda semana.

Como tem neguinho se acotovelando para pegar ônibus nesse horário (existem mais loucos neste mundo), mama ou papa compram à passagem no domingo. Já deixo uma condição: um lugar que não seja na frente do busão.

Existe alguém na face da Terra que goste de sentar nas primeiras poltronas de um ônibus, tirando velhos e crianças pentelhas? É impressionante! Aqueles garotinhos de cabelo tigelinha são uns horrores. Perceba que eles têm algum problema no cerebelo, porque os lazarentos nunca ficam na posição certa. Ao invés de ficarem sentados, viajam ajoelhados e olhando para o fundo do ônibus (leia-se: você). Fazem caretas e, quando são pestes mesmos, implicam com o livro que você lê.

- O que você tá lendo?
- Um livro...
- Sobre o que é?
- Crônicas.
- O que é isso?
- Histórias.
- Sobre o quê?
- A vida...
- Vida de quem?
- ... De garotos chatos que fazem muitas perguntas e morrem por isso!

Eu não tenho muita paciência em ônibus. Vide quando senta algum idoso na minha frente. Deixo claro que adoro velhinhos e não tenho um puto de preconceito. Mas velho em ônibus é uma desgraça. Estão sempre com sacolas de compras, podem reparar. Quando sento na poltrona do corredor, levo sempre umas sacoladas na cabeça. Ainda levo bronca. Pior quando vai um casal de velhos.

- Pedi pra você não pegar lugar na frente!
- Só tinha aqui, não enche o saco!
- Ai, após 40 anos você continua um grosso!
- Você que só sabe reclamar!

Eles se ajeitam na poltrona.

- Quer deitar a poltrona? Peraí...
- Não tá indo, falei que não era pra sentar aqui!
- Calma...
- Tá quebrada, tá quebrada! Tudo é uma porcaria!
- Não tá indo...
- Também, você não tem força nem pra levantar a sua bunda do sofá!

A velha pede para uma pessoa mais jovem (eu). Reclino a poltrona e recomeça a prosa.

- Fecha a janela! Estou com dor de garganta.
- Morre duma vez...
- Cala sua boca! Ei! Que cheiro é esse na sua roupa?
- Que cheiro?
- Isto... (cheira). Você comeu mexerica às cinco horas da manhã??
- É...
- Mas é um velho sem vergonha!
- Você está fedendo laquê e Leite de Colônia e eu tô quieto...
- Como é que é??

E continua, e continua...

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