8 de jun. de 2004



O centro de São Paulo é algo indescritível. Miscigenação, talvez seja a melhor definição. Como definir um local onde um mano te pergunta de hora em hora: "Mano, quer comprar calça jeans?". Como dar nome a uma praça onde diversos hippies (em estado de viagem total) cantarolam apenas uma música com os dizeres "lálálálá!? Metaleiros se reunindo na Galeria do Rock? Forrozeiros bailando em plena calçada? Mendigos esmolando? Ou, talvez, eu deva citar um senhor de terno azul com uma pequena bíblia à mão. "Meus filhos, a palavra do Senhor lhe salvará...".

Pode-se encontrar "primas" fazendo sessão matinê. "Lindo, vem cá, vem!". Tu olhas e vê aquele tribufu cheirando a água de colônia e Blondo. Eca! Usar o telefone público e se deparar com os inúmeros pequenos anúncios de prostituição colados no orelhão. "Amanda: morena, olhos claros e corpo sarado. Topa qualquer coisa. Telefone tal".

Numa outra esquina, talvez o Agnaldo Timóteo esteja vendendo o seu último cd. Pena que a prefeita perua da cidade logo proibiu o cantor. Serviço humilde, madame. Pessoas andam em compasso, maquinalmente. Sacola no braço e conversa pro lado. Alguns boys andam apressados (como sempre), já senhores de idade, trajados de boina e suéter, preparam-se para mais uma partida de gamão. Sem pressa.

Pode-se comer num dos melhores restaurantes da capital paulista: o Mercado Municipal. As boas línguas recomendam a fartura da mortadela de um sanduíche e o pastel de bacalhau de tal banca. Gastronomia popular. Tem também aquela ruela conhecida no Brasil inteiro. Época de feriado é aquele congestionamento. "Vamos pra 25 de março?!", alguém pergunta entusiasmado. A caravana logo vai atrás. Tudo em promoção e vindo de contrabando. "É oliginal!", responde o coreano atrapalhado.

Um rapaz ajoelhado no chão faz uma imitação árabe. Não há cobra e, sim, um jornal enrolado. Não há um cesto de palha e, sim, uma mochila. Não há uma flauta e, sim, apenas o assobio provocado pela unção dos lábios e o sopro. No centro de São Paulo, realmente, a originalidade é a segunda melhor definição. Originalidade, não! Oliginalidade.

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