19 de abr. de 2005

A inspiração está na cucuia e a criatividade foi-se embora. Feriado prolongado se aproximando, sabe como é... Enfim, deixo cá um texto que escrevi na faculdade.

Racismo no futebol

Quarta-feira, dia 13 de abril, Estádio do Morumbi. São Paulo contra Quilmes, a famosa rivalidade Brasil versus Argentina. Em uma ríspida dividida no ataque tricolor, o atacante Grafite empurra o zagueiro Desábato, do clube argentino. Para quem acompanhava o prélio nas arquibancadas do estádio, pouco se entendeu. Ao ser expulso pelo árbitro, dezenas de repórteres correm em direção ao brasileiro que, nervoso, sai do gramado em direção ao vestiário, sem dar explicação alguma.

No segundo-tempo da partida, a torcida uniformizada Independente começa a gritar, ecoando Morumbi afora. "Ei, racista! Vai tomar no...". Ao ver o lance pela televisão, descobre-se o motivo da expulsão de Grafite; Desábato o havia xingado chamado de negro. Em algo nunca visto nos campos nacionais, ao término do jogo o atleta estrangeiro ouve do delegado seccional da Polícia de São Paulo, Dejar Gomes Neto, o mandato de prisão. Desábato é acusado de racismo.

Nos últimos meses, o racismo no futebol vem se tornando algo corriqueiro, principalmente nos gramados europeus. O camaronês Samuel Etoo?, do Barcelona, ouve freqüentemente, da torcida adversária, imitações de macaco, assim que toca na bola. O brasileiro Roberto Carlos é outro que já passou por tal situação. No final de semana, o goleiro Carlos Kameni, do Espanyol, foi atingido por uma banana ao defender uma cobrança de pênalti. Ele também é camaronês.

Tal manifestação é comum no futebol. No livro Febre de Bola, o escritor Nick Hornby condena a torcida do Arsenal, clube britânico, por xingar atletas de macacos em jogos da década de 80. Dentro do próprio campo a situação é a mesma. Para irritar e tirar a concentração de Pelé, vários beques o xingavam de negro ou carvão - o que nunca deu certo, por sinal. O rei do futebol respondia com gols. Tostão, campeão mundial pela seleção canarinho e colunista da Folha de S.Paulo, afirma que o que Desábato fez é parte do futebol. "Difamar ou provocar atletas adversários é corriqueiro, não um exemplo de ato racista", escreveu.

O que aconteceu no Brasil é muito mais uma forma de mostrar ao mundo que aqui se faz justiça. Racismo tem manifestações muito piores às sofridas no Morumbi. O próprio Grafite já afirmou, há alguns meses, que vira-e-mexe a polícia o pára dirigindo. O atleta são-paulino dirige um automóvel importado. Ao se ver um afro-brasileiro em uma situação dessas, logo se julga que a pessoa dentro do veículo é ladrão ou traficante. Isso não é apenas a visão policial, a sociedade brasileira enxerga com os mesmos olhos.

Em um país cuja miscigenação é enorme, chega a serem estúpidas tais manifestações preconceituosas. Atores negros que atuam na maior rede de televisão nacional são sujeitados a papéis de motoristas particulares ou empregados domésticos. É hipócrita dizer que a punição de Desábato reflete o sentimento de justiça nacional. O que se espera com o caso é que ele sirva de exemplo e influencie outros julgamentos futuros.

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