18 de fev. de 2005

As grandes ditadoras

Alguém sabe o que é Dinâmica em Grupo? Não faz a mínima idéia? O tio aqui irá explicar: Dinâmica em Grupo, a popular D.G, é coisa do diabo. Grandes empresas e agências fazem essas maldades com seres humanos à procura de trabalho ou estágio. Põe-se, numa pequena sala, mais de dez pessoas e dois psicólogos. Está pegando? Tais psicólogos são contratados, e irão avaliar o comportamento de cada candidato ao trampo, que passarão por provas e testes - pagando mico ou não.

No início de fevereiro, eu participei de uma D.G, do Banco Santander. Não tenho a mínima idéia de como me chamaram. Só sei que o meu celular tocou e uma voz feminina me disse: "Quarta-feira, perto da Estação São Bento, às 9 horas da manhã". E fui. Uma baita chuva me esperava. Correria. Por se tratar de um banco, resolvo ir na estica. Ponho uns jeans bacana, uma camisa social bonitona, passo um mousse estranho no cabelo e até faço a barba - os pêlos, para ser sincero. Vou arrasar, acredito.

Chego a sede do banco, atrasado. A recepcionista fala para eu me dirigir ao oitavo andar. Vou lá. Entro uma sala minúscula, e uma morena de olhos claros, avalia-me da ponta do dedão até o último fio de cabelo. "Pois não?", pergunta. "Oi! Sou o Luiz Gustavo, desculpe o atraso", respondo. Ela olha uma folha de anotações, procura pelo meu nome e, apontando para o fundo da sala, manda-me sentar em uma das cadeiras. Gente, juro por tudo quanto é santo. Só tinha neguinho de terno e mulher de tailleur. Fodeu, filosofo. Cá estou eu, de jeans e camisa azul-calcinha, ao lado de pessoas que parecem ter saído do programa do Justus.

A tal morena de olhos claros é umas das psicólogas. A outra "ser do mal" está sentada atrás dela, anotando algo num caderninho e maneando a cabeça a cada frase de sua colega. A morena fala como uma tagarela. "Por que no banco é isso e aquilo...". Fico olhando para o teto. Após meia-hora de lorota, ela pede para que cada pessoa vá até a frente da sala e se apresente. Uma menina, tímida que dói, é a primeira. "O-oi! So-sou a Ju-Juliana. Fa-faço economia...". A psicóloga, que não faz porra alguma, não pára de fazer anotações. A outra dizia "ah" e "hummm". Medo. Outros candidatos são chamados, e só tomam pau.

Noto um pouco de sadismo nas psicólogas; elas se acham a rainha da cocada preta. Vem-me à cabeça aquela cena de um filme do Chaplin (O Grande Ditador), em que os dois ditadores ficam elevando a cadeira, sabe? A metáfora de que, estando-se num patamar mais alto, o respeito e o poder aumentam. Pois é. Para mim, a psicóloga subia um pouco a poltrona a cada interjeição que dava, fazendo as pessoas se sentirem cada vez mais minúsculas.

De sacho cheio, sou o último a me "apresentar". A morena, querendo ser engraçada, pede: "O menino de jeans, por favor?". Vou com a menor vontade do mundo, e falo rápido. Em 15 segundos de "apresentação" termino. A morena me fita e diz, com uma cara de cu doce incrível:

- Não tem mais nada a acrescentar?
-Não.
-Certeza?
-Sim.
-Alguma curiosidade que você queira nos contar?
- Posso mesmo?
- Por favor...
- Bem, eu odeio psicólogos.
- Como?
- Isso mesmo.
- Mas por quê? (cara de cu doce maior ainda)
- "Como posso querer que meus amigos entendam as coisas loucas que passam pela minha cabeça, se eu mesmo, não entendo?" (Salvador Dali)
- Ah, tá... (queria saber o que a outra anta anotou depois dessa)

Os "aprendizes" deram risada, as psicólogas, ficaram atordoadas. Depois da agradável experiência, elas pediram para eu fazer umas planilhas no Excel (?). A morena falou que me ligava, dizendo como fui na D.G.

Ela ainda não ligou...

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