Na semana passada, saiu uma entrevista que fiz com a Renata Simões, para o Estadon. Sempre quis conversar com a jornalista, puquiana como eu - para mim, seu Urbano é melhor programa da TV brasileira atualmente, pela inteligência de falar daquilo que não é lugar comum e por trazer, a cada edição, pautas novas, frescas, que sempre me mostram algo de novo.
Com ela, não tive uma entrevista, mas um bate-papo - algo raro de acontecer na profissão. Fico feliz que ela tenha sentido o mesmo.
Papa do jornalismo literário, Gay Talese criou um termo para aquele repórter que suja a sola do sapato e que vai de encontro à matéria: "serendipitoso" (de serendipity, que significa ter uma descoberta ao acaso). Em tempos em que para ser um "serendipitoso" basta passar os olhos pelo Twitter, a jornalista Renata Simões une a tradição de Talese com a de um repórter do novo século.
A bordo do Urbano, no Multishow (domingos, às 22h30), ela gasta o sapato pelas ruas de São Paulo com um notebook (para achar os pontos de Wi-Fi da cidade) e um celular invocado, que tira fotos com qualidade de câmera digital e grava vídeos igual a uma filmadora. O conteúdo colhido vai para o programa e suas diversas extensões: site, blog, microblog e álbum virtual de fotografias.
O Urbano encerra em dezembro seu 3º ano. Ele, que no início cobria a cultura de rua, hoje fala sobre cultura digital - o que, para Renata, que começou na TV como produtora e repórter do Vídeo Show, já é mesma coisa.
Por que essa transição?
É onde o programa vai agora. A partir do momento em que o meio digital vira uma extensão da vida da gente, ele já é a cultura em si, não mais o suporte. É muito natural. O Urbano fala de comportamento digital: não adianta fugir da tecnologia, ela não é uma grande novidade. O que muda é que você não anda mais com Guia Quatro Rodas na mão: usa GPS.
Então a internet faz hoje o papel do que um dia foi a rua?
Adorei essa definição! O foco do Urbano é descobrir novidades. Não falamos mais para nicho, aprendemos que não adianta mais falar da tecnologia pela tecnologia. Mas como sua vida está sendo alterada por ela. Assim converso com qualquer um.
A internet pauta o programa?
Processo de pauta é rua. O meu Twitter, o (Google) Reader, são uma extensão do que faço na rua. Falamos do que é novo, do lado B, a internet não é o lado A. Mas tem de saber o que é o seu umbigo e o que é interessante e relevante, entendeu? Acredito que programa de TV é feito em grupo por isso. Televisão legal é um monte de gente falando e propondo. Sou apenas o fio condutor daquela história.
O Urbano foi um dos primeiros programas a chamar o telespectador a participar das pautas, interagindo por meio de vídeos. Isso virou "regra" na TV, não?
Não é modismo, é que não tem como escapar! Essa é a primeira vez que a TV tem necessidade de receber um imput externo. As pessoas querem se ver, desde a senhora à criança. Minha enteada de 10 anos, e todas suas amigas, têm webshows. Então se as pessoas estão se vendo na web, vira algo natural. Por isso, temos de buscar novos formatos e modelos. Ainda não sabemos como, vejo pouco espaço para ousadia e experimentação (na TV). A internet força isso.
Você não fica estressada por ficar online o tempo todo?
Aprendi com o tempo pequenas leis internas: não poder se conectar antes de ter tomado, pelo menos, um copo d’água (risos). Fui fazer uma matéria numa pista de skate e estava um sol lindo. Entrei no Qik (serviço de faz transmissões ao vivo de vídeos pela web) e mostrei as manobras, fiz umas fotos artísticas para o Flickr...
O Urbano está em várias mídias. Todo programa precisa ser assim também?
Poucas pessoas serão transmídias naturalmente. Qualquer pessoa pode ser apresentador, mas poucos serão bons. É a mesma coisa. Virou moda fazer jornalismo, é o novo modelo-apresentador-michê. Todo mundo gosta de contar história, e a necessidade de comunicação encontrou sua melhor maneira de propagar nesses diferentes meios. Mas se reproduzir o que você falou da mesma maneira em vários lugares, será redundante, você estará contribuindo para o lixo informativo do universo da superinformação! O programa vai para o 4º ano e não caímos nessa ainda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário