Eu costumo prestar muito mais atenção na melodia da música do que em sua letra. Desde pequeno. Quando estou conversando com alguém, cito tal canção e pergunto se essa pessoa já a escutou – e ouço um não – eu não começo a cantarolá-la. Eu balbucio a melodia da música: o piano, o violão, a batida ou, no pior dos casos, os instrumentos de sopro. Não recomendo a ninguém me ouvir fazendo o barulho de um trompete.
No ano passado, matriculei-me num curso sobre a história da música popular brasileira. Nas aulas, tinha-se de analisar as letras das músicas. Para variar, eu só escutava a melodia. No trabalho final, tinha-se de escolher um disco para resenhar. Eu peguei Samba Esquema Novo, do Jorge Ben (sem o Jor, até então).
Analisar Jorge Bem Jor não é algo possível. Suas músicas não dizem nada com nada, é puro ritmo. Então eu fiquei falando do ritmo suingado do violão dele e não perdi tempo em explicar o que ele quis dizer com "Sacundim, sacundém, Imboró, conga".
Quase bombei no curso.
Estou falando disso para comentar sobre Vitor Araújo, o tal pianista recifense de 19 anos que explodiu no YouTube – graças principalmente à sua (ótima) releitura de Paranoid Android, do Radiohead. E também ao seu jeito brejeiro, meio erudito com pop: toca de All Star, pula no piano, fica batucando nele... Enfim, é o Jaime Cullum tupiniquim.
Seu CD/DVD Toc! Ao Vivo no Teatro de Santa Isabel é bacana e gostoso de ouvir. Para deixar rolando no carro e se esquecer do mundo. O garoto realmente é virtuoso e se sai muito bem ao tocar Luiz Gonzaga e Yann Tiersen (o francês que fez a trilha sonora de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e Adeus, Lênin).
Mas eu estava curioso para ouvir as composições de Vitor. Das nove faixas do trabalho, duas são de sua autoria: Valsa para a Lua, que eu achei simpática, e A Última Sessão, que fecha o disco.
Quando escutei essa última, fiquei com a impressão de já tê-la escutado em outro lugar. Com um pouquinho de esforço, lembrei: Life and Death, de Michael Giacchino. Quem é fã de Lost provavelmente recorda dessa música: é ela que aparece no final da terceira temporada da série, na cena final do Charlie.
Ouvi ambas várias vezes e a melodia é a mesma – com Giacchino é mais lenta. Não vou dizer aqui que é plágio ou algo do tipo, mas a semelhança é incrível. Araújo só pula a nota final, o que deixa A Última Sessão como Ice Ice Baby, e Life and Death como Under Pressure.
Ponham seus fones de ouvido e dêem suas opiniões. Vamos primeiro de Michael Giacchino e, em seguida, com Vitor Araújo.
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