4 de abr. de 2004

À Procura de Libertinagem *



Usando de uma bela história de James Aggrey, o escritor Leonardo Boff faz do uso de metáforas para uma análise sobre o ser humano, seus pensares e desejos. Doutor honoris causa em política pela Universidade de Turim e formado em Teologia pela Universidade de Lund, Boff é um dos grandes teólogos e pensadores das últimas décadas. Seus questionamentos religiosos já chegaram a sofrer diversas punições vindas da Igreja Católica. Boff recebeu o “silêncio obsequioso” de aproximadamente um ano por parte do Vaticano.

Na história de Aggrey, um filhote ferido de águia é encontrado por um camponês, que cuida do animal. A águia desde cedo é criada junto às galinhas do camponês, chegando a adaptar-se como se fosse uma delas. Anda tal qual uma galinha e cisca como uma galinha, perdendo suas características de águia.

Certo dia, um amigo do camponês vê tal cena e não aceita o fato de uma águia agir com uma galinha. Durante vários dias, o amigo do camponês busca incentivar à águia a fazer o que a natureza lhe permitiu: voar, sumir pelo horizonte - em suma – ter a sua tão sonhada liberdade – feito conseguido após algum tempo.

Esta é a metáfora do livro: nós seres humanos, em alguns momentos, somos galinhas ou águias?

O livro, então, cria diversos ensinamentos para nós, seres humanos. Devemos lutar pelos nossos direitos, assumirmos uma identidade própria, sermos críticos e não alienados. Buscar a liberdade assim como a águia um dia fez. Boff diz que todos têm dentro do coração uma força de vontade, que nos guiará para buscarmos o que desejamos e almejamos um dia conquistar. Deve-se apenas procurar despertá-la e incentivá-la. “Existe uma águia dentro de cada um”, aparece escrito em dado momento.

Há citações teológicas e filosóficas. Explicando de maneira simples e clara, Boff faz do leitor parte do livro. Identificamos em algumas linhas nossos medos, frustrações e sonhos. O escritor faz do livro um divã. É impressionante a capacidade que Boff tem em lidar com os sentimentos, fazendo de sua obra algo belo e cativante. Em sua obra anterior, A Teologia da Libertação, o escritor já demonstrava uma “evolução” de seus pensamentos da década passada. Usando de base a sua “Teologia da Libertação”, as metáforas usadas por Boff são críticas, relacionadas à situação do mundo; cheio de contrastes e, ao mesmo tempo, globalizado.

Tanto o livro como a bela fábula de James Aggrey, remetem ao próprio ser humano. Aggrey usou sua história para acordar milhares de colonizados de Costa do Ouro. Após anos de colonização inglesa, ele compara o seu povo com a águia-galinha do conto, fazendo com que todos ao terminarem de ouvir a história, buscassem a tão sonhada independência que a águia conseguiu. Hoje, o país Gana é a antiga Costa do Ouro.

Boff, assim como Aggrey, busca fazer com que seus leitores criem uma consciência, tenham uma visão própria sobre o mundo. Ele apenas nos remete ao nosso lado águia. Basta acreditarmos, que é possível.


*minha primeira resenha critica \o/

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