15 de mai. de 2010

Fenômeno pop da TV paga, 'Glee' ganha reforço de Madonna

Vai ao ar nesta terça-feira (20), na TV americana, um esperado especial sobre Madonna. Serão apresentados sete hits de várias fases da cantora em um programa de uma hora. As músicas, aliás, estarão à venda no iTunes logo depois de a atração ir ao ar, para serem ouvidas em iPhones e iPads. O "especial", no caso, é um episódio inédito da série “Glee”.

No ar há menos de um ano, o seriado sobre um clube musical formado por estudantes renegados de um colégio do Estado americano de Ohio, mostrou-se um sucesso de audiência e de crítica – foi eleita a melhor série de comédia no Globo de Ouro e SAG Awards.

Porém, mais importante, revelou-se também uma máquina de fazer dinheiro. Na internet, principalmente. As faixas apresentadas no seriado musical são colocadas à venda na loja virtual da Apple. As músicas são regravações de artistas que vão de Neil Diamond a Beyoncé. Desde sua estreia, o programa vendeu mais de 4 milhões de singles no iTunes, emplacou mais de 20 faixas no Top 100 da Billboard e rendeu duas trilhas sonoras.

“Hoje os jovens têm uma maneira diferente de conhecer música. Você escolhe uma canção no iTunes e ele lhe sugere 400 com o mesmo estilo. Adoro que o show possa fazer isso agora”, revela ao G1 Ryan Murphy, co-criador e produtor executivo de ‘Glee’.

 De olho no fenômeno (e no dinheiro), Madonna liberou todo seu repertório para o uso da Fox, que exibe o seriado nos EUA e no Brasil. Ela não vai se arrepender: o disco “Glee: the power of Madonna”, em pré-venda no iTunes, já é o álbum mais vendido no site antes mesmo do episódio especial ser exibido.

Atualmente em hiato no Brasil, a série retorna ao ar por aqui com novos episódios no segundo semestre.

Universo multimídia
“Glee” representa para a TV o mesmo que “Avatar” para o cinema. O programa é uma experiência à parte quando comparado a outros programas. Não há nada igual.

Há alguns anos, os seriados americanos são construídos para não serem apenas um produto televisivo, mas parte de um universo multimídia. Um exemplo é “Lost”, cuja trama é complementada em episódios feitos para iPod e celulares, jogos online de realidade alternativa e até livros de ficção.

O diferencial de “Glee” foi descobrir aí um plano de negócio: ele estimula o telespectador a consumi-lo em outras mídias e a pagar por isso “Acho que esse é o primeiro programa de TV que atinge todo a curva demográfica da audiência. Você não vê mais isso, televisão cada vez mais fala com um nicho específico. O piloto foi baixado por 2 milhões de pessoas na Fox.com”, afirma Murphy.

Devido ao sucesso, os atores da série farão shows musicais em uma turnê pelos Estados Unidos neste ano. Para compor o elenco da 2ª temporada, serão feitas audições pela rede social MySpace.

Na semana passada, a Fox criou um aplicativo do seriado para o iPhone e iPad. Trata-se de um karaokê, em que o internauta paga pelo download das músicas de cada episódio e compartilha suas performances vocais com os amigos que também utilizarem a ferramenta. Ou seja: qualquer pessoa pode criar o seu próprio clube musical.

E no Brasil?
Para o roteirista Newton Cannito, que recentemente lançou o livro “A televisão na era digital” (Editora Summus), a TV brasileira ainda não tem um exemplo como “Lost” ou “Glee” porque “a indústria ainda está travada”.

“É uma questão de mudar o cérebro. O raciocínio da era digital mostra que um programa deve estar presente em todas as mídias, inclusive as não digitais. O espectador de hoje acompanha a TV fora da TV. O raciocínio tem de ser baseado primeiro pelo conteúdo, não se isso ou aquilo vai dar algum dinheiro. O cara gosta de ‘Glee’, não de celular, ele vai acessar a qualquer conteúdo da série em qualquer mídia.”, acredita.

O próprio Cannito tentou emplacar o modelo em sua minissérie” 9MM: São Paulo” (Fox). A produção rendeu websódios, episódios exclusivos para a internet, e um livro. As duas histórias servem de complemento para a atração, como se fora da TV ela adquirisse um universo particular.

“Se você não está presente em todas as mídias, não existe uma impressão de realidade. Esse tipo de ação gera uma mídia espontânea muito grande, dá a sensação de que a série ocupa toda a cidade.”

* Matéria publicada no G1 em 20/4/10