30 de jul. de 2004

Quer ser o meu amiguinho?



Credo! Como este tal de Orkut é viciante! Mania de xeretar a vida dos outros, procurar conhecidos de outros tempos, ser - quem sabe - amigo de alguém famoso. Existe alguém não entregue ao tal programinha?

Quando me convidaram pela primeira vez, resolvi não abrir o email. Não sabia o que "orkut" significava e logo julguei ser algum vírus de nome terrorista. Convidaram novamente e mais uma vez não aceitei. O tal "vírus terrorista" insistia em adentrar o meu micro. Eis que matérias e mais matérias pipocam nos telejornais e revistas. "Panelinha Virtual!", foi o título dado. Colunistas favoritos escrevem linhas e elogios à geringonça. Porra! Alguém me arranja um convite pro Orkut?

Já sabendo do que se tratava, agora aceitara a intimação e era mais um brasileiro cadastrado no site. Tentei logo entender sobre o que era o bichinho e acabei broxando. Nada de mais, acreditei. Ignorei. A namorada entra na comunidade e faz altos elogios. "É uma belezaaaa! Achei amigos do arco da velha e existem muitas comunidades muito legaaaaiiis!". É mesmo? Fucei de novo no Orkut. Viciei.

Sou voyeur, bisbilhoto a vida dos outros. Quero saber o que fulano gosta de ler e ciclana adora assistir. Pratos prediletos, interesses pessoais... É muito bacanudo! Tenho poucos amigos no danado e adoro as comunidades. Faço parte de três sensacionais: Air Drumming; Nós Adoramos o Xico Sá e Eu Odeio a Sarah da MTV. Ótimo saber da existência de indivíduos que compartilhem gostos em comum.

Dá até pra ser amiguinho daquela celebridade. Quase bati um papo com a anoréxica da Yasmin Brunet. Vou tentar pedir um estágio pra Nina Lemos ou pro Lúcio Ribeiro. Será que consigo? Talvez a história mais engraçada do Orkut venha do famigerado Léo Jaime (aquele que fez a Monique Evans ter um orgasmo pela primeira vez). O cantor gordinho já arrebatou mais de mil amigos no Orkut. Como o programa só aceita até mil friends por pessoa, Léo acabou fazendo um outro cadastro em seu nome. Chama-se "Léo Jaime 2".

É a internet e suas maravilhas. Tornou-se possível até abrir franquia de si mesmo.

24 de jul. de 2004

O medo que acomoda a gente


Eu tenho medo de ir ao dentista. Não do próprio, de jaleco branco e máscara à Michael Jackson. Tenho medo, daí sim, das engenhocas do sujeito. O barulho, o espelhinho de guarita, a poltrona, ah, aquela poltrona. Reclina-te a não sei quantos graus, mas sempre fico com o pé pra fora. Quem manda ter crescido tanto?

Certa vez, enquanto colocava celante nos dentes, vomitei na cara da dentista. A dona sabia que eu tinha há tempos um tal de "refluxo gástrico" e, mesmo assim, teimou em me deixar na posição 180º graus. Foi lindo, bastou eu engolir algum líquido estranho para o meu estômago se manifestar. Huuuugo! Se ela não tivesse um baita reflexo, a acertaria em cheio. Fui exorcizado pela dentista.

Fazer limpeza de dente é horrível. Começa pelo famigerado bicarbonato de cálcio. Ô coisa que pinica! Já é duro agüentar minutos e mais minutos com a boca escancarada e, ainda por cima, tua língua começa a levar jato duma substância salgada? É aflição demais, coceira demais. Sem esquecer, obviamente, da broca usada para retirar o tártaro. Argh!

Eu não tenho cárie alguma, mas, em compensação, tenho tártaro em cada cantinho dos dentes. A ajudante do dentista - o próprio só consulta, perceberam? - liga a britadeira. Fueóoon! Fuéiiiin! Enquanto o aparelhinho vem à tua boca, os seus olhos vão fechando, as suas mãos agarram nos braços da poltrona e assim se começa à faxina. Sinto-me dentro duma obra da Marta Suplicy, tamanho o barulho que faz.

Agora, eu queria mais do que tudo nesse mundo, ganhar aquele treco de sugar à baba. Sabe? É aquela caninho que fica no canto da sua boca, faz um barulhinho idêntico ao se tentar tomar vitamina em rodoviária? Sluuuuuph! É genial aquela geringonça, ainda mais para pessoas babonas, como eu. Basta dar um berro para eu molhar a pessoa ao meu lado. Às vezes, eu pareço um São Bernardo, de tanto que salivo.

 Seria muito legal ter um daqueles no meu bolso, na minha mochila. Alguém deveria lançar um "sugador-portátil". Ajudaria muito a recuperar aqueles pedacinhos de alcatra no final dos dentes, sabe? Pô, seria demais!

22 de jul. de 2004

Fama e Anonimato
 


Continuo com a mesma mania: não ler como deveria algumas obras indicadas por meus professores. Deveria ler Chatô nessas férias e, confesso, morro de vontade de lê-lo, pois adoro o escritor Fernando Morais. Acontece que eu tenho a carne fraca para CD e livros. Há tempos eu morro de vontade de ler Fama e Anonimato de Gay Talese. O que me impedia de comprá-lo era justamente o seu preço um tanto salgado. Mas bastou uma promoção na livraria da PUC para sossegar o meu facho. Saí todo reluzente com aquele livro, de capa cor de estrume, debaixo de meus braços.

Gay Talese se autodenomina um "serendipitoso", uma pessoa capaz de notar pequenos momentos que passam despercebidos aos olhares humanos, menos no de pessoas "serendipitosas". Bastam algumas palavras e aqueles pequenos momentos ganham vida, tornam-se vangloriosas, de destaque. Talese tem este dom, escrevendo perfis de pessoas desconhecidas a famosas (Frank Sinatra, Joe DiMaggio) ou relatando o cotidiano da construção de uma ponte. Jamais pensei que teria prazer em ler algo sobre roldanas, parafusos e vigas de alumínio.

A vontade de pegar este livro na palma da mão e ler vorazmente, vem por eu me identificar com o chamado Jornalismo Literário (New Journalism). É, segundo Talese, "a arte de sujar os sapatos". É procurar a notícia em lugares inusitados, com pessoas inusitadas. Ter uma apuração enorme, cuidado com cada palavra, dar idiossincrasia ao escrever. Hoje, uma redação de jornal é baseada em telefonemas e pesquisas na Internet. Um jornalista, muitas vezes, nem precisa sair de sua mesa para cobrir um furo.

Assim como Talese, eu abomino o uso de gravadores. Penso que fica superficial, sem aquele toque pessoal. Gosto de ouvir a outra pessoa, procurar saber o que acontece dentro daquela cabecinha. Horrível quem entrevista olhando apenas para o bloco de anotações, não prestando atenção no entrevistado. "Qualquer coisa, o gravador salva", pensa o grande jornalista. Pior que salva; já pensou se o entrevistado disser que eu editei as suas palavras? É uma ótima arma contra processos judiciais. Mas prefiro não depender do maldito aparelhinho.

Talese me deu um pouco de esperança. Ele fez o tipo de jornalismo que me agrada, aquele jornalismo das antigas. Tenho a consciência do quão difícil será fazer aquilo que tanto gosto. Vou ter de agüentar muito patrão alterando meus textos, muita pauta obrigatória, não vou poder demonstrar um estilo próprio. Talese passou por isso no começo de carreira, porém, demonstrou esperteza e talento ao conseguir fazer aquilo que realmente gostava: sujar os sapatos.
 
 Talese me deu boas esperanças.
 

19 de jul. de 2004

Férias?  
 

 

Alguém, por acaso, gosta realmente de ter férias? Sério, na primeira semana é aquela maravilha: acordar ao meio-dia, café da manhã acoplado com o almoço, passar a tarde no sofá vendo Clodovil, filmes no Telecine e desenho no Cartoon Network. Ir até à cozinha e assaltar um pacote de Trakinas. Fica aquele clima de ócio, pijamas o dia inteiro, tomar banho só na hora de dormir. Remela no canto do olho, cheirinho nada atrativo. Alguém, por acaso, realmente gosta de ter férias?
 
Para outros, é época de viajar, visitar os parentes do interior. No meu caso, férias é sinônimo de ficar em casa, coçar a bolsa escrotal e passar a madrugada Internet afora. Meus dias são preenchidos pelo famoso check-up que minha mãe realiza anualmente com os seus filhotes todo mês de julho. Ir ao dentista, oftalmologista, otorrinolaringologista e qualquer coisa "ista" que aparecer. Ser filho de dermatologista é pior ainda (mais um "ista" para a lista). Limpeza de pele? Vamos tirar aqueles cravos pretos? Fazer um peeling para a sua pele não ficar tão gordurosa? Fiz uma bateria de exames alérgicos, passando três dias com 61 adesivos em minhas costas, para saber se tenho alergia a ácaro, mertiolate, laranja, amendoim...
 
Não, eu não quero voltar para a faculdade com a visão de uma águia, com a pele de um bebê. Quero ser o Gustavo de sempre: cabelo bagunçado, que pede chiclete para qualquer um que senta ao seu lado, que fica dez minutos para achar a folha da última aula de Francês em sua mochila. Aquele Gustavo que não consegue caminhar quatro metros sem desamarrar o cadarço do tênis.
 
Quero voltar a ver a minha namorada, dar aquele baita abraço nela em plena sete horas da manhã. Reclamar da aula de Artes, tomar um café-com-leite na cantina comendo pizzinha de queijo, fazer piadas de humor duvidoso e ouvir de meus amiguinhos o quão horrível será agüentar quatro anos convivendo com as minhas piadas.

Acaba, férias! Faça esse favor com este humilde guri. Faça chegar logo o dia dois de agosto. Não agüento mais estas semanas de sedentarismo, de Clodovil e Eufrásia. Não agüento mais ter de ouvir a voz da Irena através de um aparelho eletrônico, sem sentir aquele cheirinho gostoso. Faça chegar logo o dia dois de agosto. Prometo assistir até uma aula inteira de Artes. Juro, palavra de escoteiro. 

17 de jul. de 2004

Bãããã


Odeio gripe. Dor no corpo, garganta, pescoço, orelha, língua... Ah, odeio. Ter de "viajar" em comprimidos, ficar com o termômetro embaixo do braço. 36º90. Uh, quase! Sobe mais um pouco para eu ficar de febre, sobe!
 
 Maldita febre; sua covarde. Resolve atacar quando estou dormindo, nas minhas costas. Tenho medo, não. Já dizia o velho Rei: "Pode vir quente que eu estou fervendo". Isso, continua assim. Gotas de suor em minha testa, sinais de sinusite. Cadê a minha voz? Sumiu, escafedeu-se. Vamos lavar o rosto, Gustavo. Não há forças, as pernas tremem - o corpo treme. Acordo de meia em meia hora. 4h30m, 5:00... Às dez horas consigo sair da cama. Apóio o braço na cadeira e capóin! Maldita cadeira de rodinhas. Gustavo no chão, Gustavo no chão! Para-médicos, man hit!
 
Não veio ninguém com uma cruz vermelha no braço. Frustração. Vejo alguns comprimidos. Oba, comprimidos! Tylenol e Loranil D. 20 minutos depois meu organismo dá sinais de reação. Está em terceira marcha, louco para engatar uma quarta. Vamos, vamos! Reage, homem! Juro, meu primeiro filho se chamará Tylenol. O pequeno Ty.
 
Deito. Mal estar novamente. Saudades do tempo em que alguém vinha me dar um caldinho e passava horas entrelaçando os dedos em minhas madeixas. Hoje, mama me entope de drogas e apela até para o Tomahank dos comprimidos.
-         Gu, se você não melhorar, vou lhe aplicar um supositório.

 Levanto da cama, faço dez polichinelos e demonstro a minha melhora. Febre, que febre? Voz rouca? Estou imitando a Elza Soares, mãe. Estou bem, pode ficar tranqüila. Feche a porta e me deixe tirar uma soneca. Ah, pode levar esse supositório. Não preciso, não, minha flor.

15 de jul. de 2004


 
Papai do céu,
 
 Nesse próximo dia nove de agosto, eu quero muitão ganhar um Play Station 2. Eu sei que é caro, mama e papa terão que dar um duro trabalho pra pagar, mas como sou um garoto ajuizado e espertalhão, proponho que os meus titio ajudem em tal mimo. Em São Paulo tem lugar que vende por preço "baratinho". Eu sei que eles são contrabandeados, mas pensa assim, Papai do Céu, um videogame ajuda - e muito - no ambiente familiar.
 
Quando eu e meu irmão estamos jogando, fazemos aquilo que dois irmãos fazem de melhor: brigar e xingar um ao outro. Sabe, Papai do Céu, irmão que é irmão bate no braço do outro, chama de viado, e quando está perdendo uma partida de futebol, corre até o console e aperta o reset. Daí eu exclamava: "Mãe, o Fernando está roubando!". Logo em seguida recebia um pontapé. Eram tempos bons, Papai do Céu. Tinha o braço e a canela cheios de hematomas. Era uma delícia. Era eu, meu irmão, nossas brigas e o videogame. Ah, o videogame.
 
Prometo deixar o meu tio jogar. Ele sempre quer ganhar da gente, mas não tem problema. Foi-se o tempo em que titio me aplicava uma sova no videogame. O Play Station 2 também funciona como DVD. Quando a minha tia - ou a minha mãe - quiserem assistir a um filme sossegadas, basta correrem pro quarto e ligar o Play Station. Como o Senhor pode observar, é um investimento e tanto. Tudo bela união familiar. Além disso, pesquisas apontam que jogar videogame ajuda a desenvolver o cérebro mais rapidamente. E eu não quer ser uma anta, sabe?
 
Fui bom aluno, não fiquei em nenhuma D.P. Escovo os meus dentes direitinho, limpo as minhas orelhas e passo os cremes que minha mãe tanto enche o saco. Sou um garoto de responsabilidades, poxa! Pego ônibus todo dia, tendo que voltar da faculdade pra casa de vovó. Sabe o que são 40 minutos num ônibus lotado, de pé e sendo encoxado? Não é fácil, Papai do Céu. Ao voltar pra Sorocaba, enfrento outro ônibus. Este dá pra sentar tranqüilo, mas foram poucas às vezes em que eu não tive a companhia de uma criança chorando ou de velhinhos roncando. Paciência é uma virtude.
 
Espero que o Senhor goste do meu pedido. Gostaria muito de acordar na manhã do dia nove de agosto e dar logo de cara com aquela caixa preta (se possível acompanhada de dois joysticks e um joguinho). Se eu não ganhar tal presente, não há problema. Ainda tem o Dia das Crianças e o Natal, Papai do Céu. Tão cedo o Senhor não se livra de mim.
 
OBS: Enviarei esta carta para mama e titia 

13 de jul. de 2004

It's a kind of magic

Já que hoje é o Dia Internacional Do Rock, por que não falemos da maior banda de todos os tempos, hein? Seriam os Beatles? Não! Virgulóides? Erraram. Estou me referindo ao Queen, meus queridos.

No início dos anos 90, as férias de julho eram na casa da vovó de São Paulo. Guloseimas, shopping, futebol e, porque não, rock'and'roll. Sim, na casa da velha rolava um som todas as tardes. Não da parte da nona, que só cantarola Agnaldo Raiol até hoje. Minha tia, sim, era fã de música boa. Enquanto corrigia provas ou fazia faxina no quarto, um fundo musical ecoava de seu quarto. Entrava sem bater e roubava umas Balas 7 Belo que ela tanto adorava. Enquanto os restinhos da bala ficavam presos em meus dentes, perguntava todo pimpão:

- O que é isso que tá tocando?
- Isso, disse minha tia, é Queen.
- Põe de novo aquelas músicas que estava tocando? , pedia, roubando outras balinhas.

"Radio Ga Ga" e "We Will Rock You" faziam a minha festa. Balbuciava as letras, batucava na mesa imitando a fabulosa percussão de Roger Taylor. Era uma farra. Gostava tanto daquele disco, que certa vez ao pedi-lo emprestado, tive a capacidade de jamais devolvê-lo. Exibo com o maior orgulho, ao canto esquerdo de meu porta-cds, aquele "Live Wembley 86". Talvez esteja riscado, de tanto que já o escutei. Os solos de Bryan May e a cantoria eterna de Freddie Mercury ainda arrepiam.

Lembro quando o líder do Queen morreu. Vi no Fantástico um bigodudo de peruca, num clipe musical, bancando a faxineira - com direito a passar aspirador e tudo. Nunca tinha visto a imagem daqueles rapazes, e tomei um belo susto ao perceber tal visual. Achei demais, mas o que me conquistou, antes de tudo, foi o som. Mercury podia ser um anão, igual ao Tatoo, que mesmo assim eu seria fã.

Dizem que o rock morreu, a sua essência foi embora. Credencio está culpa à MTV. Hoje são poucos aqueles que se apaixonam com os ouvidos, choram com belas letras, sobem na cama e pulam ao ritmo da bateria de "We Will Rock You". A imagem ficou cada vez mais importante; mostrar os peitos pra vender CDs, beijar outra cantora para divulgar o álbum a ser lançado, dar uma cabeçada em outro músico para ter a atenção da mídia.

Jet, The Darkness, Ryan Adams, The White Stripes e Los Hermanos são, hoje, os meus favoritos. Todos são ótimos, mas posso garantir: ninguém chega aos pés do meu Queen. Nenhum deles faz eu batucar na mesa do computador ou tocar um hair guitar sem vergonha alguma. Eles não têm gosto de 7 Belo.

11 de jul. de 2004

Bozo? Fernanda Lima?


Qualquer mulher na face da Terra já teve treta com cabeleireiro. Queimaram o seu cabelo, pintaram duma cor errada ou cortaram muito curto. Podem perguntar. Eu, hoje, posso me enquadrar a tais mulheres. Queria porque queria deixar um visual mais bacanudo, moderninho, mais cool. Ora! , pensei. Vou pintar o cabelo!

Há um ano, meu cabelo era compridinho, com direito a luzes e tiara. Uma baitola em potencial. Depois cortei, rasparam (faculdade) e ele começou a crescer. Eu deixava um moicano paraguaio, depois, o bagunçava até ele ficar normal, de gente. Seria uma boa hora para mudanças? Sim! Loira novamente? Não: vermelho fatal! Fogo, desejo, paixão. Um tesão para o inverno. Apenas algumas mechas, lógico.

A bicha que me atendeu perguntou:
- Como você vai querer?

Sou enjoado, portanto, dou uma resposta enigmática:
- Como estivesse pintando um quadro, jogando tinta nele. Pá! Esparrama tudo, não quero nada bonitinho.

Confuso, não? Quem mandou assistir um filme sobre Pollock? Arte de vanguarda e surrealista no meu cocoruto. Chamou a assistente, explicou o procedimento; ela maneou a cabeça e preparou a tintura. Enquanto pincelava o meu cabelo, lia uma Vip, pois estava precisando mostrar que ainda há um lado macho em meu organismo. Foram 20 minutos de espera.

- Posso ver? , perguntei.
- Tem que lavar antes... , ouvi da assistente monga.

Lavou e ainda ganhei uma massagem. Maravilha! Olhei para o espelho e gostei do resultado - diferente. Ao chegar em casa, ouvi de meu irmão:
- Fernanda Lima?

Ignorei. Ouvi de papai:
- Bozo?

Peraí! Bozo é mancada, pô! Meu cabelo não estava pra tanto assim. Corro até o banheiro, fito os olhos ao espelho, coloco as duas mãos na bochecha, tal qual Macaulay Culkin em "Esqueceram de Mim".

- Putaqueupariu! Que merda!

Pica-pau, Thundercats, água de salsicha. Com um pouco mais de atenção, estava a cara do Júlio, falecido tecladista dos Mamonas Assassinas. A mama veio até o banheiro, pois ouvira um grito, obviamente, e não disse nada, apenas começou a dar risada. No salão, o cabelo estava molhado, ou seja, a tinta não realçava tanto. Bastou ele secar pra nascer o Curupira que aflorado dentro de mim. Broxante.

Resumo da ópera: comprei um shampoo tonalizante e agora o cabelo está um vermelho bem bonito. Bacana. Pena que o castanho-claro natural está meio acaju.

8 de jul. de 2004

Havia um Ford Ka no meio do caminho

Sociedade machista é a velha história: quem dirige? O homem. É muito raro ver uma garota levando o namorado no banco do passageiro. Algumas vezes, a guria é mais velha, noutras, ela tem carro; ele, não. Outra possível hipótese é ter como namorado alguém como eu, um folgado de marca maior.

Sim, eu não tenho carro e, sim, eu não gosto de dirigir. Não tenho muito tesão por carro, não. Nunca fui de assistir a corridas, nem tive vontade de ir a uma feira de automóveis. Carro, segundo meu ponto de vista, tem que andar e ponto final. Basta! Não ligo pra marca, potência ou coisa parecida. Mas voltemos ao fato de a minha namorada ser a condutora do relacionamento.

Ela, sim, adora dirigir. A primeira coisa que fez ao tirar a carta de habilitação foi comprar um chaveiro de porquinho para colorir o molho de chaves do veículo. Um carro velho, digamos; dividido com a sua mama. Jamais dirigira sozinha, sempre com os pais ao lado se descabelando para evitar certas manobras da figura. Quando conseguiu se desvencilhar dos seus geradores, escolheu alguém como companheiro de aventura: eu. Honrado? Imagina: aterrorizado.

Mas ela dirige bem (tive que falar isso a ela). Sai direitinho, troca às marchas que é uma beleza, raramente deixa morrer o carro (já vi morrer quatro vezes). Resolveu me levar até a locadora próxima à sua casa para escolhermos alguns DVDs. Anda na faixa destinada aos ônibus, em plena Avenida Paulista. O velho Citroen 93 é o recheio de um sanduíche formado por um Barra Funda e um Parque Edu Chaves.

Medo. Pára no estacionamento e quase arranha as calotas na guia. Ela tem santo forte, acredito. Estaciona direitinho, mas medroso que sou, já vejo a hora dela sair com o carro. Brinco de flanelinha e ajudo a moça. "Direita, esterça, vira, pára, volta tudo...". Se não der no jornalismo, já sei qual profissão seguir: guardador de carros.

Saímos do estacionamento. Trânsito de sexta-feira à noite em São Paulo é um caos. Gente apressada, que buzina o tempo todo, que decide frear em cima da faixa de pedestres e... PIMBA! Pimba? Havia um Ford Ka no meio do caminho, no meio do caminho havia um Ford Ka. Olho pro pára-choque do carro abatido e vejo a merda: afundou bacana. A namorada ensaia um chororo e pede para o namorado - no caso, eu - a enfrentar o condutor do outro carro. Abro a porta e nem imagino o que dizer. "Oi! Ferramos o teu pára-choque, mas, ó, foi sem querer!". Quem sabe essa: "Batida? Que batida? Teu carro já estava sem pára-choque desde o último farol!".

É por isso que ainda vivemos numa sociedade machista. Na hora do aperto, o homem é quem tem que segurar as pontas e dar a cara pra bater. Por que a mulher não faz isso, hein? Saber dirigir e afundar um pára-choque alheio é tarefa fácil, né?

Ainda bem que quem conduzia o outro veículo era uma garota miúda e de óculos fundo de garrafa. Já imaginou se encontro um Vitor Belfort pela frente?

7 de jul. de 2004

Salve pro mano!


Opa, opa! Alguém sabe que dia é hoje? Este humilde espaço completa um aninho de vida. Viva! Congratulações, meu querido!

Em julho passado, resolvi encher a paciência da Bruna para ter um layout bacana, num servidor bacana (Blogger Brasil - como eu era trouxa). Eu tinha um blog com o mesmo nome usando um servidor mixuruca.

Dei algumas sugestões e a baixinha deu vida a esta maravilha que aparece hoje aos olhos de vocês, queridos leitores. Foi num sete de julho. O meu trabalho foi apenas colocar a cachola pra funcionar e escrever as besteiras e indagações que surgissem.

Daqui pra Lá! foi um nome que me agradou muito. Da minha cabeça, deste computador, das minhas palavras para a casa, escritório ou escola de quem esteja lendo. Até leitora em San Diego eu tenho. O nome surgiu por um lapso que tive e, alguns meses depois, ao ler tal palavra sendo repetida três vezes no livro "Um Sopro de Vida" de Clarice Lispector, percebi que Daqui pra Lá! era perfeito. Caiu como uma luva.

Para comemorar um ano de vida, virá um novo layout por aí. Repetirei a minha parceria com a Sra. Magarotti e, quem sabe, daqui uns 365 dias, tantas coisas boas que aconteceram nesses últimos 12 meses se repitam ou, até, melhorem. É esperar, criançada. Bola pra frente!

5 de jul. de 2004

Grandes amigos


O que eu posso dizer sobre essa série? Bem, durante alguns anos, terças-feiras à noite foram um grande motivo para a minha família se unir, jantando e colados à telinha. Na escola, muitos papos nasceram sobre os episódios. Nutro por seis anos uma paixonite aguda pela mulher do Aquiles. Não consigo mudar de canal quando vejo um capítulo do seriado no ar. Pode ser repetido, mas não ligo. Revejo cada piada, revivo cada momento.

Sou viciado, assumo. Sei até as falas de cor e salteado. Consumista, comprei até as trilhas sonoras, e aguardo ansiosamente o dia em que terei os DVDs das dez temporadas ilustrando a minha prateleira. Queria ter um Central Perk para reunir os meus amigos; queria ter essa amizade de friends para sempre.

Ainda vejo graça em cada novo momento - talvez por ser algo que me acompanha há tantos anos, sei lá! O humor pode não ser mais o mesmo, mas é difícil perder algo que ainda te recorde tão boas lembranças. Tenho em casa, uma maníaca por limpeza, tal Monica; sou apaixonado por uma avoada, tal qual Rachel. Eu adoro comer sanduíches e fazer piadinhas em momentos inoportunos, assim como Joey e Chandler.

Certamente, Friends terá um cantinho especial em minhas memórias de adolescente. Foi bom, muito bom.

4 de jul. de 2004

O hype é ser indie


E o Chorão enfiou a bolacha no Marcelo Camelo. Notícia quentinha trazida, ontem, pelo Seu Ronald. Deu um belo soco no nariz adunco do Los Hermanos. Tadinho, deve ter doído pra dedéu. Também, quem manda comprar briga com aquele king-kong skatista? Quis tirar satisfações só porque o vocalista do Charlie Brown fez propaganda para a Coca-Cola? "O quê? Jabá para o símbolo do capitalismo, é? ", deve ter dito o barbudinho. Levou uma na fuça como resposta. Bem feito.

Odeio essas pessoas "politicamente corretas e engajadas". Geralmente são filhinhos de papai, que cansados da vida da marofa, decidem criticar aquele país em que eles passavam as férias em suas infâncias. São alternativos, né? Valorizam o passado, nunca o presente. Tudo que está em voga lá na conchinchina é bacana, mas se pega no Brasil, já perdeu a graça. Ah, estas pessoas geralmente ficam entoando as músicas do próprio Camelo, pois se "Chico Buarque é Deus, Marcelo Camelo é seu profeta". Ridículo.

Adoro Los Hermanos, e acho que todos que lêem o blog sabem disso. Cantarolo as letras, emociono-me, admiro, mas não sou nenhum baba-ovo dos rapazes. Não os coloco num altar nem a pau. Eles são os modelos de pessoas alternativas, indies, hypes, sei lá, que me irritam. Veneram Lúcio Ribeiro (gosto dele) e tênis All-Star (bacanudo). Odeiam os yankees e se acham os donos da razão. Adoram falar, mas não sabem ouvir.

O tecladista do Los Hermanos tem blog (quem não tem hoje?). Eita sujeito arrogante. Adora se vangloriar que só veste um par de tênis, uma jaqueta e uma camisa pólo. Filme que presta, apenas aqueles de neguinho passando fome ou qualquer um do Gus Van Sant. Faz questão de exibir a aparência de sujinho metido a intelectual. O resto da banda faz o mesmo, assim como seus fãs. Só o Barba que tem jeito de ser gente boa, por nunca abrir a boca, apenas sorri. Se eu não me engano, a maioria dos músicos se conheceu na PUC-RJ. Será que eles são pobres? Creio que não, PUC é sinônimo de exploração em qualquer lugar. Deviam ser daquela banda de violão em punho e beque na boca. Conheço muitos assim e, até respeito, mas não acrescentam nada a minha vida.

Acho engraçado que os fãs de Los Hermanos execrem Ana Julia - os membros da banda, idem. Por quê? Será que se não fosse por uma música puramente comercial, de refrão chiclete, eles fariam sucesso? Talvez sim, porque são talentosos, mas talvez não, porque são feios pra burro! No clipe, a tal da Ana Julia era interpretada por uma atriz global. O passado condena teu presente, querido Marcelo. Tua música foi a mais tocada no carnaval baiano de alguns anos atrás. Vem querer pagar de bobalhão e apontar o dedo no nariz do outro? Tem que apanhar mesmo, tal qual alguns de seus fãs idiotas, esses tal de indies.

Hoje vocês são alternativos, mas tenho certeza de que muitos de vocês já ralaram a boquinha da garrafa, já dançaram Macarena e já cantaram dance music. Vocês nada mais são do que meros modistas. Gostaria muito que o Los Hermanos lançasse um cd de funk pancadão. Seria um orgasmo visual ver os cabelos desgrenhados e sem-corte à brit-pop substituido por um totalmente lambuzado de gel, as sandálias de couro de burro e jaquetas da Puma dariam lugar a um par de jeans Gang. Tati Quebra-Barraco será o verdadeiro hype, meus amiguinhos.

2 de jul. de 2004

Meet the parents

Todos, um dia, vão passar por tal experiência: jantar com os sogros. Senti-me no papel de Ben Stiller em Meet the Parents. A única diferença é que os pais eu já conheço bem, o papai da Irena não é ex-agente da CIA e nem me colocou sobre um detector de mentiras. Ah, ele também não tem nenhum gato que saber usar a privada. Ufa!

Chegamos no elevador e já ouvi um conselho da namorada:
- Meu pai não gosta de palavrões, portanto, evite.

Danou-se. Quem me conhece, sabe que é impossível eu não dizer uma sentença sem um "porra", "cacete" ou "merda". Subimos no elevador: eu, agregada e sogra (muito gente boa, adoro-a). Eram nove andares, então deu tempo de eu tentar forçar o meu cérebro a não produzir nenhuma palavra de baixo calão.

Adentramos ao apartamento e estava a família toda reunida. Família Doriana. Mais gente para eu tentar não pagar mico. Com a mãe e a irmã, eu me dou super bem, mas ainda não fiquei mais de um minuto conversando com o sogro. Óbvio que eu estava nervoso, óbvio que eu estava louco para me jogar varando abaixo e fugir de tal compromisso. Mas é nessas horas que eu preciso honrar a minha honra, o meu orgulho. Seria mesmo?

Avisto o alvo, quer dizer, o sogro. O cara, de longe, dá medo. Jogou basquete a vida inteira, ou seja, não é nada pequeno. Porém, é engraçado e adora dar umas tiradas irônicas. Digo um "oi" bem longe e após alguns minutos o grande momento chega: o jantar. Mal estou chegando e a sogra já diz:
-Toma vinho, Gustavo?

Será que a velha está querendo me embriagar. Não, ela é gente boníssima. Mas eu não bebo... Será que se eu não beber, serei mal educado? Tudo isso passou por minha cabeça durante três passos. Sentamos e chega a bóia. Um arroz com uns trecos estranhos (tinha tomate, isso eu sei), uma carne ao molho, peixe e, ufa, suco! Ponho um pouquinho de comida, pois sou caipira e acho que encher o prato é má educação.
- Vai se engasgar, hein, Gustavo! , brinca o sogrão.

Faço uma piadinha e consigo me safar. Silêncio na mesa. Tentando me mostrar comunicativo, digo aquilo que todos fazem num jantar quando não há assunto: elogio a comida.
- Muito bom esse arroz, principalmente o grão de bico, falo, com o maior carinho do mundo.

A resposta não vem tão carinhosa:

- Isso é champignon!! , exclamam os três.
- Agora eu sei porque alguém escolheu jornalismo... , ouço do sogrão.

Burro e burro! Como confundo um treco duro como grão-de-bico, com algo mole e sem graça como champignon? O melhor é dizer isso para um sogro que tem "apenas" um restaurante e deve manjar de comida pra cacete!

Parabéns, gugu...