Eu Futebol Clube
Todo blogueiro é um pouco pernóstico. Metido, arrogante e exibido; os adjetivos são muitos. Existe aquela raça de blogueiro mala, que não suporta o fato de não ter comentários. “Oi, comenta no meu blog? Você vai adorar”. Raça pior que essa, só aquela dos blogueiros que fazem uma auto-análise dos próprios textos. “Vejam bem: aqui eu estou querendo dizer tal coisa, acolá estou me referindo a tal escritor. Nesse ponto deixei uma piada implícita. Ah, vai me dizer que vocês não gostaram dela?”.
Eu tenho um professor que se encaixa nessa patota. Ele não é blogueiro (ufa!), mas um “escritor”. O rapaz adora ler textos e fazer referências literárias – sobre seus textos, lógico. É impressionante; cada semana acontece uma nova pérola.
Primeiro, ele nos obrigou a pegar um xérox de uma apostila feita pelo próprio. É uma mini-bíblia, literalmente. Sempre que eu carrego-a na mochila, minha cifose piora. Já estou até providenciando algumas aulas de ioga. Na apostila têm vários textos, e alguns escritos por adivinhem quem? O professor. Pior é que ele abre a apostila, cita todo orgulhoso o autor da “obra” e começa a comentar o que escrevera. Gente, ele analisa o que escreve na frente de 50 alunos! O pior é que não aceita contradições. Ele faz bico e atira a pedra no aluno. Para ser “legal”, diz depois que estava brincando, com uma risadadinha à la Zacharias.
Isso não foi nada; semana passada foi mais impressionante. Ele chega na aula de outro professor com um pacote de papelão embaixo do braço. Chegou o pó, penso. Mas era outro tipo de droga: um livro da editora dele, organizado por ele, escrito em parceria com amigos dele e, pasmem, com um capítulo escrito por... hummm... ELE! Deixo cá a sua frase.
- Pessoal. Vou deixar os livros que vocês vão comprar. Eu cobro 14 reais. Se quiserem pagar depois, é só deixar anotado no papel aqui. Nas livrarias está mais caro, viu!
Nessas horas eu me torno um cristão de primeira; rezo até para santo desconhecido. Qualquer um que mande um raio no meio da cuca do professor já me faz de seu devoto eterno. Como nunca funciona essa tática, peguei meus 15 reais da carteira e comprei o maldito livro.
Talvez vocês estejam dando risada e se perguntando: “Porra, Gustavo! Critica o cara e depois compra o livro dele?”. Bem, leitor. Eu preciso, antes de tudo, terminar o meu curso sem nenhuma DP. Sempre existem essas figuras em cada lugar, que adoram colocar os alunos em recuperação. O prazer disso supera um orgasmo, ou quem sabe, uma torta de chocolate, dependendo da pessoa.
Tenho certeza que na prova do professor, alguns textos serão obrigatórios, indispensáveis. Se não ler tal texto é bomba, meus caros.
Agora, de quem serão textos?
31 de mar. de 2004
28 de mar. de 2004
Apesar de ser paulista, com um certo orgulho, preciso dizer algo que abalará a minha reputação: paulista não sabe fazer churrasco.
Tenho uma teoria interessante, a de que quanto mais perto chegamos da metrópole, pior é o churrasco da região. Sorocaba, cidade há quase 100km de São Paulo, não sabe fazer churrasco. São Paulo muito menos. Já Tupã, quase 500km de Sampa, produz um churrasco de primeira qualidade.
Sorocabano adora churrasco. Nasceu meu filho? Churrasco. Timão é campeão? Churrasco. Extraí os dentes do siso? Churrasco (vai ser difícil aproveitá-lo). Em Sorocaba existe um dos piores churrascos brasileiros. Sempre falta carne, é impressionante. Neguinho acha que basta passar no açougue e pegar uma picanha e uma maminha que já dá em samba. Não é assim; comer carne com carne não rola, meus amiguinhos. Visando isso, sorocabano possui uma teoria impressionante: pão e molho vinagrete. Fica um churrasco horrível: pouca carne, pouco pão, muito vinagrete e Brahma pra galera. Totalmente sem graça.
Paulistano também é outro caso sério; quando é churrasco no prédio, pior ainda. Fica cada um com uma incumbência. Fulano traz carne, ciclana refrigerante. Impressionante que todas as mulheres se estapeiam pra fazer maionese. Churrasco de paulistano só tem maionese. Maionese de atum, maionese de frutas não-sei-do que... Parece que mulher só sabe fazer isso. Salada nem se fala. Sou vaca, por acaso? Outra mania irritante é a de pegar a carne e cortar em pedaços minúsculos. Parece comida de peixe. Aquele “tio” - depois de tomar umas e outras - pega a faca, afia, afia de novo e corta pedacinho por pedacinho. Você nunca sai satisfeito após um churrasco paulistano.
Agora em Tupã, o churrasco é de primeira. Pessoal do interior, mas do interior mesmo, não poupa em nada. Tem mandioca, tem lingüiça, tem polenta, tem frango, tem salada, tem todo tipo de molho, tem macarronada, tem picanha, tem alcatra, tem maminha, tem contra-filé, tem sorvete, tem frango, tem lingüiça de peru, tem lingüiça de frango, tem cupim, tem kafta... Você sai até zonzo depois de uma refeição dessas. Procura imediatamente um lugar pra sentar, esticar as pernas e ahhhhhh! Tirar aquela pestana gostosa. Depois na janta você come o que sobrou. Isso é um churrasco dos bambas.
Americano deve ser um infeliz. Que raio de barbecue é esse? Hambúrguer com limonada? Cachorro-quente com marguerita? Depois conhecem São Paulo e ficam apaixonados pelo churrasco da cidade. “Look, Honey! Cai-pi-rin-ha! Pi-can-ha!”. Maravilham-se ao verem carne sendo servida num espeto. Coisa inovadora, rapaz!
Vou levá-los para Tupã e mostrar as maravilhas da culinária interiorana paulista. Vão ficar até vesgos!
25 de mar. de 2004
Tio Gu
Eu sempre tive jeito com crianças (sem insinuações, por favor). Passo na rua e vejo uma, logo faço uma careta, uma trapalhada. Ganho um sorriso ou uma gargalhada. Com os meus primos menores também era assim. “Gu, vamo jogá bola!”; “Gu, vamo brincá de corrida?”.
Não tinha jeito; eu participava da brincadeira numa boa. Emprestava alguns brinquedos, deixava subir na minha cama. Só não podia usar meu vídeo-game. “Gu, joga um joguinho no vídeo-game?”. Minha resposta nunca mudava: ou dizia que o brinquedo havia quebrado, ou falava que havia emprestado para algum amigo. Como criança é um ser absurdamente inteligente, eles não caiam na minha falácia até eu mostrar um carrinho ou algum boneco do “Comandos em Ação”. Era chantagem pura.
A vizinha de minha avó teve um filho recentemente. É o xodó do prédio. Aperta bochecha daqui, faz um cafuné de cá; e pega no colo e tira do colo... Ser bebê é uma tarefa árdua. O coitado está tirando uma soneca em frente à tv e logo vem aquela vizinha de 70 anos do andar debaixo. “Mas que coisinha mais fofa! Posso pegar no colo? Ai, mas ti gracinha que você é! Tá com soninho? Nana nenê, que a cuca vem pegar...”. Fico imaginando o moleque, olhando para aquela coroa de pele flácida e cheirando a laquê. É a cuca em pessoa.
Eis que ontem o nenê chega aqui em casa. Estava eu e titia, somente. A mãe da criança pergunta se pode usar a impressora. Ouve uma resposta afirmativa. Dou um “oi” para o guri e venho para o quarto. Alguém bate na porta.
- Gustavo... pode tomar conta do “Felipão” um pouquinho? Só até eu terminar meu trabalho.
Nem respondi e já ganhei um “pacote” de 6 kg no meu colo. Olha para mim indiferente, com estranheza, seus olhos percorrem o minúsculo quarto. Olha para mim. “Eita garoto sério!”, penso. Faço uma careta e nada. Mostro a língua e nada. Mostro as minhas duas mãos ao garoto; ele observa atentamente. Faço aquela brincadeira de “arrancar o dedão e colocá-lo no lugar de volta”. Espanto. Olha para a porta e procura a mãe. Faz uma careta e dá aquele choro infernal que só os bebês sabem fazer. Ocorre uma correria geral no apartamento. A mãe, já acostumada, me atenta:
- Coloca algum desenho que ele pára com essa manha.
A anta da mãe talvez não reparara que eu estava usando o computador do meu tio. Não dava pra bater um texto e deixar o moleque sozinho, vendo televisão. Vai que ele capota da cama e cai de cabeça no chão. Isso deixa traumas profundos - vide a pessoa que vos escreve.
Olha para mim de novo, com aqueles “zóio” de jabuticaba. Tenho uma idéia: digito no teclado www.happytreefriends.com. Aproveito a banda larga e mando bala. Começa o desenho e, curiosamente, o bebê fica quieto. Dá uma risada, e torna-se uma bateria de escola de samba, tamanho o seu entusiasmo. Acaba o desenho e ele se volta para mim e aponta aquela minúscula mão em direção ao monitor. Mostro outro desenho e ele fica doido - literalmente. Estoura a cabeça do coelho e ele adora, o alce perde um olho e ele vibra, um bicho lá é atropelado e ele comemora. Até baba no macacão, a criatura.
Quando vai embora, sua mãe me pergunta:
- O que fez ele ficar quieto? Ele só fica quieto quando está passando Teletubbies.
- É, isso mesmo que eu coloquei... ele adora mesmo!
E foi-se embora a mãe, com o guri numa adrenalina tremenda. Mal sabe ela o monstro que eu criei.
Eu sempre tive jeito com crianças (sem insinuações, por favor). Passo na rua e vejo uma, logo faço uma careta, uma trapalhada. Ganho um sorriso ou uma gargalhada. Com os meus primos menores também era assim. “Gu, vamo jogá bola!”; “Gu, vamo brincá de corrida?”.
Não tinha jeito; eu participava da brincadeira numa boa. Emprestava alguns brinquedos, deixava subir na minha cama. Só não podia usar meu vídeo-game. “Gu, joga um joguinho no vídeo-game?”. Minha resposta nunca mudava: ou dizia que o brinquedo havia quebrado, ou falava que havia emprestado para algum amigo. Como criança é um ser absurdamente inteligente, eles não caiam na minha falácia até eu mostrar um carrinho ou algum boneco do “Comandos em Ação”. Era chantagem pura.
A vizinha de minha avó teve um filho recentemente. É o xodó do prédio. Aperta bochecha daqui, faz um cafuné de cá; e pega no colo e tira do colo... Ser bebê é uma tarefa árdua. O coitado está tirando uma soneca em frente à tv e logo vem aquela vizinha de 70 anos do andar debaixo. “Mas que coisinha mais fofa! Posso pegar no colo? Ai, mas ti gracinha que você é! Tá com soninho? Nana nenê, que a cuca vem pegar...”. Fico imaginando o moleque, olhando para aquela coroa de pele flácida e cheirando a laquê. É a cuca em pessoa.
Eis que ontem o nenê chega aqui em casa. Estava eu e titia, somente. A mãe da criança pergunta se pode usar a impressora. Ouve uma resposta afirmativa. Dou um “oi” para o guri e venho para o quarto. Alguém bate na porta.
- Gustavo... pode tomar conta do “Felipão” um pouquinho? Só até eu terminar meu trabalho.
Nem respondi e já ganhei um “pacote” de 6 kg no meu colo. Olha para mim indiferente, com estranheza, seus olhos percorrem o minúsculo quarto. Olha para mim. “Eita garoto sério!”, penso. Faço uma careta e nada. Mostro a língua e nada. Mostro as minhas duas mãos ao garoto; ele observa atentamente. Faço aquela brincadeira de “arrancar o dedão e colocá-lo no lugar de volta”. Espanto. Olha para a porta e procura a mãe. Faz uma careta e dá aquele choro infernal que só os bebês sabem fazer. Ocorre uma correria geral no apartamento. A mãe, já acostumada, me atenta:
- Coloca algum desenho que ele pára com essa manha.
A anta da mãe talvez não reparara que eu estava usando o computador do meu tio. Não dava pra bater um texto e deixar o moleque sozinho, vendo televisão. Vai que ele capota da cama e cai de cabeça no chão. Isso deixa traumas profundos - vide a pessoa que vos escreve.
Olha para mim de novo, com aqueles “zóio” de jabuticaba. Tenho uma idéia: digito no teclado www.happytreefriends.com. Aproveito a banda larga e mando bala. Começa o desenho e, curiosamente, o bebê fica quieto. Dá uma risada, e torna-se uma bateria de escola de samba, tamanho o seu entusiasmo. Acaba o desenho e ele se volta para mim e aponta aquela minúscula mão em direção ao monitor. Mostro outro desenho e ele fica doido - literalmente. Estoura a cabeça do coelho e ele adora, o alce perde um olho e ele vibra, um bicho lá é atropelado e ele comemora. Até baba no macacão, a criatura.
Quando vai embora, sua mãe me pergunta:
- O que fez ele ficar quieto? Ele só fica quieto quando está passando Teletubbies.
- É, isso mesmo que eu coloquei... ele adora mesmo!
E foi-se embora a mãe, com o guri numa adrenalina tremenda. Mal sabe ela o monstro que eu criei.
24 de mar. de 2004
The Brega Álbum
Tava aqui matutando: com essa onda de pegar um disco e remixar com o outro, assim como fez aquele Dj com o curioso The Grey Álbum, pegando Beatles e Jay-Z; não seria legal que tal onda chegasse ao Brasil?
Poderiam surgir algumas maluquices. Nossa música tem essa capacidade. Imaginem misturar um Tim Maia com Racionais? “Do leme, ã ã ã, do leme ao pon-tal” Pegasse aquele timbre de Tim e fizesse com umas pausadas de rap seriam bem legais. Tim Maia poderia soar também como um Barry White brazuca.
Outra maluquice, minha, seria Xuxa com mangue beat. A rainha dos baixinhos cantando "Brincar de Índio” com os arranjos de “Maracatu Atômico" de Chico Science & Nação Zumbi. Ficaria um surto formidável.
Mas uma mistureba que agradaria à minha pessoa é CPM 22 com KLB. Quem me conhece, sabe que essa teoria minha já é das antigas. Pegaria aqueles arranjos horríveis dos irmãos e mesclaria com os vocais de Badauí. Peguem essa música deles “Não Sei Viver Sem Ter Você”. Moleque, dá muito bem pra fazer um arranjo tosco de fundo. A “obra-prima” se chamaria "The Brega Álbum".
Venderia horrores – no camelô, obviamente.
Tava aqui matutando: com essa onda de pegar um disco e remixar com o outro, assim como fez aquele Dj com o curioso The Grey Álbum, pegando Beatles e Jay-Z; não seria legal que tal onda chegasse ao Brasil?
Poderiam surgir algumas maluquices. Nossa música tem essa capacidade. Imaginem misturar um Tim Maia com Racionais? “Do leme, ã ã ã, do leme ao pon-tal” Pegasse aquele timbre de Tim e fizesse com umas pausadas de rap seriam bem legais. Tim Maia poderia soar também como um Barry White brazuca.
Outra maluquice, minha, seria Xuxa com mangue beat. A rainha dos baixinhos cantando "Brincar de Índio” com os arranjos de “Maracatu Atômico" de Chico Science & Nação Zumbi. Ficaria um surto formidável.
Mas uma mistureba que agradaria à minha pessoa é CPM 22 com KLB. Quem me conhece, sabe que essa teoria minha já é das antigas. Pegaria aqueles arranjos horríveis dos irmãos e mesclaria com os vocais de Badauí. Peguem essa música deles “Não Sei Viver Sem Ter Você”. Moleque, dá muito bem pra fazer um arranjo tosco de fundo. A “obra-prima” se chamaria "The Brega Álbum".
Venderia horrores – no camelô, obviamente.
22 de mar. de 2004
I wanna be Made
Se o caro leitor possui Net, TVA, Directv ou, simplesmente faz gambiarra com o vizinho, provavelmente já deve ter dado uma olhadela no programa Made, transmitido pela MTV.
Como diria o Chris Rock: “A MTV faz programa sobre tudo, menos de música”. Com Made não é diferente. A sinopse de cada episódio é esta: alguém manda uma cartinha para os produtores da rede de televisão e contam sobre o tipo de transformação que querem passar. Pelo que eu percebi, não há preconceito. “MTV, eu quero ser transformada numa Drag Queen”. Pimba! Pode apostar que eles vão te colocar no ar. Já teve gordinha sonhando ser salva-vidas, bandinha de rock almejando o sucesso e um rapaz tornado-se cheerleader. Poderia citar esses casos, mas ficarei com dois em especial, que guardo do lado esquerdo do peito, como diria Milton Nascimento.
Ambos os desejos têm seu ponto em comum: ser popular na escola. Pois é: “isso não é mais um filme teen americano”, é realidade. Dois garotos desejam serem os ídolos da escola; um sendo jogador de basquete e o segundo dando uma melhorada no visual, ficando mais, digamos, apresentável.
O primeiro caso, fala de um garoto de 15 anos no máximo. Desajeitado, bobão, engraçado e um fracasso com as mulheres. Alvo de piadinhas constantemente. Resumo: uma Carrie em potencial. Ele começa a treinar basquete, sonhando fazer parte do time da escola. Meu cachorro jogar melhor do que o moleque. Ele tropeça, escorrega, não sabe conduzir a bola e corre de um jeito bem bizarro. O treinador coça a cabeça e cobra mais. Eis que surge o highlight do programa: a raiva escondida no moleque Esse maldito mal de adolescente, onde tudo é feito para os outros, e não para si próprio. O treinador observa tal fato, e trabalha com o emocional do guri. Não é porque ele sabe jogar basquete que ele será alguém mais bacana (ok, no colegial isso não se aplica). O garoto fica mais confiante, e até arranja um “date”. No final ele ganha uma vaga no time, fazendo cesta de três pontos e tudo. Daria um belo filme.
Agora falemos do segundo caso. Imaginem um ser humano que parece uma lombriga usando camisa xadrez, cabelo escorrido de gel e óculos fundo de garrafa. Nada atraente, hein? Some a esse “Gianecchini” uma gargalhada de mongolóide. Cara, é o Nerd em pessoa!
Cansado de jogar Counter Strike, o moço sonha com um encontro. A camisa xadrez dá lugar a uma moderninha, lentes de contato surgem, assim como luzes em seu cabelo – agora todo bagunçado. Façam suas apostas: conseguiu um encontro ou não? Obviamente que a resposta é negativa. O sujeito continuava um escroto internamente, achando que só a aparência faz o ser humano digno de um lugar ao sol. Numa festa zoaram com o moleque do mesmo jeito dos tempos de outrora.
Eu, quando criança, era gordinho, já na adolescência parecia o Cazuza em estado terminal. Porra! Eu conheço os dois lados da moeda. Mas poucas pessoas me zoavam até me conhecer. Não serei hipócrita de afirmar que não liguei para o pensamento dos outros. É lógico que eu me importava com isso: eu fui e, sou, um adolescente.
Na sexta série eu era apaixonado pela musa da sala de aula. Dava chicletes, fazia mimos: um Thyrso. Até que certo dia ela comentou no corredor, e escutei de raspão: “Por que esse gordo não se toca do quanto é idiota?”. Ouvi e me segurei para não me atirar ladeira abaixo. Cheguei em casa e vi-me ao espelho. Emagreci, afinei e fiquei outra pessoa – por fora. As pessoas que antes eram minhas amigas; continuaram sendo. Aqueles me ignoravam? Eu agora os ignorava. Foi uma tremenda lição. Podem dizer sou narigudo, que dá pra fazer um gol entre meus dentes, que minha perna é fina e se passo Blondo nela...
Deixa pra lá. Dê risada. "Humor", que palavra mais bunitinha! Já vivemos num mundo tão sem graça e preconceituoso. Para que fazer parte dele? Deixo cá meu momento dica do dia: mande aquela garota gostosa e metida da sua sala à merda. Faz um bem, meu caro... E olhe que você ainda pode faturá-la no final das contas
OBS: Ano passado, a menina, a qual me referi, estudou na minha sala, após cinco anos sem vê-la. Estava gorda e espinhenta; um tremendo canhão. Rá!
Se o caro leitor possui Net, TVA, Directv ou, simplesmente faz gambiarra com o vizinho, provavelmente já deve ter dado uma olhadela no programa Made, transmitido pela MTV.
Como diria o Chris Rock: “A MTV faz programa sobre tudo, menos de música”. Com Made não é diferente. A sinopse de cada episódio é esta: alguém manda uma cartinha para os produtores da rede de televisão e contam sobre o tipo de transformação que querem passar. Pelo que eu percebi, não há preconceito. “MTV, eu quero ser transformada numa Drag Queen”. Pimba! Pode apostar que eles vão te colocar no ar. Já teve gordinha sonhando ser salva-vidas, bandinha de rock almejando o sucesso e um rapaz tornado-se cheerleader. Poderia citar esses casos, mas ficarei com dois em especial, que guardo do lado esquerdo do peito, como diria Milton Nascimento.
Ambos os desejos têm seu ponto em comum: ser popular na escola. Pois é: “isso não é mais um filme teen americano”, é realidade. Dois garotos desejam serem os ídolos da escola; um sendo jogador de basquete e o segundo dando uma melhorada no visual, ficando mais, digamos, apresentável.
O primeiro caso, fala de um garoto de 15 anos no máximo. Desajeitado, bobão, engraçado e um fracasso com as mulheres. Alvo de piadinhas constantemente. Resumo: uma Carrie em potencial. Ele começa a treinar basquete, sonhando fazer parte do time da escola. Meu cachorro jogar melhor do que o moleque. Ele tropeça, escorrega, não sabe conduzir a bola e corre de um jeito bem bizarro. O treinador coça a cabeça e cobra mais. Eis que surge o highlight do programa: a raiva escondida no moleque Esse maldito mal de adolescente, onde tudo é feito para os outros, e não para si próprio. O treinador observa tal fato, e trabalha com o emocional do guri. Não é porque ele sabe jogar basquete que ele será alguém mais bacana (ok, no colegial isso não se aplica). O garoto fica mais confiante, e até arranja um “date”. No final ele ganha uma vaga no time, fazendo cesta de três pontos e tudo. Daria um belo filme.
Agora falemos do segundo caso. Imaginem um ser humano que parece uma lombriga usando camisa xadrez, cabelo escorrido de gel e óculos fundo de garrafa. Nada atraente, hein? Some a esse “Gianecchini” uma gargalhada de mongolóide. Cara, é o Nerd em pessoa!
Cansado de jogar Counter Strike, o moço sonha com um encontro. A camisa xadrez dá lugar a uma moderninha, lentes de contato surgem, assim como luzes em seu cabelo – agora todo bagunçado. Façam suas apostas: conseguiu um encontro ou não? Obviamente que a resposta é negativa. O sujeito continuava um escroto internamente, achando que só a aparência faz o ser humano digno de um lugar ao sol. Numa festa zoaram com o moleque do mesmo jeito dos tempos de outrora.
Eu, quando criança, era gordinho, já na adolescência parecia o Cazuza em estado terminal. Porra! Eu conheço os dois lados da moeda. Mas poucas pessoas me zoavam até me conhecer. Não serei hipócrita de afirmar que não liguei para o pensamento dos outros. É lógico que eu me importava com isso: eu fui e, sou, um adolescente.
Na sexta série eu era apaixonado pela musa da sala de aula. Dava chicletes, fazia mimos: um Thyrso. Até que certo dia ela comentou no corredor, e escutei de raspão: “Por que esse gordo não se toca do quanto é idiota?”. Ouvi e me segurei para não me atirar ladeira abaixo. Cheguei em casa e vi-me ao espelho. Emagreci, afinei e fiquei outra pessoa – por fora. As pessoas que antes eram minhas amigas; continuaram sendo. Aqueles me ignoravam? Eu agora os ignorava. Foi uma tremenda lição. Podem dizer sou narigudo, que dá pra fazer um gol entre meus dentes, que minha perna é fina e se passo Blondo nela...
Deixa pra lá. Dê risada. "Humor", que palavra mais bunitinha! Já vivemos num mundo tão sem graça e preconceituoso. Para que fazer parte dele? Deixo cá meu momento dica do dia: mande aquela garota gostosa e metida da sua sala à merda. Faz um bem, meu caro... E olhe que você ainda pode faturá-la no final das contas
OBS: Ano passado, a menina, a qual me referi, estudou na minha sala, após cinco anos sem vê-la. Estava gorda e espinhenta; um tremendo canhão. Rá!
19 de mar. de 2004
Revolucionários de Araque
Certa vez, num protesto contra o famigerado imperialismo norte-americano, alguns estudantes tupiniquins de bandeiras, faixas e cuia, dirigiram-se até a rede McDonald’s. Algo muito óbvio, digamos. Qualquer bobão que se ache um anti-americano xinga a rede de fast-food e odeia a Nike. Bem, voltemos a manifestação; televisão, repórteres, curiosos; tudo o que uma muvuca pede. Eis que surge o gerente do McDonald’s, pintoso, com um terno arrumado, broche de um “M” amarelo no peito; um arraso. Olha os microfones em sua frente, dirige o olhar aos manifestantes e dá a cartada final.
- Ok. Peço que vocês mandem algum representante para conversamos, mas, primeiro, gostaria que vocês tirassem seus tênis, camisetas e calças americanas.
Imagino a cena: um trouxa, com uma bandeira na mão, olha para o “companheiro” ao seu lado. “Ih, maluco! Teu tênis é da Adidas!”; “Meu, e sua camisa é Gap!”.
Entenderam a brilhante sacada do gerente do McDonald’s? É um caso extremamente comum, aplicado aos “falsos revolucionários”. Muitos são filhinhos de papai, mimados, que não tendo o que fazer pra satisfazer seus egos, resolvem adotar uma “política” esquerdista. A mudança é digna de um Queer Eye for The Straight Guy. Sex Pistols é trilha sonora obrigatória. Che Guevara estampado em camisas, broches de estrelas vermelhas, e uma incrível habilidade para desenhar o símbolo do anarquismo. A imagem está em dia, porém a mentalidade... Não sabem ouvir criticas, acreditem. O discurso? O mesmo. “Os jovens de hoje são alienados, ninguém mais quer mudar o mundo; a burguesia é escrota...”.
Na PUC, diversas faixas são erguidas, protestando contra os preços abusivos da faculdade, ofendendo o reitor, pedindo reformas nos ambientes de estudo e mais laboratórios. Em suma, algo que justifique o dinheiro que aplicamos no estabelecimento. Tudo certo, segundo meu ponto de vista. Acontece, que lá existem diversos “falsos revolucionários”. Uma, em especial, é veterana de jornalismo. Na segunda-feira ela veio falar com os calouros. Adotando um discurso light, explicou o que reivindicavam, dizendo que os professores não estão recebendo pagamento, e que uma assembléia seria realizada para discutir o problema. Achei bacana, mas não fui na tal assembléia. Parece que muitos tiveram a mesma idéia...
Quinta-feira, a garota volta. Num discurso totalmente diferente, cobra de nós - alunos, uma postura critica. O tom de voz aumenta gradativamente, assim como seus gestos. Acho que ela viu algum discurso do Hitler e copiou cada gesto, treinando exaustivamente em frente ao espelho. Era uma fala agressiva, tentando mostrar poder. Uma gordinha de cabelo à Elba Ramalho me passando lição de moral. Como diria vovó: Ai, Dio santo!
Hoje, aconteceu o ápice da "guerra interna". Alunos de Ciências Sociais invadiram a reitoria e, até o momento que escrevo, estão lá firmes e fortes. Dizem que 13 alunos desse curso foram suspensos, e cobram a reintegração dos mesmos, além daquilo que muitas faixas pedem e a “Elba cover” disse.
Resolvi ir à reitoria e ver o que estava acontecendo. Muitos, novamente, fizeram o mesmo. Parecia uma manifestação legal: ninguém quebrou nada, nada foi roubado. Comecei a me simpatizar com a patota. Olho para o mastro das bandeiras e pergunto para o garoto ao meu lado:
- Não seria legal trocar a bandeira? Tirar essa da PUC e colocar uma preta em seu lugar?
Isso é um símbolo, além de dar uma foto de primeira capa. Falamos com uma das garotas que realizaram o “plano” e ela nos responde:
- Ninguém tem uma bandeira. Nós estamos procurando uma vermelha.
Eeeepaaaa! , gritaria Vera Verão. Bandeira vermelha? Algo está errado. Dou alguns passos e numa lousa está lá, aquele símbolo tosco de anarquia. Desço as escadas e três garotas usam boinas para o lado, como Che, e broches de estrela vermelha nas mesmas boinas. Seus tênis? Nike e Adidas. Camisetas? Com mensagens em inglês. Primeiro cai à ficha do garoto ao meu lado, depois a minha, e assim se segue o efeito dominó.
Depois, descubro, que na verdade os professores estão com 50% do 13º salário atrasados, o que é normal, segundo os próprios. O prazo de pagamento é até novembro, parece. O salário foi reduzido por diminuírem as salas de aula, e como professor ganha por aula, eles dão menos aulas e, conseqüentemente, recebem menos.
A PUC irá realizar uma reforma no prédio antigo e, com isso, alguns Centros Acadêmicos serão fechados. Esse é o verdadeiro motivo da briga dos “falsos revolucionários”. Os Centros Acadêmicos, fora o de Direito, são nojentos. Os CA de Comunicação, Filosofia, História e Ciências Sociais - mentores da manifestação - são os piores. Sabem o que rola lá dentro? Fumo. É comum ver uma rodinha apreciando a erva, relaxados no sofá esburacado. Nessa rodinha estão inclusos os “falsos revolucionários”. Eles não querem uma sala nova e computadores modernos, eles não querem mensalidades mais baratas, eles não querem que seus “companheiros” sejam reintegrados. Foda-se!
Não tendo um lugar para acender um baseado, eles não podem dizer para papai e mamãe que freqüentam a escola. Na sala de aula não é bacana cheirar uma carreira de cocaína. Dar uma “picada” no pátio também seria vergonhoso. Porra! Façamos uma manifestação contra a PUC!, pensou algum gênio. Só que não dá pra escrever num cartaz: “Queremos nossa boca de fumo”, não é mesmo?
Essa é a verdade. Esse papo de justificar o que pagamos na faculdade é tudo desculpa.
Certa vez, num protesto contra o famigerado imperialismo norte-americano, alguns estudantes tupiniquins de bandeiras, faixas e cuia, dirigiram-se até a rede McDonald’s. Algo muito óbvio, digamos. Qualquer bobão que se ache um anti-americano xinga a rede de fast-food e odeia a Nike. Bem, voltemos a manifestação; televisão, repórteres, curiosos; tudo o que uma muvuca pede. Eis que surge o gerente do McDonald’s, pintoso, com um terno arrumado, broche de um “M” amarelo no peito; um arraso. Olha os microfones em sua frente, dirige o olhar aos manifestantes e dá a cartada final.
- Ok. Peço que vocês mandem algum representante para conversamos, mas, primeiro, gostaria que vocês tirassem seus tênis, camisetas e calças americanas.
Imagino a cena: um trouxa, com uma bandeira na mão, olha para o “companheiro” ao seu lado. “Ih, maluco! Teu tênis é da Adidas!”; “Meu, e sua camisa é Gap!”.
Entenderam a brilhante sacada do gerente do McDonald’s? É um caso extremamente comum, aplicado aos “falsos revolucionários”. Muitos são filhinhos de papai, mimados, que não tendo o que fazer pra satisfazer seus egos, resolvem adotar uma “política” esquerdista. A mudança é digna de um Queer Eye for The Straight Guy. Sex Pistols é trilha sonora obrigatória. Che Guevara estampado em camisas, broches de estrelas vermelhas, e uma incrível habilidade para desenhar o símbolo do anarquismo. A imagem está em dia, porém a mentalidade... Não sabem ouvir criticas, acreditem. O discurso? O mesmo. “Os jovens de hoje são alienados, ninguém mais quer mudar o mundo; a burguesia é escrota...”.
Na PUC, diversas faixas são erguidas, protestando contra os preços abusivos da faculdade, ofendendo o reitor, pedindo reformas nos ambientes de estudo e mais laboratórios. Em suma, algo que justifique o dinheiro que aplicamos no estabelecimento. Tudo certo, segundo meu ponto de vista. Acontece, que lá existem diversos “falsos revolucionários”. Uma, em especial, é veterana de jornalismo. Na segunda-feira ela veio falar com os calouros. Adotando um discurso light, explicou o que reivindicavam, dizendo que os professores não estão recebendo pagamento, e que uma assembléia seria realizada para discutir o problema. Achei bacana, mas não fui na tal assembléia. Parece que muitos tiveram a mesma idéia...
Quinta-feira, a garota volta. Num discurso totalmente diferente, cobra de nós - alunos, uma postura critica. O tom de voz aumenta gradativamente, assim como seus gestos. Acho que ela viu algum discurso do Hitler e copiou cada gesto, treinando exaustivamente em frente ao espelho. Era uma fala agressiva, tentando mostrar poder. Uma gordinha de cabelo à Elba Ramalho me passando lição de moral. Como diria vovó: Ai, Dio santo!
Hoje, aconteceu o ápice da "guerra interna". Alunos de Ciências Sociais invadiram a reitoria e, até o momento que escrevo, estão lá firmes e fortes. Dizem que 13 alunos desse curso foram suspensos, e cobram a reintegração dos mesmos, além daquilo que muitas faixas pedem e a “Elba cover” disse.
Resolvi ir à reitoria e ver o que estava acontecendo. Muitos, novamente, fizeram o mesmo. Parecia uma manifestação legal: ninguém quebrou nada, nada foi roubado. Comecei a me simpatizar com a patota. Olho para o mastro das bandeiras e pergunto para o garoto ao meu lado:
- Não seria legal trocar a bandeira? Tirar essa da PUC e colocar uma preta em seu lugar?
Isso é um símbolo, além de dar uma foto de primeira capa. Falamos com uma das garotas que realizaram o “plano” e ela nos responde:
- Ninguém tem uma bandeira. Nós estamos procurando uma vermelha.
Eeeepaaaa! , gritaria Vera Verão. Bandeira vermelha? Algo está errado. Dou alguns passos e numa lousa está lá, aquele símbolo tosco de anarquia. Desço as escadas e três garotas usam boinas para o lado, como Che, e broches de estrela vermelha nas mesmas boinas. Seus tênis? Nike e Adidas. Camisetas? Com mensagens em inglês. Primeiro cai à ficha do garoto ao meu lado, depois a minha, e assim se segue o efeito dominó.
Depois, descubro, que na verdade os professores estão com 50% do 13º salário atrasados, o que é normal, segundo os próprios. O prazo de pagamento é até novembro, parece. O salário foi reduzido por diminuírem as salas de aula, e como professor ganha por aula, eles dão menos aulas e, conseqüentemente, recebem menos.
A PUC irá realizar uma reforma no prédio antigo e, com isso, alguns Centros Acadêmicos serão fechados. Esse é o verdadeiro motivo da briga dos “falsos revolucionários”. Os Centros Acadêmicos, fora o de Direito, são nojentos. Os CA de Comunicação, Filosofia, História e Ciências Sociais - mentores da manifestação - são os piores. Sabem o que rola lá dentro? Fumo. É comum ver uma rodinha apreciando a erva, relaxados no sofá esburacado. Nessa rodinha estão inclusos os “falsos revolucionários”. Eles não querem uma sala nova e computadores modernos, eles não querem mensalidades mais baratas, eles não querem que seus “companheiros” sejam reintegrados. Foda-se!
Não tendo um lugar para acender um baseado, eles não podem dizer para papai e mamãe que freqüentam a escola. Na sala de aula não é bacana cheirar uma carreira de cocaína. Dar uma “picada” no pátio também seria vergonhoso. Porra! Façamos uma manifestação contra a PUC!, pensou algum gênio. Só que não dá pra escrever num cartaz: “Queremos nossa boca de fumo”, não é mesmo?
Essa é a verdade. Esse papo de justificar o que pagamos na faculdade é tudo desculpa.
16 de mar. de 2004
Andanças paulistanas
Minha peregrinação por São Paulo começou ontem. Primeiro dia de aula é aquela sensação de sempre; um pouco de dor-de-barriga, ansiedade, nervosismo, saudades de mamãe... A diferença é que eu não faço mais bico e nem tenho que ser arrastado pelo caminho, socando as mãos no piso frio.
Sou paulistano, mas meus 14 anos de interiorrr deixaram suas marcas. Primeiro; tenho que fazer tudo mais cedo. Cara, do apartamento da nona até a faculdade dá meia-hora de carro –isso porque ela se esconde em São Paulo - morando perto de Osaco. Daqui tudo é longe, sendo que o pior vem na volta. Estou "aprendendo" a andar de ônibus e, depois, de mêtro. Saio da PUC, e enfrento uma caminhada de quinze minutos até o ponto de ônibus. O meu ônibus, passa de quinze em quinze minutos, ou seja, se perdi o desgraçado, toca ficar sentadinho no banco, vendo o pessoal passar. Ainda bem que o ponto está localizado em frente ao Parque da Água Branca. Nesse momento tenho alguns sentimentos nostálgicos de minha infância.
Pegado o transporte, são mais trinta minutos para voltar – isso porque o ponto mais próximo do condomínio está a 15 minutos... a pé!
Em suma: acho que minha batata da perna está se desenvolvendo. Chego em casa e me transformo no Hagar. Como até uma vaca!
As aulas são bacanas. Estou tendo francês, que romântico! Je m’ apelle Gustavo; Je suis étudiant. Ô, língua complicada! Na aula de Filosofia rolou “Páginas da Revolução”, num mini-cinema da universidade. Quinta-feira irei ao Masp, e entregarei nas próximas semanas a resenha um livro de minha preferência. Algumas críticas também foram pedidas. Jóia! Que saudades do ar cultural de sampa!
Em casa estou o próprio rei. Como qualquer neto, sou mimado 24 horas pela vovó. Acordo e já encontro tudo arrumadinho, a geladeira está abarrotada de guloseimas, sou “obrigado” a tirar uma soneca depois do almoço... Coisas muito irritantes, não? Lembram quando o Doug foi passar as férias na casa de sua avó? Minha barriga já está se manifestando pra frente e para os lados.
Agora só falta achar a minha Paty Maionese.
Minha peregrinação por São Paulo começou ontem. Primeiro dia de aula é aquela sensação de sempre; um pouco de dor-de-barriga, ansiedade, nervosismo, saudades de mamãe... A diferença é que eu não faço mais bico e nem tenho que ser arrastado pelo caminho, socando as mãos no piso frio.
Sou paulistano, mas meus 14 anos de interiorrr deixaram suas marcas. Primeiro; tenho que fazer tudo mais cedo. Cara, do apartamento da nona até a faculdade dá meia-hora de carro –isso porque ela se esconde em São Paulo - morando perto de Osaco. Daqui tudo é longe, sendo que o pior vem na volta. Estou "aprendendo" a andar de ônibus e, depois, de mêtro. Saio da PUC, e enfrento uma caminhada de quinze minutos até o ponto de ônibus. O meu ônibus, passa de quinze em quinze minutos, ou seja, se perdi o desgraçado, toca ficar sentadinho no banco, vendo o pessoal passar. Ainda bem que o ponto está localizado em frente ao Parque da Água Branca. Nesse momento tenho alguns sentimentos nostálgicos de minha infância.
Pegado o transporte, são mais trinta minutos para voltar – isso porque o ponto mais próximo do condomínio está a 15 minutos... a pé!
Em suma: acho que minha batata da perna está se desenvolvendo. Chego em casa e me transformo no Hagar. Como até uma vaca!
As aulas são bacanas. Estou tendo francês, que romântico! Je m’ apelle Gustavo; Je suis étudiant. Ô, língua complicada! Na aula de Filosofia rolou “Páginas da Revolução”, num mini-cinema da universidade. Quinta-feira irei ao Masp, e entregarei nas próximas semanas a resenha um livro de minha preferência. Algumas críticas também foram pedidas. Jóia! Que saudades do ar cultural de sampa!
Em casa estou o próprio rei. Como qualquer neto, sou mimado 24 horas pela vovó. Acordo e já encontro tudo arrumadinho, a geladeira está abarrotada de guloseimas, sou “obrigado” a tirar uma soneca depois do almoço... Coisas muito irritantes, não? Lembram quando o Doug foi passar as férias na casa de sua avó? Minha barriga já está se manifestando pra frente e para os lados.
Agora só falta achar a minha Paty Maionese.
13 de mar. de 2004
Ser filho de médico é ser um “médico por tabela”. Impressionante como as pessoas pensam que apenas pelo fato de ter o papai doutor, o filho obrigatoriamente tem que seguir a carreira dos progenitores ou saber alguma coisa sobre medicina. Isso acontece com muitos, não precisa ser filho de médicos.
Sete anos atrás, eu estudei com a sobrinha do prefeito da cidade. A garota era o pombo-correio na escola. Professores e pais de alunos diziam ser vergonha nenhuma: “Viu, precisa asfaltar a calçada da minha rua”; “Quando vão construir tal estacionamento?”; “Sabia que é um absurdo o que eu pago de água e luz nessa cidade?”. Qualquer uma dessas frases era encerrada com o famigerado: “Vê se fala com o seu tio”.
Outro garoto que estudava comigo, tinha ambos os pais endócrinos. Chamava-se Carlos; era engraçado e gordinho. Nunca tinha pique para agüentar as tediosas aulas de Educação Física. Certa vez, o professor mandara todos os homens darem algumas voltas ao redor da quadra. Adivinhem quem não terminou o exercício? Sem um pingo de educação e mostrando todo o preconceito do ser humano, Carlos ouviu do treinador.
- Como você consegue ser gordo, se teu pai é endócrino?
Mama é dermatologista, e por isso já passei por incontáveis "saias-justas". Diversas vezes o telefone tocava em casa.
- Gustavo, sua mãe atende tal convênio?
- Não sei...
- Pergunta pra ela; eu espero.
Tentando ser educado, respondia:
- Ela está ocupada, quer o telefone do consultório?
- Ah, não sei... Não tem como falar com ela? É que eu tenho uma coceira estranha, meu primo tem uma mancha na perna...
Pior eram as meninas.
- Oi, Gustavo! Tudo bom? O que fez hoje? Hummm... sei... Viu, você pode me responder uma dúvida?
- Posso..., respondia pressentindo.
- Quanto que é o peeling? Arde? Queima? Dá pra conversar rapidinho com a sua mãe? Ela não faz um desconto? Somos amigos, não é mesmo?
A tática do telefone do consultório sempre funcionou - inclusive em casos piores. Como toda regra tem a sua exceção, essa tática já falhou. Certa vez, fazendo uma prova de recuperação, o “tiozinho” que supervisionava os alunos veio em minha direção, todo dengoso.
- Estava vendo seu sobrenome e, por acaso, você é irmão do Luizão?
- Sim. , respondia, maneando a cabeça.
- Seu irmão me arranjava umas amostras grátis...
- Bacana...
- ...
- ...
- Pede pra sua mãe um favorzinho? Ela sabe quem eu sou.
- Tudo bem. Peraí que vou te passar o tel do consultório dela.
- Não, não! Eu só quero saber o que é esse inchaço no meu tornozelo!
Juro que ele ergueu a barra da calça, abaixou a meia e mostrou o ferimento.
- Tá vendo, ó! Coça pra danar! Você não sabe o que é?
OBS: É nessas horas que eu agradeço por não ter um pai urologista.
12 de mar. de 2004
Errata
A senhorita Érica Hans é uma figurinha, já disse isso? Ela é especialista em dar foras, já disse isso?
Vejam o que ela aprontou nos comentários do post abaixo:
"DA-LHE LONGEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE NA CASPER....PRIMEIRO A BRUNA, DEOPIS VOCE, AGORA SO TA FALTANDO HEIN!"
Bem, ela apenas errou o nome da faculdade em que entrei. Como um dominó, todos vieram na sua onda: Rafael e a Gi. Pudera, depois de dez anos fazendo intercâmbio, a Érica está com a realidade atrasada. Assistiram Adeus, Lênin? O caso dela é meio parecido. =)
E puxa, galera! Atenção na leitura passa longe, hein? Olha a minha dica: "A faculdade tradicionalíssima pelo grande número de intelectuais, que teve um papel importantíssimo na época da Ditadura". Estava me referindo a Puc, ao Tuca - não ao pessoal tanga frouxa da Cásper Líbero. Esses, só sabem o que é manifesto quando passa um em frente de suas janelas na Paulista. Só olham, não fazem porra nenhuma! (Brincadeira, Bru ! Agora somos “rivais”).
Então é isso pessoal, agora vocês sabem da verdadeira história. E dêem um “viva” pra madame Hans, que amanhã ela completa 18 primaveras.
Parabéns, minha atrapalhada do coração! Onze anos te aguentando não é mole, viu!
A senhorita Érica Hans é uma figurinha, já disse isso? Ela é especialista em dar foras, já disse isso?
Vejam o que ela aprontou nos comentários do post abaixo:
"DA-LHE LONGEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE NA CASPER....PRIMEIRO A BRUNA, DEOPIS VOCE, AGORA SO TA FALTANDO HEIN!"
Bem, ela apenas errou o nome da faculdade em que entrei. Como um dominó, todos vieram na sua onda: Rafael e a Gi. Pudera, depois de dez anos fazendo intercâmbio, a Érica está com a realidade atrasada. Assistiram Adeus, Lênin? O caso dela é meio parecido. =)
E puxa, galera! Atenção na leitura passa longe, hein? Olha a minha dica: "A faculdade tradicionalíssima pelo grande número de intelectuais, que teve um papel importantíssimo na época da Ditadura". Estava me referindo a Puc, ao Tuca - não ao pessoal tanga frouxa da Cásper Líbero. Esses, só sabem o que é manifesto quando passa um em frente de suas janelas na Paulista. Só olham, não fazem porra nenhuma! (Brincadeira, Bru ! Agora somos “rivais”).
Então é isso pessoal, agora vocês sabem da verdadeira história. E dêem um “viva” pra madame Hans, que amanhã ela completa 18 primaveras.
Parabéns, minha atrapalhada do coração! Onze anos te aguentando não é mole, viu!
Vida nova
Lembram daquele meu texto, em que eu fazia uma auto-análise de meu ano de cursinho? Dos quatro vestibulares em que havia prestado? Eu disse que passara num e, quem sabe, conseguiria ser chamado no outro, pois as chances eram remotas.
Pois é, garotada. Eu fui chamado para a faculdade que estava no topo de minha lista. Agradeçam a minha redação. A faculdade tradicionalíssima pelo grande número de intelectuais, que teve um papel importantíssimo na época da ditadura. Era a faculdade com a qual eu havia mais me identificado. Sim, ela é particular e, sim, não é barata. Mas eu tenho um tremendo tesão de fazer jornalismo lá.
Eu estava estudando em Campinas. Adoro o pessoal da minha classe, são gentes boníssimas e de algumas ocasiões juro que nunca esquecerei. Paguei micos homéricos nas aulas de "Comunicação e Expressão", o que fez com muitos brincassem comigo, deixando eu me sentir em casa. Só levo coisas boas de lá. Pena que divulguei o blog para duas pessoas, apenas. (Ericson ou Patrícia, se lerem isso comentem, por favor!). Espero manter contatos com esses futuros jornalistas, que fizeram de meu trajeto: acordar as cinco e meia da manhã, pegar uma van por uma hora e meia e depois quase duas horas para chegar em casa, em algo insignificante. Contava as horas para ver o pessoal da minha sala.
Estou pensando em mim. Quero realizar o meu sonho de viver na cidade que amo tanto - sonho que esperei por longos dez anos. Volto para Sorocaba todos os finais de semana - existem pessoas nessa cidade maldita que amo demais para largar. Vou morar com minha avó, serei mimado pra caramba. Bolo de cenoura e pãozinho de salsicha todo dia. Ficarei uma bola de gordo.
Depois de um tempo, espero conseguir um estágio, um emprego qualquer, que dê para ajudar em casa e, quem sabe, ter um cantinho próprio - ou dividindo com alguém, tanto faz. Quero somente um dia criar asas e ter liberdade. Ser dono do meu próprio nariz.
O que faço hoje, eu sei que não irei me arrepender. Podem apostar.
Lembram daquele meu texto, em que eu fazia uma auto-análise de meu ano de cursinho? Dos quatro vestibulares em que havia prestado? Eu disse que passara num e, quem sabe, conseguiria ser chamado no outro, pois as chances eram remotas.
Pois é, garotada. Eu fui chamado para a faculdade que estava no topo de minha lista. Agradeçam a minha redação. A faculdade tradicionalíssima pelo grande número de intelectuais, que teve um papel importantíssimo na época da ditadura. Era a faculdade com a qual eu havia mais me identificado. Sim, ela é particular e, sim, não é barata. Mas eu tenho um tremendo tesão de fazer jornalismo lá.
Eu estava estudando em Campinas. Adoro o pessoal da minha classe, são gentes boníssimas e de algumas ocasiões juro que nunca esquecerei. Paguei micos homéricos nas aulas de "Comunicação e Expressão", o que fez com muitos brincassem comigo, deixando eu me sentir em casa. Só levo coisas boas de lá. Pena que divulguei o blog para duas pessoas, apenas. (Ericson ou Patrícia, se lerem isso comentem, por favor!). Espero manter contatos com esses futuros jornalistas, que fizeram de meu trajeto: acordar as cinco e meia da manhã, pegar uma van por uma hora e meia e depois quase duas horas para chegar em casa, em algo insignificante. Contava as horas para ver o pessoal da minha sala.
Estou pensando em mim. Quero realizar o meu sonho de viver na cidade que amo tanto - sonho que esperei por longos dez anos. Volto para Sorocaba todos os finais de semana - existem pessoas nessa cidade maldita que amo demais para largar. Vou morar com minha avó, serei mimado pra caramba. Bolo de cenoura e pãozinho de salsicha todo dia. Ficarei uma bola de gordo.
Depois de um tempo, espero conseguir um estágio, um emprego qualquer, que dê para ajudar em casa e, quem sabe, ter um cantinho próprio - ou dividindo com alguém, tanto faz. Quero somente um dia criar asas e ter liberdade. Ser dono do meu próprio nariz.
O que faço hoje, eu sei que não irei me arrepender. Podem apostar.
10 de mar. de 2004
Guerreiras em Atenas
A ESPN Brasil, têm uns programas bem bananas. Um deles é “Histórias do Esporte”, que sempre conta algumas historietas, no modelo documentário, sobre esportistas desconhecidos brasileiros, que dão um tremendo esforço para se manterem numa modalidade que não recebem incentivo, suporte ou coisa parecida – já que no Brasil só futebol dá lucro, segundo o pensamento desses incompetentes que não sabem administrar o esporte tupiniquim.
Semana passada, o programa mostrou a terrível situação de nossas futebolistas. Estranho, não? Como o futebol pode ignorado no “país do futebol”. Isso acontece quando se trata do futebol feminino. Não existe nenhum torneio de futebol feminino em nosso país. Algumas jogadoras dão a sorte de conseguirem fazer o “pé-de-meia” na terra do Mickey. De nossa seleção feminina, acho que duas ou três tiveram essa oportunidade, já o resto, passa por algumas situações humilhantes, como: “treinar” no quintal de casa, correr no pasto ao lado de galinhas e ovelhas e ter como “partidas oficiais”, uma pelada no campinho de várzea de seus bairros, jogando contra guris de dez anos. É de dar raiva, tamanha injustiça com essas guerreiras – a melhor adjetivo pra defini-las. A atacante Maicon Jackson, mora numa casa de madeira, por exemplo.
O que me deixa puto, é tamanha desigualdade: o masculino, com seus contratos milionários, com Nike pra tudo quando é lado, com empresários e o escambau, não teve a decência de conseguir uma vaguinha para os jogos olímpicos de Atenas. Mas nossas guerreiras estarão na terra de Platão, batalhando por um holofote, uma chance de arrumar as trouxas e ir para os Estados Unidos, fugindo dessa terra desgraçada. Mostrarão para o Ricardo Teixeira, que o que vale na hora de vestir a amarelinha, é garra e paixão pela sua terra, e não há dinheiro que compre isso. Admiro-as, jogam melhor que esses pernetas, como Lúcio e Emerson.
Com um sentimento nostálgico, lembro de quando havia uma competição de futebol feminino no Brasil. Todo domingo de manhã lá estava Sissi, Kátia Cilene e cia dando um banho no gramado do Ibirapuera. Sissi – a Maradona feminina – é minha lembrança mais engraçada de uma partida de futebol. A torcida são-paulina - cansada das más atuações do atacante Valdir - cantava Morumbi afora: “Si-ssi! É melhor do que Valdir!”.
Dizem que não há dinheiro pra investir em nossas mulheres, por isso, dou cá minha sugestão: já que pra assistir uma partida no estádio tem que pagar 20 reais, por que não emendar o torneio feminino junto com o masculino? As partidas seriam antes da cuecada, como um jogo de abertura. Primeiro as mulheres, depois os homens, seguindo às regras básicas da educação, não é mesmo? Iria solucionar diversos problemas. Os estádios receberiam maiores públicos e a farra voltaria às arquibancadas. Nada como um bando de garotas de shorts pra animar os torcedores! Além de tudo, daríamos a nossas guerreiras aquilo que elas já merecem há anos: viverem daquilo que amam.
A ESPN Brasil, têm uns programas bem bananas. Um deles é “Histórias do Esporte”, que sempre conta algumas historietas, no modelo documentário, sobre esportistas desconhecidos brasileiros, que dão um tremendo esforço para se manterem numa modalidade que não recebem incentivo, suporte ou coisa parecida – já que no Brasil só futebol dá lucro, segundo o pensamento desses incompetentes que não sabem administrar o esporte tupiniquim.
Semana passada, o programa mostrou a terrível situação de nossas futebolistas. Estranho, não? Como o futebol pode ignorado no “país do futebol”. Isso acontece quando se trata do futebol feminino. Não existe nenhum torneio de futebol feminino em nosso país. Algumas jogadoras dão a sorte de conseguirem fazer o “pé-de-meia” na terra do Mickey. De nossa seleção feminina, acho que duas ou três tiveram essa oportunidade, já o resto, passa por algumas situações humilhantes, como: “treinar” no quintal de casa, correr no pasto ao lado de galinhas e ovelhas e ter como “partidas oficiais”, uma pelada no campinho de várzea de seus bairros, jogando contra guris de dez anos. É de dar raiva, tamanha injustiça com essas guerreiras – a melhor adjetivo pra defini-las. A atacante Maicon Jackson, mora numa casa de madeira, por exemplo.
O que me deixa puto, é tamanha desigualdade: o masculino, com seus contratos milionários, com Nike pra tudo quando é lado, com empresários e o escambau, não teve a decência de conseguir uma vaguinha para os jogos olímpicos de Atenas. Mas nossas guerreiras estarão na terra de Platão, batalhando por um holofote, uma chance de arrumar as trouxas e ir para os Estados Unidos, fugindo dessa terra desgraçada. Mostrarão para o Ricardo Teixeira, que o que vale na hora de vestir a amarelinha, é garra e paixão pela sua terra, e não há dinheiro que compre isso. Admiro-as, jogam melhor que esses pernetas, como Lúcio e Emerson.
Com um sentimento nostálgico, lembro de quando havia uma competição de futebol feminino no Brasil. Todo domingo de manhã lá estava Sissi, Kátia Cilene e cia dando um banho no gramado do Ibirapuera. Sissi – a Maradona feminina – é minha lembrança mais engraçada de uma partida de futebol. A torcida são-paulina - cansada das más atuações do atacante Valdir - cantava Morumbi afora: “Si-ssi! É melhor do que Valdir!”.
Dizem que não há dinheiro pra investir em nossas mulheres, por isso, dou cá minha sugestão: já que pra assistir uma partida no estádio tem que pagar 20 reais, por que não emendar o torneio feminino junto com o masculino? As partidas seriam antes da cuecada, como um jogo de abertura. Primeiro as mulheres, depois os homens, seguindo às regras básicas da educação, não é mesmo? Iria solucionar diversos problemas. Os estádios receberiam maiores públicos e a farra voltaria às arquibancadas. Nada como um bando de garotas de shorts pra animar os torcedores! Além de tudo, daríamos a nossas guerreiras aquilo que elas já merecem há anos: viverem daquilo que amam.
8 de mar. de 2004
Reza à lenda, que a primeira delas foi a francesa Olympe de Gouges. Ela quis, porque quis, que fossem feitas mudanças na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” de 1791. Brigando pelos ideais femininos, dois anos após o documento citado ela publicou uma declaração dos direitos da mulher. Tudo bem que depois ela foi decapitada, mas o importante é que ela foi a primeira feminista da história.
“Feminista”, uma designação que me assombra. Essas gurias que cansadas de ficar no tanque, pilotando o fogão e criando os filhos, resolveram nos copiar. “Pega o sutiã e taca fogo, companheira!”, gritou uma maluca, sendo seguida por muitas. Pimba! O mundo ficou de ponta cabeça.
Veja hoje, o desastre de tal atitude. Não tem mais emprego pra nós, rapaziada! Na faculdade, as mulheres tomaram conta das salas de aulas (salvo os engenheiros). E quem pensa que elas estão felizes? Elas querem mais, querem sugar tudo que é nosso. Como diz aquele poema carioca: “Tá dominado, tá tudo dominado!”.
Elas preferem usar cueca à calcinha. Dizem que é o conforto, mas é tudo balela. Elas usam porque nós usamos. Agora descobriram que beijar outra mulher é mais gostoso, bonito e sensual. Não tenho nada contra – aliás, acho bem bacana. Tudo plágio!
Elas estão no mais alto patamar da pirâmide profissional. Conseguiram ser nossas chefes, veja que maravilha! Bem feito: ficaram mais suscetíveis a infartos e stress. Que peninha...
Melhor para nós, cuecada! Façamos um curso de culinária, ficamos vendo Clodovil o dia inteiro, levamos e buscamos os filhos na escola, limpamos a casa e ainda damos uma malhadinha na academia, que é pra deixar tudo em cima para nossa patroa. Ela que venha de mau humor do trabalho, xingando fulano e querendo despedir a secretária. Foi-se o nosso tempo. Vamos assistir a esse processo de camarote, gozando da vida. E pode pedir o divórcio, querida! Quero pensão e a guarda do Júnior. Qual é? Não foi por isso que vocês lutaram tanto? “Igualdade”, não era essa a palavra tão almejada?
Divirtam-se, bonecas; a nossa vida ficou bem melhor. Ah, feliz “Dia das Mulheres”!
7 de mar. de 2004
Nos últimos quatro meses, qualquer pessoa que esteja andando comigo, deve ter feito uma cara de nojo e perguntado em alto e bom tom para minha pessoa, quando eu me encontrava cantarolando.
- Que raios é isso? Edson Cordeiro?
Não, raparigo – respondia. Trata-se da salvação do rock (palavras de Lucio Ribeiro): The Darkness.
- Ah... Fale umas músicas pra eu baixar.
Então eu sugeria três canções, no mínimo. E passava o dia inteiro, com um maldito riff de guitarra na memória e afinando a voz o máximo que podia, dando uns gritinhos, como se alguém estivesse puxando meus bagos. “Touching youuuu, touching meeeee”. Acredito que devo estar com uma bela fama de baitola pela vizinhança, sala de aula e, até, com minha própria família. “O que deu nesse menino pra brincar de Celine Dion do agreste?”.
Mas hoje papai e mamãe entenderam a razão de minha gritaria. Finalmente chegou em casa “Permission To Land”, álbum de estréia dos garotos. Chega a ser um absurdo de tão bom esse disco. Excelentes melodias, vocais e riffs pra lá de animadores. Influências de AC/DC, Queen e, claro, Van Halen. O vocalista é uma cópia discarada de David Lee Roth. Seja nos trejeitos, nas fantasias e performances dos shows. Como a melhor fase do Van Halen foi com Lee Roth nos vocais, não há explicação para que eu não me torne um fã de The Darkness.
Um rock sem firulas, pegando de base aquele hair metal sem compromissos dos anos 80. Eles acreditam numa coisa chamada amor, pedem para ninguém encostar um dedo em suas mulheres, e dizem que... hummm... “algo” deles cresce em suas amadas. Em uma canção natalina, infelizmente não incluída no CD, eles clamam para que, na noite natalina, não se deixe os “sinos” baterem. O bom humor é uma constante do repertório (vide a foto acima).
Um puta disco! Dois polegares pra cima.
4 de mar. de 2004
Ser caçula é ser desprestigiado. Ser caçula é ter de conviver durante toda sua vida com a palavra “comparação”. Não adianta, todo filho mais novo receberá o estigma do mal de ser comparado com seus irmãos.
Começa quando você é um feto. Sua família, que soltou até rojões na primeira gravidez de sua mãe, ao saber que você virá ao mundo, já reclama:
- Porra! Mais um? Deu pra virar coelho, agora?
Tua mãe tem desejos de madrugada.
- Esse é chato, hein? Fulano era mais gentil, não era tão manhoso.
Basta você nascer e outra palavra entrará em seu caminho: “herdar”. Acabou de nascer – adivinha de quem será seu primeiro macacão? Aquele azulzinho de seu irmão. Seu berço? O usado por seu irmão. Brinquedos novos? Imagina! Teu irmão era tão metódico que deixara todos em excelente condição. Ter o mesmo sexo do irmão mais velho, é uma cruz a ser carregada com muito sufoco.
Ser caçula é um serviço integral, sem direito à pausa ou intervalo pra mamar. O trabalho é duríssimo. Exalte sua veia artística, seja carismático e engraçado. Carinho é fundamental, pule de colo em colo. Exalte suas tias-avós, elas são o eixo de seu sucesso. Não choramingue ao saber que irá passar o domingo na casa delas. Comemore, celebre! Aprenda desde cedo o sentido de manipular. Isso é de extrema importância.
Tente ser educado com seu irmão conforme os anos passam. Tudo bem que ele continua autoritário, afinal, ele é mais velho que você. Segundo lugar não é algo tão ruim. Ele sempre terá preferência na escolha de lugares, isso é fato.
Sua cama nunca será perto da janela, teu material escolar nunca será tão legal como o dele, você nunca usará o primeiro joystick no vídeo-game, a Internet dele será banda larga e, a sua, discada. Tente nunca ter horários que coincidam com os de teu irmão. Goze dos prazeres de ter a casa somente pra você. Pegue a coleção de brinquedos dele e faça a festa. Leia todos os gibis que ele guarda a sete chaves, roube aquelas figurinhas que faltam para você terminar a sua coleção. Lembre-se: tenha uma excelente memória fotográfica. Coloque tudo na mesma ordem que fora encontrado. Caso isso não ocorra, ele irá deda-lo a seus pais, e castigo para filho caçula é sempre mais pesado.
Se teu irmão aprontar alguma na escola, e mamãe não sabe, jamais o entregue. Como disse anteriormente, manipulação é muito importante. Sinta-se um faraó quando isso acontecer. Ele será seu controle remoto.
- Faça o meu Nescau, pegue uma almofada que essa tá dura, coloque no Glub-Glub, traz água, dá pra fechar a cortina? Está muito sol. Dá pra abrir a cortina? Ficou muito escuro...
Sensação, como essa, é indescritível. Não irá durar muito tempo, já que ele prefere uma punição de seus pais a ver seu irmão mais novo tomar a sua coroa.
Se um dia eu topar numa lâmpada mágica, não pensarei duas vezes. “Gênio, por um dia, somente um dia, eu não quero ser caçula!”. Ah, seria o sonho. Iria vingar todos esse anos. Seria o rei da cocada preta.
2 de mar. de 2004
Marcha lenta
Algumas semanas atrás, ainda usando o Blogger, eu avisava que minhas aulas de direção tinham começado. Falei de minhas barbeiragens e todos aqueles medos que cercam um novo motorista, como é o meu caso. Após essas aulas tive uma progressiva atuação. Não deixava o carro morrer, aprendi as artimanhas da embreagem e perdi a insegurança de sentar atrás de um volante e não pensar que uma manobra mais ousada iria fazer com que eu capotasse, tivesse traumatismo craniano, batesse o peito em algum lugar e sofresse hemorragia interna... Boa noticia: isso eu já não penso mais.
Porém, eu sou horrível na baliza. E hoje no maldito exame final, fui reprovado por esse maldito empecilho em minha vida automobilística. Eu não sei fazer baliza, deixo claro pra todo mundo. Meu senso de distancia é zero, minha coordenação um horror. Eu posso dirigir sem precisar fazer baliza, ora bolas. No shopping eu estaciono no lugar mais longe possível, sem movimento. Não tenho problema em poupar alguns metros, procurando uma vaga na porta do local. Sou jovem, e andar tornifica meus cambitos. Mas poupemos minha história e contarei a minha nova proeza: eu subi em cima da guia, quando fazia a baliza no teste. Dêem risada, tirem sarro, chamem-me de burro e estúpido. Eu mereço. Eu tive essa capacidade.
Acho que dei uma volta no volante a mais, e o carro entrou até que uma beleza. Eu fui consertar e deixar bonitinho – perfeccionista que sou – e dei uma leve encostada na guia.
- Opa! - exclamou o delegado filho duma égua.
- Opa, o quê? – perguntei nervoso que só vendo.
Foi assim: devo ter soltado um pouco o pé da embreagem e o carro deu uma leve empinada na calçada. Consertei rapidamente e estacionei o maldito. Não funcionou.
- Desliga o carro e pode sair.
- Mas...
- Pode desligar.
- Mas...
Sai frustrado, com a cabeça baixa, como Roberto Baggio após desperdiçar o pênalti há dez anos. Senti-me um lixo, um incapacitado. Se eu fosse uma avestruz, cavava um buraco no asfalto e enfiava minha cabeça piche abaixo. Só de pensar que tenho que passar por tudo isso de novo: acordar cedo, ansiedade tremenda, nervosismo horrendo e “delegados animados”. Já pensei em economizar o dinheiro da cantina e começar a andar de táxi. Direi que é chique, coisa de primeiro mundo. Transporte coletivo é símbolo de evolução. Contribuirei para nossa atmosfera – não emitirei monóxido de carbono. Qual o mal nisso?
“Com carro fica mais fácil de pegar mulher”, aconselha um garoto ao meu lado – também reprovado. Bom argumento. Mando às favas o meio ambiente e farei um novo exame. Torçam por mim, acendam uma vela, façam um despacho numa encruzilhada... Qualquer ajuda é bem vinda. Lógico que terei que controlar meu nervosismo.
Um dia vocês me encontrarão por aí pelas ruas. Dirigindo calmamente, ouvindo rap, com um braço pra fora, sem camisa e com o banco de motorista lá atrás. Estarei acompanhado de uma bela ragazza, obviamente. Ela vai estacionar o carro pra mim. Obviamente.
Algumas semanas atrás, ainda usando o Blogger, eu avisava que minhas aulas de direção tinham começado. Falei de minhas barbeiragens e todos aqueles medos que cercam um novo motorista, como é o meu caso. Após essas aulas tive uma progressiva atuação. Não deixava o carro morrer, aprendi as artimanhas da embreagem e perdi a insegurança de sentar atrás de um volante e não pensar que uma manobra mais ousada iria fazer com que eu capotasse, tivesse traumatismo craniano, batesse o peito em algum lugar e sofresse hemorragia interna... Boa noticia: isso eu já não penso mais.
Porém, eu sou horrível na baliza. E hoje no maldito exame final, fui reprovado por esse maldito empecilho em minha vida automobilística. Eu não sei fazer baliza, deixo claro pra todo mundo. Meu senso de distancia é zero, minha coordenação um horror. Eu posso dirigir sem precisar fazer baliza, ora bolas. No shopping eu estaciono no lugar mais longe possível, sem movimento. Não tenho problema em poupar alguns metros, procurando uma vaga na porta do local. Sou jovem, e andar tornifica meus cambitos. Mas poupemos minha história e contarei a minha nova proeza: eu subi em cima da guia, quando fazia a baliza no teste. Dêem risada, tirem sarro, chamem-me de burro e estúpido. Eu mereço. Eu tive essa capacidade.
Acho que dei uma volta no volante a mais, e o carro entrou até que uma beleza. Eu fui consertar e deixar bonitinho – perfeccionista que sou – e dei uma leve encostada na guia.
- Opa! - exclamou o delegado filho duma égua.
- Opa, o quê? – perguntei nervoso que só vendo.
Foi assim: devo ter soltado um pouco o pé da embreagem e o carro deu uma leve empinada na calçada. Consertei rapidamente e estacionei o maldito. Não funcionou.
- Desliga o carro e pode sair.
- Mas...
- Pode desligar.
- Mas...
Sai frustrado, com a cabeça baixa, como Roberto Baggio após desperdiçar o pênalti há dez anos. Senti-me um lixo, um incapacitado. Se eu fosse uma avestruz, cavava um buraco no asfalto e enfiava minha cabeça piche abaixo. Só de pensar que tenho que passar por tudo isso de novo: acordar cedo, ansiedade tremenda, nervosismo horrendo e “delegados animados”. Já pensei em economizar o dinheiro da cantina e começar a andar de táxi. Direi que é chique, coisa de primeiro mundo. Transporte coletivo é símbolo de evolução. Contribuirei para nossa atmosfera – não emitirei monóxido de carbono. Qual o mal nisso?
“Com carro fica mais fácil de pegar mulher”, aconselha um garoto ao meu lado – também reprovado. Bom argumento. Mando às favas o meio ambiente e farei um novo exame. Torçam por mim, acendam uma vela, façam um despacho numa encruzilhada... Qualquer ajuda é bem vinda. Lógico que terei que controlar meu nervosismo.
Um dia vocês me encontrarão por aí pelas ruas. Dirigindo calmamente, ouvindo rap, com um braço pra fora, sem camisa e com o banco de motorista lá atrás. Estarei acompanhado de uma bela ragazza, obviamente. Ela vai estacionar o carro pra mim. Obviamente.
1 de mar. de 2004
Oscar 2004
Festa chatinha... Ainda tive a audácia de assisti-la inteira, esperando que alguma surpresa ocorresse. Que nada: aconteceu exatamente o que era previsto. Broxante.
O melhor resumiu-se a:
- Robin Williams e Billy Cristal juntos;
- Jack Black e Will Ferrel;
- Coppola-pai dando um berro quando sua filha ganhou "Melhor Roteiro Original";
- O vestido da Angelina Jolie;
- A boca da Angelina Jolie;
- A Angelina Jolie;
- E à mulher mais linda desse universo:
Benzadeus...
Festa chatinha... Ainda tive a audácia de assisti-la inteira, esperando que alguma surpresa ocorresse. Que nada: aconteceu exatamente o que era previsto. Broxante.
O melhor resumiu-se a:
- Robin Williams e Billy Cristal juntos;
- Jack Black e Will Ferrel;
- Coppola-pai dando um berro quando sua filha ganhou "Melhor Roteiro Original";
- O vestido da Angelina Jolie;
- A boca da Angelina Jolie;
- A Angelina Jolie;
- E à mulher mais linda desse universo:
Benzadeus...
Assinar:
Postagens (Atom)