27 de jun. de 2005

Canibal
Voltando ao assunto da religião, lembrei de uma estória engraçada. Estava na sétima série, estudava no mesmo colégio católico que citei no último post, e era aniversário de algum santo - ou seria do patrono do colégio? Enfim, era um dia de celebração, que acontecia todo santo ano, lá no ginásio. Todo mundo ia, menos eu e o Felipe, um japonês loiro e budista.

Eu não ia porque diziam que só podia ir à festa quem fosse catequizado. Eu, jovem honesto que sou, fiquei uns três anos sem ir. Eu e o Felipe, o japonês loiro e budista. O cara era chato, todo ano contava uns papos sobre religião; eu não estava nem aí. Vendo-me mais uma vez ao lado do Felipe, o japonês loiro e budista, resolvi que, sim, eu iria até o ginásio e participaria do babado. "Mas você não é catequizado, meu!", ouvi do meu colega de sala. "Ah, não enche o saco!", respondi.

O corredor estava vazio. Foi fácil escapar, assim que cheguei ao pátio do recreio, estava tendo a maior algazarra. Sabe quando você está na terceira série e a tia pede para os alunos fazerem uma fila indiana, do menor para o maior estudante, a fim de que ninguém se perca? Era isso que rolava com a pirralhada. Andando apressado, cheguei ao ginásio. A quadra de esportes tinha um padre, o diretor da escola segurava um microfone, havia algumas freiras ou coisas do tipo. O padre dizia coisas sem nexo, e após uns 15 minutos ele disse que era para os alunos virem receber a óstia.

Eu sempre tive vontade de saber o que era a tal da óstia. Todo mundo na televisão comia aquele treco, meus amigos católicos também. Para piorar, eu estava com fome. Não pensei duas vezes: adentrei na fila para receber o tal do pedaço do corpo de Jesus. Na maior cara de pau, diga-se de passagem. A coordenadora Roseli me olhou feio, fez que viria até mim, mas uma mãe a chamou de canto. Pouco tempo depois estava eu e o padre, cara-a-cara.

Como vi que todos que estavam na minha frente se curvavam para receber aquele pedaço de pão, fiz o mesmo. O padre fez o sinal da cruz e disse algo como, "Aceita o corpo de Jesus em nome do Espírito Santo?". Balancei a cabeça positivamente, e mordi a óstia, na cara do padre, que fez uma cara de espanto, mas não disse nada, fazendo com a mão para que eu fosse adiante e deixasse a fila andar. A feira também me olhou assustada.

Depois, já em casa, minha mãe, dando risada, explicou-me o porquê do espanto do padre. Depois que a óstia é abençoada, ela torna-se o corpo de Jesus, disse ela. O correto é mandá-la goela abaixo, não pode mastigar, como eu fiz. Uma prima minha chegou a engasgar com a óstia, quando foi comunhada. Também, engolir a seco, sem água nem nada (água benta serve?).

Nenhum comentário: