2 de mar. de 2004

Marcha lenta

Algumas semanas atrás, ainda usando o Blogger, eu avisava que minhas aulas de direção tinham começado. Falei de minhas barbeiragens e todos aqueles medos que cercam um novo motorista, como é o meu caso. Após essas aulas tive uma progressiva atuação. Não deixava o carro morrer, aprendi as artimanhas da embreagem e perdi a insegurança de sentar atrás de um volante e não pensar que uma manobra mais ousada iria fazer com que eu capotasse, tivesse traumatismo craniano, batesse o peito em algum lugar e sofresse hemorragia interna... Boa noticia: isso eu já não penso mais.

Porém, eu sou horrível na baliza. E hoje no maldito exame final, fui reprovado por esse maldito empecilho em minha vida automobilística. Eu não sei fazer baliza, deixo claro pra todo mundo. Meu senso de distancia é zero, minha coordenação um horror. Eu posso dirigir sem precisar fazer baliza, ora bolas. No shopping eu estaciono no lugar mais longe possível, sem movimento. Não tenho problema em poupar alguns metros, procurando uma vaga na porta do local. Sou jovem, e andar tornifica meus cambitos. Mas poupemos minha história e contarei a minha nova proeza: eu subi em cima da guia, quando fazia a baliza no teste. Dêem risada, tirem sarro, chamem-me de burro e estúpido. Eu mereço. Eu tive essa capacidade.

Acho que dei uma volta no volante a mais, e o carro entrou até que uma beleza. Eu fui consertar e deixar bonitinho – perfeccionista que sou – e dei uma leve encostada na guia.

- Opa! - exclamou o delegado filho duma égua.
- Opa, o quê? – perguntei nervoso que só vendo.

Foi assim: devo ter soltado um pouco o pé da embreagem e o carro deu uma leve empinada na calçada. Consertei rapidamente e estacionei o maldito. Não funcionou.

- Desliga o carro e pode sair.
- Mas...
- Pode desligar.
- Mas...

Sai frustrado, com a cabeça baixa, como Roberto Baggio após desperdiçar o pênalti há dez anos. Senti-me um lixo, um incapacitado. Se eu fosse uma avestruz, cavava um buraco no asfalto e enfiava minha cabeça piche abaixo. Só de pensar que tenho que passar por tudo isso de novo: acordar cedo, ansiedade tremenda, nervosismo horrendo e “delegados animados”. Já pensei em economizar o dinheiro da cantina e começar a andar de táxi. Direi que é chique, coisa de primeiro mundo. Transporte coletivo é símbolo de evolução. Contribuirei para nossa atmosfera – não emitirei monóxido de carbono. Qual o mal nisso?

“Com carro fica mais fácil de pegar mulher”, aconselha um garoto ao meu lado – também reprovado. Bom argumento. Mando às favas o meio ambiente e farei um novo exame. Torçam por mim, acendam uma vela, façam um despacho numa encruzilhada... Qualquer ajuda é bem vinda. Lógico que terei que controlar meu nervosismo.

Um dia vocês me encontrarão por aí pelas ruas. Dirigindo calmamente, ouvindo rap, com um braço pra fora, sem camisa e com o banco de motorista lá atrás. Estarei acompanhado de uma bela ragazza, obviamente. Ela vai estacionar o carro pra mim. Obviamente.

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