17 de abr. de 2010
O homem de US$ 100 milhões
LOS ANGELES - Seth MacFarlane tem um toque de Midas. Nos últimos 10 anos, tudo o que saiu de sua cabeça virou um produto milionário. Começou com o desenho Family Guy, depois veio American Dad! e uma série exclusiva para o YouTube (Seth MacFarlane’s Cavalcade of Cartoon Comedy). Em 2010, a novidade é Cleveland Show: um derivado de Family Guy que chega ao FX no dia 25 de abril. No mesmo dia, o original também terá sua 9ª temporada estreando por aqui, no mesmo canal.
Ao Estado, MacFarlane contou os bastidores de suas produções incorretas.
Qual foi a sensação de ver Family Guy concorrer como melhor série cômica no Emmy de 2009?
Foi uma surpresa. É uma coisa rara, que só aconteceu com Os Flintstones, em 1961. Ser nomeado já foi uma vitória. Prêmios ficam legais em casa. Mas, no final do dia, não influenciam seu trabalho de maneira significativa.
A nomeação não chega a ser uma vingança? Afinal, Family Guy, em seu começo, foi cancelada duas vezes...
Não é, você precisa considerar o clima atual. Na época de Os Simpsons, as comédias tradicionais estavam no comando, ele concorria com Frasier, Friends... Até acho que Os Simpsons era melhor que eles e deveria ter sido nomeado nos anos 90. Agora, as pessoas estão mais receptivas a novos modelos de comédia na TV. Veja 30 Rock e The Office.
O que levou as animações a chegarem ao horário nobre?
Os Simpsons e Family Guy são programas com um visual que não é pegajoso como o dos infantis da Warner. Isso diz ao seu cérebro, subconscientemente, que trata-se de algo underground. Mas para compensar esse formato, que tira você da realidade, usa-se o modelo mais tradicional possível: a premissa familiar. Pode parecer uma teoria ridícula, mas veja Futurama (que foi cancelada): foi um programa muito divertido, com uma concepção muito elaborada. Ele teve sua audiência, mas o grande público o achou complicado demais.
Existe um assunto tabu em sua produções?
Existem alguns sensos comuns intocáveis. Você não faria uma piada sobre o 11 de Setembro, só se fosse algo muito, mas muito engraçado (risos). Mas, nos últimos anos, a gente começou a ultrapassar esse território aos pouquinhos. O caso do episódio sobre abortos foi uma exceção, mas a Fox nos deixou produzi-lo para colocá-lo no DVD depois. É como se falassem: "Isso pode nos ferrar. Mas, se for criativamente excitante para vocês, vamos nessa que depois descobrimos como fazer isso dar certo".
Li uma entrevista em que você dizia que a maconha prejudicava seu trabalho. Então não teremos mais momentos como a canção Bag of Weed (saco de erva)?
(Risos) Não sei onde você leu isso... Eu nem fumo tanta maconha assim!
* Matéria publicada no Estadão