Febre de bola
Está nos cinemas - creio eu - o filme "Febre de Bola", baseado no livro homônimo de Nick Hornby. A película não tem nada a ver com a obra escrita: um é sobre beisebol e o outro de futebol. Não vou me ater muito a tecer comentários sobre as duas coisas, senão fica chato. Mas recomendo ver uma das cenas mais bonitinhas do filme, que é quando o garotinho é levado por seu tio à primeira vez no estádio do Red Sox.
***
Em 1992, eu tinha sete anos. Época de ouro do meu tricolor. Bi-campeão paulista, acabara de levar a sua primeira Taça Libertadores da América, iríamos disputar o primeiro Mundial Interclubes. Nessa época eu morava em Tupã, e quando passava as férias na casa de meus avós, freqüentemente via meu tio saindo de casa com um outro tio meu, em seu Gol geração 1, verde-água. "Eles vão ao jogo", dizia vovó. Pedia para ir junto. "Ainda tá cedo, Gu! Um dia você vai", ouvi. Fiquei puto; tranquei-me no banheiro e comi meio saco de balas 7 Belo.
Ano seguinte, mudei-me para Sorocaba, pertinho de São Paulo. Meu avô já aproveitara e comprara para mim o uniforme inteiro do tricolor. Quando eu jogava bola na escola, ia todo uniformizado, desde os meiões até o shorts. Era zoado, lógico, mas nem ligava. Tinha roupa de treino, agasalho... Todo um aparato ideológico imposto por vovô, temeroso que seu neto sucumbisse às vontades palestrinas de seu pai.
Campeonato Brasileiro, 93 (ou seria o Paulista? O Raí já tinha puxado o carro...).Titio foi até Sorocaba pegar o meu irmão e eu. Teríamos a honra de ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Fui trajado como meus ídolos: Müller, Palhinha e Cafu. Com o manto tricolor dos pés à cabeça. E, digo, a sensação de entrar em um estádio é única. Desde a torcida cantando nas intermediações, até quando você sobe a rampa e vê a sua frente um tapete verde enoooorme. Era um São Paulo X Mogi Mirim. Melhor jogo para estrear um guri, impossível. Chances de vitória eram claras. Afinal, quem era aquele time vermelho e do interior frente ao grande Campeão Mundial? Ninguém, óbvio.
Ficamos na numerada, pois arquibancada ainda era algo muito cedo para minha idade. O êxtase era tanto que eu tomei uns três picolés de Leite Moça só no primeiro tempo. Pintava goleada. O Leonardo já tinha guardado o seu. A segunda etapa prometia. O gol atacado pelo tricolor era pertinho da gente, e logo vimos um tento, outro do Leonardo! Estava 3X1, algo assim. E como era gostoso vibrar com um gol marcado. Na sala de casa não tem graça pular e esmurrar o ar. E como era engraçado quando o time adversário assinalava o seu, e tudo ficava um silêncio... Alguns poucos minutos depois aconteceu o episódio que marcou de vez o meu primeiro jogo no Morumbi.
O Juninho (Paulista, Campeão do Mundo de 2002), era novinho, acabara de ser contratado do Ituano. Ele era rápido, pequenino e ligeiro. Sei que ele pegou a bola atrás da linha do meio de campo e foi em frente. Passou pelo primeiro, cortou o segundo e foi fintando o terceiro. Todos levantaram de pé. Um tio que vendia amendoim e circulava pelas cadeiras, parou bem em minha frente. Não vi mais nada. Berrei, mas ninguém escutou, porque o Juninho já estava cara a cara com o goleiro (imagino), e só senti um abraço de meu tio, o cara do amendoim jogando tudo pro ar e avistei o Juninho indo comemorar com o banco de reservas.
O meu algoz virou para mim e disse: "Caralho, moleque! Em 15 anos trabalhando aqui eu nunca vi um golaço desses!".
Filho duma égua...
***
Em 1992, eu tinha sete anos. Época de ouro do meu tricolor. Bi-campeão paulista, acabara de levar a sua primeira Taça Libertadores da América, iríamos disputar o primeiro Mundial Interclubes. Nessa época eu morava em Tupã, e quando passava as férias na casa de meus avós, freqüentemente via meu tio saindo de casa com um outro tio meu, em seu Gol geração 1, verde-água. "Eles vão ao jogo", dizia vovó. Pedia para ir junto. "Ainda tá cedo, Gu! Um dia você vai", ouvi. Fiquei puto; tranquei-me no banheiro e comi meio saco de balas 7 Belo.
Ano seguinte, mudei-me para Sorocaba, pertinho de São Paulo. Meu avô já aproveitara e comprara para mim o uniforme inteiro do tricolor. Quando eu jogava bola na escola, ia todo uniformizado, desde os meiões até o shorts. Era zoado, lógico, mas nem ligava. Tinha roupa de treino, agasalho... Todo um aparato ideológico imposto por vovô, temeroso que seu neto sucumbisse às vontades palestrinas de seu pai.
Campeonato Brasileiro, 93 (ou seria o Paulista? O Raí já tinha puxado o carro...).Titio foi até Sorocaba pegar o meu irmão e eu. Teríamos a honra de ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Fui trajado como meus ídolos: Müller, Palhinha e Cafu. Com o manto tricolor dos pés à cabeça. E, digo, a sensação de entrar em um estádio é única. Desde a torcida cantando nas intermediações, até quando você sobe a rampa e vê a sua frente um tapete verde enoooorme. Era um São Paulo X Mogi Mirim. Melhor jogo para estrear um guri, impossível. Chances de vitória eram claras. Afinal, quem era aquele time vermelho e do interior frente ao grande Campeão Mundial? Ninguém, óbvio.
Ficamos na numerada, pois arquibancada ainda era algo muito cedo para minha idade. O êxtase era tanto que eu tomei uns três picolés de Leite Moça só no primeiro tempo. Pintava goleada. O Leonardo já tinha guardado o seu. A segunda etapa prometia. O gol atacado pelo tricolor era pertinho da gente, e logo vimos um tento, outro do Leonardo! Estava 3X1, algo assim. E como era gostoso vibrar com um gol marcado. Na sala de casa não tem graça pular e esmurrar o ar. E como era engraçado quando o time adversário assinalava o seu, e tudo ficava um silêncio... Alguns poucos minutos depois aconteceu o episódio que marcou de vez o meu primeiro jogo no Morumbi.
O Juninho (Paulista, Campeão do Mundo de 2002), era novinho, acabara de ser contratado do Ituano. Ele era rápido, pequenino e ligeiro. Sei que ele pegou a bola atrás da linha do meio de campo e foi em frente. Passou pelo primeiro, cortou o segundo e foi fintando o terceiro. Todos levantaram de pé. Um tio que vendia amendoim e circulava pelas cadeiras, parou bem em minha frente. Não vi mais nada. Berrei, mas ninguém escutou, porque o Juninho já estava cara a cara com o goleiro (imagino), e só senti um abraço de meu tio, o cara do amendoim jogando tudo pro ar e avistei o Juninho indo comemorar com o banco de reservas.
O meu algoz virou para mim e disse: "Caralho, moleque! Em 15 anos trabalhando aqui eu nunca vi um golaço desses!".
Filho duma égua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário