Estafa
Vou ser feliz e já volto.
30 de set. de 2005
26 de set. de 2005
Febre de bola
Está nos cinemas - creio eu - o filme "Febre de Bola", baseado no livro homônimo de Nick Hornby. A película não tem nada a ver com a obra escrita: um é sobre beisebol e o outro de futebol. Não vou me ater muito a tecer comentários sobre as duas coisas, senão fica chato. Mas recomendo ver uma das cenas mais bonitinhas do filme, que é quando o garotinho é levado por seu tio à primeira vez no estádio do Red Sox.
***
Em 1992, eu tinha sete anos. Época de ouro do meu tricolor. Bi-campeão paulista, acabara de levar a sua primeira Taça Libertadores da América, iríamos disputar o primeiro Mundial Interclubes. Nessa época eu morava em Tupã, e quando passava as férias na casa de meus avós, freqüentemente via meu tio saindo de casa com um outro tio meu, em seu Gol geração 1, verde-água. "Eles vão ao jogo", dizia vovó. Pedia para ir junto. "Ainda tá cedo, Gu! Um dia você vai", ouvi. Fiquei puto; tranquei-me no banheiro e comi meio saco de balas 7 Belo.
Ano seguinte, mudei-me para Sorocaba, pertinho de São Paulo. Meu avô já aproveitara e comprara para mim o uniforme inteiro do tricolor. Quando eu jogava bola na escola, ia todo uniformizado, desde os meiões até o shorts. Era zoado, lógico, mas nem ligava. Tinha roupa de treino, agasalho... Todo um aparato ideológico imposto por vovô, temeroso que seu neto sucumbisse às vontades palestrinas de seu pai.
Campeonato Brasileiro, 93 (ou seria o Paulista? O Raí já tinha puxado o carro...).Titio foi até Sorocaba pegar o meu irmão e eu. Teríamos a honra de ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Fui trajado como meus ídolos: Müller, Palhinha e Cafu. Com o manto tricolor dos pés à cabeça. E, digo, a sensação de entrar em um estádio é única. Desde a torcida cantando nas intermediações, até quando você sobe a rampa e vê a sua frente um tapete verde enoooorme. Era um São Paulo X Mogi Mirim. Melhor jogo para estrear um guri, impossível. Chances de vitória eram claras. Afinal, quem era aquele time vermelho e do interior frente ao grande Campeão Mundial? Ninguém, óbvio.
Ficamos na numerada, pois arquibancada ainda era algo muito cedo para minha idade. O êxtase era tanto que eu tomei uns três picolés de Leite Moça só no primeiro tempo. Pintava goleada. O Leonardo já tinha guardado o seu. A segunda etapa prometia. O gol atacado pelo tricolor era pertinho da gente, e logo vimos um tento, outro do Leonardo! Estava 3X1, algo assim. E como era gostoso vibrar com um gol marcado. Na sala de casa não tem graça pular e esmurrar o ar. E como era engraçado quando o time adversário assinalava o seu, e tudo ficava um silêncio... Alguns poucos minutos depois aconteceu o episódio que marcou de vez o meu primeiro jogo no Morumbi.
O Juninho (Paulista, Campeão do Mundo de 2002), era novinho, acabara de ser contratado do Ituano. Ele era rápido, pequenino e ligeiro. Sei que ele pegou a bola atrás da linha do meio de campo e foi em frente. Passou pelo primeiro, cortou o segundo e foi fintando o terceiro. Todos levantaram de pé. Um tio que vendia amendoim e circulava pelas cadeiras, parou bem em minha frente. Não vi mais nada. Berrei, mas ninguém escutou, porque o Juninho já estava cara a cara com o goleiro (imagino), e só senti um abraço de meu tio, o cara do amendoim jogando tudo pro ar e avistei o Juninho indo comemorar com o banco de reservas.
O meu algoz virou para mim e disse: "Caralho, moleque! Em 15 anos trabalhando aqui eu nunca vi um golaço desses!".
Filho duma égua...
***
Em 1992, eu tinha sete anos. Época de ouro do meu tricolor. Bi-campeão paulista, acabara de levar a sua primeira Taça Libertadores da América, iríamos disputar o primeiro Mundial Interclubes. Nessa época eu morava em Tupã, e quando passava as férias na casa de meus avós, freqüentemente via meu tio saindo de casa com um outro tio meu, em seu Gol geração 1, verde-água. "Eles vão ao jogo", dizia vovó. Pedia para ir junto. "Ainda tá cedo, Gu! Um dia você vai", ouvi. Fiquei puto; tranquei-me no banheiro e comi meio saco de balas 7 Belo.
Ano seguinte, mudei-me para Sorocaba, pertinho de São Paulo. Meu avô já aproveitara e comprara para mim o uniforme inteiro do tricolor. Quando eu jogava bola na escola, ia todo uniformizado, desde os meiões até o shorts. Era zoado, lógico, mas nem ligava. Tinha roupa de treino, agasalho... Todo um aparato ideológico imposto por vovô, temeroso que seu neto sucumbisse às vontades palestrinas de seu pai.
Campeonato Brasileiro, 93 (ou seria o Paulista? O Raí já tinha puxado o carro...).Titio foi até Sorocaba pegar o meu irmão e eu. Teríamos a honra de ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Fui trajado como meus ídolos: Müller, Palhinha e Cafu. Com o manto tricolor dos pés à cabeça. E, digo, a sensação de entrar em um estádio é única. Desde a torcida cantando nas intermediações, até quando você sobe a rampa e vê a sua frente um tapete verde enoooorme. Era um São Paulo X Mogi Mirim. Melhor jogo para estrear um guri, impossível. Chances de vitória eram claras. Afinal, quem era aquele time vermelho e do interior frente ao grande Campeão Mundial? Ninguém, óbvio.
Ficamos na numerada, pois arquibancada ainda era algo muito cedo para minha idade. O êxtase era tanto que eu tomei uns três picolés de Leite Moça só no primeiro tempo. Pintava goleada. O Leonardo já tinha guardado o seu. A segunda etapa prometia. O gol atacado pelo tricolor era pertinho da gente, e logo vimos um tento, outro do Leonardo! Estava 3X1, algo assim. E como era gostoso vibrar com um gol marcado. Na sala de casa não tem graça pular e esmurrar o ar. E como era engraçado quando o time adversário assinalava o seu, e tudo ficava um silêncio... Alguns poucos minutos depois aconteceu o episódio que marcou de vez o meu primeiro jogo no Morumbi.
O Juninho (Paulista, Campeão do Mundo de 2002), era novinho, acabara de ser contratado do Ituano. Ele era rápido, pequenino e ligeiro. Sei que ele pegou a bola atrás da linha do meio de campo e foi em frente. Passou pelo primeiro, cortou o segundo e foi fintando o terceiro. Todos levantaram de pé. Um tio que vendia amendoim e circulava pelas cadeiras, parou bem em minha frente. Não vi mais nada. Berrei, mas ninguém escutou, porque o Juninho já estava cara a cara com o goleiro (imagino), e só senti um abraço de meu tio, o cara do amendoim jogando tudo pro ar e avistei o Juninho indo comemorar com o banco de reservas.
O meu algoz virou para mim e disse: "Caralho, moleque! Em 15 anos trabalhando aqui eu nunca vi um golaço desses!".
Filho duma égua...
22 de set. de 2005
19 de set. de 2005
Amanhã é aniversário da namorada. Quando datas festivas chegam, como Dia dos Namorados, Natal, Aniversário de Namoro ou Dia das Crianças, eu penso: "Ok, tenho que pensar em um presente bem bacana". Olho a minha conta corrente, solto um muxoxo; abro a carteira e repito o ritual. "Algo barato e criativo". Começo a remexer a minha cuca, tendo flashbacks de momentos em que ela parou em frente à vitrine de alguma loja (o que é bem comum, diga-se de passagem) e deu um sorriso, olhando com aquele olhar de ternura para mim. Mas nada me vem à memória, nadica.
Presentes manuais, nem pensar. Sempre fui péssimo para desenhos ou algo que envolva recorte, papel, tesoura e cola. Certa vez, em uma aula de Educação Artística, a professora pediu para desenhar retas que se cruzassem, algo do tipo. Fiz uma suástica, porque tinha visto o símbolo em algum lugar. A velha, a professora, quase teve um treco e por pouco não fui parar no psicólogo do colégio. O telefone toca:
- Alô?
- Gu?
- Opa, mãe! Tudo nos conforme?
- Ahãm. Vem pra cá (Sorocaba) nesse final de semana?
- Pô, mãe! É aniversário da Irena. Esqueceu?
- Vixi! O que você comprou?
- Um DVD...
- Ai, que coisa de pobre! Só isso?
- Mas esse é especial... (Bicicletas de Belleville).
- Compra uma bolsa, ela não está trabalhando? Eu pago, é "nosso presente". Mas nada muito caro, ok?
Ah, obrigado mama. Dia seguinte vou ao Shopping Iguatemi, pólo de mauricinhos e patricinhas paulistanas, que não andam, desfilam. Bronzeadas, escova progressiva, iPod e bolsa Louis Vuitton. Fico avexado. Essas mulheres me dão medo. Tudo custa o olho da cara. Uma bolsa, menor que uma pochete, custa três dígitos. E homem, fazendo compras para uma mulher, só pode dar em problema. Bastava pôr a ponta do tênis em alguma loja, onde o hormônio estrógeno estava no ar, que eu já era medido com os olhos. Tentei ligar para a Erica ou a Bruna, pedindo ajuda feminina, mas elas estavam ocupadas. Nessas horas eu queria ter um amigo gay e desocupado, juro!
Achei o mimo em uma loja vazia, no fundão, com um preço mais em conta em relação às outras. Uma senhora, que estava comprando uma carteira, ajudava-me. "A verde não combina com qualquer coisa, escolha algo mais neutro". Ia até o fundo, achava qualquer bolsa bonitinha e, quando já estava indo ao caixa, era alertado. "Tua namorada é a Regina Casé, por acaso?". Acabei levando uma bonitona, toda chique, a cara dela - nada ostensivo, bem "de jovem", como me disse a vendedora.
Descobri que toda mulher, sem exceção, quando faz compras, tem que ir e parar em todas as lojas do mundo para pesquisar - e pechinchar - os preços. Tomei uma erguida daquelas da tiazona quando confidenciei que aquela havia sido a primeira loja em que eu entrara de verdade. "Homem não serve pra nada mesmo. Só para reclamar e fazer merda!". Enfim, sai todo pimpão, mas temeroso se a bem-amada acabasse odiando a tal bolsa. No final ela adorou, e já a exibe para cima e para baixo, lotando-a com milhares de tranqueiras femininas.
E, repetindo o ritual do último ano, peço ao leitor para darmos dar um salve, um abraço, um Feliz Aniversário para a Nenoca. Quem não os fizer, já sabe: bom sujeito não é.
14 de set. de 2005
Dorminhocos, graças a Deus
Ah, que frio! Não está mais dando para agüentar; dá vontade de dormir o dia inteiro, trancafiado no quarto, enrolado num bolo de cobertas. Só deixar a cabecinha para fora, ficar de rabicho bisbilhotando o que está passando nos inúmeros programas de culinária vespertinos.
Felizardos aqueles que não trabalham. Que fazem o esquema predileto dos dorminhocos de plantão: dormir de madrugada para acordar cedo, que é para dormir na aula, que é para reclamar da vida, que é para dormir no ônibus, que é para chegar em casa, almoçar, ir até o armário e pegar o travesseiro e edredom de estimação, correr até o sofá, ligar a televisão em um volume bem baixinho e passar horas e mais horas roncando. Quem, da faixa dos 12 aos 18 anos, que se orgulhava de não precisar trabalhar e não fez esse esquema, será uma pessoa rancorosa para o resto da vida.
Há vários tipos dos apreciadores de uma soneca. Deixo cá uma lista dessa patota. Vejam em qual categoria vocês se encaixam.
1) Saudável: Trabalha ou faz inúmeras atividades à tarde, como ter aulas de outros idiomas ou praticar algum esporte. Estagia entre seis e oito horas por dia, é querido por todos da empresa. Dorme durante o Jornal Hoje e acorda no início do Vídeo Show, antes de começar aquele quadro da Angélica. Dorme entre seis e oitos horas por dia e, pasmen, está sempre disposto. É feliz. Consegue conciliar trabalho com faculdade e mesmo assim tira notas altas.
2) Esquecido: Se trabalha, dá canseira na chefia toda semana. Estudou o colégio inteiro no período da manhã, e acabou pegando o costume de tirar uma sesta de uma hora. Tenta ser como o Saudável, mas dorme a meia-noite porque ficou acompanhando a reprise do seriado predileto que passa, na verdade, às oito horas, mas como ele trabalha esse horário, fica impossível de acompanhá-lo regularmente. Estagia entre quatro horas e seis horas por dia. Dorme durante o Jornal Hoje e acorda durante o Vídeo Game, da Angélica, com taquicardia e pressa por estar atrasado. Tem inveja do Folgado.
3) Folgado: Já estagiou e até consegue trabalhar. Quando procura ofertas de trabalho, sempre tenta dar um jeito de entrar no trampo as duas ou três horas da tarde. Seu estágio provavelmente tem carga horária "variável", pois daí ele pode entrar e sair a hora que quiser na empresa, sem ter a necessidade de bater cartão. Sai meia hora mais cedo da faculdade e pede para o colega ao lado assinar sua presença. Almoça correndo e cronometradamente à primeira palavra do Evaristo Costa, fecha os olhos e dorme... Até começar a tocar a introdução do Vale A Pena Ver de Novo. Dorme durante o Jornal da Noite, e sente falta da voz entediante da Ana Paula Padrão. Está sempre bocejando por onde passa. Tira sarro do Saudável, e queria a voltar a ser Vagabundo.
4) Vagabundo: Prefere fazer freelancer, porque é um bico que dá um dinheiro legal para ele poder comprar as suas necessidades vitais: livros e Cds. Dorme bem tarde, na terceira entrevista do Jô, mas prefere esperar até mais tarde para assistir ao David Letterman, que é bem melhor. Dá risada com a Sue Johanson, enquanto fica no Orkut (nesse horário não trava!) ou na Internet vendo sacanagem. Dorme durante o Vídeo Show e acorda no final da Sessão da Tarde - quando não no começo da Malhação. Vive com insônia à noite, já que dorme demais à tarde. Chega atrasado na aula e, matematicamente, tem anotado em sua agenda quantas faltas tem com cada professor, para não correr risco de estourar o limite e pegar dependência. Adora as quartas-feiras porque é dia de futebol na tevê, daí pode ficar de madrugada assistindo aos comentários daqueles programas esportivos chatíssimos, que ele adora. Quando conseguir um trabalho, vai lamentar por ter que se tornar um Folgado.
Ah, que frio! Não está mais dando para agüentar; dá vontade de dormir o dia inteiro, trancafiado no quarto, enrolado num bolo de cobertas. Só deixar a cabecinha para fora, ficar de rabicho bisbilhotando o que está passando nos inúmeros programas de culinária vespertinos.
Felizardos aqueles que não trabalham. Que fazem o esquema predileto dos dorminhocos de plantão: dormir de madrugada para acordar cedo, que é para dormir na aula, que é para reclamar da vida, que é para dormir no ônibus, que é para chegar em casa, almoçar, ir até o armário e pegar o travesseiro e edredom de estimação, correr até o sofá, ligar a televisão em um volume bem baixinho e passar horas e mais horas roncando. Quem, da faixa dos 12 aos 18 anos, que se orgulhava de não precisar trabalhar e não fez esse esquema, será uma pessoa rancorosa para o resto da vida.
Há vários tipos dos apreciadores de uma soneca. Deixo cá uma lista dessa patota. Vejam em qual categoria vocês se encaixam.
1) Saudável: Trabalha ou faz inúmeras atividades à tarde, como ter aulas de outros idiomas ou praticar algum esporte. Estagia entre seis e oito horas por dia, é querido por todos da empresa. Dorme durante o Jornal Hoje e acorda no início do Vídeo Show, antes de começar aquele quadro da Angélica. Dorme entre seis e oitos horas por dia e, pasmen, está sempre disposto. É feliz. Consegue conciliar trabalho com faculdade e mesmo assim tira notas altas.
2) Esquecido: Se trabalha, dá canseira na chefia toda semana. Estudou o colégio inteiro no período da manhã, e acabou pegando o costume de tirar uma sesta de uma hora. Tenta ser como o Saudável, mas dorme a meia-noite porque ficou acompanhando a reprise do seriado predileto que passa, na verdade, às oito horas, mas como ele trabalha esse horário, fica impossível de acompanhá-lo regularmente. Estagia entre quatro horas e seis horas por dia. Dorme durante o Jornal Hoje e acorda durante o Vídeo Game, da Angélica, com taquicardia e pressa por estar atrasado. Tem inveja do Folgado.
3) Folgado: Já estagiou e até consegue trabalhar. Quando procura ofertas de trabalho, sempre tenta dar um jeito de entrar no trampo as duas ou três horas da tarde. Seu estágio provavelmente tem carga horária "variável", pois daí ele pode entrar e sair a hora que quiser na empresa, sem ter a necessidade de bater cartão. Sai meia hora mais cedo da faculdade e pede para o colega ao lado assinar sua presença. Almoça correndo e cronometradamente à primeira palavra do Evaristo Costa, fecha os olhos e dorme... Até começar a tocar a introdução do Vale A Pena Ver de Novo. Dorme durante o Jornal da Noite, e sente falta da voz entediante da Ana Paula Padrão. Está sempre bocejando por onde passa. Tira sarro do Saudável, e queria a voltar a ser Vagabundo.
4) Vagabundo: Prefere fazer freelancer, porque é um bico que dá um dinheiro legal para ele poder comprar as suas necessidades vitais: livros e Cds. Dorme bem tarde, na terceira entrevista do Jô, mas prefere esperar até mais tarde para assistir ao David Letterman, que é bem melhor. Dá risada com a Sue Johanson, enquanto fica no Orkut (nesse horário não trava!) ou na Internet vendo sacanagem. Dorme durante o Vídeo Show e acorda no final da Sessão da Tarde - quando não no começo da Malhação. Vive com insônia à noite, já que dorme demais à tarde. Chega atrasado na aula e, matematicamente, tem anotado em sua agenda quantas faltas tem com cada professor, para não correr risco de estourar o limite e pegar dependência. Adora as quartas-feiras porque é dia de futebol na tevê, daí pode ficar de madrugada assistindo aos comentários daqueles programas esportivos chatíssimos, que ele adora. Quando conseguir um trabalho, vai lamentar por ter que se tornar um Folgado.
10 de set. de 2005
Num futuro, quem sabe, não tão distante...
Certa vez eu li um texto da Nina Lemos (seria ela?) dizendo que o melhor amigo das pessoas que moram sozinhas e não sabem cozinhar é a famosa comida congelada. Para desespero das avós, quituteiras de mão cheia e contra qualquer coisa que já venha pronta e congelada numa caixa de papelão, vou cá fazer uma homenagem à comida congelada, uma das grandes invenções humanas de toda a história alimentícia.
Como todo sonhador, vejo-me no futuro morando em meu próprio apartamento. O tamanho dele é pequenino, com poucos móveis. A minha sala teria uma poltrona La-Z-Boy de couro, toda preta, uma televisão de plasma na parede, combinando com o meu movie-theater com caixas de som saindo até pelos encanamentos. Só isso já estaria ótimo. Um puff verde limão perto da janela e voilá! Essa seria a sala de estar dos meus sonhos.
Na geladeira de minha casa inexistente, não faltariam os seguintes itens: Yakult, Danoninho, chá-mate, comida chinesa do dia anterior, guaraná Kuat Light, alguma fruta exótica e tropical - que eu não comeria, mas é legal como decoração -, leite, ovos, maionese, ketchup, requeijão e um saco daquelas mini-maçãs da Turma da Mônica. Ah, sem esquecer do imprescindível suco de caixinha de uva da Parmalat.
No congelador, sorvete sabor Napolitano, Flocos e de Pavê de Chocolate (rapaz, esse me conquistou esse ano!). Todas da Kibon, menos o de Flocos, porque o sorvete da Nestlé vem com uns pedaços generosos de chocolate. Um pacote de salsichas da Sadia, gelo, uma garrafa de vodka (sei lá quem serão as minhas visitas) e várias caixas de comida congelada: lasanha à bolonhesa feita pelo Claudio, amigo da minha mãe, hambúrguer de qualquer marca, pois a Mayra me ensinou a fritar que é uma beleza nas penúltimas férias, e muito, mas muito daquele Chicken Popcorn, da Perdigão.
Olha, eu deveria ter no vidro do meu carro inexistente, um Fox motor 1.6, preto e quatro-portas, um adesivo com os seguintes dizeres: "Aqui dirige um amante da Sadia!". Desde pirralho eu piro com os quitutes deles, principalmente os imbatíveis nuggets (normais, só frango. Nada daqueles com vegetais!). Mas, amiguinhos, esse tal do Chicken Popcorn veio para ficar em coração, quer dizer, estômago. Petisco melhor não há: fácil de fazer, crocante e ainda fica delicioso gelado. O mais gostoso é deixar aquelas bolinhas de frango em algum pratinho em riba do fogão e esquecê-los lá por um bom tempo. Depois é passar pela cozinha e pegar três ou mais e jogar na boca. Passo o dia inteiro nesse ritual.
Até o Jorge, meu bulldog inglês inexistente, iria aprovar o Chicken Popcorn. Lamberia o focinho, todo pimpão, ao ver-me colocar aqueles cubinhos de frango empanado em sua tigela personalizada e roxa, que teria na parte lateral externa, grafado em alto relevo, o jeito carinhoso com que eu o apelidaria: Jorjão.
6 de set. de 2005
Ainda sem nome
Quando estou tristonho, com a cabeça pra baixo, emburrecido com a vida e comigo mesmo, tenho uma lista de coisas que eu adoro fazer e, garanto, faz o meu humor subir num tiro só. São aquelas famosas "coisas pequenas da vida". Funciona, garanto mesmo. Algumas são bizarras, mas não tenho vergonha não de compartilhá-las com vocês.
A primeira e mais tradicional é tomar sorvete. Tem que ser de flocos, em uma caneca bem grande, com uma colher bem pequena - que é para eu saborear a sobremesa bem devagarzinho, sem pressa alguma. Encho a caneca até o topo e, pasmem: eu preciso tomar o sorvete andando. Sim, isso mesmo! Vou até a sala, fico dando voltas pelo corredor da casa, chego até a sentar no trono do banheiro, fitando com um olhar de marasmo os azulejos da parede, contando quantos há desde o chão até o teto.
Sortudos aqueles, que como eu, tem a nega amada para ligar de madrugada. Insônia, nervosismo com alguma coisa boba, ansiedade. Vira-e-remexe na cama, muda-se a cada minuto o lado do travesseiro, à procura do lado da fronha mais geladinho. Levanto em um pé só, descalço que é para não acordar aos outros. Fecho a porta da cozinha e disco aquele número que sei de cor. "Oi, tá acordada? Pois é, também estou sem sono... O que você está vendo na televisão? Sério?". E minutos e mais minutos se passam, até que um dos lados da linha dá o primeiro bocejo e diz bem baixinho: "Tô cum soninho...".
Fazer xixi no box me tira todo o stress do mundo. Olho gordo, qualquer coisa. Banhinho quente, fumaça saindo pela janela, começar a assinar o próprio nome no vidro esfumaçado. Daí dá aquela vontade. Capricha na mira, aponta e zás! Gotoso! São raras as sensações tão boas quanto dar uma bela mijada acompanhado de um banho quente. Depois é cantarolar alguma canção brega e antiga, enquanto se joga espuma e lava-se o chão do box, empurrando a corrente d'água com o pé direito.
Recomendo. Todos. As meninas terão problemas com o último item, mas pra tudo se dá um jeito, já diria minha querida avó Madalena, que hoje vive pimpona lá em riba, pertinho do São Pedro bonachão de Bandeira.
Quando estou tristonho, com a cabeça pra baixo, emburrecido com a vida e comigo mesmo, tenho uma lista de coisas que eu adoro fazer e, garanto, faz o meu humor subir num tiro só. São aquelas famosas "coisas pequenas da vida". Funciona, garanto mesmo. Algumas são bizarras, mas não tenho vergonha não de compartilhá-las com vocês.
A primeira e mais tradicional é tomar sorvete. Tem que ser de flocos, em uma caneca bem grande, com uma colher bem pequena - que é para eu saborear a sobremesa bem devagarzinho, sem pressa alguma. Encho a caneca até o topo e, pasmem: eu preciso tomar o sorvete andando. Sim, isso mesmo! Vou até a sala, fico dando voltas pelo corredor da casa, chego até a sentar no trono do banheiro, fitando com um olhar de marasmo os azulejos da parede, contando quantos há desde o chão até o teto.
Sortudos aqueles, que como eu, tem a nega amada para ligar de madrugada. Insônia, nervosismo com alguma coisa boba, ansiedade. Vira-e-remexe na cama, muda-se a cada minuto o lado do travesseiro, à procura do lado da fronha mais geladinho. Levanto em um pé só, descalço que é para não acordar aos outros. Fecho a porta da cozinha e disco aquele número que sei de cor. "Oi, tá acordada? Pois é, também estou sem sono... O que você está vendo na televisão? Sério?". E minutos e mais minutos se passam, até que um dos lados da linha dá o primeiro bocejo e diz bem baixinho: "Tô cum soninho...".
Fazer xixi no box me tira todo o stress do mundo. Olho gordo, qualquer coisa. Banhinho quente, fumaça saindo pela janela, começar a assinar o próprio nome no vidro esfumaçado. Daí dá aquela vontade. Capricha na mira, aponta e zás! Gotoso! São raras as sensações tão boas quanto dar uma bela mijada acompanhado de um banho quente. Depois é cantarolar alguma canção brega e antiga, enquanto se joga espuma e lava-se o chão do box, empurrando a corrente d'água com o pé direito.
Recomendo. Todos. As meninas terão problemas com o último item, mas pra tudo se dá um jeito, já diria minha querida avó Madalena, que hoje vive pimpona lá em riba, pertinho do São Pedro bonachão de Bandeira.
2 de set. de 2005
O Plantão da Globo informa... (Parte 1)
Incrível como todo mundo tem um Plantão inesquecível. Sim, querido leitor, estou falando sobre aquele treco criado pela TV Globo, que interrompe os programas da emissora a qualquer momento, seja por algum fato importante que trará repercussões imediatas para a nação. Morreu um cantor sertanejo? Tan tan tan tan tan tan tan! Algum ministro renunciou ao cargo? Tan tan tan tan tan... (ok, irei poupá-los desse momento onomatopeico).
A questão é que essa música dos diabos assusta até um monge. É impossível ficar indiferente a ela. Agora há pouco eu lembrei de um causo meu com o Plantão. Foi em 1996, eu estudava de tarde e não fazia nada de manhã, a não ser acordar tarde e ver as reprises do Cavaleiros dos Zodíacos. Nada muito diferente de hoje - eu estudo agora de manhã, rá!
Enfim, estava eu tomando um banho quando aquele som que todos amamos de paixão ecoe pela casa inteira. Nessa época, uma modelo loira e bocuda, a Cláudia Liz, tinha ficado em coma após ter feito uma lipoaspiração. Problemas com a anestesia, lembram? Igual ao vocalista do LS Jack (só que ela voltou ao normal e ele ficou meio bobão). E em tudo quanto é programa o pessoal falava da guria, que estava correndo risco de morte (ou de vida, sei lá!). Só sei que eu ouvi a vinheta do Plantão e sai correndo do box, todo molhado e com a toalha cobrindo as jóias das coroa.
A televisão da sala estava ligada, e, no maior pique, assim que passei o corredor eu tomei um baita de um escorregão (molhado + chão de madeira + corrida) e só fui parar do outro lado da sala, chocando-me com tudo contra a mesa de jantar. Rapaz, doeu muito. Enfiar a canela e outras partes do corpo, pelado e molhado, em três cadeiras não parece ser nada agradável. Lembro que ignorei o cotovelo ralado e sangrando para ouvi a repórter falando às câmeras: "Morre o líder do Legião Urbana, Renato Russo...".
"Viado de uma merda!", berrei. Estatelado, no chão, molhado e com um hematoma na retaguarda por um cantor que ficava imitando a Laura Pausini. Senti tanto ódio no momento, que não o suporto até hoje. E agora eu digo como me lembrei dessa antiga historieta....
A questão é que essa música dos diabos assusta até um monge. É impossível ficar indiferente a ela. Agora há pouco eu lembrei de um causo meu com o Plantão. Foi em 1996, eu estudava de tarde e não fazia nada de manhã, a não ser acordar tarde e ver as reprises do Cavaleiros dos Zodíacos. Nada muito diferente de hoje - eu estudo agora de manhã, rá!
Enfim, estava eu tomando um banho quando aquele som que todos amamos de paixão ecoe pela casa inteira. Nessa época, uma modelo loira e bocuda, a Cláudia Liz, tinha ficado em coma após ter feito uma lipoaspiração. Problemas com a anestesia, lembram? Igual ao vocalista do LS Jack (só que ela voltou ao normal e ele ficou meio bobão). E em tudo quanto é programa o pessoal falava da guria, que estava correndo risco de morte (ou de vida, sei lá!). Só sei que eu ouvi a vinheta do Plantão e sai correndo do box, todo molhado e com a toalha cobrindo as jóias das coroa.
A televisão da sala estava ligada, e, no maior pique, assim que passei o corredor eu tomei um baita de um escorregão (molhado + chão de madeira + corrida) e só fui parar do outro lado da sala, chocando-me com tudo contra a mesa de jantar. Rapaz, doeu muito. Enfiar a canela e outras partes do corpo, pelado e molhado, em três cadeiras não parece ser nada agradável. Lembro que ignorei o cotovelo ralado e sangrando para ouvi a repórter falando às câmeras: "Morre o líder do Legião Urbana, Renato Russo...".
"Viado de uma merda!", berrei. Estatelado, no chão, molhado e com um hematoma na retaguarda por um cantor que ficava imitando a Laura Pausini. Senti tanto ódio no momento, que não o suporto até hoje. E agora eu digo como me lembrei dessa antiga historieta....
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O Plantão da Globo informa... (Parte 2)
Estou eu, nove anos depois, tirando uma pestana no sofá após o almoço. Décimo round do sono, a maior delícia. O som do Plantão surge no meu sonho. Taquicardia. A remela nos meus olhos não me deixa enxergar direito, e tateio o chão à procura do controle remoto. Achei! Com o olhar meio nublado, consigo ver que a tela da televisão está desligada. "Uai!", exclamo. Vou até o quarto do meu tio. Nada, nem o Gasparzinho está lá. Mas o som continua, e muito alto. A vinheta do Plantão não pára e, espantosamente, noto que o som está vindo das ruas.
Vou até a varanda, com o coração quase saindo pela boca, e olho para os prédios da frente, tentando adivinhar quem será o filho da égua que deixou a televisão ligada no último volume. Mas o som vem debaixo, da calçada. Olho para um carro acendendo todas as luzes, aquele procedimento comum de quando o alarme do veículo é disparado. É dele que sai a vinheta do Plantão.
Lazarento. Um Kadette vermelho, bem carro de negão, com um adesivo colado no vidro de trás(com um insulfilm muito preto) : "Salve as mulheres bonitas... E as feias se der tempo". O pior vem depois. O som fica baixinho e dá lugar a uma voz grossa e séria, como se fosse a de um jornalista cobrindo um fato importante. "Atenção, o Plantão da Globo informa: afaste-se desse veículo!". Juro, parecia o Cid Moreira. Não tinha ninguém perto do automóvel, provavelmente o vento disparara o alarme sozinho.
Estou com tanto ódio no momento que nunca mais quero ver um Kadette vermelho e de negão.
Estou eu, nove anos depois, tirando uma pestana no sofá após o almoço. Décimo round do sono, a maior delícia. O som do Plantão surge no meu sonho. Taquicardia. A remela nos meus olhos não me deixa enxergar direito, e tateio o chão à procura do controle remoto. Achei! Com o olhar meio nublado, consigo ver que a tela da televisão está desligada. "Uai!", exclamo. Vou até o quarto do meu tio. Nada, nem o Gasparzinho está lá. Mas o som continua, e muito alto. A vinheta do Plantão não pára e, espantosamente, noto que o som está vindo das ruas.
Vou até a varanda, com o coração quase saindo pela boca, e olho para os prédios da frente, tentando adivinhar quem será o filho da égua que deixou a televisão ligada no último volume. Mas o som vem debaixo, da calçada. Olho para um carro acendendo todas as luzes, aquele procedimento comum de quando o alarme do veículo é disparado. É dele que sai a vinheta do Plantão.
Lazarento. Um Kadette vermelho, bem carro de negão, com um adesivo colado no vidro de trás(com um insulfilm muito preto) : "Salve as mulheres bonitas... E as feias se der tempo". O pior vem depois. O som fica baixinho e dá lugar a uma voz grossa e séria, como se fosse a de um jornalista cobrindo um fato importante. "Atenção, o Plantão da Globo informa: afaste-se desse veículo!". Juro, parecia o Cid Moreira. Não tinha ninguém perto do automóvel, provavelmente o vento disparara o alarme sozinho.
Estou com tanto ódio no momento que nunca mais quero ver um Kadette vermelho e de negão.
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