9 de mai. de 2005

Como vinho


Existem álbuns que ficam melhores com o tempo. Acontece muito, às vezes o estilo proposto pelo artista não é adequado a um momento de sua vida ou, simplesmente, você tinha tantas esperanças naquele CD, que era elogiadíssimo ou bombardeado pelos críticos, que você já o foi ouvindo cheio de pré-conceitos. É, acontece.

Isso aconteceu quando os Strokes viraram moda. Ganhei o disco dos rapazes em um amigo-secreto, e recordo-me que escutei o álbum correndo, achando tudo gravado nas coxas e não entendia patavina do que o Julian Casablanca cantava. Demorou um ano para eu "descobrir" o porquê da veneração pelos caras. Com algumas teias e pó no encarte, desenterrei o som do Strokes e fiquei semanas sem largar o maldito CD. É, acontece.

Com o Seu Jorge foi da mesma maneira. Ao lançar seu segundo disco, Cru, fiquei com o pé atrás. O negão resolveu ficar cult, largou o samba malandro de Samba Esporte Fino, deixou para trás o suingue de Jorge Benjor e Trio Mocotó, indo mergulhar nas fontes da bossa-nova. Ah, Jorjão! Pára de ser pretensioso, querendo misturar viola com italiano e cuíca com inglês! Por isso, acabei por deixar o álbum num canto de minha prateleira, sem dar muita razão a sua existência.

Mas eis, que ontem, em mais uma madrugada de insônia, resolvo dar uma chance para o Cru. E o CD é do caramba, meninada! A voz gostosa e calma de Seu Jorge sai fino em qualquer estilo. Dane-se que o cara mudou todo seu repertório - quem disse que variar não pode ser bom? Como o próprio nome do álbum diz, o cantor quis deixar tudo na simplicidade, ficando apenas a dedilhar a sua viola e a tocar o seu pandeiro bem de leve, baixinho, só para ditar o ritmo. Ah, e tem o seu belíssimo vozeirão, por sinal.

Como se já não bastasse tamanha categoria, o ex-líder do Farofa Carioca tem em seu repertório umas das músicas mais bonitas feitas nesses últimos dois anos. "Bola de Meia" é linda, tem um refrão que gruda, cantiga feita para cantar baixinho, no ouvido da bem-amada. "Fui eu que te dei, o primeiro beijo, o primeiro toque, a primeira canção/ Se realmente quer ficar comigo, não faz bola de meia, com o meu coração...".

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