Sou um apaixonado por sanduíches. Daqueles que passaria o resto da vida comendo lanche no almoço e na janta. Hambúrguer, então, nem se fala. Sou um fã incondicional do bom e velho X-salada. Fiquei ainda mais viciado por esse tipo de culinária após me mudar para São Paulo e descobrir suas infinitas variações e combinações. É o sundae do Joakin's. O molho de tomate do Seu Osvaldo. Os bolinhos de arroz do Ritz. O pão francês redondo da Lanchonete da Cidade. A simplicidade do Hobby's. A maionese temperada (ou verdinha) do Fiftie's. A torta de maçã à la Vovó Donalda do Saint Louis.
Por isso fiquei bem empolgado quando soube da chegada do PJ Clarke's à cidade. Para os desavisados, essa é a casa daquele que dizem ser o melhor hambúrguer de Nova York. Um restaurante-bar centenário, icônico, do qual Frank Sinatra tinha uma mesa cativa. A filial brasileira (primeira que existe fora de Manhattan) chegou a São Paulo na sexta-feira. E não esperei dois dias para passar por lá.
O lugar é muito bonito. Apesar de nunca ter ido ao PJ de NY, dizem que a versão paulistana tem o layout idêntico. Estão lá a construção de tijolos vermelhos, os lustres antigos, a iluminação amarelada, as toalhas quadriculadas, o piso de madeira "original", os retratos de grandes estrelas de Hollywood e músicos e esportistas americanos espalhados pelas paredes... O teto tem uns detalhes em gesso bem bonitos também.
Repito: jamais fui ao restaurante lá da gringa, mas creio que ao adentrar nele você se sente parte da história. Aqui no Brasil, não. A sensação é de estar em uma lanchonete temática. Algo que já existe de montão em São Paulo, diga-se.
Mas vamos ao que interessa: comida. Como não podia deixar de ser, fui de X-Salada, com queijo emental. O hambúrguer chegou à mesa e logo percebi que a carne é realmente farta. O lanche é alto, mas não chega a ser grande. Como todo sanduíche bem-diagramado, não se deve comê-lo com garfo e faca. Cabe fácil na mão e tampouco precisa arregaçar a mandíbula para dá-lo uma bela mordida. Ignorei as fatias de cebola crua que estavam escondidas abaixo dele, assim como a tira de picles que servia de enfeite. E nhac!
Análise: o hambúrguer é bom, muito bom. A carne é suculenta, bem temperada; você a sente derreter na língua. O pão é fofinho, leve. Dá para dar aquele apertão gostoso nele com os dedos numa nice. A salada também não é exagerada, vide o tomate discreto. Ali é tudo muito bem distribuído, harmonioso. Infelizmente não achei no menu a opção de pedi-lo com maionese, algo que os americanos odeiam. Por isso o achei meio seco.
Realmente é um grande burguer. Mas não é o melhor que já comi. Ele não me fez suspirar ou sentir a gula de pedir outro. Além do mais, é caro. O básico pão e carne sai por R$ 19,90.
Vivo atrás do hambúrguer perfeito. Igual ao que comi em 1996, aos 10 anos de idade, em Miami. Ia rolar um jantar chique em Coconut Grove e eu, muito enjoado que era, pedi para minha mãe comprar um lanche. Ela parou numa humilde lanchonete hispânica e pediu um simples pão e carne. Sinto até hoje o gosto daquela carne cheia de salsa - um tempero que continua inigualável ao meu paladar. Infelizmente eu o devorei num ônibus e não pude voltar para trás, senão pediria mais um dois. Sem exageros, ele era impressionante.
Mas sou esperançoso. Um dia vou dar uma mordida num X-Salada e ter a sensação de parar no tempo e voltar ao passado. Igual a que o crítico gastronômico Anton Ego, da animação Ratatouille, teve ao provar o prato que o lembrava de sua querida infância.
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