Gosto muito do não-dito em um filme. Gosto de finais sem explicações, que deixam infinitas perguntas no ar. O que será que Charlotte disse ao Bob em Encontros e Desencontros? Será que Jesse e Celine, num dos finais mais bonitos do cinema moderno, terminam juntos em Antes do Pôr do Sol? Ninguém sabe.
Filmes que trazem o não-dito têm um lugar especial no meu HD afetivo. Ontem coloquei mais um nesse limitado espaço: Apenas o Fim, do estreante Matheus Souza, de apenas 20 anos. Para quem acha que filme brasileiro se resume apenas a dramas eróticos no nordeste ou às comédias agridoces da Globo Filmes (não chega a ser uma mentira, convenhamos), vale muito dar uma olhadela na película . Ela não está no circuito nacional; aqui em SP está sendo exibida em poucos lugares, enfim, uma pena. Que saia logo em DVD ou alguma alma caridosa a jogue na web.
Para mim, esse é o primeiro filme nacional que fala diretamente com a geração atual - se estiver errado, peço desculpas pela minha ignorância cinematográfica. Eu me encontrei em cada linha do roteiro de Matheus, um pirralho que tem um texto mezzo Kevin Smith mezzo Diablo Cody. No longa inteiro ele nos fornece diálogos inspiradíssimos, cheios de referências nerds e culturais (para fãs de games é um deleite).
Em Apenas o Fim rola o não-dito. Algo irônico, já que o casal do filme, que passa sua última hora juntos antes do término anunciado, conversa sobre tudo e sobre o nada em 60 minutos.
[Antes de dizer qual seria esse não dito, aviso que vou falar de uma cena em especial. Quem não quiser saber qual é, não leia a partir da próxima linha.]
Num determinado momento, antes de partir para um lugar desconhecido e largar o namorado, a menina (Erika Mader) diz para ele imaginar a última música de seu CD favorito, pois é assim que ela estará se sentindo. Matheus não diz qual seria essa música ou álbum, mas fecha o longa com Pois É, dos Los Hermanos. Essa é a penúltima música de 4, o que não é a resposta, obviamente.
Mas acredito que seja um caminho.
Na minha teoria sobre esse não dito, o fato de ele pôr LH para fechar o longa é uma dica. Talvez essa seja a sua banda favorita, o que casa bem com o perfil do puquiano carioca alternativo Tom, vivido por Gregório Duvivier. Ao fazer essa suposição, lembrei da canção que fecha Bloco do Eu Sozinho, o melhor disco dos barbudos: a belíssima Adeus Você.
Enquanto pagava o ticket do estacionamento do shopping, saquei o iPod e selecionei essa faixa. E fui ouvindo até o caminho de casa os seguintes versos:
Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar
Vê se te alimenta
E não pensa que eu fui por não te amar
Cuida do teu
Pra que ninguém te jogue no chão
Procure dividir-se em alguém
Procure-me em qualquer confusão
Levanta e te sustenta
E não pensa que eu fui por não te amar
Quero ver você maior, meu bem
Pra que minha vida siga adiante
Achei incrível essa hipótese. Vou tentar procurar o Matheus e perguntar qual seria o CD predileto de Tom e o que acha de minha teoria. Confesso que não quero que ele diga se estou certo nem nada do tipo.
É o não-dito que tanto me fascina.
Um comentário:
eu amo los
e a musica é msm perfeita
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