27 de fev. de 2004

Olha o auê!

Mama sempre me ensinou a arte de discutir, armar um barraco. “Gu, se algo não está certo, não aceite. Brigue pelos seus direitos”. Não, leitor. Isso não é influência do gordinho do último post. São apenas grandes ensinamentos da mamãe Miller.

Eu nunca briguei – corpo a corpo – na vida. Sempre fui pacífico. Bem, a única pessoa com quem eu brigava (e apanhava) era de meu irmão mais velho. Como ele era muito maior que eu, aprendi que brigar não é uma boa idéia: discutir é mais bacana.

Eu não tenho pavio curto, sou até "meio zen". Mas quando o caboclo desce não tenho dúvida nenhuma. Falo mais alto e solto mais palavrões do que um episódio do The Osbournes. Eu nunca ofendo a pessoa pessoalmente, a não ser que o sujeito xingue minha mãe ou meu cabelo. Daí a coisa fica feia. Sobra até para o padeiro do elemento.

Na praia, final de dezembro, estava jogando futevôlei. A armação, rede e delimitações da quadra já estavam no local quando cheguei. Chamei o pessoal do hotel e pimba! Tem brincadeira garantida. Acontece que chegou um pessoal da Universidade de Santos, botando a maior pinta, com rede profissional e tudo o que se possa imaginar.

- A gente vai arrumar a rede pra jogar mais tarde. Podem jogar na boa que ninguém atrapalha não. – disse um aluno da faculdade.

Concordamos com a idéia: qual o mau disso? E continuamos a bater nossa bolinha. Terminada a “infra-estrutura” construída pelos garotos - aquele mesmo aluno citado comentou em um tom meio irônico:

- Aí, quando vocês vão terminar a brincadeira?
- Quando terminar o set. Dê uns 10 minutos. – respondeu um senhor do meu time.

Fizeram aquele jeito de desprezo, erguendo os ombros pra cima. Pegaram sua bola e começaram e bater bola ao lado da quadra. “Acidentalmente” a bola ia parar na quadra. Ignoramos e estávamos para encerrar o jogo: 23X 21. Saque meu, obviamente. À la Giovanni, fiz um belíssimo ace.

- Cabouuu! – gritou alguém ao meu fundo.
- Falta um ponto... – respondi sem ligar
- Porra! Além de tudo você não sabe contar?! – levei no escutador de tango.

(Lembram da parte em que eu me referi ao caboclo? Ele já estava pairando sobre minha cabeça).

- E é mais burro ainda, porque um set vai a 15 pontos! – disse o criadão com a avó.

(Desceu o caboclo).

- Ô filho da mãe! Burro é você, sua anta! Faz tempo que a regra mudou. Não lê jornal, não? Eu não sei contar e você não sabe ler!

*Deixo claro que disse isso com as pernas bambas, gaguejando, suando como um condenado e rezando para um Vitor Belfort vir me proteger.

- Qual é, mano? Paulistano retardado! A praia é nossa!
- Ah, é? Cadê o documento? Traz pra mim assinado que aqui ninguém te incomoda.
- Turista folgado! Tá a fim de apanhar?
- Posso apanhar, mas daqui não arredo o pé. Principio da reciprocidade: você me xingou e também me dou ao direito.

Olhei para o lado e me toquei que estava sozinho contra dez homenzarrões. “Vou apanhar” , pensei. “E vou tomar um belo cacete pra aprender que ninguém respeita nada”, filosofei novamente. Percebi que três vinham e minha direção e já apelei para todos os orixás da vida. Até que meu “Vitor Belfort” surge.

- Vai se distanciando, moleque! Toca nele que você vai saber o que é uma confusão! – bravou uma voz furiosa vindo da calçada.

Era um pássaro? Um avião? Não: Papai Miller. Vinha acompanhando de um salva-vidas ainda por cima - ele acompanhara tudo da sacada do hotel. Dei uma risadinha de alívio e me deliciei assistindo de carteirinha aqueles idiotas levarem um pito.

No final “ganhei” a quadra, pois estava em meu direito. Deixei eles jogarem, afinal não tinha com quem jogar. Mas sai triunfante, com o ego lá em cima. Obviamente, no caminho até o hotel levei um tremendo sermão de papai. Sermão que tinha mais palavrões do que uma discussão minha e um episódio do The Osbournes.

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