30 de abr. de 2004




Não lembro dele muito bem. Dorminhoco que era, não tinha coragem de acordar tão cedo para vê-lo. Escutava e - acordava - com os berros de papai, vibrando na sala. Titio, mais eufórico, reclama, xingava, não perdia uma. Mesmo assim, fui fã do cara. Tinha um carro em miniatura e um boné seu. Quando pegava os meus carrinhos e andava com eles pelas paredes (para fúria da faxineira), o final era sempre da mesma maneira. “Lá vai Ayrton, ultrapaaaassa na reta final, acelera, vai vencer, vai vencer... PAN, PAN, PAN! PAN, PAN, PAN!”. Depois da vibração, recebia um pano com álcool para limpar as marcas da corrida deixada nas paredes. Era divertido.

Como era criança, não terei grandes histórias para contar a meus filhos e netos. Só assisti a uma corrida sua, da qual me recordo com nostalgia. Era páscoa, casa de vovó, e todos estavam reunidos na hora do almoço, comendo chocolate até não poder mais e ligados na telinha. Chovia muito; jamais me esquecerei de sua ultrapassada sobre Mansel. Aquela ruela da Vila Romana comemorou como nunca. O vizinho da frente soltara até um balão para comemorar a vitória em terras brasileiras. Inesquecível.

Um dia, não fui acordado pelas vibrações de papai e mamãe. Estavam todos olhando concentrados para aquela caixa – monstrando cenas jamais imaginadas por meus pais, pelo meu país. Fomos almoçar numa cantina italiana naquele domingo. Quando a notícia foi divulgada, não houve mais música, nem conversas. Havia silêncio. O domingo não era mais um dia de alegria.

No colégio, o assunto não era outro. Mal começara a aula, e um barulho ensurdecedor conquistava os corredores da velha escola. “OLE, OLE, OLE, OLA! SENNA! SENNA!”. Enquanto o grito ecoava, alunos de todas as idades batiam com as mãos nas carteiras. Cena igual; jamais vi. E nem verei.

Dez anos foram embora, e muitos lembram de suas glórias, contando historietas. Uma, em especial, é a minha preferida. Um colega de trabalho de meu primo, ao parar o carro no semáforo viu o grande ídolo ao lado, em seu potente veículo. Uno contra Audi. Não teve dúvidas, sentiu-se dentro de uma corrida. Acelerou, acelerou e quando o farol abriu, saiu com tudo. Pôs o braço para fora da janela, como se segurasse à bandeira brasileira, e gritou para o tri-campeão: “PAN, PAN, PAN! PAN, PAN, PAN!”.

28 de abr. de 2004

Isto é São Paulo

Na minha primeira semana em São Paulo, estava perdido. Que ônibus pegar, em que ponto descer? , eram as minhas perguntas comuns. Descobri que existia um ônibus que passava numa avenida pertinho de casa. Peguei o danado. Velho, caindo aos pedaços e desconfortável. O trajeto PUC-Casa leva cerca de 40 minutos. Não sabia onde descer, e pergunto para o cobrador.

- Viu, que ponto fica mais próximo do “Colinas de São Francisco”?
- Desce no Farao’s, foi a resposta.

Faraó’s? Será uma casa de antiguidades? Desci no ponto. Lugar vazio, sem movimento. Viro-me para trás e vejo um antro pintado de roxo, com uma iluminaria escrito “Farao’s” bem capenga. O lugar, pensei, deve estar fechado. Também, isto fica escondido no meio do nada. Qualquer coisa que abrir aqui fecha. Nem me importei e esqueci do lugar.

Hoje, descendo no mesmo ponto, observei uma faixa no Farao’s. Míope de tudo, aproximo-me. Estava escrito:

- QUARTA - FEIRA NO FARAO’S. PERFORMANCE DE SEXO EXPLICIDO! CASAL APAIXONADO: PETERSON E GISELE.

Olhei de novo e não pude acreditar. Agora eu sei a razão do cobrador ter me respondido com tanto êxtase. O Farao’s faz umas promoções bacanas de finais de semana. Com dez reais dá pra curtir a noite inteira. Sacanagem por 10 contos! E rola sexo “explicido”. Demais! Só a faixa de propaganda, com vários corações pintados, já vale o ingresso.

26 de abr. de 2004

O cachorro da professora


Já falei pra vocês do Billy, meu adorável cachorro? Ah, ele é uma figura, um mimo. Mamãe fica louca quando digo que é dele de quem mais sinto saudade quando estou fora. Ora, fazer o quê? O animal é minha cópia: come e dorme o dia inteiro. Meu companheiro até na hora da soneca. E como sou um dono-coruja, faço de tudo para mimá-lo. Dizem que os labradores são ótimos nadadores, mas como poderia comprovar tal afirmação? Eis que a mama compra uma daquelas piscinas de plástico de mil litros. Juro, o Billy é o único animal do universo a ter uma piscina própria. Nem os cães da Vera Loyola têm tamanha mordomia.

Perto do apê de Sampa, existe um shopping de animais. Achei que era gozação, só que existe mesmo. Lembra um Wall Mart. A diferença é poder andar com o seu animal de estimação dentro do lugar. É uma beleza; doberman querendo cruzar com poodle, papagaio fugindo de gato, alguns animais mal acostumados batizando as colunas das prateleiras... Hype ao cúmulo o recinto.

Enquanto olhava uma prateleira, passa por perto de mim um dos cachorros mais feios existentes. Lembram do Men in Black 2? É a raça do Frank, só que este não cantava “I Will Survive”. Custa uma fortuna o bicho. A dona deste ‘treco’ deve ser uma baita coroa solitária, ironizo mentalmente. Opa! Conheço essa voz. Olho à dona e dou um contido grito sarcástico:

- Eita! É a minha professora de artes!

E era mesmo. Uma senhora já passada da meia idade, com um cabelo totalmente irregular – o lado esquerdo é maior que o direito. Sempre brinco que o cabeleireiro dela é o Edward – Mãos de Tesoura. Um tremendo canhão, resumindo. Aliás, estou pra conhecer até hoje uma professora de artes ou de literatura que seja gostosa. Não pega homem e dá nisso?

Mas o fato que escreverei a seguir é o real motivo de eu estar usando este espaço. A professora, de repente, diz com aquela voz de fumante pigarrenta.

- Filha, vem ver o que eu achei...

Filha? Saiu uma pessoa “disso”? Saiu, e que pessoa, meus amiguinhos. Pele morena clara, olhos esverdeados, cabelos lisos, barriguinha à mostra e falando ao celular. Em suma: paty. Mas que patricinha! Ela desfilava por aquele corredor cheio de mijo; cheia de graça, exibindo aquele jeitinho menina de ser. Ai, ai.

Com uma mãe daquelas, o pai deve ser gostoso pra caramba. Só pode.

24 de abr. de 2004

- Oi, eu sou a nutricionista da academia; tudo bem?
- Tudinho.
- Então... Vamos falar sobre o que apontou o seu exame médico, ok?
- Pode falar.
- É o seguinte: sua alimentação diária será em torno de 1700 calorias.
- Quê??
- É muita coisa?
- Não, ao contrário! É pouca; vou passar fome!
- Mas...
- ... Isto é o que eu como só de manhã!
- Como assim?
- Olha: no café da manhã eu tomo um Nescau, como um sanduíche de peito de peru com queijo e uma bolacha Clube Social com requeijão, emendando um Yakult. Depois no intervalo da primeira aula, como uma pizzinha, ou, pão de queijo, e café com leite.
- Mas, Gustavo... É exagerada a sua refeição...
- Minha mãe diz que eu estou em fase de crescimento.
- Você está com 18 anos, Gustavo!
- Crescimento horizontal... =D
- ...
- Não foi boa, né?
- Voltando ao assunto; você terá que maneirar no açúcar e na fritura.
- Mas eu nem sou gordo!
- Eu sei... É para evitar problemas posteriores...
- ... Ah, não! Sou muito jovem para esse papo de AVC e colesterol.
- Eu sei, mas você precisa perder 10kg de gordura.
- Porra! Vou ficar anoréxico?
- Você vai engordar 8kg de massa muscular.
- Ah, tá... E como eu faço esse treco?
- Reduzindo os alimentos com açúcar.
- Moça, você não está me entendendo; eu moro com a minha avó! A velha só sabe fazer porcaria!
- Converse com ela...
- Mas não tem graça morar com a avó e não comer bolo de cenoura, jujuba...
- Você está com 18 anos, Gustavo!
- Minha mãe diz que eu estou em fase de crescimento...

22 de abr. de 2004



Feriado em plena quarta-feira? Eba! Dia de paulistano sair da toca e ir ao shopping! Ah, que maravilha. Congestionamentos, filas e mais filas. “Mãe, quero ir ao banheiro!”. “Ok, filho. Pegue a senha com aquela moça ali”. Não adianta, praia de paulistano é shopping.

Meu irmão, como todo brasileiro, como todo ser humano; resolve deixar tudo para a última hora. O burro de carga que vos escreve, decide ir, em pleno feriado, até um dos shoppings mais movimentados da paulicéia para comprar alguns ingressos para seu mano e agregados.

Mal saí de casa e a famigerada garoa paulistana surge. Chove em São Paulo e já vejo o Datena xingando a dona Marta e mostrando enchentes na Zona Leste. “Cidade maravilhosa, cheia de enchentes mil”. Filas e mais filas. No shopping Morumbi, tinha carro estacionado na rampa do estacionamento! O pessoal saía do carro e desviava dos carros para não ser atropelado. Alguém lembra daquele jogo em que uma galinha atravessa uma rua cheia de automóveis? Estava bem parecido.

Após vinte minutos procurando uma vaga, meu tio estaciona o carro – no último andar, descampado e longe pra caramba. São Pedro dá uma castigada. Cena maravilhosa: corro segurando a calça para não ela não cair (quem manda usar calça à Mano’s Street Wear).

Havia fila até para descer a escada rolante, sensacional! Vejo uma aglomeração de clubbers perto da Saraiva Megastore. Jesus do passa-quatro, exclamo mentalmente. Nunca vi tamanha fila em minha vida. Batia qualquer compra para ingresso de final de jogo de futebol. Só perdia para fila de aposentadoria e concurso público. Impressionante! Se não suporto fila de restaurante self-service, nem me imagino ficando horas e horas para comprar ingressos de um festival de música eletrônica.

Admiro quem consegue pegar o primeiro lugar numa fila. Eu nunca consegui tal feito, graças à minha preguiça. Sempre tento contar com a sorte, encontrar alguém conhecido na fila ou, simplesmente, furar a fila. Ultimamente, prefiro nem ficar numa fila; já caio fora logo. Tem que ser algo de extrema importância para eu permanecer na maldita. Levo água, barra de cereais e um livro. Ajuda a passar o tempo. Gostoso é pegar alguém bom de prosa ao lado. Papo de futebol, música e mulher. Bem bacana.

Há muitos anos, na Disney, os brasileiros furavam fila em todos os brinquedos. Ouvíamos alguns americanos xingando, exclamando. Nem ligávamos; furávamos mesmo. Como era criança e não entendia inglês, nem imagino do que fui chamado. Deve ter rolado um cucaracha básico.

20 de abr. de 2004

Acompanha fritas?

Odeio pegar ônibus com ar-condicionado, cujo filtro não recebe uma limpeza há anos. Lembram do Sérgio Motta? Ele morreu graças ao ar-condicionado sujo de seu escritório. Rinite. Além de odiar, também tenho medo. Da próxima vez usarei máscara. Moda talibã.

Odeio pegar ônibus com criança pirralha dentro. Aquela que não fecha a matraca por nada; o diabo infantil. Não bastasse isto, o moleque começa a cantar música gospel. Jesus não é surdo! Garoto pentelho. Quando resolve dormir, parece um porco roncando.

Odeio pegar ônibus à noite. Não posso ler, é um saco. Já viu luz de ônibus para passageiro? É um holofote de formiga, não ilumina nada! Durante uma hora e vinte minutos não poder ler, graças à falta de iluminação, e não conseguir dormir, em razão do pentelho citado acima, é dose.

Odeio pegar ônibus sem poder escutar música. Acabou a pilha do meu diskman logo ao sair da estação.

Odeio pegar ônibus com passageiro folgado. Senta na sua frente e porta-se com se estivesse sentado na cadeira do dentista. Reclina a poltrona o máximo possível, deixando o garoto que vos escreve, de quase 1,90m, numa situação nada confortável. Ônibus tem poltrona de primeira classe desde quando?

Ar-condicionado impuro+moleque evangélico pentelho+ falta de iluminação+não ter pilha no diskman+passageiro de primeira classe.

Eu mereço. Ah, eu mereço.

18 de abr. de 2004

Maria Rita


- Eca!
- Ah, nem!
- Ergh!

Estas foram as respostas dadas por meus amigos ao ouvirem de minha boca à seguinte pergunta: "Tá a fim de ir no show da Maria Rita?".

Não os culpo, até compreendo: sorocabano tem um tremendo mau gosto. Acostumados durante anos com o rodízio de bandas "Skank-Charlie Brown Jr-Capital Inicial-CPM 22", eles não sabem o que é um show de verdade, músicos de verdade, enfim, uma cantora de verdade. Vai ser carismática assim no inferno! Tímida e pequenina, entra no palco cabisbaixa. O público, em sua maioria de "tios" e "tias", aplaude e grita o nome da cantora. Um leve aceno, ergue a cabeça, pega o microfone com a mão esquerda e aproxima-o da boca. Sai a voz - afinadíssima. Alguns berram, outros aplaudem, e pessoas, como mamãe e papai, colocam a mão ao peito e sussuram: "Meu Deus, é a Elis!".

Fui criado ouvindo minha mãe cantarolar Elis Regina. "Filho, que cantora. Que cantora!". Obviamente, a grande maioria do pessoal que se dispôs a ir ao show, tinha em mente acompanhar a perfomance da "filha da Elis". Saudosos de sua musa, vi no rosto deles um leve sorriso, deixando serem levados pelos arranjos de Maria Rita - que não canta: brinca com a sua voz. Ostentando em seu corpo o final de uma gravidez, Maria Rita, por uma hora e quinze minutos, encantou. Voz, piano, bateria e contra-baixo: eis a fórmula. Um som agradável e gostoso. As letras de Marcelo Camelo, Lenine e Milton Nascimento caem como uma luva na voz de Maria Rita.

Produto da TV Globo? Famosa por ser filha da Elis? Papo de idiota. Ela honra o seu abençoado código genético. Talento e mais talento. Deixe a menina brincar, deixe a menina encantar. Deixe a menina cantar, dançar e rodopiar. Deixe a menina ser Maria Rita.

Aproveitemos.

16 de abr. de 2004

A boa e velha larica

Ser normal é ser lariquento; não há quem não tenha uma fascinação por larica. Desde nossa infância somos lariquentos - alguém lembra daquelas papinhas? Uma mistureba de frutas, legumes e vegetais, batidos e colocados num potinho. Rapaz, era horrível. Existem pessoas fãs de papinha, ainda. Estes são lariquentos por excelência.

Conheci um garoto que adorava comer Diamante Negro com cachaça. Era impressionante. Segundo o próprio, era a sua refeição ideal naqueles momentos em que não há nada de diferente na geladeira e você precisa urgentemente de um lanchinho rápido que te satisfaça completamente. Esta é a função principal da larica: satisfazer àquele que cria tal prato. A larica é o nosso escape gastronômico, servindo para qualquer hora do dia.

Uma garota da minha sala come Cheetos com chá. Comer aquele isopor com chá deve ser tarefa braba pro intestino. Somente para lariquentos de alto nível. Até gente famosa é fã duma larica; o Jô Soares, por exemplo, não cansa de afirmar que adora comer feijão-fraldinha congelado. Blogueiros, para variar, não ficam de fora. A Rafaela gosta de saborear os restos de comida chinesa no dia seguinte - congelados, lógico.

Hoje, comi um pedaço de pizza de mussarela acompanhada de café com leite. Olhares de horror, espanto e nojo. Estômago forte? Imagina, sou super enjoado - mas um tremendo lariquento. Minhas receitas basicamente dependem de um ingrediente: pizza de mussarela. Gelada fica melhor ainda. Dou cá minha sugestão: pizza de mussarela de madrugada é o que há de melhor nesse planeta. Para ficar no ponto, deve-se deixá-la na própria caixa em que veio, e em cima do fogão, ficando com aquele aspecto de pizza amanhecida. Assista um filme e depois corra para a cozinha. Fica uma delícia! Seja com Nescau, sorvete de flocos, iogurte ou chá. O melhor acompanhamento, definitivamente, é com Coca-Cola sem gás. Uma maravilhosa refeição.

No início é normal ir com certa frequência ao banheiro, mas pode apostar que depois teu organismo fica acostumado. Experiência própria, meus amiguinhos.

14 de abr. de 2004

Carmageddon

Rá! Passei na porcaria do exame de carta. Dessa vez não subi na calçada durante a baliza, rá! Perfeito, esplêndido, deveria ter sido filmado, de tão bela que foi a minha atuação. Nervoso ao cubo, nunca meu pé tremeu tanto para segurar à embreagem. Fiquei o tempo todo fazendo “respiração cachorrinho” quando estava ao volante. Eu parecia estar em trabalho de parto. “Respira, inspira, respira, inspira”. Contrações não houve - ainda bem.

Na rampa (aclive acentuado) o carro deu uma leve descida - esqueci de engatar a primeira na rampa de freio de mão. Mas para felicidade geral da nação, ouvi logo depois que havia passado. Foi uma sensação de alívio parecida com a que tive quando soube que passei no vestibular. Soltei um: “Porra! Nunca mais vou te ver, seu cachaceiro!”, para o meu instrutor preconceituoso, mercenário e pinguço.

Aliás, depois de ser traficante e pastor, descubro outra profissão muito rentável: abrir uma auto-escola. Cara, é dinheiro fácil. Sempre está lotado, sai uma nota tirar carta e você repete o seu “aluno” quantas vezes achar legal. Seja sócio de um médico vagabundo e descontente com a profissão, que já é meio caminho andado. Meu “exame” médico durou um minuto (ou menos). “Tampa o olho direito; que cor você vê? Agora tampa o olho esquerdo e me responda do mesmo jeito”. As cores eram amarela, vermelha e azul – nos dois casos! E sabe quanto saiu essa brincadeira? Quase cem reais! Gastei cem reais em um minuto! Meu irmão, um Mr. Magoo, passou no exame com lentes de contato. Na carteira de habilitação dele está escrito que sua visão é “perfeitamente normal”. Absurdo.

Ao menos já exclui mais uma dessas “obrigações” que existem após se completar 18 anos. Agora só me resta o alistamento no exército. Só falta eu ser chamado, sortudo que sou...

Ah, pátria amada!

12 de abr. de 2004



Karaokê é engraçado. Que atire o microfone quem nunca foi flagrado cantando numa casa dessas por aí, ou, simplesmente, cantando “Meu Erro” no videokê da festinha do primo pirralho. Karaokê tem uma energia positiva, ninguém fica de mau humor. Aqueles que cantam bem recebem aplausos ao final da música. E quem canta mal? Ora, recebem aplausos e alguns gritinhos. Não há jogo ruim em Karaokê.

O meu último aniversário foi num karokê. “Louco”, “brega” e “japonês enrustido” foram alguns dos adjetivos que ouvi quando declarei o lugar o lugar pretendido para a celebração. No final, todos se divertiram e pediram bis. A senhorita Erica Hans cantara algo de Mariah Carey e, eu, bem... fui de ... Backstreet Boys.

- Ok, Gustavo! Taí o motivo que eu aguardava para parar de ler esse treco!

Calma, nego! Para me explicar, uso a artimanha que nós, cantores de meia tigela, usamos. Vejam um exemplo: bandas e cantoras pop. Eles mais dublam que cantam, não é mesmo? Suas performances sempre são chamativas - não pela voz - mas pela dança e afins. No karaokê, quem não canta nada, faz palhaçada e paga um mico daqueles. Eu - com minha voz lânguida - jamais me darei a cantarolar músicas calminhas e românticas. Faço algo que compense isso: palhaçadas, com coreografias ridículas e tudo. A tática é fazer o pessoal rir e não prestar atenção em sua voz.

- Ok, entendi. Continue, por favor...

Alem de “Meu Erro”, sempre existem as pessoas que amam cantar os temas de “Titanic” e “O Guarda Costas”. São sempre aquelas gordinhas solteiras, podem reparar. Outro clássico é os tiozinhos, saudosos dos tempos de jovem, sempre emendando algo de Creedence Clearwater Revival e Roberto Carlos. Existem as tias-porra-louca, que logo de cara cantam Ivete Sangalo ou Shania Twain. São aplaudidíssimas. Cantar Elis Regina e Chico Buarque é proibido em karaokê, assim como Queen. Tem que ter muita manha para imitar esses deuses. Geralmente quem se atreve apanha fácil. A galera finge que não escuta e poucos aplaudem.

Há os latin-lovers, figuras clássicas. Certa vez, vi um italian-lover. O sujeito era o clone do Cidão; usava camisa verde-escura, calças escuras e um colete preto por cima, lembrando o uniforme dos atendentes do Habib’s. Suas três musicas cantadas, em italiano, foram dignas de gargalhadas. Ele não cantava do palco, mas, sim, ao nosso lado! Rodava de mesa em mesa, cantarolando com um jeito Wando de ser. Não ganhou nenhuma calcinha, mas depois pude vê-lo se atracando com uma garota num sofá perto do banheiro.

Na próxima vez, já tenho o meu repertório definido: Wando hits.

11 de abr. de 2004

Jet


Descobri que acordar cedo em pleno sábado tem lá as suas vantagens. Estou na sala, de pijamas, comendo bisnaguinha com requeijão, tomando meu achocolatado, lendo jornal e assistindo “Lado B” na MTV (sim, sou um garoto multimídia), quando ouço uma introdução de baixo invadindo o ambiente. Paro de comer; meus neurônios, axônios e sei-lá-ônios entram numa muvuca cerebral. Entram num consenso e mandam um email para minha cachola. Nele vem escrito: “Gustavo, isto é Jet! Comemore e celebre – isto é Jet!”.

Email recebido, minha pupila dilata, meus braços se contraem e uma voz ameaça sair, mas com algumas falhas técnicas devido as bisnaguinhas. “Pofa! Ifo é Fet!”. Engulo a massa do pãozinho, mando o Nescau goela abaixo e, finalmente, meu berro ganha força: “Porra! Isto é Jet!”.

E era mesmo; passava naquele bat-momento, naquele bat-local, o vídeo-clipe de “Are You Gonna Be My Girl”. Uma banda batuta, que faz um rock sem firulas, usando como base o som dos anos 70. Alguns já chegaram a comparar os australianos do Jet com ninguém menos que o comedor e assustador Iggy Pop. Outros surtam e falam de AC/DC, Oasis e The Kinks. Enfim, detesto comparações.

Caso uma leve perturbação tenha se instalado sobre o caro leitor, recomendo que tu baixes a música já citada. Depois, escute “Cold Hard Bitch” e se envolva no clima do Jet. Ouviu os singles dos garotos? Entremos no disco dos rapazes Get Born (maravilhoso, por sinal) e se entregue a “Rollover DJ” , "Get Me Outta Here" e “Radio Song”.

O final é correr pro abraço e agradecer o titio que vos escreve. Não dói nada; é satisfação garantida.

8 de abr. de 2004

Uma partida de futebol

Sou são-paulino roxo e há tempos que meu time não me dá grandes alegrias. Ser chamado na rua de bambi ou pipoqueiro não é fácil, mas mesmo assim, continuo firme e forte com o meu tricolor paulista, ainda mais que estamos jogando o nosso torneio preferido: a “Taça Libertadores da América”.

Jogos duros; tem que enfrentar nossos “hermanos” vizinhos. É uma ótima razão para se acompanhar ao vivo, no estádio. Torcida comparece em peso, mais de 40 mil pessoas vibrando por um ideal. Porra! É legal pra caramba! Até quem não gosta de futebol não consegue se deixar contagiar pelo clima de um estádio lotado. Você pula, vibra, xinga e sofre. É melhor do que qualquer psicólogo. “São tantas emoções”, já dizia o rei Roberto.

São-paulino é o torcedor mais inconstante que conheço. Time está jogando bem? Aplaudimos, berramos e incentivamos. Agora, quando erra um passe, perde um gol feito e nada do placar sair do zero? Dá até dó da mãe dos jogadores; a cada vez que vou eu aprendo um palavrão novo. Torcedor é uma figura.

Ontem, o jogo estava difícil, o tricolor jogava feio que até doía. Sorte que temos um atacante que joga pelo time inteiro. No início, tremendo sufoco. Diversos “treinadores” se manifestam. “Volta, Jean!”; “Olha a marcação!”; “Passa a bola, Simplício!”. Existem os religiosos, que a cada jogada erguem as mãos ao alto e tentam, de maneira atrapalhada, fazer o sinal da cruz. Às vezes sai uma Estrela de Davi, por distração.

Gol do Alianza. Silêncio... Impedido!, berro. Silêncio... A Independente puxa o coro: “São Paaaaaulooooooo! São Paaaaauloooo!”. O estádio obedece e o time vai pra cima. Bola na trave. Puta que o pariu!, exclamo, colocando as mãos na cabeça. Passe errado. Passa, filho-da-puta!; Vai!; isso... bate, bate, bate.... Gol. GOL! GOL! GOOOOOOOL!!. Estouram rojões, um sinalizador, ou coisa parecida, é aceso. Uma fumaça vermelha e branca toma conta da arquibancada. O juiz apita o final de primeiro tempo.

Olhamos um para a cara do outro. Nossos olhares expressam o mesmo sentimento. A torcida vibra, comemora como se fosse um gol; entra um time só de loiras de shortinhos, fazendo embaixada. Gostosa!; Tesão!, Tira a camisa!. A mulher se sente a Rita Cadillac em pleno Carandiru. O engraçado, é que só dá para ver a cabeleira das moças. Juro que se estiver um travesti lá embaixo, serão poucos o que notarão. O placar eletrônico dá a notícia preferida de são-paulinos, palmeirenses e santistas: gol do Ituano contra o Corinthians. “Ei, Corinthians! Vai tomar no **!”, ecoa Morumbi afora. Começa um das coisas mais legais já inventadas: a ola. O Morumbi vira mar e ondas são formadas. Ooooooolaaaaaa!, berro, levantando os braços e subindo na cadeira. Os times voltam, assim como o sofrimento.

Roubam a bola, lançamento para o Luis Fabiano. “Vai, caramba! Isso! Bate! Nossa Senhora! Que golaço, que golaço...”. GOOOOOOOOLLLL! Abraço sei-lá-quem. Amor de torcedor é amor de carnaval. Tiramos a camiseta e começamos a rodá-la no ar. Fica lindo. “Uh! Tricolor! Uh! Tricolor!”. A torcida inflama, canta o nome de seu ídolo-mor: “LU-IS FABIANO! LU-IS FABIANO!”. Mas como já disse, o meu tricolor adora gerar uns infartos em sua torcida. Passes errados, uma bola na trave contra, outra bola que passa raspando... CUCA, RETRANQUEIRO!, berro. A torcida chia, pede substituições. Após vinte minutos somos atendidos, entrando um baixinho, de Belém, chamado Vélber. “Esse joga!”, comenta o garoto ao meu lado. Joga mesmo: dribla, corta, passa direitinho. O paraense enfia uma bola magistral para o lateral direito, que cruza na medida para o nosso ídolo-mor, que de voleio marca mais um.

Daí vira uma festa. Gritamos “olé!” e “eliminados” para o time peruano. As camisetas novamente rodopiam no ar. Acaba o jogo e todos saem felizes. São Paulo vence e o Corinthians perde no amistoso que disputara. Uma quarta-feira perfeita.

7 de abr. de 2004

Gecilda


E não é que a Cida levou a bolada pra casa? Porra! 500 mil! O que eu faria com esse dinheiro? Viagens e mais viagens; uma casinha na Bahia... Rapaz, é muito dinheiro.

Fiquei feliz pelo fato dela ter ganhado o Big Brother. Babá; ganha um pouco mais de um salário mínimo e mora em uma casa caindo aos pedaços numa cidade que nunca ouvi falar. Nada mais justo do que dar o dinheiro àquele que precisa. Nem penso como ela vai gastá-lo; talvez faça uma lipoaspiração. Meu lado irônico já a imagina comprando umas cabeças de gado, investindo num grupo de pagode, ajudando os parentes... Dar dinheiro pra pobre é sempre a mesma história. Perdi a conta de quantas empregadas minha mãe já perdeu depois de dar férias a elas. Iam visitar os “primo” lá em riba e nunca voltavam. Aquele fim-de-mundo deve ter algo de especial, penso.

E como tinha pessoa tosca no programa. Eu não o assistia durante as semanas, apenas no domingo ou na terça – os dias decisivos. Essa história de “eu preciso do dinheiro mais do que você” não cola. Uma frentista lá era o nojo em pessoa. Sambava o dia inteiro com roupas minúsculas, valorizando aquilo que somente nossas mulatas têm. De vez em quando “esquecia” os peitos pra fora. Artifício barato. Pior eram aqueles que chamavam-na de burra, ignorante. “Ai, é pobre então é burro!”. A mulher por não saber cantar uma musica em inglês e chamar ofurô de furúnculo, é motivo de gozação nacional. Nada mais legal do que chamar o outro de burro, não é mesmo? Enquanto isso, corrupção e preconceito rola solto ao nosso lado. Fechamos os olhos e nos preocupamos com a mulata que não sabe inglês. Hipocrisia.

**Para a festa da rede Globo, sua “ingnorância” rendia preciosos pontos no ibope (vide o Faustão, que fez ela “cantar” por quase meia hora, jogando o Gugu lá embaixo).

Dizem as más línguas que até “puta de luxo” havia nesta edição. A mulher fala várias línguas, foi “modelo” em Miami e é filha de um ex-senador biônico. Tinha uma amiga do Galvão Bueno, um lutador de vale-tudo, um esportista quase olímpico e algumas pessoas podres de ricas, que têm como amigos, pessoas influentes na tevê do titio Marinho. Que estranho.

Para a final foram duas pessoas que entraram comprando uma revista e enviando um cupom para o programa. Pessoas extremamente simples e humildes, ao meu modo de ver. Criaram uma amizade honesta, meio “Encontros e Desencontros”. Quem disse que homem e mulher não podem ser grandes amigos?

Ganhou aquela mulher feinha, sem talento algum, que não sonha ser atriz ou apresentadora. Não vai receber convite para posar nua, parece não querer ser famosa, e que durante os meses em que ficou “enjaulada”, aproveitou para fazer aquilo de melhor da vida: comer e dormir bastante. Não se preocupou em fazer ginástica 24 horas por dia para ficar gostosa ao publico. Ao invés disso, resolveu tirar umas férias. Acabou com 500 mil reais no bolso. E mereceu.

*foto Globo.com

5 de abr. de 2004

Após os pioneiros Dado Dolabella e Ricardinho Mansur, tenho a honra de apresentar mais uma edição da famigerada série...

PESSOAS EM QUEM EU ENFIARIA A RAQUETE

Ed. III - Os críticos musicais

Sim, os críticos musicais. Com certeza a raça mais podre no jornalismo, perdendo apenas para os fofoqueiros. Pessoas egocêntricas, diria uma professora. Um bando de filho da puta, diria uma amiga. Musicos frustrados, que só valorizam o que NÃO toca mundo afora. Imitam os críticos das principais revistas mundiais e não suportam viverem num país como o nosso. "Tudo o que é tupiniquim é uma merda", é o lema dos críticos musicais.

Citarei apenas dois críticos, da Folha de S.Paulo. Por que da Folha? Bem, acho que eles estão mais em voga ultimamente. Dificilmente alguém não conhece:

Lúcio Ribeiro. Fã de Londres e de tudo que surge da terra da rainha. Qualquer coisa esquisita, estranha e chata ganha um lugar em sua coluna. Ídolo dos indies, vindo a ser também conhecido por Lucius Ribeirus, devido as suas profecias. Sua linguagem é pobre e chula. Quando não tem o que escrever, coloca algo sobre Morrissey, The Strokes ou Pixies. Parece que quando escreve sobre os Strokes, uma ereção lhe ocorre. É mais “popular”. O ápice de seu mau gosto veio quando ele indicou a banda Franz Ferdinand, dizendo mil e uma maravilhas. Em suma, é uma merda. É daqueles que adoram fazer uma listinha – o cúmulo da babaquice musical. Porém, entende de música, até certo ponto. Foi o primeiro a dizer que "Hey Ya" ia fazer um sucesso cão e que The Darkness é uma maravilha. Adora fazer umas promoções com os seus leitores. Os prêmios? Cds gravados pelo próprio Lúcio.

Álvaro Pereira Jr. Adora ser escroto e polêmico. Gosta tanto de si mesmo, que deve se masturbar olhando para o espelho. Faz questão de colocar no canto de sua coluna o seguinte detalhe: “editor do Fantástico”. Uau! Do Fantástico! Palmas para o grande Álvaro, um cara que acha que música boa só sai de São Francisco, Seattle e Nova Iorque. Adora ressaltar suas grandes peripécias de jovem filhinho-de-papai, ostenta com um tremendo orgulho o fato de ter visto o Nirvana quando não era famoso. Aliás, ele só fala de Nirvana, The White Stripes, Grandaddy e de algumas rádios horríveis de São Francisco. Tudo que é bom ele não gosta, diz que é do “povão” e não lhe interessa. Coldplay, para Álvaro, não passa de uma cópia do Radiohead. No show do Coldplay, em Sampa, jura ter ido embora quando ouviu “Yellow” ser cantada pelo público. “Banda de menininhas”, alcunha o babaca. Não sei qual a razão para gostar tanto de São Francisco. Vai ver ele tenha algumas “amigas” bacanas por lá.

Go West, Álvaro!*

*Irena Copyright

4 de abr. de 2004

À Procura de Libertinagem *



Usando de uma bela história de James Aggrey, o escritor Leonardo Boff faz do uso de metáforas para uma análise sobre o ser humano, seus pensares e desejos. Doutor honoris causa em política pela Universidade de Turim e formado em Teologia pela Universidade de Lund, Boff é um dos grandes teólogos e pensadores das últimas décadas. Seus questionamentos religiosos já chegaram a sofrer diversas punições vindas da Igreja Católica. Boff recebeu o “silêncio obsequioso” de aproximadamente um ano por parte do Vaticano.

Na história de Aggrey, um filhote ferido de águia é encontrado por um camponês, que cuida do animal. A águia desde cedo é criada junto às galinhas do camponês, chegando a adaptar-se como se fosse uma delas. Anda tal qual uma galinha e cisca como uma galinha, perdendo suas características de águia.

Certo dia, um amigo do camponês vê tal cena e não aceita o fato de uma águia agir com uma galinha. Durante vários dias, o amigo do camponês busca incentivar à águia a fazer o que a natureza lhe permitiu: voar, sumir pelo horizonte - em suma – ter a sua tão sonhada liberdade – feito conseguido após algum tempo.

Esta é a metáfora do livro: nós seres humanos, em alguns momentos, somos galinhas ou águias?

O livro, então, cria diversos ensinamentos para nós, seres humanos. Devemos lutar pelos nossos direitos, assumirmos uma identidade própria, sermos críticos e não alienados. Buscar a liberdade assim como a águia um dia fez. Boff diz que todos têm dentro do coração uma força de vontade, que nos guiará para buscarmos o que desejamos e almejamos um dia conquistar. Deve-se apenas procurar despertá-la e incentivá-la. “Existe uma águia dentro de cada um”, aparece escrito em dado momento.

Há citações teológicas e filosóficas. Explicando de maneira simples e clara, Boff faz do leitor parte do livro. Identificamos em algumas linhas nossos medos, frustrações e sonhos. O escritor faz do livro um divã. É impressionante a capacidade que Boff tem em lidar com os sentimentos, fazendo de sua obra algo belo e cativante. Em sua obra anterior, A Teologia da Libertação, o escritor já demonstrava uma “evolução” de seus pensamentos da década passada. Usando de base a sua “Teologia da Libertação”, as metáforas usadas por Boff são críticas, relacionadas à situação do mundo; cheio de contrastes e, ao mesmo tempo, globalizado.

Tanto o livro como a bela fábula de James Aggrey, remetem ao próprio ser humano. Aggrey usou sua história para acordar milhares de colonizados de Costa do Ouro. Após anos de colonização inglesa, ele compara o seu povo com a águia-galinha do conto, fazendo com que todos ao terminarem de ouvir a história, buscassem a tão sonhada independência que a águia conseguiu. Hoje, o país Gana é a antiga Costa do Ouro.

Boff, assim como Aggrey, busca fazer com que seus leitores criem uma consciência, tenham uma visão própria sobre o mundo. Ele apenas nos remete ao nosso lado águia. Basta acreditarmos, que é possível.


*minha primeira resenha critica \o/

2 de abr. de 2004



Ah, as mulheres! Seres tão diferentes e enigmáticas. Judiam da gente e ainda gostamos delas. Maltratam-nos com suas delicadas mãos, que sabem e, muito, como se defender. Têm um olhar curioso e observador. Sabem o que sentimos simplesmente lendo os nossos olhos. Ah, as mulheres! O que seria da vida sem as mulheres? Certamente não teria graça; tudo ficaria preto e branco.

Mulher elegante e clássica é um charme. Sabem andar e, principalmente, nos conquistar. Conhecem as artimanhas passadas por suas mães e avós. A gota certa do perfume, a maquiagem sem ser exagerada ou desleixada. Costumo dizer que não andam, desfilam. Nada é mais bonito que uma mulher que tenha postura ao andar. Nariz para frente, nem para cima ou para baixo. Usa cabelos presos com um lápis; não precisa de mais nada.E quando solta? Ah, quando solta. Lembra uma cena hollywoodiana. Nada mais sexy do que um belo cabelo, brincando com o vento.

Cabelo de mulher não precisa ser liso e comprido. Elas não sabem disso, que pena. Cabelo curtinho pode ser charmoso; cabelo ondulado e crespo ainda mais. Pode se optar por não ter cabelo; qual o problema? Tem que combinar com a pessoa, com a sua atitude. Gosto principalmente dos lábios de uma mulher. Alguns são finos e claros. Um mimo. Mas têm os carnudos. Ah, os carnudos. Dou o mundo por uma bela boca. Uma relva de tentações. Quem não repara numa bela boca?

Gosto de mulher compromissada. Meu cupido às vezes erra na pontaria. Mulher compromissada já sabe das coisas, não precisa passar por todo aquele árduo processo que uma mulher precisa para arranjar um companheiro (a). Mulher compromissada quando não quer se aprontar veste um moletom, uma camisa larga e nem por isso deixa de ser sexy. Mulher compromissada usa agasalho para deixar o namorado tranqüilo. Mal sabe ele que elas por baixo não costumar usar nada, nadica. Reparamos e fantasiamos. O que será que há escondido?

Tatuagem nem se fala; nada instiga mais do que uma pontinha de uma tatuagem escapulindo da saia. Reparamos e fantasiamos, novamente. Mulher interessante sabe brincar com a nossa cabeça, entrar em nossos sonhos. Usa e abusa, diz que não quer, mas quer. Sorriso tímido, mas ousado. Uma gargalhada. Ah, uma gargalhada. Às vezes isso basta.

Mulher divertida compensa qualquer quesito citado. São as melhores companheiras. Dizem que duram para a vida inteira. Mulher chata e ranzinza ninguém gosta. Pode ser um mar de desejos, mas ninguém gosta.

Mulher tem que ser mulher; não precisa de mais. Para quê mais?