Revolucionários de Araque
Certa vez, num protesto contra o famigerado imperialismo norte-americano, alguns estudantes tupiniquins de bandeiras, faixas e cuia, dirigiram-se até a rede McDonald’s. Algo muito óbvio, digamos. Qualquer bobão que se ache um anti-americano xinga a rede de fast-food e odeia a Nike. Bem, voltemos a manifestação; televisão, repórteres, curiosos; tudo o que uma muvuca pede. Eis que surge o gerente do McDonald’s, pintoso, com um terno arrumado, broche de um “M” amarelo no peito; um arraso. Olha os microfones em sua frente, dirige o olhar aos manifestantes e dá a cartada final.
- Ok. Peço que vocês mandem algum representante para conversamos, mas, primeiro, gostaria que vocês tirassem seus tênis, camisetas e calças americanas.
Imagino a cena: um trouxa, com uma bandeira na mão, olha para o “companheiro” ao seu lado. “Ih, maluco! Teu tênis é da Adidas!”; “Meu, e sua camisa é Gap!”.
Entenderam a brilhante sacada do gerente do McDonald’s? É um caso extremamente comum, aplicado aos “falsos revolucionários”. Muitos são filhinhos de papai, mimados, que não tendo o que fazer pra satisfazer seus egos, resolvem adotar uma “política” esquerdista. A mudança é digna de um Queer Eye for The Straight Guy. Sex Pistols é trilha sonora obrigatória. Che Guevara estampado em camisas, broches de estrelas vermelhas, e uma incrível habilidade para desenhar o símbolo do anarquismo. A imagem está em dia, porém a mentalidade... Não sabem ouvir criticas, acreditem. O discurso? O mesmo. “Os jovens de hoje são alienados, ninguém mais quer mudar o mundo; a burguesia é escrota...”.
Na PUC, diversas faixas são erguidas, protestando contra os preços abusivos da faculdade, ofendendo o reitor, pedindo reformas nos ambientes de estudo e mais laboratórios. Em suma, algo que justifique o dinheiro que aplicamos no estabelecimento. Tudo certo, segundo meu ponto de vista. Acontece, que lá existem diversos “falsos revolucionários”. Uma, em especial, é veterana de jornalismo. Na segunda-feira ela veio falar com os calouros. Adotando um discurso light, explicou o que reivindicavam, dizendo que os professores não estão recebendo pagamento, e que uma assembléia seria realizada para discutir o problema. Achei bacana, mas não fui na tal assembléia. Parece que muitos tiveram a mesma idéia...
Quinta-feira, a garota volta. Num discurso totalmente diferente, cobra de nós - alunos, uma postura critica. O tom de voz aumenta gradativamente, assim como seus gestos. Acho que ela viu algum discurso do Hitler e copiou cada gesto, treinando exaustivamente em frente ao espelho. Era uma fala agressiva, tentando mostrar poder. Uma gordinha de cabelo à Elba Ramalho me passando lição de moral. Como diria vovó: Ai, Dio santo!
Hoje, aconteceu o ápice da "guerra interna". Alunos de Ciências Sociais invadiram a reitoria e, até o momento que escrevo, estão lá firmes e fortes. Dizem que 13 alunos desse curso foram suspensos, e cobram a reintegração dos mesmos, além daquilo que muitas faixas pedem e a “Elba cover” disse.
Resolvi ir à reitoria e ver o que estava acontecendo. Muitos, novamente, fizeram o mesmo. Parecia uma manifestação legal: ninguém quebrou nada, nada foi roubado. Comecei a me simpatizar com a patota. Olho para o mastro das bandeiras e pergunto para o garoto ao meu lado:
- Não seria legal trocar a bandeira? Tirar essa da PUC e colocar uma preta em seu lugar?
Isso é um símbolo, além de dar uma foto de primeira capa. Falamos com uma das garotas que realizaram o “plano” e ela nos responde:
- Ninguém tem uma bandeira. Nós estamos procurando uma vermelha.
Eeeepaaaa! , gritaria Vera Verão. Bandeira vermelha? Algo está errado. Dou alguns passos e numa lousa está lá, aquele símbolo tosco de anarquia. Desço as escadas e três garotas usam boinas para o lado, como Che, e broches de estrela vermelha nas mesmas boinas. Seus tênis? Nike e Adidas. Camisetas? Com mensagens em inglês. Primeiro cai à ficha do garoto ao meu lado, depois a minha, e assim se segue o efeito dominó.
Depois, descubro, que na verdade os professores estão com 50% do 13º salário atrasados, o que é normal, segundo os próprios. O prazo de pagamento é até novembro, parece. O salário foi reduzido por diminuírem as salas de aula, e como professor ganha por aula, eles dão menos aulas e, conseqüentemente, recebem menos.
A PUC irá realizar uma reforma no prédio antigo e, com isso, alguns Centros Acadêmicos serão fechados. Esse é o verdadeiro motivo da briga dos “falsos revolucionários”. Os Centros Acadêmicos, fora o de Direito, são nojentos. Os CA de Comunicação, Filosofia, História e Ciências Sociais - mentores da manifestação - são os piores. Sabem o que rola lá dentro? Fumo. É comum ver uma rodinha apreciando a erva, relaxados no sofá esburacado. Nessa rodinha estão inclusos os “falsos revolucionários”. Eles não querem uma sala nova e computadores modernos, eles não querem mensalidades mais baratas, eles não querem que seus “companheiros” sejam reintegrados. Foda-se!
Não tendo um lugar para acender um baseado, eles não podem dizer para papai e mamãe que freqüentam a escola. Na sala de aula não é bacana cheirar uma carreira de cocaína. Dar uma “picada” no pátio também seria vergonhoso. Porra! Façamos uma manifestação contra a PUC!, pensou algum gênio. Só que não dá pra escrever num cartaz: “Queremos nossa boca de fumo”, não é mesmo?
Essa é a verdade. Esse papo de justificar o que pagamos na faculdade é tudo desculpa.
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