18 de jan. de 2010

Vitória de Avatar e Glee no Globo de Ouro é vitória da indústria



O Globo de Ouro acabou agora pouco. Enquanto lavava a louça - pois é - refletindo sobre as vitórias de Glee como melhor série cômica/musical, e de Avatar como melhor filme de drama (duas das maiores surpresas da noite), vi que tanto o seriado quanto a película têm algo muito interessante em comum. Além de ambos serem da Fox, eles representam uma nova forma de entretenimento.

Entendam:

quando o piloto de Glee foi lançado, eu comentei por aqui que se tratava da série do ano. Não, eu não sou a Mãe Dinah, mas eu fiquei todo empolgado por estar diante de um produto diferenciado. O mesmo aconteceu em relação ao longa de James Cameron. O primeiro episódio de Glee foi lançado meses antes do segundo, e durante esse tempo o programa teve uma de suas músicas como a mais baixada do iTunes. Já existem dois CDs com os musicais da 1ª temporada e os atores irão fazer uma pequena tour pelos Estados Unidos neste ano.

Veja o dinheiro que a série está arrecando. É um puta produto, que estimula o espectador a consumi-lo em diferentes mídias. Com Avatar, o segundo filme de maior bilheteria da história, acontece o mesmo. Cameron fez as pessoas irem novamente ao cinema e pagarem caro para ver o mundo de Pandora em 3D. Não adianta baixar o filme ou adquirir o DVD pirata, não será a mesma coisa (todos seus amigos lhe dirão isso). É um puta produto, que estimula o espectador a consumi-lo em uma só mídia.

De certa forma, ambos representam a salvação da indústria do entretenimento. Durante a Comic-Con do ano passado eu senti algo importante surgindo ali: para assistir a 20 minutos de Avatar, um monte de gente dormiu na grama para guardar um lugar na fila; para ver 20 minutos do 2º episódio de Glee, o auditório do Hilton San Diego tinha gente no chão.

Veja, a TV aberta americana não sabe o que fazer para não perder mais audiência. Os dramas mais complexos migraram todos para a TV a cabo, que não tem mais apenas a HBO como referência. Nem os talk-shows, patrimônio cultura yankee, anda dando certo por lá. O cinema passa pela mesma crise, adaptando a exaustão HQs de sucesso, criando franquias de filmes de ação ou procurando a cada ano um novo Pequena Miss Sunshine, aquele filme de baixa produção que estourará na bilheteria e ninguém-sabe-a-razão (caso de Se Beber, Não Case, que foi considerada a melhor comédia do Globo de Ouro).

Não vou tirar os méritos das vitórias da dupla e dizer que elas aconteceram apenas por isso. São ótimos programas de entretenimento, veja, apesar de seus vários defeitos. Glee tem sérios buracos no roteiro, os episódios não são interligados e trata-se uma dramédia adolescente cuja história já foi filmada por diversas vezes. Avatar tem a típica história de blockbuster, bem mastigadinha, do excluído que vira o escolhido - e também já vimos isso no cinema trocentas vezes. O diferencial dos dois é a maneira como são apresentados: um é um musical, o outro exige um óculos especial para ser assistido.

Quando entrevistei Ryan Murphy, o criador de Glee, ele me disse que seu objetivo era fazer um show em que as pessoas, por 40 minutos, esquecessem de suas vidas e saíssem felizes após o seu término. As músicas, danças e afins cuidariam dessa imersão, algo raro para um público que fala pelo Skype e tuita enquanto vê TV. Avatar, com seus gráficos tridimensionais, faz o mesmo durante suas três horas - vi o filme e não olhei para o meu celular um segundo sequer.

É por essas novas experiências que tanto Avatar quanto Glee merecem os prêmios.

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