A série “Mercy”, que estreia nesta terça-feira, às 21h no Liv, segue uma tendência na TV americana: dramas médicos. Mas não estamos nos referindo aos doutores de jalecos brancos, com estetoscópio no pescoço e aparência de modelo de roupa íntima, tão comuns em “Grey’s anatomy” ou “ER”.
De eternas personagens secundárias, daquelas que sempre apareciam ao fundo da cena, praticamente desfocadas, as enfermeiras chegaram à linha de frente.
Nos EUA, já são três séries com elas como protagonistas. Além de “Mercy”, faz sucesso por lá a “dramédia” “Nurse Jackie” - exibida no Brasil pelo Studio Universal - e “Hawthorne”, que chega por aqui em setembro, no mesmo Liv (ex-People + Arts).
“Mercy” traça o cotidiano de três enfermeiras de um hospital de Nova Jersey. Veronica (Taylor Schiling) é uma veterana da Guerra do Iraque, que busca reconstruir a vida após anos de luta no Oriente Médio. Sonia (Jaime Lee Kirschner) e Chloe (Michelle Trachtenberg) são suas colegas e melhores amigas.
Receituário de sempre
É comum ver nas três atrações os conflitos que existem entre médicos e enfermeiros. Enquanto os primeiros são retratados como seres racionais, os segundos aparentam serem mais emotivos. E a impressão que fica é que os últimos são sempre os responsáveis pelo trabalho sujo de um hospital.
A disputa de poder entre eles também é outra constante. Um diálogo básico presente em momentos assim termina com o médico ressaltando seu poder hierárquico. As séries sobre enfermeiros também seguem uma certa fórmula de sucesso. Em “Nurse Jackie” e “Mercy”, por exemplo, existe a figura de um enfermeiro gay e fofoqueiro, cuja tarefa é ser o conselheiro da classe feminina.
A tensão sexual entre médicos e enfermeiras é outra constante – em “Mercy”, tal qual “Grey’s anatomy”, a cada episódio há pelo menos uma cena de alguém se atracando no almoxarifado após uma sutura bem realizada.
No Brasil, ainda não há uma enfermeira como protagonista da TV nacional. Mas há de se lembrar que elas costumam roubarem a cena nos folhetins em que participam – vide a polêmica Alzira (Flávia Alessandra), uma dançarina que se fingia passar por enfermeira na novela “Duas caras”, e a interesseira Raquel (Letícia Birkheuer), de “Desejo proibido”.
Dos enfermeiros nacionais que atualmente estão no ar, dois valem uma menção em especial. Na nova sitcom "S.O.S. Emergência", da Globo, Anderson (Fábio Lago) é um garanhão que tem um caso com a doutora Veruska, vivida por Maria Clara Gueiros - pois é, aqui eles não têm fama de homossexuais, como no exterior...
Mais “low profile”, a enfermeira da vez nas novelas é Vitória, interpretada por Cristina Flores em “Viver a vida”. A personagem faz parte da equipe médica que cuida da modelo tetraplégica Luciana (Alinne Moraes).
Para a construção de Vitória, Cristina visitou o Hospital do Fundão, no Rio, e conheceu a enfermeira Marinalva. “Fiquei muito impressionada com a importância dela no tratamento dos pacientes”, revela.
“Presenciei sua visita a um garoto com lesão medular. Ela entrou no quarto com uma energia e uma força tão grande, que transformava aquela situação triste em algo positivo. Estruturei a Vitória a partir da Marinalva”.
Para a atriz, o público tem a curiosidade de se ver em situações extremas, o que explica o sucesso dos programas médicos. Ela nega ter visto algum preconceito na relação entre médicos e enfermeiros, mas adianta que aprendeu, com a personagem, as funções de cada funcionário de um hospital.
“O médico cuida da doença. O enfermeiro, da pessoa”.
* Matéria publicada no G1 em 13/4/10