24 de jul. de 2004

O medo que acomoda a gente


Eu tenho medo de ir ao dentista. Não do próprio, de jaleco branco e máscara à Michael Jackson. Tenho medo, daí sim, das engenhocas do sujeito. O barulho, o espelhinho de guarita, a poltrona, ah, aquela poltrona. Reclina-te a não sei quantos graus, mas sempre fico com o pé pra fora. Quem manda ter crescido tanto?

Certa vez, enquanto colocava celante nos dentes, vomitei na cara da dentista. A dona sabia que eu tinha há tempos um tal de "refluxo gástrico" e, mesmo assim, teimou em me deixar na posição 180º graus. Foi lindo, bastou eu engolir algum líquido estranho para o meu estômago se manifestar. Huuuugo! Se ela não tivesse um baita reflexo, a acertaria em cheio. Fui exorcizado pela dentista.

Fazer limpeza de dente é horrível. Começa pelo famigerado bicarbonato de cálcio. Ô coisa que pinica! Já é duro agüentar minutos e mais minutos com a boca escancarada e, ainda por cima, tua língua começa a levar jato duma substância salgada? É aflição demais, coceira demais. Sem esquecer, obviamente, da broca usada para retirar o tártaro. Argh!

Eu não tenho cárie alguma, mas, em compensação, tenho tártaro em cada cantinho dos dentes. A ajudante do dentista - o próprio só consulta, perceberam? - liga a britadeira. Fueóoon! Fuéiiiin! Enquanto o aparelhinho vem à tua boca, os seus olhos vão fechando, as suas mãos agarram nos braços da poltrona e assim se começa à faxina. Sinto-me dentro duma obra da Marta Suplicy, tamanho o barulho que faz.

Agora, eu queria mais do que tudo nesse mundo, ganhar aquele treco de sugar à baba. Sabe? É aquela caninho que fica no canto da sua boca, faz um barulhinho idêntico ao se tentar tomar vitamina em rodoviária? Sluuuuuph! É genial aquela geringonça, ainda mais para pessoas babonas, como eu. Basta dar um berro para eu molhar a pessoa ao meu lado. Às vezes, eu pareço um São Bernardo, de tanto que salivo.

 Seria muito legal ter um daqueles no meu bolso, na minha mochila. Alguém deveria lançar um "sugador-portátil". Ajudaria muito a recuperar aqueles pedacinhos de alcatra no final dos dentes, sabe? Pô, seria demais!

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