7 de set. de 2009

Duas séries, duas épocas

Passei este feriado tirando o atraso que tinha em relação à algumas séries televisivas do qual sou fã. Neste último domingo, matei o que faltava de Mad Men, para que eu ficasse sincronizado com o espectador americano. Vi também mais alguns episódios da 2ª temporada de Breaking Bad, que já terminou por lá. Ambos são programas do canal a cabo AMC.

Mad Men, para quem não sabe, retrata a vida de uma agência de publicidade de NY no começo dos anos 60. Não parece muito convidativo, eu sei, mas o bacana da série é como os costumes e hábitos culturais dessa época são ali retratados.


Para eu, filho do final do século 21, chega a ser chocante ver cenas como a que acompanho nesta 3ª temporada da obra de Matthew Weiner. Betty Drapper (January Jones), grávida do terceiro rebento, acende um cigarro no outro, enquanto perambula pela casa com seus belos vestidos floridos. Ninguém diz nada.

Daí eu pulo quase 50 anos e chego em Breaking Bad. Skyler White (Anna Gunn) também está grávida, mas do seu segundo filho. Gravidez inesperada, ela já passou dos 40 anos. Bateu aquela vontade de fumar um cigarrinho. Escondida, no carro, umedece a ponta dele e olha com culpa pela janela. Uma senhora, em outro veículo, faz um sinal de reprovação.

Betty leva a vida idealizada pela sociedade americana, aquilo que lemos nos livros de história sobre o pós 2ª Guerra Mundial como American Way of Life. É rica, jovem, tem uma bela casa. Nem cuidar dos filhos precisa, já que tem uma babá o tempo todo. Fuma por prazer - ou "imposição cultural", já que 95% dos personagens de Mad Men vivem na fumaça de suas baforadas.

Skyler é uma fodida, da classe média americana, com sua hipoteca para pagar. Não tem emprego fixo, seu marido tem câncer terminal e seu filho adolescente sofre de paralisia cerebral. É repreendida pelo esposo quando decide comer um mero panini porque ele tem sódio, o que faria mal ao nenê. Fumou três cigarros e meio por um breve momento de prazer, enquanto tudo ao seu redor se desmorona.


Fiz esse paralelo com o objetivo de chegar a uma conclusão, mas tá difícil. Só consigo pensar que nossa vida está mais chata. Há quase um ano, quando me vi primeira vez na indo morar numa casa sem ninguém de minha família por perto, passei por uma situação engraçada no supermercado: eu podia decidir o que comprar.

Sempre tive tudo light nos meus lares, do refrigerante à maionese. O pão, aos poucos, virou integral, assim como as bolachas foram sendo substituídas pelas barras de cereais. Dez meses depois cá estou: vivo e mais magro, inclusive. Na minha geladeira só há "alimentos normais", imorais, que ainda não são ilegais, mas dizem que engorda.

Tava conversando outro dia sobre a primeira vez que vi um refrigerante diet, no começo dos anos 90. Era coisa de gente doente, diziam, como meu avô diabético. Hoje todo mundo bebe a mesma parada sobre o rótulo de Zero, porque os publicitários dizem que é mais juvenil.

Quando estive nos EUA, há algumas semanas, fiquei com vontade de alugar um carro à diesel, só para protestar contra a onda "Go Green" que assolou aquele país. A prefeitura de Los Angeles tá implementando o cartão de bilhete único em seu transporte público, com a desculpa de que isso vai evitar o gasto com papéis e ajudar ao meio-ambiente.

[Gente, o cartão é ótimo porque é uma tecnologia feita para deixar nossa vida mais prática, para que ninguém mais pegue filas nos ônibus ou nos metrôs. E ponto final!]

Não gosto de cigarro, acho ótimo ir à balada e voltar para casa com o cheiro do meu perfume, mas toda essa proibição, essa vigilância, incomoda-me um bocado. O pior é que a gente vai integrando essas regras em nossos cotidianos sem perceber. Minha mãe diz que adorava jogar lança-perfume em seus amigos nos carnavais de sua infância. No domingo ela tentou me convencer a experimentar um hambúrguer de soja.

Sei que essas restrições têm o objetivo de tornar nossa vida mais saudável. Mas fico imaginando como ela será daqui uns anos. Tipo ser chamado pela diretora da escola porque meu filho foi pego levando Coca-Cola normal na lancheira.

Algo assim.

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