Vou ser mais tolerante em 2009. Esse é um dos meus mantras para esse novo ano. Chega de pré-conceitos e idéias pré-fabricadas. A parada é ir para a rua, sujar a solo do sapato e experimentar. Para ter uma opinião embasada. Certo?
Como parte desse experimento, na semana passada fui a um pagode. Sim, pagode. Não era samba, não tinha mesa de ferro, gente batendo os dedos numa caixa de fósforos, tia passando com a tupperware cheia de polenta frita. Era pagodinho da moda. Ponto.
Quem me arrastou a uma casa de pagode foram três amigos. Era um sábado à tarde bonito, ensolarado, típico dia bacana para ficar em casa estatelado no sofá, com o ventilador do teto apontado para a fuça. Mas, não, eu fui prum pagode.
A primeira coisa que reparei foi o visual da galera. A parada é bem United Colors of Benetton, o que é ótimo, para começar. Já as roupas... As mulheres são preparadas. Todas usam salto alto, calças justas ou saias provocativas. As blusas são decotadas, quase sempre com as costas de fora. Para os olhos é uma delícia, aviso. Os homens variam muito. Alguns usam camisetas de clube de futebol, mas um must é a camisa grudadinha ou a regata colada ao corpo. De cores berrantes, diga-se.
Indispensáveis são o bermudão florido, o Nike Shox no pé e o Oakley na cabeça. Sim, ninguém põe os óculos escuros nos olhos. O negócio fica na testa à la Salgadinho.
O pessoal é animado. Melhor do que qualquer balada que já vi. Quem dança, toca o terror mesmo. Já quem não tem samba no pé, fica assistindo, batucando na perna ou no peito. Para essas pessoas é regra ter um copo de cerveja ou de qualquer outra bebida em uma das mãos. É um jeito de socializar.
O pessoal também não me pareceu muito fresco. Vi dasluzetes chafurdando os dedos em batatas-fritas, linguiças (ai, trema querida!), e outros finger foods do tipo. Na hora de beber, nada de diferente da playboyzada que frequenta (ai, trema querida 2!) as melhores baladas. É uísque com energético pra lá, vodca com qualquer coisa pra cá (até Yakult!). Uns negões malandros, querendo pagar de bling-bling, acendiam charutos e agiam como se estivessem num clipe do Hype Williams.
Incomodou-me bastante a mania do povo cantar as músicas - todas iguais, num maldito "lêlêlêlêlê, eu vou lhe dar carinho", "lêlêlêlêlê você é meu amorzinho". Parecia show do Los Hermanos! Ah, só reconheci Parabéns pra Você (era aniversário de umas 20 pessoas) e Dança do Quadrado.
Falando em dança, chamou-me a atenção uma dança característica. OK, tinha gente sambando e até resgatando a lambada por lá, mas existe um passinho que é batata. Quando tocava uma música bem famosa, o público abria os braços, olhava para o teto e berrava. Igualzinho àquela turma que desfila em escola de samba, a pé, andando pela avenida com a camiseta da agremiação.
Fiquei umas quatro horas no pagode, mas já estava cansado após 1h30. Sei lá, não sou animado para essas coisas. Gosto de dançar do meu jeito, like no one's watching, e lá não dava para fazer isso. Com certeza eu seria humilhado por uma morena cavala, que rebolava mais que uma máquina de lavar e que fazia graça para esse blogueiro aqui (e pra torcida do Flamengo também) o tempo todo.
Em relação às músicas... Achei bem ruins. Cara, não sou preconceituoso e, atenção!, gosto de pagode. Negritude Jr, Art Popular, Só Pra Contrariar e Molejo (tchan!) são, para mim, grupos de pagodeiros, ora! Gosto do som dessa turma porque eles são aquele pagode com amor à camisa, fazem o pagode arte, aquele pagode moleque que joga com dois pontas avançados. Já essa turma de hoje é burocrática, joga pelo resultado na retranca, no 3-5-2. Essas canções mela cueca, que vêm desde os tempos de Karametade, Katinguelê e Belo, não são para dançar. Não é porque tem alguém ali rodando um pandeiro que isso seja motivo para sair por aí sambando. E o problema desses pagodes atuais, tipo Sorriso Maroto e Revelação*, é justamente isso.
Não tirei uma foto para mostrar a minha cara de mau humor, mas a do meu amigo DJ Edu Vieira, vulgo Cidão, sintetiza bem o meu sentimento. Ele foi arrastado para lá por sua namorada.
Não foi só o cavaco que chorou
*Update: Três pessoas já me falaram que Sorriso Maroto e Revelação são coisas totalmente diferentes. Deixo então a errata de meu amigo - e pagodeiro - Filippe. "É a mesma coisa que falar que Panic! At the Disco é igual The Killers. Sorriso Maroto é beeeem popular e simples. Revelação é uma coisa, digamos, com mais esmero, é quase um samba."
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