21 de mai. de 2004

Lá na PUC, tem um jornal do pessoal de jornalismo chamado Contraponto. Não importa em que ano você esteja, qualquer pessoa que faz jornalismo entra na roda do jornal. Bacana, não? Acontece que jornalista é uma raça metida, e futuro jornalista, pior ainda. Só gostam de fazer criticas, matérias políticas, pseudo-revolucionárias... Muito dele eu não curto e nem prefiro ler. Porém, na antepenúltima página, tem uma seção que me agrada: Crônica.

Li as últimas crônicas do jornal, e confesso: achei bem fraquinha. Historietas sem graça, monótonas. Há uma obrigação de escrever algo sobre mídia. Uma pessoa maravilhosa colocou meu nome para fazer a crônica de uma edição e, acreditem ou não, aceitaram a sugestão.

Matutei, matutei e resolvi escrever algo sobre Queer Eye for the Straight Guys. No meu estilo fanfarrão, lógico. Adoro escrever besteiras. Mandei pra redação morrendo de medo. "Vão cortar meu texto" "Vão mudá-lo completamente", "Nunca vão colocar uma crônica brincalhona".

Hoje saiu a edição com minha crônica. Ficou sen-sa-cio-nal! Pouca coisa foi modificada: apenas meu título e duas palavras. Colocaram uma imagem de uma cueca com um microfone dentro, ainda por cima. Demais! Muito boa a sensação de ver diversas pessoas lendo algo que você escreveu e dando altas risadas. Sensação indescritível.

Aqui vai a versão original do texto. Minha primeira aparição pública:


O QUE AS MULHERES QUEREM

Homens do meu Brasil: escolham jornalismo e sejam felizes! Mulheres e mais mulheres, meus amados! Morram de inveja, engenheiros da Poli! Morenas, loiras, intelectuais, sarcásticas e tímidas. Ah, o jornalismo. Sinto-me um sultão, acompanhado de tantas beldades. Alá!

Porém, muita mulher não é sinal de felicidade e, sim, de preocupação. Aparência, roupa, corte de cabelo, modos... Elas reparam em tudo, principalmente em nosso cheiro. Trate de aprender o significado de um banho bem tomado, adicionando um perfume irresistível. Sinta-se naquele comercial do Axe. Seja um novo homem: sensível e multiuso. Não há quem resista.

Assista a Queer Eye for the Straight Guy, e descubra o que elas, as mulheres, tanto querem. Cinco gays lhe ensinarão aquilo que elas gostam e almejam. Adeus barba cerrada e pele oleosa! Bye, bye unhas encravadas! Sabe aquele homem rústico, com "H" maiúsculo? Foi-se o tempo, pois a moda é ser metrossexual.

Os Fab Five (alcunha dos apresentadores), fizeram eu aprender a me barbear. ?Depois do banho e, preferencialmente, de manhã?, diz o especialista em aparência. E não é que funcionou? Minhas bochechas estão macias, uma "cutis de pêssego", diria Caco Antibes. As futuras-jornalistas vão adorar dar um beijinho nelas ao te cumprimentarem. Goze, sinta-se um modelo da Gillette.

Aprendi, também, a não usar gel nas madeixas. Mousse e cera deixam um aspecto mais descolado. Beckham? Quem é esse? As mulheres esquecerão dos outros homens, tendo olhos apenas para ti, caro leitor. "Lindo" e "gostoso" serão as alcunhas recebidas quando caminhar pelo Pátio da Cruz. É sucesso garantido. Comemore!

Metrossexual precisa saber cozinhar - ou fingir que sabe. Quando for sair com as meninas, não vá logo propondo uma ida ao fast-food. Convide-as para jantar uma bela massa ou um sushi no restaurante japonês mais perto. Aprecie as delícias de um peixe cru; não esquecendo de sorrir, pois elas adoram um belo sorriso - mesmo que contenha resquícios de wasabi entre os dentes.

Até na aula de francês já me matriculei. "A língua do amor", dizem as mais românticas e encalhadas. Futura-jornalista odeia homem burro. Um dos Fab Five, ligado à cultura, recomenda que assistamos a peças e dramas iranianos. Em suma: aqueles filmes chatos. "Sabe aquele clássico do Fellini? Nossa, uma maravilha!". Depois, pode assistir à última obra-prima da Sylvia Saint tranqüilamente. Você já fez a sua parte.

E as mulheres? Será que elas também se preocupam com nós, homens? Balela! Dão risada e caçoam de nossas aventuras. Somos o verdadeiro sexo frágil! Descobriram que usar cueca é confortável e beijar outras garotas é mais gostoso (algo bem bacana, digamos). Roubaram os nossos empregos e viramos "donos de casa". "Não esqueça de limpar a cozinha, Adalberto!". O famigerado terno deu lugar ao avental e espanador.

Vamos lutar contra esses temíveis seres de cromossomo XX. Queimemos cuecas em praça pública, brigando pelos nossos direitos. Homens reprimidos, uni-vos!

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