11 de mar. de 2005

Sem título

Hoje, enquanto esperava o sinal abrir, do outro lado da rua um rapaz conversava com uma mulher. Pelo visto, ele não a conhece. Gesticula muito, olha firmemente nos olhos da guria, cruza os braços e é só sorrisos. Ela se mostra embaraçada, olha mais para o chão, passa os dedos no cabelo moreno e liso, colocando a franja atrás da orelha direita. Está na cara: é a famosa cantada.

Não ponho muita fé no garoto. Seu estilo, aparência e falta de cabelo o faz um clone do Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo. Já a garota faz o famoso estilo mignon: pequena, delicada, olhos de jabuticaba e bonitinha. O tipo de mulher que geralmente não é notada no meio de uma multidão, mas mesmo assim não deixa de ser interessante.

Pelo jeito, o Geraldo é bom de lábia. Não faço a mínima idéia do tempo em que eles conversam naquele cruzamento entre a Haddock Lobo com a Alameda Santos. A mignon para estar perdendo a timidez, esboça uma gargalhada, mas a contém de imediato. O Alckmin começa a segurar o braço dela, abaixa o pescoço e fala algo que a faz recuar. Ela maneia a cabeça, ele insiste. Chega a juntar as palmas das mãos, como se tivesse implorando por algo. Ela ri da palhaçada do rapaz, faz uma pausa, aponta o indicador para o sujeito, como se estivesse dizendo: "Ok, você venceu!".

A morena levanta a alça de sua bolsa pendurada no ombro esquerdo, abre o zíper e retira um cartão, entregando-o ao Geraldo. Ele ri, lê o cartão duas vezes, e despede-se da garota com um cumprimento de mãos e um tímido beijo no rosto. Ela atravessa a rua, colocando mais uma vez a franja atrás de sua orelha, sem olhar para trás.

Já o Geraldo segue o caminho oposto, sem desgrudar os olhos do pequeno cartão. Sorri por um bom tempo, guardando o pedaço de papel em seu bolso traseiro. O carro anda, e nem imagino como deve terminar essa bela história.

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