26 de jan. de 2010

A última parada de Lost

LOS ANGELES - Quando até o presidente dos EUA, Barack Obama, cancela um comunicado oficial televisivo para não atrapalhar a estreia da 6ª e última temporada de Lost, olha, é aí que dá para sentir a ansiedade em torno do retorno da série. A pressa é tanta que a AXN terá apenas uma semana de atraso em relação a exibição americana (lá começa em 2 de fevereiro, enquanto aqui, às 21 h do dia 9). O programa terá 16 episódios durante 16 semanas interruptas, tendo o primeiro e o último episódio duas horas de duração.

Era difícil acreditar que a produção de 2004, que teoricamente falava apenas sobre a vida de sobreviventes de um desastre aéreo no meio do Pacífico, tornaria-se fenômeno global. Lost virou ficção científica das boas, com ousadas formas de narrativa e de pioneira plataforma multimídia.

Mas o que acontecerá nos próximos 16 episódios? Dá para adiantar que o último ano de Lost amarrará vários dos nós largados, principalmente, na 1ª temporada. Sim, muitos dos mistérios serão explicados. Mas nem todos. Os produtores - e cabeças - da atração, Carlton Cuse e Damon Lindelof, prometem no season finale um "saudável coquetel de respostas, boas resoluções sobre os personagens e, claro, alguns mistérios finais".

Para fechar o círculo, vários personagens do passado estão de volta. "É uma preciosidade visitar lugares que não gravávamos desde a temporada 3", comenta Jorge Garcia, o Hurley, durante coletiva em Los Angeles da qual o Estado participou. "Eu vou chorar como um bebê no final. Parece o último ano da escola, em que tudo soa meio estranho na classe", completa Evangeline Lilly, a Kate.

Além dos roteiristas, apenas Matthew Fox (Jack) sabe como será a cena final de Lost, já que aparecerá nela. Curiosamente, ele não estava na coletiva. O elenco recebe os scripts dois dias antes das gravações e tem de picotá-los depois, para evitar que alguém fuce o lixo e vaze alguma informação. "Só soube que o Locke que eu fiz na 5ª temporada estava morto quando vi o episódio. Não sabia que eu era outra pessoa", admite Terry O’Quinn.

Ele revela como foi construir seu personagem no ano passado: dado como morto, ele "revive" após voltar à ilha. Mas, no último episódio, é revelado que o espírito de um misterioso homem de preto encarnou em seu corpo. Se você não assistiu, desencana, não vai entender. "No começo da 5ª temporada, eu disse para o diretor Jack Bender: ‘Vou apenas assumir que sou Locke e sou indestrutível.’ Isso foi fácil de fazer. Talvez eles estivessem só me aquecendo", brinca.

"Trabalhar em Lost acabou com qualquer ideia que tinha sobre preparação de atores. Mas é até melhor estar no escuro, pegar as descobertas ao poucos e não se queimar com tantos segredos", diz Michael Emerson, ganhador do último Emmy por seu Ben Linus.

"Como ator, o melhor desse show é que você é sempre desafiado a criar um novo personagem mesmo estando com o mesmo", concorda Evangeline. "Pois é. Você não sabe, mas eu é quem ando interpretando a Kate", brinca Daniel Dae Kim, o Jin, ainda sobre o twist final de Locke no ano passado.

Uma das novidades do 6º ano será, mais uma vez, a narrativa. Após os flashbacks e flashforwards, haverá duas realidades. Uma mostrará Sun e Richard no tempo em que o "falso Locke" pede para Ben matar Jacob. A outra, alternativa, mostrará as consequências da bomba que Juliet explode em 1977 - o que, na teoria, mudará o futuro. Ou seja, o avião da Oceanic não cai. "É fascinante que a narrativa seja mudada de novo. Mais uma vez Lost muda a maneira de fazer TV", elogia Kim.

Segundo os atores, as gravações no Havaí estão sendo realizadas em clima de nostalgia. "Meus momentos prediletos estão sendo agora: ver o elenco original trabalhando junto e se divertindo como nos velhos tempos", recorda Emilie de Ravin, a Claire (sim, ela voltou). "Vou me lembrar dos momentos ofegantes em salas pequenas", ri Emerson, dando munição para Garcia. "Correr do avião explodindo nunca sairá da minha cabeça. E quando o cometa atinge o Mr. Cluck’s: estava deitado e jogavam pedaços de frango em mim!"

Sobre o que será da vida de cada um após o fim da série, as opiniões são distintas. Josh Holloway, o Sawyer, diz que continuará com sua casa no Havaí. Para O’Quinn, meio mal-humorado, eles estarão desempregados. Já Evangeline só pensa em dormir. "As pessoas não têm ideia da intensidade das gravações. É exaustivo e a gente acabava, de fato, preso numa ilha. Acho que quando o show acabar, nós vamos hibernar um pouco."

Josh Holloway: "Ufa, ainda bem que eu não morri!"

Como estão sendo as gravações deste último ano?

Há muita magia no ar, como na 1ª temporada. Tudo foi uma grande experiência, mas essa sensação de camaradagem e nostalgia que nos cerca agora é fabulosa.

Como é ter no elenco novamente vários atores que saíram da série?

É uma diversão! Viramos amigos próximos, e era muito duro emocionalmente quando alguém tinha de sair. Essa reunião está sendo muito gostosa. A gente sai, ri, toma uns Mai Thai e descansa na praia.

Você pode adiantar algo da última temporada?

O 1º episódio é como um final de temporada. Nessa escala.

Sawyer virou um romântico, um idealista e até um apaziguador, graças ao relacionamento com Juliet. Com a (possível) morte dela, ele voltará a ser o egoísta e golpista de antes?

Ele definitivamente está com o "tempero" de novo! Ele está emocionalmente destruído e não liga mais para a vida. Mesmo assim, as lições que ele aprendeu na ilha e a humanidade que foi forçado a descobrir dentro de si, assim como a maturidade que conseguiu, também estarão presentes. E irão guiá-lo. Foi um relacionamento difícil de trazer à tona e espero que o público tenha gostado de nós juntos. Tivemos uma química tão incrível que a cena final arrancou o meu coração.

Você acreditava que ele fosse se tornar, hoje, o principal personagem de Lost?

Sério? Quando li o piloto, fiquei meio "esse cara é um c... Preciso descobrir como me manter vivo" (risos). Lembro de falar à minha mulher: "Não se livre dessas caixas (de mudança), ele será morto rapidinho." Penso o tempo todo: "Uau, ainda bem que não morri!" Vem sendo uma grande jornada, e é muito interessante interpretar o mesmo personagem, mas com duas perspectivas diferentes. Foi uma validação como ator: não sinto mais vergonha de dizer às pessoas que sou um ator (risos).

Terry O’Quinn disse que não espera fazer convenções sobre Lost daqui 20 anos. E você?

Quero estar aposentado e só fazer convenções (risos).

Qual apelido você daria para o Sawyer?

Não sei! Um apelido para ele? Ai, deixa eu pensar... Olha, essa é uma boa pergunta!

* Matéria publicada no Estadão

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