Chamem-me de ranzinza, antiquado, e o que mais couber nas suas bocas. Estive no Credicard Hall na última quinta-feira para assistir ao Video Music Brasil, da MTV. Eu juro que me auto-treinei durante a semana para não reclamar dessa história de premiar Twitter, blog, videogame... Mas aí me vem o Rogério Flausino e solta o seguinte na hora de apresentar os dez indicados a Videoclipe do Ano.
"A gente sabe que a produção de videoclipes no Brasil não para de crescer e de se tornar cada vez mais democrática, principalmente aqui na MTV. Que tem galera nova, das antiga, galera independente, alternativa... Todo mundo competindo de igual para igual atrás desse prêmio tão sonhadooo".
Olha, a frase não está de todo errada. Mas dizer que a produção de videoclipes no Brasil está numa crescente e que a MTV é o canal democrático da tendência? Ah, por favor! O.K., o canal corrigiu aquela postura de limar os vídeos musicais da programação, mesmo que agora eles estejam restritos à madrugada e às manhãs, nos Lab da vida. Mas dava vontade de bater em quem escreveu essa frase. Se eu fosse o Mauricio Eça, que estava na plateia e ganhou fama dirigindo mais de 100 clipes, entre eles Diário de Um Detento, eu invadia o palco e fazia o Kanye West.
Eu entendo que o VMB seja um grande evento comercial. Neste ano foi claro: 80% da entrega dos prêmios foram pré-gravados. O resultado ficou bacana e deu agilidade a premiação. Mas também abriu espaço para a publicidade entrar às vezes camuflada, às vezes escancarada, como naqueles filmetes indigestos protagonizados pela dupla Adnet e Kiabbo.
Se a produção de clipes não para de crescer, por que não voltar com as categorias de Videoclipe de Rock, Videoclipe de Samba, Videoclipe de Rap? Tudo bem que a ideia de premiar ferramentas da internet seja uma forma de se conectar com o jovem atual. Por isso acho o discurso do Flausino tão contraditório.
Eu estudei - e estudo - os videoclipes no Brasil. Com a revolução do vídeo na web, toda banda de garagem faz o seu. Basta pegar a câmera do celular ou da máquina digital, subir em cima de alguma esteira de corrida e torcer para que isso viralize na internet, não na MTV. A music television virou secundária, aparecer lá é lucro, dá orgulho para os pais, ajuda na hora de agendar uns shows. Mas só.
O que mudou depois dessa revolução foram as grandes produções. Hoje são ínfimos aqueles clipes com orçamentos de R$ 80 mil, ou até mesmo o dobro disso Um ou outro artista, que ainda tem o respaldo de uma grande gravadora por trás, trabalha desta forma e manda aqueles aqueles videoclipes de fotografia publicitária tão belos de se ver. Porém, isso não significa que a produção brasileira atual não seja digna daquilo que existia na metade/final dos anos 90, quando a Conspiração nos dava maravilhas atrás de maravilhas.
Vamos de dois exemplos de videoclipes brasileiros (independentes) made in 2009 bem legais:
O videoclipe não morreu; está mais vivo do que nunca. Pelo menos lá fora, ele vem sendo muito cultuado, aliás. A MTV americana tem o MTV Music, um portal exclusivo de clipes, e neste ano bolou uma interessante categoria no seu Video Music Awards (VMA's), dedicado a escolher aquele vídeo musical do passado, que foi injustiçado e não faturou um Moon Man. A matriz não tira os videoclipes de sua premiação, procura inclui-los cada vez mais. Há alguns bons anos, quando o canal americano veio com a ideia de transformar o canal musical em um canal jovem, abarrotado de realities, foi-se criado um segundo canal para hospedar aquele material que sempre foi a sua identidade.
Só para vocês sentirem a diferença de mentalidade.
PS: Para não ficar só no pau, gostei muito da nova categoria de Filme/Documentário do Ano, que o VMB teve neste ano. O longa 'A Vida Até Parece uma Festa', sobre os Titãs, teve a direção de Oscar Rodrigues Alves. Ele, dentre outras coisas, dirigiu os videoclipes de Epitáfio e Isso para a banda.
PS 2: Não sabia, mas o MTV Music tem uma versão brasileira. Bacana!
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