*1995 + 2005
No início de nosso namoro, ambos não tínhamos carro. Para sairmos à noite ou irmos a algum lugar, dependíamos de nossos pais e parentes. Parecíamos pré-adolescentes pedindo pra mamãe nos deixar no shopping e nos pegar à meia-noite. Carro eu não tinha, nem ela. Melhor, ter ela tinha: um Citroën ZX, ano 95.
Tal veículo era o queridinho da família dela. Motor 2.0, direção hidráulica, quatro portas, ar-condicionado... Uma gracinha. E foi com ele que ela teve suas primeiras experiências ao volante. No início, papai e mamãe eram temerosos. Só deixavam-na guiar se um deles estivesse ao lado, supervisionando tudo; desde uma brecada mais brusca até a uma marcha mal engatada. Um dia ela os convenceu que merecia uma chance de poder se livrar das correntes de seus progenitores. Ligou para o namorado e disse empolgada: "Hoje vamos sair só nós dois, de carro".
Eu estava mais nervoso que ela. Após pegarmos um DVD na vídeo-locadora, ela não viu um Ford Ka frear e pimba! Amassetou a traseira do coitado. Chorou muito, disse que jamais iria voltar a dirigir - o que não funcionou. O carro foi para o conserto e voltou todo brilhante. Aliás, aquele Citroën era problemático. Constantemente ele morria sozinho, dava pane na bateria... "Está ficando velho", diziam os verdadeiros amigos à sua mãe. Mas ela não escutava; aquele carro azul era o xodó dela.
O carro era todo arranhado nas laterais e na frente - fruto das barbeiragens da namorada, que se perdia toda ao tirar o carro da garagem do prédio. "Esse raspado é novo?", eu ironizava. Ela ficava uma arara. "Ao menos eu dirijo!", eu ouvia como resposta. Dirigi a Máquina Mortífera, apelido da carcaça, apenas uma vez, fazendo uma baliza. Não confiava naquele bicho de jeito nenhum. Teve uma vez que ele fazia tanto barulho que parecia uma carroça velha. Novamente foi para o mecânico, que diagnosticou o paciente: "Esse não vai durar muito não".
E foi nessa fatídica quinta-feira à noite que tudo aconteceu. Após pegar a irmã no clube, ela vinha tranquilamente pelas ruas dos Jardins, quando uma fumaça começou a sair de dentro do capô. Tentou seguir até a sua casa, mas não deu tempo. A fumaça deu lugar ao fogo. Puxou o freio de mão e saiu correndo, de pijama e tudo. Os transeuntes que circulavam pelo local tentaram ajudar, ligando para o corpo de bombeiros, mas não havia mais salvação. Eram pouco mais de nove horas da noite quando o Citroën ZX, ano 95, a Máquina Mortífera, deu seu último suspiro.
Até essa manhã de sábado ele ainda se encontrava parado, no mesmo lugar em que ficou antes. Suas peças aproveitáveis serão vendidas, o resto vai para o desmanche. Realmente uma grande pena. Sentirei falta de quando eu sentava no banco do passageiro e ficava dando risada quando a namorada, vendo que o carro morria sozinho a cada minuto, dava um murro no volante e se descabelava gritando para si mesma: "Eu odeio esse carrooooo!".
Mas eu o achava um barato.
Tal veículo era o queridinho da família dela. Motor 2.0, direção hidráulica, quatro portas, ar-condicionado... Uma gracinha. E foi com ele que ela teve suas primeiras experiências ao volante. No início, papai e mamãe eram temerosos. Só deixavam-na guiar se um deles estivesse ao lado, supervisionando tudo; desde uma brecada mais brusca até a uma marcha mal engatada. Um dia ela os convenceu que merecia uma chance de poder se livrar das correntes de seus progenitores. Ligou para o namorado e disse empolgada: "Hoje vamos sair só nós dois, de carro".
Eu estava mais nervoso que ela. Após pegarmos um DVD na vídeo-locadora, ela não viu um Ford Ka frear e pimba! Amassetou a traseira do coitado. Chorou muito, disse que jamais iria voltar a dirigir - o que não funcionou. O carro foi para o conserto e voltou todo brilhante. Aliás, aquele Citroën era problemático. Constantemente ele morria sozinho, dava pane na bateria... "Está ficando velho", diziam os verdadeiros amigos à sua mãe. Mas ela não escutava; aquele carro azul era o xodó dela.
O carro era todo arranhado nas laterais e na frente - fruto das barbeiragens da namorada, que se perdia toda ao tirar o carro da garagem do prédio. "Esse raspado é novo?", eu ironizava. Ela ficava uma arara. "Ao menos eu dirijo!", eu ouvia como resposta. Dirigi a Máquina Mortífera, apelido da carcaça, apenas uma vez, fazendo uma baliza. Não confiava naquele bicho de jeito nenhum. Teve uma vez que ele fazia tanto barulho que parecia uma carroça velha. Novamente foi para o mecânico, que diagnosticou o paciente: "Esse não vai durar muito não".
E foi nessa fatídica quinta-feira à noite que tudo aconteceu. Após pegar a irmã no clube, ela vinha tranquilamente pelas ruas dos Jardins, quando uma fumaça começou a sair de dentro do capô. Tentou seguir até a sua casa, mas não deu tempo. A fumaça deu lugar ao fogo. Puxou o freio de mão e saiu correndo, de pijama e tudo. Os transeuntes que circulavam pelo local tentaram ajudar, ligando para o corpo de bombeiros, mas não havia mais salvação. Eram pouco mais de nove horas da noite quando o Citroën ZX, ano 95, a Máquina Mortífera, deu seu último suspiro.
Até essa manhã de sábado ele ainda se encontrava parado, no mesmo lugar em que ficou antes. Suas peças aproveitáveis serão vendidas, o resto vai para o desmanche. Realmente uma grande pena. Sentirei falta de quando eu sentava no banco do passageiro e ficava dando risada quando a namorada, vendo que o carro morria sozinho a cada minuto, dava um murro no volante e se descabelava gritando para si mesma: "Eu odeio esse carrooooo!".
Mas eu o achava um barato.
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