Todo dia eu passo por uma situação engraçada no trabalho. Logo depois que termino o almoço, lá por volta das 15h, pego minha escova de dente e minha pasta (também de dente, dã) e me dirijo a um banheiro meio escondido, que pouca gente sabe que existe lá no jornal - fica perto da porta de incêndio, só digo isso!
É batata: entro no lugar e vejo um um homem asseando sua mucosa. É sempre o mesmo cara: cabelos arrepiados, quase grisalhos, óculos de aro grosso, All Star ou Puma Street nos pés e trajando uma camisa clara (com uma camiseta branca básica por baixo). Ele fica sempre no canto direito da pia, fitando-se no espelho, com a mão esquerda no bolso da calça. Quando me vê, dá um sorriso com a escova no canto da boca e levanta a cabeça, cumprimentando-me. Sempre me dirijo a outra borda da pia
O ritual é esse, de segunda a sexta-feira. Faz mais ou menos um ano. E perto dele, sinto-me um relapso.
- Levo a escova e a pasta no bolso da minha calça; ele tem uma necessaire gigante
- Espalho tudo pela pia e me molho todo; ele tira um pedaço de papel e forra sua aparelhagem
- Termino o serviço em um minuto, no máximo; ele passa uns 20 minutos lá fácil. Faço o número 1, às vezes o 2, e ele continua lá, como um parnasiano
- Eu não tenho nem fio dental; ele tem uma escova bitufo!
Nunca vi alguém usar isso. Quando eu tinha aparelho fixo, meu dentista recomendou essa escova bizarra, de uma cerda só. Ela é muito chata de usar e ainda não consegui entender sua real função: enrosca nos bráquetes, não passa entre os dentes, não é bem diagramada para receber uma camada de pasta... Um cocô! Não é por acaso que é invenção brasileira!
E o cara usa Bitufo. Pior: ele SABER USAR, manja mesmo do babado. Sempre olho para ele abismado, enquanto ele fica passando aquela escovinha ordinária por cada um dos dentes. Ele abre a mandíbula e penteia a gengiva. Depois, cusp!, cospe na pia, abre a torneira e lava a Bitufo. O ritual se repete 32 vezes.
É batata: entro no lugar e vejo um um homem asseando sua mucosa. É sempre o mesmo cara: cabelos arrepiados, quase grisalhos, óculos de aro grosso, All Star ou Puma Street nos pés e trajando uma camisa clara (com uma camiseta branca básica por baixo). Ele fica sempre no canto direito da pia, fitando-se no espelho, com a mão esquerda no bolso da calça. Quando me vê, dá um sorriso com a escova no canto da boca e levanta a cabeça, cumprimentando-me. Sempre me dirijo a outra borda da pia
O ritual é esse, de segunda a sexta-feira. Faz mais ou menos um ano. E perto dele, sinto-me um relapso.
- Levo a escova e a pasta no bolso da minha calça; ele tem uma necessaire gigante
- Espalho tudo pela pia e me molho todo; ele tira um pedaço de papel e forra sua aparelhagem
- Termino o serviço em um minuto, no máximo; ele passa uns 20 minutos lá fácil. Faço o número 1, às vezes o 2, e ele continua lá, como um parnasiano
- Eu não tenho nem fio dental; ele tem uma escova bitufo!
Nunca vi alguém usar isso. Quando eu tinha aparelho fixo, meu dentista recomendou essa escova bizarra, de uma cerda só. Ela é muito chata de usar e ainda não consegui entender sua real função: enrosca nos bráquetes, não passa entre os dentes, não é bem diagramada para receber uma camada de pasta... Um cocô! Não é por acaso que é invenção brasileira!
E o cara usa Bitufo. Pior: ele SABER USAR, manja mesmo do babado. Sempre olho para ele abismado, enquanto ele fica passando aquela escovinha ordinária por cada um dos dentes. Ele abre a mandíbula e penteia a gengiva. Depois, cusp!, cospe na pia, abre a torneira e lava a Bitufo. O ritual se repete 32 vezes.
Após um ano, não aguentei mais.
- Cara, Bitufo! Nunca vi alguém usando isso!
Ele tirou a escova da boca, cuspiu na pia e abriu a torneira. Sorriu.
- É que eu tenho os dentes muito separados e não posso usar fio dental senão minha gengiva sangra. Então eu tenho de ficar aqui, passando a escova dente por dente...
Respondi com um um leve sorriso. Então era por isso que ele demorava tanto para escovar os dentes? Dentes espaçados? Recomendação odontológica?
Foi-se embora a graça, a magia. Achava que ele tinha TOC, que pudesse ser um psicopata, um assassino em potencial... Havia algo de interessante em seu jeito metódico de escovar os dentes.
- Cara, Bitufo! Nunca vi alguém usando isso!
Ele tirou a escova da boca, cuspiu na pia e abriu a torneira. Sorriu.
- É que eu tenho os dentes muito separados e não posso usar fio dental senão minha gengiva sangra. Então eu tenho de ficar aqui, passando a escova dente por dente...
Respondi com um um leve sorriso. Então era por isso que ele demorava tanto para escovar os dentes? Dentes espaçados? Recomendação odontológica?
Foi-se embora a graça, a magia. Achava que ele tinha TOC, que pudesse ser um psicopata, um assassino em potencial... Havia algo de interessante em seu jeito metódico de escovar os dentes.
A partir de segunda-feira vou usar outro banheiro. Aquele mesmo, o popular, que tem o cheiro do Terminal Barra Funda às 6h da manhã.
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