15 de mai. de 2010

'Modern family' faz divertida crítica dos estereótipos da sociedade atual


O marido e pai infantil, o filho lesado, a filha adolescente bonitona e fútil, a mulher que é exemplo de esposa e mãe... Durante décadas, essa é a fórmula de sucesso das sitcoms americanas que abordam questões familiares.

Com “Modern family”, nova comédia de meia-hora da Fox que estreia nesta segunda-feira (3), às 22h, todos esses elementos estão presentes. Mas com um olhar, como o título já sugere, mais contemporâneo.

A série foi desenvolvida pelos mesmos criadores da premiada “Frasier”, e assim que estreou no 2º semestre do ano passado foi apontada como a nova comédia do ano pela crítica americana. Ao assistir aos dois episódios que serão exibidos nesta noite dá para entender o motivo.

 O programa segue o cotidiano da família Pritchett e suas ramificações. Jay (Ed O’Neill, de volta as comédias pela primeira vez desde o eterno Al Bundy, de ‘Married with children’) é o patriarca, pai de Claire (Julie Bowen) e Mitchell (Jesse Tyler Fergunson).

Sua filha é uma dona de casa insegura, mãe de duas crianças e uma pré-adolescente, mas cujo marido (Phil, vivido por Ty Burrell), na crise da meia-idade, é o verdadeiro bebê da família. Já Mitchell é um advogado careta e gay, que viaja até o Vietnã para adotar um bebê ao lado parceiro, o afetado Cameron (o ótimo Eric Stonestreet).

Fecha a turma a nova esposa de Jay, Gloria (Sofía Vergara), uma bela colombiana mãe de Manny (Rico Rodriguez), um simpático gordinho de 11 anos que se acha adulto.

O que amarra esses três núcleos familiares é a educação dos filhos. Jay não quer repetir com o enteado os erros do casamento anterior. Julie e Mitchell não querem dar aos seus rebentos os maus-exemplos que tiveram com os pais, e por aí vai.

Falso documentário
Uma das (boas) sacadas de “Modern family” é o formato: a série é um falso documentário (“mockumentary”), igual “The office”. Uma câmera acompanha os atores em cena, mas não chega a interagir com eles.

 Em alguns momentos, os personagens fazem relatórios para as lentes, igual àqueles comerciais antigos da Brastemp. Nessas horas os personagens, como se estivessem em um grande paredão, tiram suas máscaras e confidenciam aquilo que não mostram nas cenas. Afinal, de perto ninguém é normal.

Para esses momentos serem engraçados em um programa que não é gravado em frente a um público ao vivo, geralmente responsável por aquelas risadas forçadas, dignas de “Chaves” ao fundo, “Modern family” tem dois trunfos. Primeiramente, o elenco, talentoso e de excelente timing cômico. Depois, o roteiro.

Em um momento em que o “humor do bem” está na moda, o programa é uma ótima válvula de escape para os fãs do politicamente incorreto. Os personagens são estereotipados e a série brinca com os diversos tipos de situações que existem no mundo globalizado de hoje - sem medo de, às vezes, de até soar preconceituosa.

Todo tipo de piada clichê envolvendo imigrantes ilegais, homossexuais e pobreza de países subdesenvolvidos são expostos logo no episódio desta noite. Mas de maneira sutil, distribuída em pequenas situações do cotidiano que costumam passar despercerbidas.

“Modern family” já foi renovada para uma 2ª temporada nos EUA. Seu poder de fogo, dizem, será realmente testado durante o próximo Emmy, em agosto. Até o momento, a série foi um pouco ofuscada pelo fenômeno pop “Glee”. Na primeira disputa entre os dois, no Globo de Ouro deste ano, o seriado musical se saiu vencedor.

* Uma curiosidade em relação à trama: apesar de se julgarem parte de uma família moderna, nenhuma das mulheres trabalha, de fato, na atração.

** Matéria publicada no G1 em 3/5/2010