2 de mai. de 2004

Ah, o cinema brasileiro

Estou seriamente pensando em fazer um boicote aos filmes brasileiros. Após Cidade de Deus, voltamos a ficar em voga no âmbito mundial. Patrocínios, holofotes e pediram mais verbas pro titio Gil. “Este é o nosso momento”, alguém deve ter pensado. Se for o nosso momento, então que se faça justiça. Conto nos dedos os bons filmes brasileiros que assisti nos últimos meses.

Chega da “Síndrome Vidas Secas”. Nordeste e mais nordeste. Fome, seca, o cabra quem almeja vir pro sudeste. Não agüento mais! Veja como é linda a fotografia de filmes nordestinos. Tudo muito colorido, ensolarado; a lua parece ganhar vida própria. Ah, nada como terra e suor para abrilhantar a nossa pátria. Cineasta brasileiro parece ter tesão pelo nordeste, mostrando o sofrimento alheio. “Aí, meu fio. O suor de sua testa dá um contraste porreta com a iluminação!”. Assim vejo um diretor tupiniquim conduzindo seus atores.

Realidade nacional? Ora! Até parece que mostrando uma criança desnutrida trará algum resultado. Quem liga pra isto, se a fotografia é tão bela? Onde foi parar a famigerada criatividade do brasileiro? Lisbela e o Prisioneiro, Uma Onda no Ar, O Invasor e O Homem que Copiava são exceções. Guel Arraes, Beto Brant e Jorge Furtado dão um banho de humor e originalidade. Por que filme brasileiro só mostra sofrimento e dor?

Amarelo Manga é sofrível de assistir. De dez palavras, uma é “puta que pariu” e a outra é “merda”. Isto sem contar que do nada me surge uma mulher levantando a saia e mostrando a perseguida, com direito a close e tudo. Versão repaginada de nossa pornochanchada. Amarelo Manga daqui um tempo vai rechear a programação de madrugada do Canal Brasil. Lastimável. Pior que Amarelo Manga, só O Caminho das Nuvens. Este é um tremendo exemplo da "Síndrome Vidas Secas". Além de ruim, o filme poderia se chamar "The Best Of Roberto Carlos". Durante quase uma hora e meia somos bombardeados com as velhas e chatas cantigas do rei.

Por que de cada cinco filmes, quatro são com o Matheus Nachtergaele? Bom ator, mas será que só existe ele? Cansei de vê-lo fazendo papel de biba ou algum personagem nordestino. Por que somos obrigados a agüentar atores da Rede Globo no cinema? Já não basta na televisão?

Ok, titio Marinho que patrocina, compreendo. MO.NO.PÓ.LIO, não é assim que se escreve? Por que a Petrobrás faz tanta questão de mostrar que ela incentiva a cultura? Cinco minutos de propaganda nos filmes. Quem vê, pensa que só existe posto de gasolina deles por aqui. A Petrobrás apóia nosso cinema e fode com o nosso meio ambiente. Farei um documentário sobre os milhares de prejuízos ambientais de seus “vazamentos acidentais”. Será que eles patrocinam a minha empreitada? Prometo que a película será rodada em algum manguezal do nordeste e contará com uma bela fotografia.

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