23 de abr. de 2005

Pusquê

Um dos comediantes mais engraçados - e injustiçados - da última década é o cearense Tiririca. Sou muito chato para rir de alguma coisa, ainda mais com comediantes nacionais. O que eu não gosto muito da comédia tupiniquim é aquela história de "fulano é demais porque imita sicrano". Para alguém ser cômico em nosso país é necessário que ele imite alguém, já notaram? Basta saber imitar o Clodovil, Galvão Bueno, Sílvio Santos, Lula... É muito mais do mesmo.

A Meca do humor nacional tem região e tudo: Ceará. Renato Aragão, Tom Cavalcante e, recentemente, Wellington Muniz, do Pânico, são oriundos de lá. Com a exceção do Trapalhão, a grande maioria se destaca pelo dom da imitação, desde o tom da voz, às vestimentas ou pelos trejeitos. Batata! O que eu sempre curti dos Trapalhões, Falcão e do Costinha era que eles não precisavam mudar e criar outros personagens para se consagrarem no humor, como sempre fez o Chico Anísio. Todos vão lembrar do Mussum e seus "cacildis", da risada inconfundível do Zacarias, da banguela do Tião Macalé e do microfone aéreo do Costinha. Já basta, para que tentar ser mais cômico que isso?

E é nesse contexto que Tiririca se encaixa, graças à sua idiossincrasia, à sua figura imitável. Todos o manjam: o chapéu tosco, a calça apertada, a peruca ridícula e o ralo bigode de latin lover. E deu certo! Ele não precisa se reinventar a cada momento. Agora ele parece que voltou a estar na moda, usando do mesmo artifício do passado. Ao pôr um álbum de forró no mercado, somente com letras de duplo sentido, o chamado "forró malícia", o cearense lançou uma música Tikin, que não promete ser uma nova Florentina, mas mostra que ele sabe o que é ser engraçado.

Qualquer entrevista com o Tiririca rende, podem anotar. Ele não precisa se jogar no chão para arrancar aplausos ou se contorcer para atrair risadas; ele conta histórias. Poucos sabem usar de contos para atingir o humor, fato que o comediante usa com muito jeito. Por isso que eu adoro aqueles americanos fazendo "stand-up comedy", pois dificilmente há plágio entre eles. Lógico que existem algumas cópias parecidas de humor, mas ninguém conta a mesma piada ou imita o mesmo personagem público e caricato - por isso que eu acho um tédio um show do Cavalcante ou do Ari Toledo.

Tiririca fica na dele, sabe rir de si mesmo e, fato ralo entre comediantes, não é metido à estrela. Vi agora pouco uma matéria com ele que, ao ser perguntado como foi a sua primeira transa, respondeu que a sua parceira sexual não era de falar muito, que disse apenas uma frase ao término do coito. "Qual?", perguntou o entrevistador, curioso.

Com maestria, Tiririca respondeu todo sério, honrando a tradição dos virgens nordestinos:

- Béééé!

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