Continuo com a mesma mania: não ler como deveria algumas obras indicadas por meus professores. Deveria ler Chatô nessas férias e, confesso, morro de vontade de lê-lo, pois adoro o escritor Fernando Morais. Acontece que eu tenho a carne fraca para CD e livros. Há tempos eu morro de vontade de ler Fama e Anonimato de Gay Talese. O que me impedia de comprá-lo era justamente o seu preço um tanto salgado. Mas bastou uma promoção na livraria da PUC para sossegar o meu facho. Saí todo reluzente com aquele livro, de capa cor de estrume, debaixo de meus braços.
Gay Talese se autodenomina um "serendipitoso", uma pessoa capaz de notar pequenos momentos que passam despercebidos aos olhares humanos, menos no de pessoas "serendipitosas". Bastam algumas palavras e aqueles pequenos momentos ganham vida, tornam-se vangloriosas, de destaque. Talese tem este dom, escrevendo perfis de pessoas desconhecidas a famosas (Frank Sinatra, Joe DiMaggio) ou relatando o cotidiano da construção de uma ponte. Jamais pensei que teria prazer em ler algo sobre roldanas, parafusos e vigas de alumínio.
A vontade de pegar este livro na palma da mão e ler vorazmente, vem por eu me identificar com o chamado Jornalismo Literário (New Journalism). É, segundo Talese, "a arte de sujar os sapatos". É procurar a notícia em lugares inusitados, com pessoas inusitadas. Ter uma apuração enorme, cuidado com cada palavra, dar idiossincrasia ao escrever. Hoje, uma redação de jornal é baseada em telefonemas e pesquisas na Internet. Um jornalista, muitas vezes, nem precisa sair de sua mesa para cobrir um furo.
Assim como Talese, eu abomino o uso de gravadores. Penso que fica superficial, sem aquele toque pessoal. Gosto de ouvir a outra pessoa, procurar saber o que acontece dentro daquela cabecinha. Horrível quem entrevista olhando apenas para o bloco de anotações, não prestando atenção no entrevistado. "Qualquer coisa, o gravador salva", pensa o grande jornalista. Pior que salva; já pensou se o entrevistado disser que eu editei as suas palavras? É uma ótima arma contra processos judiciais. Mas prefiro não depender do maldito aparelhinho.
Talese me deu um pouco de esperança. Ele fez o tipo de jornalismo que me agrada, aquele jornalismo das antigas. Tenho a consciência do quão difícil será fazer aquilo que tanto gosto. Vou ter de agüentar muito patrão alterando meus textos, muita pauta obrigatória, não vou poder demonstrar um estilo próprio. Talese passou por isso no começo de carreira, porém, demonstrou esperteza e talento ao conseguir fazer aquilo que realmente gostava: sujar os sapatos.
Talese me deu boas esperanças.
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