13 de dez. de 2008

Memória afetiva


Não tenho muitos ídolos, ídolos. Então nunca tinha passado pela situação de entrevistar alguém de quem sou realmente fã. Isso até a semana passada, quando passei 15 minutos conversando com o Mauricio de Sousa. Tudo bem, foi por telefone. Ao vivo acho que seria bem mais foda.

Para vocês entenderem a histeria. A primeira palavra que falei foi "Monca". Segundo a minha mãe, nesse momento eu tava no penico, com o gibi da Mônica nas mãos - todo contente! Mauricio também foi o responsável por me levar ao mundo das letras. Comprava tudo o que ele lançava, até o gibi do Pelezinho! Ainda me pego dando umas risadas do Chico Bento quando vou ao cabeleireiro. A cuecada "lendo" Vip, Playboy e Men's Wealth. E eu rindo do Zé Lelé!

Quando eu soube da revista da Turma da Mônica Jovem, fiquei bem puto com a Mônica magra e piriguete, com o Cebolinha falando certo, com o Cascão tomando banho e com a Magali fazendo dieta. Resumindo, todos os personagens perderam seus "defeitos" e estão de acordo com o que a sociedade prega.

Mas depois de ouvir a opinião de umas crianças sobre a revista, confesso que aceitei um pouco (bem pouco!) essas mudanças. E também confesso que achei bem fofo o beijo da Mônica e do Cebolinha. Vejam esse clipezinho abaixo, ele resume bem o que senti na hora na ler o gibi em forma de mangá. Minha memória afetiva pegou forte.



Foi nesse clima piegas que entrevistei Mauricio. Pelo celular, enquanto ele pegava um táxi em direção a Rua do Curtume.

Você esperava um sucesso tão grande com a revista da Turma da Mônica Jovem? Quantos exemplares já vendeu a edição do beijo, Mauricio?
Tá bombando agora no resto do pais, primeiro foi em SP e no Rio. Já estamos em 405 mil exemplares. Como é uma revista em continuação, a maioria das pessoas quer a coleção toda. A Panini teve de voltar a gráfica mais três vezes com a primeira edição e agora com a dois e a três também. Devemos ir para 500 mil exemplares brincando. Eu conversei bastante com o pessoal da editora que a gente atingiria três faixas de público. Então eles teriam de levar isso em consideração na hora de lançar a revista. A primeira edição teve 80 mil exemplares iniciais e no segundo dia já tinha vendido metade. É o maior fenômeno editorial do Brasil de todos os tempos.

E dessas três faixas de público, como que cada um está respondendo às mudanças?
Para minha surpresa, as crianças estão respondendo um pouco mais que todo o restante, e estão amando! O adulto quer saber o que fizeram com seus ídolos de infância (e geralmente não gostam das mudanças); o jovem quer conferir se estamos mesmo falando a vida deles mesmo. Recebemos muitas críticas. Críticas no sentido de sugerir coisas. A maioria está com críticas construtivas e estamos ouvindo e alterando em cima de algumas delas. Isso é possível, hoje, por causa da internet. Você tem uma reação instantânea, está online com o público. Isso é bom e mal. Bom porque você pode redirecionar uma história em quadrinhos como essa rapidamente para o que o público está esperando. Mal porque você leva piabas em cima do que acontece (risos). Também estamos vendo um fenômeno interessante: nós tínhamos receio de que houvesse canibalismo, que essa revista roubasse o espaço das outras. E a tendência é justamente o contrário: a gente vê um aumento dos outros títulos, porque a criança vai na banca comprar a revista jovem, que não tem, e compra outra nossa.

Falando em internet, você parece ser uma pessoa que está sempre de olho no que o pessoal comenta em blogs e comunidades do orkut. Você já leu alguma fanfic feita por fãs? Existem várias que surgiram após o tal beijo.
No orkut está cheio de comunidades de fanfics. Olha, é tudo uma aprendizagem. É como se eu ampliasse a minha sala de visitas para caber milhares de pessoas falando a nossa mesma língua. É delicioso, porque realmente fica uma criação coletiva, praticamente. Os leitores que fizeram mudar o nome do Anjinho. Era Céuboy e o pessoal caiu matando (Nota do blogueiro: agora é Ângelo). Também acharam que era um desaforo tratar o vilão Capitão Feio de tal jeito. Novela não acontece isso, de personagem aparecer e rouba ra cena? Nós podemos fazer isso agora. Me sinto de volta ao status dos tempos de fazer tiras de jornal. Hoje, com a velocidade da internet, eu posso fazer alterações.

As próximas edições terão mais alterações?
Como o pessoal reclamou que havia muita fantasia, história estranha, vem um número agora, atendendo a pedidos, em que eles (os personagens) vão voltar a viver no Bairro do Limoeiro. Mas em seguida virá outra série com bastante ação, aventura e fantasia interplanetária. Estamos criando histórias para daqui dez meses.

Você tinha noção de que o beijo fosse ter uma repercussão tão grande?
Foi o beijo mais comentado pela mídia no ano, realmente. Nesse caso eu não esperava. Virou caso de pós, de graduação, pesquisas, estudos, de levar para a banca examinadora... Algumas estações de rádio ficaram duas horas comentando a cena!

Como é ver seus personagens, que pareciam ter 7 anos de idade para sempre, adolescentes?
Não é muito estranho para mim, porque tenho dez filhos e um é de 10 anos, rapaz! (risos) Estou acostumado a ver, brigar, monitorar comportamento, senão não estaria tirando de letra algo assim. Logicamente, nem todo o mundo é igual. Então eu freqüento muito a internet, entro muito nos orkuts e blogs da vida. De vez em quando eu invado, comento e explico algo. Sempre levam um susto e tentam provocar a minha permanência nisso ou naquela comunidade, mas eu não posso fazer isso porque não tenho tempo nem condições de atender a todo mundo.

A criançada de hoje quer ler o quê?
Essa criançada de 8, 10 anos, já está acostumada com história do tipo mangá. Meu filho de dez anos, o Marcelinho, sabe tudo de Naruto. Eu estava vendo que um dia ele iria chegar para mim e dizer: "Papai, depois eu leio Turma da Mônica, deixa eu ler Naruto primeiro". Foi a gota d'água ele me fazer ir na banca todo dia para saber se o novo Naruto já tinha chegado. Aí falei para ele me contar o que era a história e ouvi tudo detalhado. Pensei: "Me-u De-us! A criançada já está noutra. Ele falava que fulano morreu violentamente!" Esse foi o grande fator que me levou a montar esse projeto no estilo mangá.

A Turma da Mônica Jovem vai virar uma animação no Cartoon Network?
Estão discutindo o projeto em Atlanta, fazendo o contrato. Em janeiro chega aqui uma comitiva do maior estúdio de animação do mundo, da China. Eles querem trabalhar conosco. Eles fazem um filme por semana, é uma coisa louca!

Por que o Chico Bento não apareceu na revista?
Eu não quero nem mexer no Chico Bento enquanto ainda estou achando o caminho da Turma da Mônica Jovem. Chico Bento tem de ser toda uma coisa totalmente linda e maravilhosa.

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