Há um certo tempo, numa entrevista de emprego, eu ouvi uma pergunta curiosa. Apesar de eu já vir escrevendo sobre tecnologias e afins durante dois anos e meio, os entrevistadores perceberam que eu não me definia como um jornalista de informática ou coisa que o valha.
- Mas você é jornalista do quê?
Eu fiquei mudo. Pensei um pouco, corri com os dedos pela mesa de madeira, dei uma respirada bem funda e respondi, sem saber se aquela era a resposta que queriam ouvir.
- Sou jornalista de pessoas
Acabei entrando nesse mundo da internet, redes sociais e o escambau, por causa das pessoas. Foi natural. Desde a faculdade minhas pautas comportamentais vinham deste ambiente. A internet é agora o que um dia foi a rua. Antes, as pessoas saiam de casa para se conhecer. Iam até a praça com coreto, passeavam no shopping, punham as cadeiras na calçada em frente de casa. Hoje, vão para a internet - e trazem essa relação para o mundo real.
Sim, acreditem. Relacionamento de internet não é mais aquela coisa ensimesmada, de se enfiar dentro de uma bolha para ficar naquele téc, téc,téc twenty-four-seven.
Vou provar.
Nas minhas férias, fui para o Chile, Peru e Argentina. Dizia para meus pais que tinha amigos nesses países. Eles achavam que eram jornalistas, conhecidos de São Paulo ou de Sorocaba. Que nada! Eram pessoas que lêem meu blog, que me seguem no Twitter, que eu adicionei no Messenger depois de ver algum comentário interessante em uma comunidade do Orkut.
E amigos que eu descobri pelo CouchSurfing, uma rede social para viajantes e mochileiros, cujo mote é criar um mundo melhor ao ajudar um turista a se ambientar na sua cidade. Seja liberando o seu sofá para uma pernoitada, chamando-o para um café ou até mesmo guiando-o num city tour que jamais apareceria nos guias turísticos tradicionais.
Três chilenas de Santiago me levaram a uma bizarra balada de reggaeton, fizeram-me beber uma bebida local chamada Terremoto num buraco chamado "Piolhento" e deram a dica de um sujinho escondido em Valparaíso que nem os moradores da cidade sabiam onde ficava. Duas peruanas de Lima me mostraram, numa bela tarde de domingo, tudo o que poderia saber da cultura local em apenas um dia. Andei de microônibus, bebi Pisco Sour, comi o apimentado Taco Taco, fui no Museu da Inquisição, curti um show de fontes d´água luminosas e andei por todo o centro da capital, vendo pelos olhos de um morador local como era a sua cidade do coração.
Pessoas, da internet. Que me apresentaram a muitas outras, como um viajante da Islândia ou um francês apaixonado pela América do Sul. Pessoas, que fogem de tudo aquilo que ouvimos da sociedade atual. Elas são idealistas, sem preconceitos, pensam no coletivo. Têm uma visão do mundo em que a paixão por viajar e trocar conhecimento rompe barreiras, línguas.
No ano passado, quando eu entrevistei o Cardoso (do CardosOnline), uma frase dele me marcou muito. O cara, que passa o dia conectado atrás de tendências e as vende para grandes empresas, comentou que via esperança nessa nova geração que já nasce conectada. Segundo ele, todo esse espírito coletivo que existe na internet, de compartilhar cultura e conhecimento sem nenhum interesse escuso por trás, está sendo trazido para a nossa vida offline também.
Está mesmo.
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