6 de mai. de 2004

Nessa bumba eu não ando mais...


Lá vem ele. Aguardo. Olho para os lados e vejo meus competidores. Faço cara de feio, dou cotoveladas, não deixo ninguém ficar perto de mim. Chegou. Um, dois, três... VAI! Japonesa aloprada disparada na primeira fila, tiozinho de terno e gravata joga sujo para conseguir o segundo lugar, malas e bolsas voam pelos ares, Gustavo assume a ponta e ultrapassa a japonesa aloprada; vou ganhar a disputa, vou ganhar a disputa... (músiquinha da vitória). Rá! Aponto o dedo para meus adversários. Nhém, nhém trouxas! Olho para o cobrador e pago a passagem. Logo, logo começa o segundo round.

Pára. Novos competidores entram para tomar meu lugar. Seguro na barra e daqui ninguém me tira. Aperta daqui, empurra de lá. Nessas horas agradeço a Papai do Céu por ter me dado a graça de ser um garoto alto. Consigo deixar os baixinhos para trás numa boa. Três fortes inimigos tentam tirar o meu lugar. “Licença, aí, mano!”, escuto. Não dou bola e finjo-me de surdo. Recebo uma encoxada e quase sou jogado para cima duma senhora sentada. Sempre existe o Schumacher, que faz de tudo para ganhar – inclusive, jogar sujo. Xingo-o. Perdi o meu lugar. Economizo energia para o terceiro round.

- Não cabe mais! Não cabe mais!
- Toca pra frente, motorista!
- Isto aqui parece coração de mãe; sempre cabe mais um.

Dou risada, aproveito o vacilo do Schumacher e consigo me encaixar perto da porta de saída. Não passa mais uma agulha, de tão apertado e apinhados que estamos. Bacana que desodorante deve ser algo que ninguém conhece. Faço de tudo para tentar conseguir uma fresta de ar.

- A mulher tá passando mal. Acode!
- Alguém tem água?
- Toma!
- Melhorou?
- Valeu!
- Toca pra frente, motorista!

No terceiro round, só os mais fortes sobrevivem. Estamos prestes a descer uma ladeira da Vila Romana.

- Segura...
- O quê?
- SE-GU-RA!
- Que foi?
- Ooooooopa!

Lembramos pinos de boliche. Um garoto quase faz um strike perto da catraca.
- Nossa! Machucou?
- Não foi nada. Ainda bem que a tia é gorda.
- Como é que é?

Pegar ônibus na Avenida Paulista é assim, caros leitores. De noite nem se fala.

Ainda bem que existe um motivo muito bom para eu ter que passa por isto. Ainda bem que existe...

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